Voe X Livre X Coração X Selvagem escrita por Afrodeus da dança


Capítulo 9
Voe X Pelo X Deserto - Parte 03




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Manny Nery, o jovem aprendiz da Hunter Angela, sua tia, está na caverna, sentado na frente, imitando como Muriel e Derren estavam antes. Vigiando. Sendo responsável. Espera que o plano de Muriel dê certo. Ele tem um medo dela, ela parece ser agressiva. Ela é agressiva. Ele ficou feliz por ter sido deixado cuidando do pessoal aqui, sua parte no plano maluco. Ele teria medo, ele ficaria com medo, tendo que provavelmente lutar contra adultos. Mesmo sendo ferrenhamente treinado por sua tia para que faça isso.

“E tá calor lá fora” ele pensa, tentando se justificar para si mesmo, abraçando seus joelhos.

Angela havia trazido Manny para ser discípulo após ver como o garoto se sentia sufocado em casa. Entre os mimos da irmã de Angela, a mãe de Manny, e convivência difícil com o irmão mais velho de Manny. O garoto aceitou empolgado, imaginando que seriam férias felizes com sua tia, que é uma Hunter. Se viu rapidamente em treinos bastantes difíceis, e mesmo que reclamasse do quão difícil é, Manny gosta da sua vida com sua tia. Ele quer poder ser forte como ela, ser um Hunter. E ele gosta de Agni e Derren, são bons amigos que estão sempre ajudando ele.

“E ainda assim, eu fiquei aqui” ele resmunga, apoiando o rosto em seus joelhos.

Tabs é um dos bandidos que atua no deserto a caminho de York Shin. Ele se orgulha de seu posto importante, sendo um dos mais habilidosos vigias e guardas que o bando que Tess, seu chefe, possui. Apesar de ter uma visão baixíssima, ele tem uma audição absurdamente aguada. Seu corpo é esguio, magro e alto. Ele não se considera um grande lutador, mas ainda assim não diria que perderia para crianças.

“Então por quê?” ele pensa, em agonia.

Ele está caído no chão, com algum tipo de roupa tapando sua boca, impedindo de gritar. Um outro rapaz, gordinho, tirou seu cinto com seu coldre e sua pistola. Não tem como chamar a atenção do resto do bando.

“Onde estão os outros guardas?” ele se indaga.

Derren segura o cinto do homem sem saber o que fazer. Muriel ainda está pendurada nas costas dele, tentando dar um nó no casaco que usou de mordaça. A cena beira ao ridículo, com o sujeito se debatendo e tentando se jogar contra a parede e alcançar a garota com os braços. Muriel responde a isso com mordidas e golpes na coluna do homem. Ele possui nen. Derren sente que não conseguiria derrotar esse homem. Talvez porque jamais tentaria fazer isso.

“O Senhor Nero aprova isso?” Derren se indaga.

O garoto olha em volta, agradecendo por esse sujeito ter vindo sozinho. Ele apareceu de repente, talvez tivesse ido fazer xixi com o outro que Muriel derrubou também. Talvez ele tenha demorado um pouco mais. Ou tivesse vergonha de fazer com alguém olhando. O que é compreensível.

“Eu também sou assim” ele pensa meneando a cabeça para um lado.

O homem cai no chão, assustando Derren, que vai para trás. Muriel solta um breve resmungo de dor pelo impacto e se levanta após averiguar que a mordaça está bem amarrada. O sujeito começa a tentar se levantar, visivelmente com dor, levando uma mão até sua boca, tentando puxar a mordaça. Um pé se choca violentamente contra as costelas do pobre guarda.

As sobrancelhas de Derren se erguem ainda mais, em choque. Muriel começou a chutar a barriga e o peito do homem, que tenta se defender, em vão.

“Nós somos os mocinhos?” Derren se pergunta.

Muriel se indaga porque o homem não desmaia logo. Está começando a ser desconfortável para ela e certamente para o guarda também, ela supõe.

“Eu não deveria ter esperado tanto pra ter mijado” Tabs pensa, tristemente, tentando se defender da garota que o ataca impiedosamente, apenas para sentir sua consciência ser puxada para fora de seu corpo.

Muriel se afasta, dando dois passos para trás, respirando de modo ofegante.

— Pronto — ela diz.

