Abrigo escrita por Manoo


Capítulo 2
Castigo


Notas iniciais do capítulo

Olá! Acho que a categoria de bsd está meio morta aqui no Nyah!, pois nenhuma alma viva se pronunciou KKKKKKKKKK Mas vou continuar postando aqui mesmo assim, não consigo abandonar esse site.
Queria corrigir alguns errinhos: nas notas do último capítulo, eu disse que Yosano e Ranpo tinham 13 e Dazai tinha 12 anos. Na verdade, os três tem 13 anos e estão na mesma sala de aula! Erro meu, perdão.
Espero que gostem desse capítulo!



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Atsushi ainda estava chorando quando Fukuzawa chegou, correndo desesperadamente em direção ao homem, que o amparou em um abraço. Embora abraçasse e corresse os dedos pelos cabelos do garoto com gentileza, seus olhos gélidos mostravam apenas ira.

— O que aconteceu? -Perguntou para o diretor, que lhe lançou um sorriso debochado.

— É o que eu estou tentando descobrir, Fukuzawa-san -Fitzgerald disse, apoiando o queixo sobre as mãos- Talvez o senhor consiga fazer com que Osamu-kun fale algo...

A sala da diretoria não era pequena, mas com a quantidade de pessoas que havia ali dentro, parecia um cubículo. Osamu e mais dois garotos estavam sentados em frente ao diretor, os três com marcas de machucados no rosto. Ranpo e Akiko estavam encostados contra a parede, expressões alertas em seus rostos. Um garoto, Ango, ele reconheceu, estava sentado ao lado de uma menina de cabelos rosas, ambos encarando a situação com olhares frustrados. O diretor sorria amigavelmente para as crianças, embora seu olhar tivesse aquele brilho intimidante que todos os diretores tinham. Fukuzawa reconheceu o professor de Atsushi ao lado do loiro, um sorriso triste em seus lábios.

Sentiu um arrepio percorrer suas costas ao ver as marcas no rosto de Dazai, e hesitantemente afastou o rostinho de Atsushi de seu ombro, uma expressão sombria se formando em seu rosto ao ver as manchas de sangue no colarinho da criança.

— Osamu- Começou, secando as lágrimas de Atsushi- O que aconteceu?

O garoto abaixou a cabeça, a boca cerrada em uma linha reta. Encarou-o intensamente, esperando que o desconforto, a frustração, a intimidação, qualquer coisa, arrancasse uma resposta do moreno.

Yosano interrompeu o silêncio um pigarro, chamando a atenção para si.

— Eu já disse que não foi o Osamu quem começou- Ela disse, cruzando os braços- Esse pirralho aí que-

— Akiko, modos- Fukuzawa repreendeu-a, erguendo-se do chão. Atsushi agarrou-se imediatamente às suas pernas, as mãos trêmulas agarrando o tecido de suas calças.

— M-mas é verdade! -A garotinha de cabelos rosa protestou, um olhar zangado em seu rosto. Apontou um dedo na direção do garoto de cabelos pretos, voltando a falar- Ele que veio implicar comigo! Veio puxar o meu cabelo e meu deu um tapa. O Atsushi só me defendeu!

— Viu? -Yosano olhou-lhe com um sorriso vitorioso, não se encolhendo quando o homem lhe lançou um olhar reprovador.

Uma batida à porta fez com que todos voltassem o olhar ao outro lado da sala. A secretária abriu-a e anunciou a chegada do responsável dos outros dois garotos, e Yukichi se segurou para disfarçar sua raiva.

Era óbvio que não podia ter um dia de paz.

Mori Ougai e Ozaki Kouyou entraram na diretoria com passos rápidos, assim como Fukuzawa havia entrado antes. Kouyou foi em direção aos dois garotos, checando seus estados e assegurando-se de que estavam, de fato, bem. Ougai parou quase que ao seu lado, um sorrisinho cansado em seu rosto.

Desviou o olhar rapidamente, tentando evitar conflito.

— Ótimo! -Francis disse, sua falsa simpatia evidente para os três adultos- Agora que todos os responsáveis estão aqui, finalmente podemos começar. Chuuya-kun, Osamu-kun, Ryuunosuke-kun, gostariam de contar-nos o que aconteceu? Ou vão continuar mudinhos?

