Os Humanos escrita por Camélia Bardon


Capítulo 3
Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades


Notas iniciais do capítulo

Oiii! Chegamos no capítulo 3 de 5! Confesso que escrevi tudo numa tacada só de tanta ansiedade que tava xD No de hoje vemos um bônus do capítulo anterior, por assim dizer. Esse aqui se passa algum tempo depois que a Ginger vai morar com o Nath.

es·tral
adjetivo masculino e feminino

— Relativo ao estro (entusiasmo artístico, riqueza de criação, gênio criador).



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Apesar de Lily jamais ter perdido um lugar na memória de Ginger, a garotinha não poderia estagnar seus objetivos. Após muitos aconselhamentos dos colegas de trabalho – depois de Lily, não havia mais crianças acordadas à noite – e o apoio de Nathaniel, Ginger conseguiu dar um passo de cada vez em sua recuperação da perda de Lily.

Uma vez desligada do horário noturno, foi bem mais fácil associar os horários com o de Nathaniel. Progressivamente, mudou-se para o apartamento; mesmo trabalhando no período diurno, seu horário era mais tarde do que o do inspetor. De fato, uma rotina bem mais agradável do que a anterior.

Caminhando já com um sorriso no rosto, Ginger foi recepcionada com a festa de sempre no banheiro feminino.

— Bom dia, dona! — Alina, conhecida pelas crianças como Madame Josefina, já colocava sua peruca estilo vitoriano. — Como vai hoje?

— Vou ótima — Ginger sorriu, abrindo a bolsa para resgatar os próprios acessórios. — É bom trabalhar em equipe.

— É mesmo — completou Audrey, que para o público era Antonieta. — Ficamos felizes de trabalhar com você. Você sempre parece tão cheia de vida, é contagiante!

Ginger corou com o elogio, fazendo as sardas sobressaltarem-se na pele.

— Imagine... Todo mundo tem algo a oferecer...

Ginger nunca havia sido muito boa em fazer amigos por conta da aparência e de sua personalidade. Geralmente as pessoas sempre achavam que ela estava procurando chamar a atenção propositalmente com as palhaçadas e gracinhas. Era praticamente impossível segurar a língua da garota quando o assunto era divertir os outros, mas nem todos encaravam isso como algo positivo. Isso, é claro, porque ainda não tinha encontrado quem pudesse ser livre dos desconfortos dos olhares tortos.

Pelo resto do dia, Ginger seria Bonnie, alusão à pirata Anne Bonny. Usando uma maquiagem que lembrava um tapa-olho – pois seria muito difícil administrar um nariz de plástico e um tapa-olho no mesmo rosto – junto a uma arara de pelúcia que carregava no ombro, Ginger sentia-se pronta para mais um dia.

Naquele dia, as garotas divertiram as crianças com narrativas mirabolantes sobre piratas, fadas e sereias. Era dia de contação de histórias, e as três gostavam de alternar um enredo formado no início e deixar que as crianças completassem o restante. Portanto, Audrey iniciou a rodada, com todos sentados num círculo?

— Então, agora é hora de quem? Das fadas, dos piratas ou das sereias? Mary, a escolha é sua.

— Fadas!

É claro que houve um resmungo em uníssono da parte dos meninos. Apesar disso, Ginger interveio com um sorriso:

— Existem fadas homens. E geralmente são todos reis e príncipes, pela raridade.

Houve um murmúrio de dúvida nas cabecinhas criativas. Logo, um dos meninos mais corajosos ergueu uma mão, ainda que com grande timidez. Foi Alina quem fez um sinal para que ele falasse.

— Sim, Lucas?

— Podemos ser fadas piratas?

— Se deseja se rebelar desse jeito ao ser rei...

Não foi preciso dizer mais. Logo as garotas e as crianças teciam uma história que lhe aqueceria os corações e os faria sonhar à noite com uma vida melhor. Crianças precisam sonhar, Ginger pensava com um sorriso enquanto cada um fazia uma contribuição.

— E então o rei Tate e o fada-pirata Lucas finalmente tiveram seu conflito final — Ginger contou, acentuando a voz de maneira que as crianças curvaram os corpos para frente em ansiedade. — “Espada em riste!”, gritou o rei, pronto para o combate. “Lutaremos de igual para igual, como assim fomos um dia antes de se voltar para o lado errado da vida”. E então, o fada-pirata igualmente animado respondeu...

— “Pela liberdade!” — uma voz familiar falou, vindo da porta. — “E pela justiça!”

Todos na sala olharam para a origem da voz, profundamente curiosos em descobrir quem era o impostor no jogo. Logo se via que se tratava de um homem alto e loiro, de olhos âmbares reluzentes e quepe na mão, em posição de folga assistindo um bando de crianças brincando. Não apenas isso, mas admirando em silêncio o estral da namorada. Ginger, em resposta, sorriu de volta disfarçadamente.

— Delia! O que o rei fada respondeu para o pirata? — Audrey assumiu a narrativa da amiga, uma vez que Ginger distraíra-se com a intervenção surpresa.

— É... — a menininha parou uns segundos para pensar. Quando encontrou palavras, abriu um sorriso de orelha a orelha. — “Era pra você derrotá-los, não se juntar a eles!” O... Meu irmão vive assistindo um filme que tem essa...

Nathaniel suprimiu uma risada, bem como o restante dos adultos.

— Muito bem, Delia — Alina piscou para ela, digníssima em sua peruca. Como conseguia equilibrá-la, aí seria um eterno questionamento da humanidade. — Então, teremos mais depois de amanhã.

As crianças emitiram um “ah” de descontentamento, o que fez com que os adultos sorrissem. Logo todos estavam se despedindo caracteristicamente, cada um dando carinho e recebendo em dobro de quem acumulava no coração. Cada criança voltou para seu leito e tratamento respectivo, ao passo que as garotas saíram juntas das personagens.

— Bom almoço, querida — Audrey riu baixinho, num tom um tanto maldoso.

— Ou ela pode estar sendo presa por ser linda demais — Alina acompanhou a brincadeira, piscando para Ginger.

— Vocês não prestam! Até amanhã, meninas.

As três abraçaram-se com carinho, dispersando-se. Ginger retirou sua peruca avermelhada, no entanto ainda tinha que tirar sua maquiagem antes do almoço. Nathaniel continuava escorado na parede, com um sorriso ladino.

— Olá — ele estendeu um braço para que ela pudesse abraçá-lo, o que Ginger sequer hesitou em fazer. — Você é boa nisso, sabia?

O sorriso que Ginger lhe devolveu foi suficiente para considerar que ela havia amado o elogio.

— Obrigada... é muita gentileza.

— Não há de quê, Capitã — ele riu, retirando seu nariz de palhaço. — Saí mais cedo para o almoço. Quer ir fazer alguma coisa?

— Com você? Adoraria fazer até nada.

Nathaniel riu, beijando-lhe a testa apesar da maquiagem. Depois de aguardar a namorada alguns minutos no banheiro, estendeu-lhe uma mão para que ela a segurasse. Ginger o fez, repassando o amor de sobra que tinha recebido ao longo do dia.

Ginger sempre transbordaria de amor assim.


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Notas finais do capítulo

Um beijão no coração de vocês e até semana que vem ♥



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