Sinais escrita por Sirena


Capítulo 33
Mirantes e Socos


Notas iniciais do capítulo

Obrigada fran_silva, Minnie, Isah Doll e heywtl pelos comentários ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/796817/chapter/33

Mathias

Eu sei que mirantes são altos. Mas, não sabia que eram tão altos.

Ícaro e Davi trocavam sinais rápidos antes de fotografarem, acho que estavam conversando sobre ângulo, luz e... Essas coisas de fotografia. Os dois riam enquanto tiravam fotos e passavam instruções de pose. Paula não pôde vir, parecia que ela tinha um ensaio importante, então éramos só nós e a Sabrina.

Davi não estava muito animado hoje, mas foi ficando conforme ia tirando fotos. Ícaro explicou que ele estava triste por causa da progressão da surdez. Sabrina parecia preocupada com o namorado e eu conseguia entender porque, mesmo sorridente, Davi parecia abatido.

“Mais pra trás.” – Ícaro pediu.

Arregalei os olhos, enquanto dava dois passos hesitantes para trás, tentando manter distância do guarda-corpo.

“Mais. Encosta.”

Garoto, você quer que eu morra?

Respirei fundo.

Davi falou de novo para que eu ir mais para trás. Suspirei. Ícaro arqueou a sobrancelha para mim e tocou no braço do amigo, trocando alguns sinais que de novo, acho que foi sobre ângulo, mas não tenho certeza. Davi deu um suspiro antes de concordar e o Ícaro sorriu vindo pro meu lado.

“Vem cá. Eu disse que a luz daqui tá te deixando igual aos vampiros de Crepúsculo e você não seria um bom vampiro. Vamos procurar outro lugar enquanto o Davi tira foto da Sabrina.”

Concordei deixando-o me puxar.

No elevador, voltando para o chão, Ícaro me olhou com uma mão na cintura, a expressão bem mais séria do que quando esteve fotografando.

“Você não disse que tinha medo de altura.”

“Acredita que eu não sabia?”

Ele deu risada, revirando os olhos.

“Vou mandar mensagem pro Davi falando pra gente tirar umas fotos aqui no parque. Íamos ao mirante da nove de julho depois daqui, mas também dá pra tirar umas fotos legais no Ibirapuera.”

Mordi os lábios. – “Desculpa.”

“Relaxa.” – ele revirou os olhos de novo. – “A gente não viria ao mirante se soubéssemos que você tem medo de altura. Tudo bem. Altura é meio assustadora mesmo. Podemos tirar umas fotos perto do lago.”

Concordei com a cabeça um pouco cabisbaixo e Ícaro riu apertando minha mão antes de passar a correia da câmera em volta do pescoço.

Saímos do MAC e fizemos o curto caminho para o Parque Ibirapuera.

“O legal é que agora eu consigo fazer sinais enquanto ando.” – comentei, atravessando a passarela. – “Muito legal.”

“Mais ou menos.” – Ícaro cerrou os lábios, se desviando de um passante. – “Você ainda tem um pouco de dificuldade. Dá pra ver.”

“Exige muito da minha coordenação.” – dei risada. – “Bom, pelo menos dessa vez você não tá de cara feia.”

“Eu tinha motivos para tá de cara feia. Você se atrasou, pensei que estivesse zombando de mim... Que só tinha me chamado pra sair de brincadeira e tava rindo de mim em algum lugar.” – ele riu, antes de olhar pro céu nublado. – “Acho que vai chover. Melhor irmos logo com essas fotos. Eu já disse que você tá lindo hoje?”

“Só hoje?” – arqueei a sobrancelha.

“Não. Eu gostei desse delineado.”

“Obrigado. Levou um tempão pra fazer.”

“Imagino. Alexia sempre fica irritada nessa parte quando se maqueia.”

“É horrível.” – concordei. – “Mas, fica tão bonito.”

“Fica mesmo.”

“Podemos ir ao planetário depois das fotos.”

“Não.” – Ícaro fez careta. – “Não me leve a mal, o planetário é lindo, mas a parte mais interessante foi ficar te beijando por cinquenta minutos e com o Davi e a Sabrina aqui... Não teríamos a mesma liberdade.”

Fiz bico. – “Eu não posso argumentar com isso.”

“Pois é.” — ele riu novamente, antes de abaixar o rosto e começar a mexer na correia da câmera.