Nada. Osamu continuou de cabeça baixa, uma expressão frustrada em seu rosto. Chuuya desviou seus olhos azuis dos do diretor, bufando. Ryuunosuke apertou ainda mais seus lábios, os olhos arregalados indo de Dazai para Nakahara, optando, por fim, encarar o próprio colo.

O diretor soltou uma risadinha, cruzando as pernas. Sua expressão divertida deixava bem claro que estava disposto a passar o dia ali para resolver aquela situação.

— Ango-kun- O garoto ergueu a cabeça rapidamente, surpreendendo-se- Foi você quem chamou o professor Melville quando a briga começou. Poderia nos explicar como e o que exatamente aconteceu?

Ango engoliu em seco, arrumando os óculos sobre o nariz. Lançou um olhar hesitante na direção de Dazai, mas logo começou a falar.

— Eu, o Dazai, o Ranpo e a Yosano fomos procurar o Atsushi-kun para passarmos o recreio com ele. Chegamos no pátio e encontramos o Akutagawa em cima dele e socando o rosto dele- Fukuzawa sentiu o garoto estremecer às suas pernas, colocando uma mão sobre seus cabelos prateados para tranquilizá-lo- O Dazai então começou a bater no Akutagawa, e eu e o Ranpo tentamos apartá-lo, mas não conseguimos. Então o Nakahara apareceu e deu um chute na cabeça do Dazai, e eu saí para chamar algum professor. Encontrei o Sr.Melville nas escadas, e quando voltamos para o pátio encontramos Dazai e Nakahara se socando no chão. Depois disso, o professor apartou os dois e trouxe todos nós para cá.

Ango terminou seu relato, uma expressão orgulhosa em seu rosto. As outras crianças lhe olharam com julgamento, e o diretor bateu palmas para o garoto.

Fitzgerald voltou o olhar para os três adultos, que encaravam as três crianças com olhares sérios.

— Ryuu- Kouyou começou, passando seus dedos pelas mexas negras do garoto, que lhe lançou um olhar miseravelmente cansado e assustado- Por que você bateu no garoto?

O garoto murmurou algo, repetindo depois da insistência gentil da mulher.

— Ele me empurrou...

— Porque você me bateu! -A garotinha de cabelos rosa voltou a reclamar, indignada.

— Acalme-se, Lucy-chan- Melville disse, acariciando seus cabelos.

— E por que bateu nela? – Ozaki voltou a questionar, dispondo de uma quantidade gigantesca de paciência.

Todos voltaram seus olhares para Ryuunosuke, que abaixou a cabeça, intimidado. Depois de alguns minutos de silêncio, Kouyou suspirou, abraçando o garoto e beijando-lhe a cabeça.

— Está tudo bem, não estou braba com você. Em casa conversamos mais sobre isso, ok? -O garoto assentiu, e ela voltou a erguer-se, uma expressão incomodada em seu rosto- É necessário que todas essas crianças estejam aqui, diretor? Se eu não o conhecesse, arriscaria dizer que está tentando intimidar a criança.

— Acontece, Ozaki-san- Francis começou, uma risadinha deixando seus lábios- que essa criança agrediu aos chutes, mordidas e berros todas as crianças que estão nesse cômodo, além dos funcionários da escola, que eu preferi não incluir nessa discussão- Ele cruzou os braços, debochado- Eu gostaria de saber por que o Ryuu-kun age de forma tão animalesca...Poderia ser que alguém no orfanato o influencie?

— Ora, mas é claro que não, Fitzgerald-san- Mori disse, um sorrisinho em seu rosto- Todas as crianças são bem criadas em nossos orfanatos. Eu tenho certeza de que o Akutagawa-kun apenas se sentiu intimidado. Não voltará a acontecer.

— Mas o garoto já age assim há meses, Mori-san. Eu me pergunto que medidas precisarão ser tomadas para que ele comece a se comportar...

— Para de falar como se ele fosse um bicho! -O garoto ruivo protestou, batendo com as duas mãos na mesa. Bastou um olhar de Kouyou para que se calasse.

Francis riu alto, achando tudo muito divertido.

— É claro que o Ryuu-kun não é um bicho, Chuuya-kun. Mas precisa se comportar. Vocês dois precisam. Não é a primeira vez que recebemos reclamações de colegas sobre o comportamento de vocês.

— Engraçado como as reclamações que foram feitas sobre os outros colegas não recebem a mesma atenção- Ougai disse, sério- Poderia ser que haja uma preferência pelas crianças que não são órfãs, Fitzgerald-san?

