Sinais escrita por Sirena


Capítulo 34
Casa


Notas iniciais do capítulo

Obrigada fran_silva, Isah Doll, SophiaWiggin e heywtl pelos comentários ♥



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Ícaro

Eu não sei bem como aquilo aconteceu.

Sei lá. Foi meio que automático.

Puxaram o cabelo do meu namorado e minha reação imediata foi um soco.

A minha segunda reação foi correr.

E a última foi ter que descer do ônibus porque estava quase vomitando porque meu cérebro ficava me instigando com paranoias de que aquele garoto estava vindo atrás de mim para me fazer de saco de pancadas e isso me deixou enjoado. Eu não cheguei a vomitar, mas tremi muito.

Além disso, minha mão estava doendo.

Suspirei tirando os sapatos quando entrei na casa do Mathias e me encostando contra a mesa da cozinha, deixei minha mochila no chão.

“Você tá bem mesmo?”

“Sim.” – forcei um sorriso. – “Foi só um mal-estar.”

“Mesmo?”

Concordei com a cabeça e respirei fundo olhando ao redor. Não tinha sido só um mal-estar. Estava precisando de toda a minha força de vontade para não cair no choro completamente desesperado e assustado. Respirei fundo.

É só a campainha quebrada, Ícaro. Só isso.

“E você tá bem?” – perguntei e ele apenas assentiu.

“Obrigado.”

“Não tem pelo que agradecer.” – garanti. – “A única pessoa que tem permissão para puxar seu cabelo sou eu.”

Ele deu risada.

A casa do Mathias era confortável, tudo era tão bem organizado e arrumado, aconchegante e quentinho. Eu gostava. Só os aromatizantes que eu não gostava, me faziam espirrar, mas o Mathias os tirava logo que eu entrava.

Era um pouco estranha a ideia de ter feito alguma coisa, pensei massageando minha mão. Não era algo que eu já tivesse feito e isso meio que me apavorava um pouquinho. Devia ser bom, claro, mas... Mas... Não sei. Não sei como me sentia sobre isso. Com certeza teria que falar com o Tales sobre isso.

Respirei fundo.

“Amor?”

“Eu!” – Mathias sorriu para mim enquanto prendia o cabelo num coque, tirando os sapatos em seguida.

“Você sabe dar um soco?”

“Não.” – ele franziu a testa, me olhando confuso.

“Acha que tá na hora de aprender?”

***

Cai na cama cobrindo o rosto, atordoado.

Senti o Mathias puxar minha mão tentando ver o estrago, mas o empurrei.

Meus olhos ardiam e quando pararam, o quarto estava vazio. Respirei fundo passando a mão pela parte dolorida do meu maxilar, pontos pretos ainda aparecendo e sumindo da minha visão. Meu namorado voltou trazendo gelo enrolado em um pano.

“Desculpa.” – pediu, pressionando o gelo contra a parte da minha bochecha.

Respirei fundo, mordendo a língua.

“Tudo bem. Não foi nada de mais.” – respirei fundo de novo. Meu Deus, que dor! – “Não foi nada mal. Parabéns.”

“Eu não queria...”

“Amor, tudo bem.” – forcei um sorriso, mas não consegui manter porque meu rosto ainda estava doendo muito. – “Não tem como saber se realmente aprendeu a dar um bom soco sem socar alguém. Relaxa. Eu não sou de vidro.”

“Eu não queria te machucar...”

“Tudo bem. Vou ficar bem.” – puxei sua mão logo que acabei de falar, beijando seus dedos um instante e me ajeitando para que ele se sentasse ao meu lado.

Mathias suspirou, ainda com cara de culpado. Mas, não tinha muito mais que eu pudesse dizer para ele entender que não tinha culpa nem nada.

“Como você aprendeu isso?” – ele perguntou após um longo instante de nós dois em silêncio.

Dei de ombros colocando uma perna sobre a dele. – “Quando eu tinha seis anos, meu tio decidiu que era hora de Alexia e eu sabermos dar um soco. Ele dizia que pelo menos isso a gente tinha que saber. Falou que era pro caso de encontrarmos com alguém racista.”

“É um bom ensinamento.”

“Ele dizia que a gente só podia socar racistas e nazistas.” – continuei. – “Mas, ele não explicou muito bem o que eram nazistas. Ele só disse que racistas eram como P-O-K-E-M-O-N-S e que a evolução dos racistas eram os nazistas. Mas, eu só fui entender direito a diferença anos depois.”

Mathias deu risada.

“Seu tio parece legal.”