— Ah, “pronto” — Derren comenta. — Ainda bem.

Derren sente algo diferente vendo Muriel lutar. Diferente de Agni, seu colega de treino, ou Arthur, Marta e Johnny. A sensação de vê-los lutando é diferente, e Derren acha que eles transmitem, talvez, um senso de dever, talvez. Direção. Objetivo. Já Muriel é caótica. Vê-la lutar traz uma espécie de inquietude, uma coceira na pele. Na pele, mas abaixo dela. Sempre coçando mas sem você nunca poder, de fato, coçar.

Ele nem nota que está encarando a garota até que Muriel o encara nos olhos, devolvendo o olhar. Aqueles olhos laranjas, que parecem uma espiral que poderia engolir Derren se ele pudesse chegar só um passo mais perto.

Muriel solta um riso.

— Bem, limpamos os guardas — ela comenta. — Como se sente?

— Acho que bem? — ele responde, em dúvida. — Você quem fez quase todo o trabalho.

— Verdade — ela fala, levando a mão até atrás da orelha direita, coçando-a. — Fique feliz, então, vou te dar um trabalho importante.

Ela gestua para que ele a siga e vão até a beirada da onde estão, se deitando para não ficarem visíveis. Muriel aponta para uma carroça.

— Quero que você vá pegar aquela carroça. Fazendo o máximo de atenção possível.

— Pra quê? — o garoto retruca, confuso.

— Se a gente quer pegar o resto da galerinha do mal — Muriel explica, segurando o rosto dele em suas mãos e acariciando-o. — Vamos querer uma distração. E somos só dois, Derren, só dois! Por isso eu preciso que você vá até aquela carroça e faça o maior fuzuê para roubá-la.

As bochechas de Derren ficam vermelhas, de timidez.

— E daí? — ele pergunta confuso.

Muriel sorri.

— Vai pra onde o Manny tá — ela responde. — Mesmo que peguem a carroça, vá correndo para a caverna lá.

Derren faz que sim com a cabeça, um tanto confuso, mas entendendo o que Muriel pede. É loucura, mas o plano dela é o único que possuem, no momento.

Muriel move seu olhar, deixando de encarar Derren, soltando-o, e indo observar onde seus colegas estão. Derren teria que conseguir atrair muitas pessoas. E ele luta com cartinhas. Sinceramente. Marta com bola de futebol e ele com cartas. Que tipo de piada é essa? Ela até pode cuidar de alguns, mas precisa que Derren seja efetivo.

Sua mão vai até seu pingente, seu colar, e morde o lábio. Pensativa.

— Vamos ver se os caras que derrubamos tinham armas — ela diz, começando a se levantar.

— Armas? — Derren repete.

— Armas? — Muriel diz, engrossando a voz de um jeito para fazer uma imitação maldosa de Derren. — Isso é você. Vamos pegar armas.

— Mas para quê? — Derren retruca.

— Porque você usa cartinhas de baralho e estamos indo lutar contra bandidos do deserto — ela responde, pasma por ter que verbalizar isso.

— Mas eu treinei pra usar elas, e, além disso, Angela e Nero não nos ensinaram que não devemos matar?

— Não precisamos matar — Muriel responde, cansada. — Pode usar para intimidar ou causar feridas e imobilizar. Só.

Ela joga um facão e um cinto com uma pistola para Derren.

— Use-as. Você vai pegar a carroça. Eu vou na direção oposta e fazer bagunça — ela diz, começando a andar para longe dele. — Não ouse não voltar.

Ela não sabe se vão conseguir. Tem medo que não. Tem medo que algo dê errado.

Derren suspira, baixando os ombros e olhando as coisas que Muriel lhe deu. Ele amarra o cinto com o coldre e pistola na cintura, colocando a faca em um outro coldre. Queria poder só chamar Angela para resolver tudo, mas quando sugeriu isso, Muriel puxou a orelha dele e ameaçou bater nele. Disse que seria uma vergonha não tentar. Apenas se acovardar enquanto os demais foram lá e lutaram.

“Mas capturaram todos os melhores aprendizes” o garoto pensa, enquanto caminha por cima do desfiladeiro, se aproximando o máximo que poderia da carroça enquanto é seguro. “Que chance nós dois temos.”