Silêncio tomou a sala, um clima pesado circulando as crianças e adultos.

Todas as crianças pareciam cabisbaixas, alguma fuzilando o diretor com olhos frios e outras se contentando em encarar o chão, chateadas com seu próprio status de “órfã”.

Ougai e Kouyou já não tinham mais sorrisos falsos em seus rostos, suas faces sérias mostrando que não tolerariam mais o desrespeito do homem contra suas crianças. Yukichi mantinha suas sobrancelhas, uma sensação amarga em sua língua- não estava gostando nada daquela situação, compartilhando da revolta de seus colegas.

Francis endireitou-se na cadeira, encarando Ougai com olhos frios.

— Claro que não, Mori-san. Todos os nossos alunos são tratados igualmente, certo, Melville.

— Certamente, senhor diretor- O velho concordou, uma expressão honesta em seu rosto.

Fukuzawa suspirou, levando uma mão a seus cabelos.

— Eu acho que já chega disso, não? -Disse, a atenção de todos indo em sua direção- O que importa é que as crianças não se machucaram seriamente- Fez o seu melhor para ignorar a raiva que sentia ao ver as marcas no rosto de Osamu e o sangue empapado no rosto de Atsushi, escondendo seus sentimentos com a usual expressão séria- Peço que deixe que nós resolvamos essa questão, Fitzgerald-san. Conversaremos com as crianças e tomaremos providências para que o que aconteceu hoje não volte a acontecer.

— Ora, mas é claro, Fukuzawa-san- O loiro disse, uma risadinha deixando seus lábios- Entretanto, precisamos discutir o castigo deles.

— Castigo? -Kouyou perguntou, uma expressão de nojo em seu rosto- Algo assim é realmente necessário?

— Mas é claro, Ozaki-san. Com exceção da Lucy-chan e do Atsushi-kun, que são as verdadeiras vítimas desse ocorrido, todos os outros três cometeram atos agressivos um contra o outro. Vocês estão cientes de que não toleramos isso nessa escola. Então, sim, uma punição é necessária.

 Os dois se fuzilaram durante alguns segundos, sendo interrompidos novamente por Yukichi, que já não aguentava mais ter de fazer as crianças presenciarem aquilo.

— Que tal colocar os dois mais velhos em detenção durante três meses?

— O quê?! -Chuuya e Osamu protestaram, os dois encarando Fukuzawa com os olhos arregalados.

— Calados- Mori chiou.

— Mas-

— Xiu.

— Mas!

— Garotos, chega- Yukichi disse, lançando um olhar sério na direção dos dois- Será bom para vocês dois passarem algum tempo juntos. Dessa forma, vão conseguir entender um ao outro.

Os dois se encararam de canto, beicinhos em seus lábios.

— Impossível- Osamu murmurou.

— Nem fudendo- Chuuya resmungou.

— Chuuya! -Kouyou chiou, apertando a orelha do rapaz entre seus dedos.

As crianças começaram a rir discretamente da bronca que o garoto levava, a tensão na sala se quebrando aos poucos.

— Algo contra, Fitzgerald-san?

— De forma alguma, Fukuzawa-san. Concordo totalmente.

Seus olhos azuis e frios foram de Fukuzawa para Akutagawa, o sorriso de predador aumentando em seu rosto. Yukichi já estava se irritando com aquele homem.

— E quanto a você, hm? O que vamos fazer?

Ryuunosuke se encolheu, apertando a mão de Kouyou. Chuuya e Osamu fuzilaram o homem, assim como Ougai e Fukuzawa, que se seguravam para não piorar a situação.

— Sobre isso- Kouyou começou, amaciando sua voz- Poderia deixar o castigo de Ryuunosuke para mim? Ao menos dessa vez...Ele passou por muito no passado, ainda não está acostumado à outras crianças.

— Atsushi-kun também passou muito no passado, e ele não agrediu ninguém hoje- O diretor disse, mostrando os dentes em um sorriso.

Atsushi se encolheu ao seu lado, encarando o homem com olhos trêmulos. Fukuzawa respirou fundo, mais uma vez saindo em defesa da criança.

— Com todo o respeito, cada criança tem uma maneira diferente de responder ao trauma que sofreu. Por favor, não volte a comparar a situação dos dois.

Oh?

