Sinais escrita por Sirena


Capítulo 35
Dias Bons e Dias Ruins


Notas iniciais do capítulo

Obrigada heywtl, SophiaWIggin, fran_silva e Isah Doll pelos comentários ♥
Obrigada também Kajota por favoritar ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/796817/chapter/35

Mathias

Apesar de já estar tarde, decidi lavar o cabelo porque fazia... Bom... Sei lá quanto tempo que eu não lavava.

Respirei fundo aproveitando a água quente e tentando imaginar a cara dos meus sogros quando soubessem que eu tinha socado o meu namorado. Meu Deus, eu tava tão morto. E apesar de isso provavelmente ter desencadeado minha morte, foi legal ter o Ícaro me ensinando. Sei lá. Sorri lembrando dele dando um soco no André. Aquilo foi realmente incrível.

Fechei os olhos sentindo meus ombros doerem novamente. Será que se eu pedisse com jeitinho meu namorado aceitava me fazer uma massagem? Não pude evitar rir, ciente que poderíamos ir bem além de massagens sem qualquer preocupação. Respirei fundo tirando o shampoo do cabelo e massageando as mechas para ficarem bem macias.

Estava cansado do dia e com dor nas costas, mas nada que um bom banho não resolvesse.

Passei o condicionador e comecei a desembaraçar o cabelo, pensando. Tinha sido um dia longo e cansativo, mas tinha sido bom. E era divertido passar o tempo com o Ícaro... Ele vinha parecendo melhor, ainda ficava assustado demais às vezes, mas, tirando isso, conseguia ver que ele estava melhorando. Parecia mais confiante de novo e isso era realmente muito bom.

Suspirei lavando o rosto para tirar os resquícios de maquiagem antes de sair do banho.

Parei ainda dentro do Box, franzindo os lábios.

Ué!

Cadê minha toalha?

Franzi a testa. Eu tinha certeza de ter pego...

— Amor, pode me trazer minha toalha, por favor? – gritei, puxando a água do cabelo. — Eu devo ter esquecido aí na cama!

Silêncio.

— Amor?

Silêncio.

Ah!

— Mathias, você é burro? - murmurei para mim mesmo.

Revirei os olhos para mim mesmo e sequei as mãos na toalha de rosto. Apaguei a luz e acendi algumas vezes, esperando que isso chamasse a atenção e Ícaro viesse ver o que era.

Desisti após apagar a luz pela oitava vez com medo de acabar queimando a lâmpada. Abri a porta do banheiro e franzi os lábios pensando um instante antes de jogar a camisa suja na direção do quarto. Sei lá, talvez ele visse uma roupa voando e viesse ver o que era? Joguei a calça e depois a cueca também, mas ele não viu porque aparentemente ele não enxergava tão bem quanto antigamente.

Como Ícaro saiu de “garoto que sabe que o trem tá chegando sem nem ter que olhar” para “garoto que não vê roupas voando”?

Desisto, pensei percebendo que estava para jogar os frascos de shampoo e condicionador também. Peguei a roupa limpa e sai do banheiro com passos apressados, irritado em saber que tava molhando o chão. Deus, eu odiava sujar as coisas, inferno!

Ícaro tirou os olhos do celular quando entrei no quarto já pegando minha toalha. Ele abaixou os olhos rapidamente, dando um sorrisinho de lado e rindo baixo. Bufei me secando, minha pele arrepiando pelo fato do meu quarto estar frio. Praguejei baixo, irritado. Pelo canto do olho, vi meu namorado, todo vermelho, encarando.

Idiota.

"Não precisa encarar como se nunca tivesse me visto pelado." - falei para ele tentando não revirar os olhos. Estremeci sentindo a pele dos meus braços arrepiar e fiz careta percebendo que a janela do quarto tava aberta.

"Desculpa. É que faz tempo que eu não tenho uma vista tão agradável." - ele riu e mordeu os lábios, me olhando de cima a baixo e de baixo a cima demoradamente.