“Ele é.” – respirei fundo. – “Ele e a esposa dele sempre vão lá em casa. Minha tia tem vários vídeos de quando Alexia e eu éramos crianças, ela sempre coloca algum no nosso aniversário. É muito fofa comigo desde sempre, mas sempre disse que não queria ter filhos. Tio Flávio também não quer, diz que é bom poder devolver a criança pros pais quando cansa.”

“Errado ele não tá.”

“... Eu quero ver como vai ser eu tentando explicar pro meu pai esse soco.” – comentei, após um instante de silêncio. Mathias empalideceu.

“Acho difícil seu pai entender que foi só... E meu Deus! Seu pai é maior que uma geladeira! Será que ele vai ficar muito bravo comigo?”

“Se ele vai ficar bravo por você ter socado o filho dele?” - arquei a sobrancelha.

Mathias engoliu em seco olhando para cima, parecendo ainda mais pálido. Dei risada me sentindo malvado enquanto puxava seu queixo para que me olhasse outra vez.

“Não se preocupa. Ele vai entender quando eu explicar.”

“Não parece uma explicação muito boa mesmo sendo a verdade.”

“Relaxe.”

“Eu espero que ele acredite, gosto que meus sogros gostem de mim.”

“Mathias, foi brincadeira. Meu pai vai entender. Você devia ver como eu chegava quando Alexia estava tentando aprender a dar socos. Não é nada que nunca tenha acontecido, sério.”

“Ok.” – sorriu, forçando um sorriso. – “Porque o presente de aniversário de você e da Alexia tem que ter o mesmo preço?"

"Quando éramos crianças meu tio esqueceu de tirar o preço dos presentes que deu pra gente... Aí vimos que o presente que ele deu para Alexia era uns cem reais mais caro e ela ficou se exibindo falando que era a sobrinha favorita." - fiz careta. - "Isso aconteceu umas três vezes e a gente ficava brigando por dias por conta disso. Minha família começou a dar presentes que fossem mais ou menos do mesmo preço pra não dar briga. Hoje em dia a gente pesquisa e se um for muito mais caro que o outro ainda vamos brigar por isso."

"Meu Deus!"

"Minha irmã e eu somos duas crianças mimadas." - dei de ombros. - "Mas, claro, o presente de aniversário que você me der, tem que ser mais caro que o dela porque eu sou seu namorado. Só não pode ser muito mais caro ou ela vai achar que você não gosta dela."

"Não tem como não gostar da Alexia." - Mathias bufou.

Dei de ombros. - "Uma diferença de quinze, vinte reais a gente não implica. Mais que isso sim."

"Vou me lembrar disso." - ele deu risada. "Eu vou tomar um banho, ok?”

“Eu vou ficar aqui, com gelo na cara.” - bufei

Riu de novo, antes de ficar sério. - “Não deita na minha cama. Você tá com roupa de rua.”

“Mas...”

“Não. É sério, Ícaro. Nada de deitar de roupa suja na minha cama.”

“E se eu tirar a roupa?”

Ele cerrou os lábios, ficando um pouco vermelho. – “Eu não tenho nada contra isso, mas... Você também tá suado. Então, não.”

“Eu só posso ficar sentado?”

“Sinceramente, eu preferia que nem isso. Por mim você ficava sentado no chão até tomar banho e trocar de roupa. Mas, como isso seria maldade, pode ficar sentado na cama. Só não deita.”

“Nossa, como você é bonzinho.” – ironizei revirando os olhos e ele riu de novo enquanto ia até o guarda-roupa no canto do quarto.

Semicerrei os lábios, observando-o escolher uma roupa e desviei o olhar, procurando pelo meu celular para me distrair com algum jogo. Quando o quarto ficou vazio, me levantei e comecei a olhar a coleção de colares que o Mathias tinha. Eram muitos mesmo.

Colares, pulseiras, mais colares, maquiagens e enfeites de cabelo. Franzi os lábios antes de escolher um colar de pedras claras que pareciam refletir a luz e colocar. Peguei também algumas pulseiras em vários tons de amarelo, porque amarelo é uma cor muito bonita. Lembrei de quando era criança e Alexia ficava se enfeitando com as joias e tiaras que minha mãe usava em suas apresentações e dei risada porque sentia que estar fazendo basicamente o mesmo.

Achei óculos e fiquei surpreso porque não sabia que meu namorado usava óculos. Resolvi colocar, mas não vi muita diferença... Talvez o grau fosse baixo? Franzi os lábios de novo enquanto me olhava no espelho.

Eu ficava muito bonito de óculos, pensei antes de voltar a me sentar na cama, ainda com colar, pulseira e óculos. Muito bonito mesmo. Metade da cara inchada, mas o resto lindo.


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