— E se uma punição realmente é necessária, que seja decidida por pessoas que saibam lidar com o Ryuunosuke-kun. Não concorda?

Trocou um olhar gélido com o loiro, que cruzou seus braços, seu sorriso diminuindo um pouco. Por fim, suspirou, uma expressão conformada em seu rosto.

— Apenas dessa vez. Que o que aconteceu hoje não volte a ocorrer, entenderam? -Fuzilou com o olhar os três garotos à sua frente, que assentiram lentamente, as expressões rebeldes ainda em seus rostos.

Fitzgerald despediu-se com um sorriso claramente falso, pedindo para que sua secretária os acompanhasse até a saída. Melville despediu-se de Atsushi com um sorriso, afagando gentilmente os cabelos prateados do garotinho.

— Não se preocupe, Atsushi-kun- O professor disse- Amanhã vai ser um dia melhor, então venha para a escola de cabeça erguida.

Atsushi assentiu lentamente, ainda agarrado à Fukuzawa. O homem se sentia mais tranquilo em saber que o professor não era um tirano como o diretor- sabia que Atsushi estava em boas mãos.

Chegaram finalmente à saída, onde a secretária se despediu dos três adultos e voltou para dentro da escola. Crianças corriam e brincava à volta, o clima de alegria (certamente por estarem livres da escola por mais um dia) não combinando com os olhares sério que Ougai e Yukichi trocavam. A tensão entre os dois era óbvia, ainda amargos do último encontro que tiveram.

Foi Kouyou quem quebrou o gelo, dando uma cotovelada no braço de Mori, que lhe lançou um olhar desconfortável. Ougai puxou as chaves do carro do bolso, despedindo-se de Fukuzawa com um aceno de cabeça, indo em direção a seu carro. Sentiu-se um pouco mais aliviado pela saída do homem, embora não gostasse de admitir isso.

A mulher colocou as mãos nos ombros de Chuuya e Ryuunosuke, empurrando-os à sua frente.

— Ryuunosuke. Chuuya. Peçam desculpas ao Atsushi e ao Osamu.

— Quê?! -Chuuya reclamou, fuzilando a mulher com o olhar. Ryuunosuke simplesmente desviou o olhar, claramente emburrado.

Aproveitando a deixa, Yukichi colocou uma mão sobre os cabelos castanhos e encaracolados de Osamu, acariciando-o. Sabia que o garoto estava abalado pelo que acontecera, mas principalmente por ter de se encontrar com Mori depois de tanto tempo distante. O garoto lhe lançou um olhar cansado, quase que implorando para sair dali.

— Osamu, você também. Desculpe-se com o Chuuya-kun e o Ryuunosuke-kun.

Os três deram um passo à frente, Nakahara e Akutagawa um ao lado do outro, Dazai em frente a eles. O mais novo curvou-se para Dazai, o nervosismo e medo ainda evidente em seus olhos.

— Desculpa, Dazai-san.

O moreno suspirou, fechando os olhos. Balançou a mão no ar, uma expressão impaciente no rosto. Fukuzawa estava quase acostumado já ao Osamu brincalhão e amigável que às vezes esquecia o quão rude e mal-humorado o garoto conseguia ser.

— Sim, sim. Me desculpe também.

O garotinho ergueu a cabeça, claramente mais animado do que antes. Suas bochechas estavam coradas, e os olhos apresentavam um brilho que não estava lá antes. Fofo demais, Yukichi pensou.

— Ryuu, peça desculpas para o Atsushi-kun também- Ozaki disse, recebendo um olhar surpreso do garoto. Logo a animação foi substituída por um semblante emburrado, e Yukichi quase retirou seu pensamento, mas até brabo o garotinho conseguia ser fofo- E não me olhe assim, a culpa é sua por sair batendo nos outros!

Akutagawa resmungou algo, indo em direção a Atsushi, ainda irritado. Parou em frente ao garoto, que ainda estava agarrado às pernas de Fukuzawa. Os dois garotos se encararam pelo que pareceu ser uma eternidade, até que o mais velho resmungou seu pedido de desculpas.

— Hmpf!