Revirei os olhos e então uni as sobrancelhas.

Espera.

"Por que você tá de óculos?" - perguntei, confuso, prendendo a toalha no quadril.

"Porque eu fico lindo! Não sabia que você usava óculos." 

"Não uso." - dei de ombros.

Ícaro arregalou os olhos, tirando os óculos do rosto parecendo assustado.

"De quem são esses óculos então?"

Garoto, tenha calma, pensei tentando não rir da cara que ele fez. Acho que Ícaro tava vendo séries criminais de mais porque ele tava olhando para os  óculos como se fossem evidência de uma invasão.

"São meus. Eu uso quando vou estudar."

"Mas, você disse..."

"Não tem grau. É só que eu me concentro melhor nos estudos quando uso eles. Pessoas inteligentes tem frescuras, Ícaro." - dei de ombros de novo estendendo a mão em direção ao pijama que tinha separado, mas as mãos de Ícaro foram mais rápidas, puxando a muda de roupa para longe de mim.

Arquei a sobrancelha pra ele. - "Me devolve!"

"Não." - deu risada escondendo a roupa atrás das costas

"Ícaro, eu to com frio, devolve."

Ele balançou a cabeça. - "Que parte de que faz tempo que eu não tenho uma vista dessas você não entendeu? Não vou devolver."

Bufei, praticamente tremendo de frio, enquanto tentava puxar a roupa de volta, mas Ícaro deu risada, me fazendo cócegas para que eu me afastasse.

— Amor, é sério... - falei entre risadas, recuando. Ele se levantou da cama, ainda fazendo cócegas na minha cintura. — Ah, devolve!

Minhas costas bateram contra a parede e Ícaro riu enquanto me beijava, parando de me atacar com cosquinha.

Sorri enquanto retribuía, apoiando as mãos na sua cintura. Ele se afastou ainda rindo, os olhos brilhando de um jeito suave. Parecia tão calmo... Era tão bom vê-lo desse jeito.

“O que você disse que precisava mais cedo mesmo? Água ou...”

Meu sorriso sumiu.

“Você vai jogar isso na minha cara toda vez que puder igual com o T e F, não vai?”

Ícaro deu risada concordando com a cabeça enquanto puxava a toalha da minha cintura, jogando-a no canto em seguida. Por um instante isso me distraiu. Ser filho de doméstica é ficar agoniado com coisas fora de lugar. Mas foi só por um instante porque logo ele estava me beijando de novo, fazendo carinho na minha nuca, os dedos se enrolando nas mechas molhadas do meu cabelo.

Sorri de lado apertando sua cintura, puxando-o para mais perto enquanto suas mãos apertavam meus ombros e meus braços, me puxando para que eu sentasse na cama. Ele veio para cima de mim, sentando-se no meu colo.

Ícaro se afastou devagar, deixando mais alguns selinhos nos meus lábios enquanto eu o abraçava.

"Ainda tem problema eu deitar na cama?" - arqueou a sobrancelha, me olhando com aquele sorriso exibido, se mexendo devagar no meu colo. Cerrei os dentes tentando não gemer e apertei sua cintura, negando com a cabeça. - "Tem certeza? Porque se você preferir, eu posso ir pro banho agora e depois a gente..."

"Você é impossível, sabia?" - dei risada e acertei um tapa sobre sua coxa antes que ele pudesse dizer qualquer coisa. Ícaro gemeu baixinho e arfou, surpreso.

"Você gosta disso. Eu sei." - deu de ombros, os olhos brilhando com malícia pura enquanto encarava meus lábios.

Cerrei os olhos, acertando outro tapa em sua pele. Ele gemeu de novo, cerrando os lábios e se mexendo com mais força.

"Espera!" - parou de repente, arregalando os olhos um instante e então sorriu, tateando a cama por um momento. - "Aqui, coloca."