Hesitei antes de apertar seu ombro, atraindo sua atenção novamente.

“Tá tudo bem, amor?” – arqueei as sobrancelhas.

Ícaro mordeu os lábios, olhando ao redor com atenção e respirou fundo antes de sorrir. – “Segura minha mão?”

Sorri concordando. Ele respirou fundo de novo enquanto entrelaçava os dedos com os meus, sua mão suava, mas nenhum de nós se importava de verdade com isso.

***

Era até que divertido ser modelo.

Um pouco vergonhoso no começo, mas, ainda assim divertido. A tática do Ícaro para me deixar relaxado com as fotos era basicamente mandar alguma cantada antes de qualquer foto e eu estava tendo que me esforçar para não cair no riso porque algumas eram realmente bem criativas.

“Será que é crime arrancar levar alguma das flores do parque e levar pra casa?” – ele arqueou a sobrancelha. – “Porque eu quero levar você lá pra casa.”

Dei risada. – “Ok, essa foi péssima.”

Flash.

“A foto ficou boa, é o que importa!” – ele deu risada. – “Senta naquele banco e deita o pé esquerdo no joelho direito. Vai lá. E arruma o queixo, dependendo do ângulo seu queixo parece enorme.”

Concordei ainda rindo.

“Tá ficando frio.” – Ícaro fez careta pegando o celular e digitando algo antes de se ajoelhar na frente do banco tentando outro ângulo da foto. – “O Google disse que o melhor casaco é você. Me abraça para eu ver?”

— Meu Deus, Ícaro! – virei o rosto e cobri a boca tentando não gargalhar. – “Ok, essa não foi ruim. Ganhou pontos porque realmente tá ficando frio.”

“É porque até o clima concorda que eu tenho que ficar com você.”

“Ícaro, chega!” – sinalizei entre risos.

Outro flash.

A câmera dele era boa, meu Deus.

“Você tá tão lindo como uma sereia...” – Ícaro fez bico. – “Queria ter uma rede pra poder te pegar.”

“Pena. Eu já to ocupado pegando o fotografo.” – Ícaro desviou o olhar com minha resposta e eu dei um sorriso contente por conseguir retribuir pelo menos uma.

Ele mordeu os lábios sentando no chão de grama e cerrando os olhos, ergueu o queixo como fazia quando queria bancar o teimoso e tive a impressão de que ele queria transformar isso num jogo e só naquele instante finalmente caiu a ficha que o Ícaro era competitivo demais.

“Será que se eu pedir, o I-F-O-O-D te entrega lá em casa?”

“Você está querendo levar isso pra outro lado? Porque tenho certeza que eu me dou melhor nesse tipo de cantada do que você.”

“Claro que leva, você é uma tentação enorme. E tentações como você, merecem pecados igual eu.”

“E você ainda diz que é um anjo.” – revirei os olhos.

Ícaro ergueu a sobrancelha, esperando. Suspirei tentando pensar.

Difícil.

Todas as cantadas que eu conseguia pensar tinham sinais muito indiscretos, não conseguiria mandar essas em público.

“Ia falar que você é a oitava maravilha do mundo, mas as outras sete não têm nada de maravilhoso comparado com você.”

Ícaro bufou. – “Sério? O melhor que você conseguiu? Olha só... Eu devia jogar essa câmera fora, porque eu não preciso dela pra focar em como você é lindo.”

Virei o rosto mordendo os lábios tentando pensar em uma resposta, mas todas as cantadas ruins que eu costumava ler nos sites em 2012, aparentemente não ficaram gravadas no meu cérebro.

“Ok. Desisto.”

“Vamos voltar as fotos então.”

“Ok. O importante é que eu ainda vou beijar o fotografo no fim.” – dei risada;

“E eu...” – Ícaro deu um sorrisinho superior, piscando para mim em seguida, movendo as mãos discretamente. – “Vou pra cama com o modelo.”

Garoto... – cobri o rosto, com vergonha.

Ícaro deu risada, pegando a câmera novamente.

“Sorria!”

Flash.

“Tira uma foto comigo.” – pedi, fazendo bico.

Ele deu risada antes de concordar vindo sentar do meu lado enquanto eu pegava meu celular. Ícaro colocou os pés no banco e se encostou no meu ombro. Tirei algumas selfies e deixei ele escolher as que tinha gostado mais, porque bom... Ele entende de fotografia mais do que eu, né?