Atsushi bufou, virando a cabeça para o lado, uma expressão contrariada em seu rosto. Fukuzawa piscou, surpreso, e Yosano e Ranpo começaram a rir. Até mesmo Dazai, que observara tudo pelo canto do olho, parecia achar graça da situação, um pequeno sorriso em seus lábios. Era a primeira vez que Atsushi agia assim desde que Atsushi fora colocado sobre seus cuidados, e Yukichi não conseguia se decidir se achava aquilo algo positivo ou não. Provavelmente achava positivo, já que não conseguia parar de achar graça do olhar brabo (e fofo) da criança.

Ryuunosuke abriu a boca e arregalou os olhos, surpreso com a rejeição. Porém, logo a surpresa foi substituída por indignação, e depois por frustração. Assim como Atsushi, bufou e virou a cabeça para o lado, tentando preservar o que restava de seu pequeno orgulho.

A situação era tão engraçada e fofa que era difícil conter o sorriso bobo que lutava para se formar em seu rosto. Pigarreou, tentando conter seus sentimentos.

— Atsushi, não seja assim- Disse, colocando uma mão sobre a cabeça do garoto, que lhe lançou um olhar curioso- Aceite as desculpas do Ryuunosuke.

— Não! – Atsushi continuou se recusando, cruzando os braços. De repente, uma expressão pensativa se formou em seu braço, e ele voltou a abraçar as pernas de Fukuzawa, uma expressão hesitante em seu rosto- Só depois que ele se desculpar com a Lucy!

— Lucy...? – Fukuzawa tentou se lembrar, em vão.

— Ah, está falando da garotinha que estava na diretoria? -Kouyou disse, agachando-se entre Akutagawa e Atsushi, seus lábios formados em um sorriso gentil. Atsushi escondeu-se atrás de Fukuzawa, desconfortável com a mulher estranha- Não se preocupe, Atsushi-kun. Amanhã mesmo o Ryuu vai se desculpar com ela, assim vocês três poderão ser amigos, o que acha?

— N-não vou nada! -Ryuunosuke resmungou, corado.

— Vai sim, Ryuu.

O garoto resmungou, contrariado, e desviou o olhar. Kouyou continuou esperando uma resposta de Atsushi, que escondeu a face nas pernas de Fukuzawa, silencioso como sempre. Os dois adultos trocaram olhares de entendimento, e a mulher ergueu-se.

— Chuuya, você também.

— Eu não vou me desculpar por nada! Não fiz nada de errado!

Ozaki marchou na direção do garoto, apertando sua orelha entre os dedos (não forte o suficiente para machucar). O garoto resmungou, um rubor se formando em suas bochechas ao ver os olhares divertidos de Akiko e Ranpo, que observavam o mico atrás de Fukuzawa.

— Peça desculpas!

— Não!

— Peça! Agora!

— Nããooo!

— Fukuzawa-san, podemos ir embora? -Osamu disse, de repente. Tinha um olhar sério e arrogante no rosto, não passando despercebido pelo homem e por Kouyou e Chuuya, que lançou um olhar revoltado para Dazai.

— Não. Peça desculpas antes.

Osamu ergueu uma sobrancelha, uma expressão de quem pergunta “sério isso?”, e Yukichi voltou a cruzar os braços, deixando claro que não aceitaria protestos. O garoto suspirou, frustrado, e voltou um olhar emburrado na direção do ruivo, que o encarou da mesma forma enquanto esfregava a orelha com a mão.

— Foi mal.

— Sim. Você também.

— Hm.

Exatamente como Akutagawa e Atsushi, os dois cruzaram os braços e desviaram os olhares, descontentes com a situação. Kouyou soltou uma risadinha, pegando a mão de Ryuunosuke e tocando o ombro de Chuuya com a outra.

— Certo, agora que estamos todos nos dando bem, acho que é hora de irmos para casa.

— Eu concordo- Fukuzawa disse, aliviado.

Despediram-se, ou melhor, Yukichi e Kouyou se despediram, já que as crianças evitavam até mesmo contato visual. Foram em direção ao estacionamento, Akiko e Ranpo fazendo piadas sobre a situação, tentando aliviar um pouco a tensão- pareciam perceber que Osamu ainda não estava nos seus 100%.

Chegaram no estacionamento em poucos segundos, encontrando-se com Kunikida e as outras crianças, que lhes olharam com olhos arregalados.

— O-o que aconteceu?! -Kunikida disse, seu tom de voz alto e desesperado. Olhou de Osamu para Atsushi, por fim voltando seu olhar para Fukuzawa, implorando uma explicação- A professora do Dazai havia me dito que estavam na diretoria, mas não achei que fosse algo sério. Andaram brigando?!