"É sério?" - arquei a sobrancelha enquanto ele colocava os óculos no meu rosto.

"Você fica muito lindo de óculos."

Antes que eu pudesse dizer algo, Ícaro voltou a me beijar, as mãos indo dos meus braços para meus ombros para meu cabelo, apertando, arranhando, puxando... Eu adorava como até com os mais fortes puxões de cabelo, Ícaro parecia tentar ser o mais carinhoso possível, como se estivesse sempre tentando me manter calmo e relaxado. Eu amava o toque dele. Suas unhas estavam um pouco longas e minhas costas arderam com os arranhões que deixava.

Sorri no beijo puxando seu corpo para mais perto ainda, apertando suas pernas e deixando minhas unhas se cravarem sobre sua coxa, me deleitando com cada instante. Toques cada vez mais agitados, beijos cada vez mais sórdidos descendo por cada pedaço de pele... Mãos curiosas. Pernas entrelaçadas. Peles suadas.

Os lençóis da cama ficavam cada vez mais bagunçados. Suspiros, respirações pesadas, gemidos baixos e alguns mais altos. Corpos se encontrando sobre a cama, carícias gentis e carícias não tão gentis. Corações disparados, sinais de te amo sobre a pele um do outro. Prazer, risos e sordidez. Ícaro apertou as pernas ao redor da minha cintura, descendo as mãos pelo meu peito. Pele quente, suor, desejo, excitação e a calmaria que vinha com a certeza de que não tínhamos nada com que nos preocupar naquele momento.

De repente era tudo tão quente que mal conseguia acreditar que cheguei a pensar que o quarto estava frio.

***

A respiração do Ícaro ainda estava pesada e alguns gemidos ainda escapavam por entre seus lábios enquanto eu deixava beijinhos pelo seu rosto. Fiz carinho por suas costas suadas e por seu cabelo enquanto sua respiração se acalmava.

Ele riu me empurrando e se sentando em seguida, uma perna de cada lado da minha cintura.

“Por que eu tenho a impressão de que você quer transar em um dia tudo que não transou em dois meses?” – mordi os lábios e ele deu risada continuando. – “Tipo... Você sabe que eu vou passar a semana aqui? Calma.”

“Eu só quero aproveitar cada instante.” – pisquei.

Ícaro bufou se levantando, o rosto corado, o cabelo mais bagunçado do que nunca, marcas avermelhadas de tapas por suas pernas e corpo suado.

“Você devia arrumar o cabelo. É horrível pentear seco.” – ele fez careta se encostando contra a parede, esfregou o rosto e deu risada, parecendo cansado. – “Vou pegar algo pra comer, to com fome. Por que sexo sempre dá fome? E dor de cabeça! As pessoas dizem que sexo ajuda a diminuir a dor de cabeça, mas comigo é o contrário e eu não sei porque, mas transar sempre me dá dor de cabeça.”

"Tem remédio se você quiser." - comentei, cerrando os lábios para tentar não rir.

"Não, tem um negócio nos remédios que me dá alergia, mas eu não lembro o que é... Mas, eu nunca tomo remédio por isso. Vivo de chá."

"Não tem chá."

"Tudo bem, logo passa." -  ele fez careta balançando a cabeça. - "Dor de cabeça de sexo sempre passa logo."

Suspirei me sentando na cama e observando Ícaro pegar suas roupas no chão e deixar meu quarto.

Passei as mãos pelo rosto e franzi os lábios para os nós no meu cabelo. As pontas ainda estavam um pouco molhadas e seria bom arrumar antes que secasse por completo. Fiz careta e me espreguicei enquanto me levantava da cama, as roupas que eu tinha escolhido estavam no chão e contive um suspiro, resolvi colocar só a cueca e guardei o pijama no guarda-roupa de novo. Pendurei a toalha molhada num gancho na parede e joguei as camisinhas usadas no lixo.