Ícaro apagou a maior parte, deixando só umas quatro. Minha favorita foi uma em que ele estava me dando um beijo na bochecha.

Ele deu um pulo no banco de repente e tirou o celular do bolso, olhando as notificações com a testa franzida.

“Davi tá procurando a gente. Vamos encontrar ele e achar outro lugar para tirar fotos, ok?” – sorriu guardando o aparelho novamente e se levantando. – “Talvez... Não sei. A gente pode ir no M-A-S-P? Ou...” – ele fez careta passando a mão pelo rosto.

“Tudo bem se quiser ir ao mirante.”

“Não. Não vou levar meu namorado num lugar que ele não se sente confortável.” – bufou, me olhando torto. – “O M-A-S-P... A gente pode tirar fotos na entrada... Ou na feira de antiguidades... Ou... Não se preocupe. Vou pensar. Vamos indo.”

Ele passou a correia da câmera pelo pescoço e cruzou os braços, franzindo os lábios num beicinho pensativo. Suspirei me levantando e andando com ele. Andamos um tempo meio perdidos, sem saber bem em qual saída o Davi estava esperando, mas depois de umas três tentativas, finalmente encontramos com ele e com a Sabrina.

“Que demora!”

Vai se lascar, Davi. – resmunguei, limpando o suor da testa e olhando ao redor procurando um quiosque ou qualquer coisa assim. – “Eu to com tanta sede! Juro que nunca precisei tanto de água na minha vida.”

— Eu não precisava saber disso! – Davi falou um pouco alto demais, dando risada. — Ícaro, olha o seu namorado aí, olha ele!

Uni as sobrancelhas, confuso enquanto Sabrina abafava o riso, me olhando incrédula, o rosto vermelho.

Ué!

Olhei para o Ícaro esperando alguma explicação, mas ele estava com os olhos no chão, rindo com as bochechas vermelhas parecendo sem graça.

— O que eu fiz? – perguntei.

— Nada, cara, nada! Eu entendo, mas... Porra, guarda algumas informações pra tu e pro Ícaro só, né? Cacete. – Davi gargalhava enquanto falava. — Maldade, pô. Eu sei que foi confusão tua, mas... Caralho.

— O que...

Ícaro colocou a mão no meu ombro, erguendo os olhos para mim devagar, olhando em volta envergonhado.

“Amor... Presta atenção. Água...” – ele fez o sinal que era a mão na configuração de L com o polegar encostando no queixo. — “Diferente de...” – ele fez o mesmo sinal, só que com o polegar encostando na boca. Uni as sobrancelhas, confuso, as engrenagens do meu cérebro pareciam estar de folga hoje porque demorei ainda um instante para lembrar que esse era o sinal para pênis.

E demorei mais um instante para entender o porquê do Ícaro ter resolvido explicar essa diferença.

— Ah!

— Ah! – Davi repetiu, coçando o rosto. — Ah, você acabou a minha inocência com a Libras, porque eu nunca tinha reparado na semelhança! Puta que pariu! Por isso que andar com ouvinte não dá certo, Ícaro.

“Que bom o Ícaro vai pra sua casa, né? Assim você vai poder matar essa necessidade.” – Sabrina comentou ainda rindo.

Escondi o rosto nas mãos.

***

Fomos para o Beco do Batman.

Os grafites coloridos, vivos e vibrantes serviam de um fundo encantador para as fotos. Passamos o resto da tarde lá, Davi e Ícaro pareciam no paraíso tirando uma foto atrás da outra até as câmeras descarregarem.

Paramos num Habbib’s para comer e o Davi e a Sabrina riam, puxando um assunto atrás do outro.

“A Vanessa é uma peste.”

“A Vanessa é uma fofa.” – Ícaro rebateu, fechando a cara. – “Eu amo a sua irmã, Davi. Ela me lembra de mim quando criança.”

“Então... Uma peste” – Sabrina revirou os olhos. – “Ícaro, eu te conheço desde meus três anos. Não faça essa cara. Você era terrível! Você derrubou a impressora da escola e colocou a culpa naquele garoto esquisito.”

“Ele fez o quê?”- franzi a testa.

“Primeiro, eu derrubei por acidente. Segundo, eu coloquei a culpa num racista, então tudo bem.”