Enquanto isso, em uma jaula, Gisele Bel Air está sentada, evitando se mover demais. Quando foram capturados, ela acabou se machucando bastante. Afinal, eles tentaram lutar contra. No começo até mandaram bem, conseguindo derrotar uma boa quantidade de bandidos, mas no fim, foram capturados. Estavam cansados, afinal.

“Graças a quem?” Gisele pensa, ainda irritada. “Arthur, no fim, termos ido tão longe só ajudou a gente a parar aqui desse jeito.”

Gisele sente suas pernas e barriga doendo. Sente medo do motivo disso, e está concentrando seu nen para poder se curar, mesmo que seja um processo lento. Arthur, seu colega de treino, está dormindo ainda, ao lado dela. Ela tentou cuidar dele, como pode, mas não teve muito o que poderia fazer. Afinal, tiraram todas as coisas que eles carregavam. Comida, remédios e afins.

Recentemente, para melhorar a situação, Johnny, Marta e Agni foram jogados ali. E um homem adulto desconhecido, alguém que os três estão ajudando, ou coisa parecida. Por sorte ou não, estão em um estado melhor que Gisele e Arthur. O líder do grupo de saqueadores, um sujeito chamado Tess, havia descoberto, através de Gisele, que eles fazem parte de um grupo de jovens atravessando o deserto. Melhor que isso, todos carregados com saque. Ainda melhor que isso, ele poderia pedir resgate. A garota incentivou isso, sabendo que, caso Nero, Chezan ou Angela viessem interceder, esses bandidos não teriam chance.

Gisele está, calma e devagar, em tom baixo, explicando esse plano para os três colegas recém chegados.

— Que belo plano — Marta diz, revirando os olhos. — Esperar capturarem o resto e pedirem um resgate.

Gisele revira os olhos, em resposta.

— Tem algo melhor?

Marta não responde, sua única resposta é suas sobrancelhas ficando mais juntas e, sua expressão, mais irritada.

— Não sabemos se, além do líder, outros membros possuem nen — Agni comenta, cansado. — E mesmo tendo derrubado um bom tanto deles, não acho que Manny, Derren e Muriel dêem conta.

— Estou preocupado com eles — Johnny resmunga, abraçando seus joelhos.

— E eu com minha mulher e filhos — o homem dentro da cela resmunga.

— E quem é você? — Gisele exclama, confusa.

Marta cerra o olhar. Devem ter ainda uns cinquenta saqueadores que podem lutar lá fora. Por um lado positivo, o líder dos bandidos, Tess, parece não possuir um hatsu, uma técnica somente dele. Ele apenas tem o nen aflorado.

Tudo que Marta pode fazer é rezar para que Muriel e Derren usem a inteligência e pensam em algo decente para fazer. Seja seguir a viagem, chamar por Nero ou vir atrás deles com o máximo de cautela e planejamento. Marta confia em Muriel. Ela se provou promissora várias e várias vezes. Ela sabe criar planos e estratégias. Se safar. Ela é engenhosa.

— Temos que confiar em Muriel — Marta diz, a voz saindo baixa de sua boca.

Johnny ergue um olhar feliz para a colega, vendo ela ter fé em Muriel. Muriel também sorri com isso.

— Ownt, você confia em mim — ela diz, levantando as mãos nas bochechas e se remexendo, alegre.

Os olhos de Marta, e de todos ali, se arregalam, voltando rostos e expressões perplexas para a grade da jaula, vendo a garota.

— Muriel? — Johnny pergunta, abismado.

— Johnny! Meu garoto! — Ela ergue os braços. — Eu posso comer aquele chocolate na sua mochila?

— O chocolate? — o rapaz retruca, confuso. Pasmo. — Pode?

Muriel suspira aliviada.

— Ufa! Eu acabei comendo ele no caminho para cá — ela fala, rindo. — Mas! Eu vim aqui justamente para pedir sua autorização. E como você deixou, tá tudo beleza.

— Muriel? — Marta chama, serena.

— Sim? — Ela volta o olhar para a colega, dentro da jaula.

— Você veio até aqui para isso?

— Sim. Digo, não. Também. E libertar vocês.

A expressão de Marta é de pura confusão e perplexidade. Muriel não é possível de se prever.

— Mas é mais por obrigação, ética e tudo mais — Muriel complementa.

 


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