Fui ao banheiro contendo um bocejo. Lavei os restos de gozo da minha barriga e aproveitei para lavar o rosto também. Me espreguicei e esfreguei os olhos enquanto voltava para o quarto.

Peguei um borrifador de água no guarda-roupa e um pente para poder desembaraçar o cabelo.

Esfreguei os olhos e abri uma das portas do guarda-roupa, onde meu espelho estava preso, para poder ver meu reflexo enquanto me arrumava.

Ícaro voltou pro quarto com um potinho de iogurte de morango e uma colher na boca. Ele colocou a camisa num canto, se contentando em ficar só com a bermuda.

Ouvi a TV ligando enquanto passava um pouco de creme no cabelo e puxava o excesso de água.

“Sabe que horas são?” – Ícaro perguntou quando sentei ao seu lado, fazendo careta pra TV.

“Não faço ideia.”

“É muito, muito tarde. Não tem nada legal na televisão.” — ele fez careta desligando e deu outra colherada no iogurte, lambendo os lábios em seguida. – “Quer?"

Dei de ombros e ele encheu uma colher quando abri a boca.

"Obrigado." - sorri, lambendo os lábios.

"Eu ainda preciso tomar um banho. Minha cabeça tá tão pesada.”

“Você tá bem?” – arqueei a sobrancelha e ele deu de ombros colocando o potinho de iogurte já vazio no lixo do meu quarto.

Observei Ícaro pegar a mochila e tirar uma toalha e um pijama de dentro, em seguida uma cartela de remédio.

“O que é isso?” – perguntei pegando o remédio para ver, mas ele logo tirou da minha mão.

“Remédio para dormir. O psiquiatra passou.” – deu de ombros. – “Ele também passou um pra ansiedade... Não lembro o nome. Foi difícil achar um remédio que eu pudesse tomar por causa das minhas alergias, foi o que ele disse. Mas, eu não gostei do pra ansiedade. Deixava meu rosto quente, era ruim. Vou conversar com ele pra trocar da próxima vez que for lá.”

“Você não me contou que tava tomando remédio.”

Ícaro ficou em silêncio enquanto fechava a mochila e tive a impressão que ele demorou o máximo que pôde para fazer isso.

“Não sabia que precisava contar.” – deu de ombros de novo e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa se levantou novamente pegando suas coisas, me deu um selinho e beliscou meu ombro. – “Vou pro banho. Depois tomo o remédio.”

E saiu do meu quarto mais rápido do que os vampiros de séries e filmes correm.

Balancei os pés sem saber bem o que pensar e deitei na cama franzindo os lábios para o teto. Ícaro me deixava confuso às vezes. Um simples comentário podia deixá-lo completamente na defensiva ainda... Calma, Mathias, pensei. Melhorar leva tempo, você sabe disso. Calma.

Suspirei para os meus pensamentos. É. Levava tempo, ele tava melhorando no tempo dele, não tinha porque eu ficar incomodado com ele não contar algo ou ficar na defensiva. Tudo tinha seu tempo.

Ícaro voltou vários instantes depois, usando um pijama de frio do Batman e ajeitando minimamente o cabelo, as pontas molhadas, um copo de água na mão. Me olhou hesitante antes de abaixar o rosto e pegar o remédio.

Observei-o tomar um comprimido e vir sentar do meu lado, balançando os pés. Suspirei me sentando e encostando a cabeça em seu ombro, confortável. Ah, ele tava tão cheiroso! Não pude resistir  a tentação de dar um cheiro em seu pescoço.

Ícaro manteve a cabeça baixa e riu, puxando um fio da calça, os lábios formaram um beicinho pensativo enquanto começava a me fazer carinho. O silêncio aos poucos foi ficando mais e mais pesado, adquirindo um tom desconfortável. Ele tocou minha mão, finalmente erguendo os olhos.

“Tá bravo comigo?”