“Eu não vou discordar dessa lógica.” – franzi a testa.

“Você também derrubou a mesa da professora.” – Sabrina franziu os lábios, olhando torto.

“Ela roubou meu lápis!”

“Era só um lápis, Ícaro!”

“Era um lápis dourado! Só vem um na caixa!”

“Garoto, você era um demônio.” — bufei.

“Eu era um anjo e a Vanessa também é.” – Ícaro fez uma cara de emburrado. – “Davi só fica dizendo que ela é uma peste porque ela tem personalidade."

Davi bufou. – “Personalidade de demônio só se for."

“Tá ficando escuro. Melhor a gente ir, né? Ainda temos que passar lá em casa pra pegar minhas coisas.” - Ícaro declarou de repente, instantes depois.

Olhei para ele confuso um instante porque não estava tão tarde ainda. Sua mão apertou meu joelho por baixo da mesa. Contive um suspiro. Com o passar dos meses, pequenos sinais foram surgindo entre nós dois, tipo quando ele beliscava minha mão para avisar que queria falar... Um aperto no joelho era um sinal para "não to me sentindo bem, quero ir embora" e encostar no pé um do outro, era um jeito discreto de avisar que estava para entrar em pânico.

Eu gostava desses pequenos combinados, eram como um terreno em comum entre Libras e português para gente.

“Já?” – Sabrina fez bico.

“Já sim, Sabrina.” – Ícaro se mexeu desconfortável no lugar, me olhando de lado como se pedisse por ajuda.

“Minha casa é muito longe.”

Nos despedimos deles e pagamos a nossa parte antes de irmos embora. Ícaro cruzou os braços logo que chegamos na calçada e eu fiquei na dúvida se naquele momento queria dizer que ele não queria conversar ou só não queria ficar de mãos dadas.

"Tudo bem?" - perguntei para ele.

Deu de ombros e respirou fundo olhando em volta. - "Não tinha motivo pra eu ficar nervoso, eu sei. É só que eu ainda não me acostumei de novo a ficar muito tempo conversando... Fico cansado. Minha cabeça dói."

"Entendi."

"Mas, eu to bem." - garantiu dando um meio sorriso.

***

Enquanto Ícaro arrumava a mochila, resolvi ir falar com a Lexi.

— Oi, amorzinho. - sorri, me encostando contra a porta aberta do quarto dela.

Alexia tirou os olhos do computador e abriu um sorriso.

— Oi, amorzinho. Vem cá. - chamou, indicando para que eu sentasse ao seu lado na cama.

Dei um abraço na minha cunhada enquanto me ajeitava perto dela.

— Como você tá, Lexi?

— Tô bem, só tô... Sabe? A gente vai vivendo, né? - ela abaixou os olhos fazendo careta.  — Eric tem falado comigo. Ele tá sendo atencioso... É meio surpresa, porque eu sempre achei ele muito grosseiro.

Dei risada. —  Eu sei que o Eric enche o saco pra umas coisas, mas ele é bem maduro em alguns aspectos.

Ela concordou com a cabeça. — Tô vendo. Tem sido de uma boa ajuda.

— Que bom!

Alexia sorriu voltando o olhar para o computador. —  Já sabe o que vai me dar de aniversário?

— Como é? - franzi a testa, surpreso.

— Vinte e dois de setembro. Sei que parece muito, mas, você tem que pensar que tem que comprar um presente pra mim e outro pro Ícaro e um presente não pode parecer melhor que o outro, porque nós dois somos muito ciumentos e competitivos com isso. Então você tem que pensar direito.

Abri e fechei a boca.

Me fodi!

— Lexi, eu não sei nem o que vou dar pra ele. No dia dos namorados eu só dei uma caixa de bombom!

— Você pode me dar um cartões riot points de LoL. - ela sorriu. — Não é difícil achar. Ou um perfume da Natura, eu amo esses perfumes.

— Alexia, eu não tenho dinheiro.

— Você tem tipo, dois meses pra economizar pra comprar dois presentes de igual valor. Ícaro e eu vamos pesquisar os preços, então, sério... Eu começaria a economizar logo. A gente é doido.

— Ai.

— Ninguém mandou ir atrás de namorar um gêmeo. - ela deu de ombros.

Dei risada fazendo careta.

***

Eu achava impressionante como até o terminal de ônibus perto de onde o Ícaro morava era bonito, esse foi meu primeiro pensamento enquanto íamos da casa do Ícaro para o terminal. Os terminais perto da minha casa eram praticamente feiras, com bancas ambulantes por todo lado, quase impedindo a passagem, cachorros, pombos e cheiro de mijo.

Agora, o terminal perto da casa do Ícaro... Assim, tinha pombos e cães, claro. Mas fedia bem menos, era bem pintado, não tinha tantas bancas de comerciantes e era bem mais organizado.

Ícaro seguiu com os braços cruzados, se encolhendo no moletom roxo de "O Pequeno Príncipe", a mochila nas costas. Mas, ele estava sorrindo e me olhava vez ou outra de um jeitinho que me fazia querer andar abraçado com ele. Será que eu devia comprar um moletom para dar de presente para ele de aniversário? Será que tem moletom no valor de perfume?

Coloquei meus fones de ouvido, me permitindo me distrair e apenas ficar indo atrás do meu namorado. Ícaro tinha finalmente retocado o cabelo e o roxo estava tão lindo... As mechas azuis ondulavam enquanto ele andava e eu imaginei raios azuis de desenho animado por alguma razão.  Os cachos dele eram tão lindos... Ainda mais coloridos dessa forma. A mochila do Ícaro era cheia de broches que ele ganhou do Davi, a maioria eram de séries, além de um broche do Batman e um que dizia “não estou te ignorando, sou surdo (mas se eu não fosse surdo, provavelmente estaria te ignorando)”, achei esse pessoalmente engraçado.

Fofo.

Ele também estava usando brincos pequenos de argola e as unhas estavam pintadas de vermelho. Ai... Lindo.

Hesitei antes de puxá-lo pela cintura, apertando sua cintura. Ele deu risada, afastando minhas mãos e me olhando estranho.

“Você está bem?”

“To bem!” – garanti. – “É que você é um charme.”

Ícaro cobriu a boca enquanto ria e revirou os olhos. Juro que esse garoto é viciado em revirar os olhos.

“Eu sei.”

Dei risada junto com ele.

— Olha quem tá aqui! – antes que eu pudesse olhar em volta em busca da voz familiar, gritei sentindo puxarem meu cabelo.

Me virei assustado.

Nem nos meus maiores pesadelos, eu esperava encontrar o André, ou qualquer outra pessoa do colégio no terminal de ônibus. Meu sangue gelou, enquanto ele me olhava com aqueles ares de superioridade e crueldade. Antes que eu pudesse assimilar bem a situação, ou que o André pudesse decidir como iria me torturar e tenho certeza que ele faria algo realmente pior considerando que estávamos fora da escola e havia bem menos limites aqui... Bom...

Ícaro deu um soco nele.

Eu não entendi na hora. Só mais tarde, quando repassei a cena na minha cabeça entendi que ele simplesmente se virou para o André e deu um soco na cara dele. Eu nem sabia que aquele menino sabia como dar um soco em alguém!

Também só repassando a cena na minha mente, consegui entender os olhos arregalados do Ícaro, a expressão furiosa do André com a mão no queixo, se recompondo e provavelmente prestes a fazer “picadinho de Mathias temperado com Ícaro” e entender que meu namorado agarrou minha mão e me puxou.

E a gente correu... Muito, tipo, muito mesmo, até o ônibus que por um milagre de Deus tava ali, como se estivesse só esperando pela gente.

Entramos apressados e passamos para trás, arfando.

Ícaro se sentou num dos bancos reservados arfando, o rosto pálido e segurou a mão junto ao peito os olhos arregalados, a mochila no colo.

Me segurei e respirei fundo, buscando recuperar o fôlego enquanto tentava entender o que tinha acontecido

Meu namorado sabe dar um gancho de direita e eu não fazia ideia.

Uau.

Franzi a testa voltando o olhar para o garoto de cabelos coloridos e fiz careta notando que Ícaro estava tremendo enquanto o ônibus saía. Toquei seu ombro.

“Se machucou, amor?”

Ele negou com a cabeça, fazendo careta e começou a sinalizar com uma mão só. – “Você tá bem?”

“To sim. Obrigado.”

“Quem era?”

“Um garoto da escola.”

Ícaro fez uma careta pior ainda antes de dar risada. – “Não vou me arrepender disso então."


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sinais" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.