Franzi a testa, surpreso. – “Por que acha isso?”

Ele apenas deu de ombros.

“Não to bravo, Ícaro. Não tenho motivo pra estar”

Ele voltou a balançar os pés e fez careta antes de começar a falar. – “É complicado isso dos remédios, sabe? Eu não sei. Ainda não me acostumei a tomar. Fico com a cabeça pesada e acordo sentindo como se estivesse com ressaca. Meus pais falam que eu estou muito lento... Não sei. É estranho. E você aguentou muito quando eu estava sem sair de casa, acho que eu tive medo de que isso de remédios controlados assustasse. Tive medo de ser demais.”

“Achou mesmo que você tá se tratando me assustaria?” – arqueei a sobrancelha, agora realmente ofendido. Qual é? Eu terminei um namoro porque o cara não seguia o tratamento que fazia! Não tinha sentido Ícaro achar que eu ficaria bravo por ele seguir o tratamento. – “Ícaro, você tá fazendo um tratamento é algo positivo.”

“Não gosto de tomar remédio! E o Tales não me diz o que eu tenho afinal. E eu não sei se é algo que eu possa me livrar ou se eu vou ter pra sempre. Não gosto... Não sei! Ajuda na verdade, mas mesmo assim... A verdade é que eu não sei se gosto de tomar remédio porque me deixa com dor de cabeça, mas me ajuda a dormir então funciona, mas... Mas, não sei. Fiquei com medo do que você ia achar sobre porque nem eu sei o que acho sobre. Desculpa.”

Suspirei, entendendo.

“Tudo bem, você não é obrigado a me contar tudo, é só que gosto quando conta coisas importantes.”

“Acho que só precisava de tempo para decidir o que pensava sobre antes de contar. Sabe... Contar no meu tempo, entende?”

“Isso eu consigo entender.” – dei um sorriso. – “Tá tudo bem, vida.”

Ícaro suspirou se levantando para guardar o remédio na mochila e se ajeitou ao meu lado de novo. – “A gente tá bem então?”

“Com certeza.” - dei risada, um pouco confuso por como ele realmente tinha levado isso tão mais a sério do que eu. Mas, sua expressão aliviada era realmente adorável.

“Tô com sono.”

“Então vamos dormir.” - sorri. - "Passou a dor de cabeça?"

"Tá passando." - deu de ombros.

"Que horror ter dor de cabeça sempre que for transar." - balancei a cabeça dando risada.

"Compensa" - ele riu e em seguida piscou para mim. - "Bom, com você pelo menos compensa."

Dei risada, sentindo meu rosto ficar quente. Apaguei a luz enquanto Ícaro se deitava ao meu lado, senti sua mão encostar no meu rosto no sinal de “te amo” e sorri, depositando um beijo na sua testa e fechando meus olhos.

***

O resto da semana com o Ícaro foi divertida e leve. É estranho, mas nos ajeitamos numa rotina simples. Assistindo, conversando, jogando, e, vez ou outra saindo para passar o dia fora. Tirando o sexo, claro. Uma semana inteira sozinhos, seria idiotice se transássemos só uma vez.

Aproveitamos a semana para irmos ao cinema e ao shopping, fomos à feira com minha mãe para comer pastel. Ele parecia mais relaxado perto dela e isso foi bom, e minha mãe também não ficou fazendo perguntas inconvenientes e isso foi ótimo.

Eu recebi uma massagem por dia e isso maravilhoso. Foi uma das semanas mais leves e divertidas da minha vida, mesmo quando ficava cansativo e não estávamos conversando e nem fazendo nada além de assistir, era bom. Mesmo os dias mais silenciosos foram ótimos. Eu me sentia só tão melhor perto dele... Ícaro conseguia deixar tudo mais leve.

A semana toda foi ótima e tudo que é ótimo, acaba rápido.

A volta às aulas chegou. Infelizmente.

Sai de casa tremendo e fiquei cada instante que pude grudado na Samantha como se ela fosse minha guarda-costas.

Senti os olhares sobre mim na sala, mas ninguém disse nada e nem fez menção a fazer nada. Era quase como ser ignorado. Quase. Porque eu ainda sentia todos os olhares em mim... Mas, quando olhava ao redor, não via ninguém me olhando... E isso era quase tortura. Estava claramente ficando paranoico e a ideia de estar paranoico me deixava em pânico.

André esbarrou em mim de propósito, mas nada muito sério. O vi conversando com a Cássia em dado momento, mas os dois pareciam relaxados.

“T-U-D-O B-E-M” – soletrei o mais discretamente que pude contra a mesa, tentando me focar apenas na explicação dos professores.

O intervalo pareceu demorar um dia inteiro para chegar, mas eu saí da sala mais rápido que o Mercúrio. Parei nas escadas apenas porque tinha muita gente descendo e não dava para empurrar todo mundo.

Respirei fundo tentando recuperar o fôlego enquanto descia as escadas que começavam finalmente a se esvaziar.

Parei um instante no último degrau, uma sensação, como se tivesse alguém atrás de mim. Aquela mesma impressão que você tem antes de se virar para trás para ter certeza que não tem nenhuma alma penada te olhando.

Antes que eu pudesse olhar para trás, um barulho rápido próximo a minha orelha me fez sentir um arrepio. Engoli em seco enquanto punha a mão no ombro. Já sabia o que estava acontecendo antes mesmo de olhar. Já sabia. Já estava ao ponto de chorar.

Uma mecha cortada de cabelo no meu ombro.

Me virei e vi Cássia parada atrás de mim, uma tesoura na mão e um sorriso presunçoso no rosto.

Meu rosto ferveu.

Meu coração acelerou.

O mundo pareceu paralisar.

E eu não me lembro de nada do que veio depois.

***

[Mathias]
Ent
Eu n tenho ctz
Só lembro da diretora me mandando pra casa
Ligaram pra minha mãe e ela me liberou pra vir sozinho
Acho ACHO
Que eu pulei em cima da Cassia
E talvez eu tenha batido nela
E eu acho que arranquei parte do cabelo dela
Enfim, to suspenso

 

[Ícaro]
Minha nossa
Tipo
Nem sei o q falar

 

[Mathias]
Eu n quero pisar naquele lugar nunca mais
Mds
Eu quero sumir
Ai
Ai ai ai
Se eu voltar lá vão fazer picadin de mim
Eu deixei de ser o garoto q sofre um bullying fodido pra ser o garoto q agrediu uma menina
EU VOU SER MORTO

 

[Ícaro]
Calma
Um dia de cada vez ok?
Vai ficar tudo bem
Respira
Inspira contando ate quatro
Segura por mais quatro segundo
Solta no tempo de quatro
E segura de novo por quatro segundos
E vai fazendo assim ate se acalmar
Ta tudo bem

 

Tentei fazer o que ele disse.

 

[Mathias]
E seu dia?
Como foi?

 

[Ícaro]
Briga briga briga
Quero sumir tbm
N quero dar detalhes
So quis fugir o tempo todo
Vamo fugir juntos?

 

[Mathias]
Pra onde?

[Ícaro]
Espera

 

Instantes depois ele mandou mais mensagens.

[Ícaro]
Esqueci de te falar né
Davi quer gravar um vídeo sobre relação surdo com ouvinte
Ele queria q a gnt participasse
Se vc topar, a gnt pode ir na casa dele gravar
E
Vc pode conhecer a Vanessa, vulgo, mini-eu
O q vc acha?
A mãe dele sabe cortar cabelo, talvez dê pra ajeitar o que essa doida fez no seu

 

Franzi os lábios antes de mandar uma mensagem concordando.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ai, estamos tão perto da reta final ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sinais" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.