Atsushi abaixou a cabeça, cabisbaixo, e Osamu encarou o outro lado do estacionamento com irritação, como se tivesse algo pessoal contra aquele local.

Fukuzawa suspirou pela milésima vez naquela manhã. Explicar para Kunikida o que havia acontecido seria um saco.

Será que Ranpo lhe faria esse favor?

.

— E depois arrastaram a gente pra diretoria- Ranpo disse, roendo um biscoito que roubara do vidro.

Kunikida pegou o vidro, colocando-o longe do garoto. Abaixou-se e ergueu Atsushi, colocando-o em cima do balcão.

— Eu não acredito nisso- O adolescente disse, irritado- Eu não acredito nisso! E não levaram o Atsushi e o Osamu para a enfermaria? Nem os outros garotos?

— Não- Ranpo cantarolou, saltitando para fora da cozinha. Já havia realizado seu objetivo de roubar um biscoito, não precisava continuar ali.

Fukuzawa entrou na cozinha, sendo seguido por Kenji e Jun’ichirou, que observavam Kunikida e Atsushi com curiosidade e preocupação. O adolescente terminou de molhar um pano, aproximando-se cautelosamente da criança.

— Eu vou limpar o seu rosto, ok? -Ele disse, tentando deixar seu tom de voz macio- A Akiko disse que você não comeu o seu lanche, então você deve estar com fome, né? Já, já eu faço o almoço. Algum pedido especial?

— Carne! -Kenji gritou.

— Rolinho primavera! -Jun’ichiro também exclamou, mas em um tom de voz mais baixo.

— Eu estava falando com o Atsushi!

Voltaram a atenção para o garotinho, que continuava calado e de cabeça baixa. Um ponto positivo era que não estava mais tremendo ou chorando, e seu olhar também não estava vazio, mas o silêncio e falta de reação eram um pouco preocupantes.

Atsushi balançou a cabeça, e Kunikida suspirou, afastando o pano. Algum dia ainda iria descobrir qual era a comida favorita do garoto.

— Certo, que tal macarronada?

Kenji e Jun’ichiro começaram a pular e a exclamar de felicidade, e Kunikida teve de esconder seu sorriso. Macarronada sempre fazia as crianças se animarem.

— Eu posso lhe ajudar, Kunikida- Fukuzawa disse, tirando uma panela de um dos armários.

— N-não!

Ergueu uma sobrancelha, encarando Kunikida com confusão.

— D-digo, diretor, você com certeza tem coisas mais importantes para fazer! -Colocou Atsushi no chão e tirou a panela das mãos de Fukuzawa, que ficou encarando as mãos vazias sem entender- Deixe o almoço comigo, por favor!

— Por favor! – Jun’ichiro repetiu.

— Favor! -Kenji riu, batendo palmas.

Não deixou de perceber o desespero nas vozes de Doppo e Tanizaki. Suspirou, desistindo. Sabia que sua comida não era lá essas coisas, mas não achava que fosse tão ruim assim.

— Atsushi-kun, tudo bem? -Jun’ichiro perguntou, aproximando-se do garoto.

Atsushi concordou, mas ainda parecia distante. Yukichi acariciou os cabelos dos dois garotos, que lhe olharam surpresos. Jun’ichiro lhe lançou um sorriso, e Atsushi continuou a encará-lo com olhos grandes.

— Subam e troquem seus uniformes- Disse, erguendo-se- Depois do almoço eu quero saber tudo sobre o dia de vocês, pode ser?

Os dois concordaram, deixando a cozinha junto de Kenji. Fukuzawa observou-os da porta, um pequeno sorriso em seus lábios.

De repente, sentiu um sentimento estranho percorrer suas costas.

— Onde está Osamu?

— Acho que foi para o quarto- Kunikida disse, cortando tomates na bancada- Ou isso, ou está na sala de estudos.

Assentiu, deixando a cozinha e subindo as escadas. Passou na frente da sala de estudos, vasculhando-o cuidadosamente com o olhar. Nem rastro do moreno. Fechou a porta do cômodo, e foi em direção aos quartos, as risadas e conversas soltas das crianças ecoando pelos corredores.

Aproximou-se do penúltimo quarto, batendo levemente seu punho contra à madeira. Foi respondido com silêncio, e apertou os lábios um contra o outro. Lentamente, abriu a porta e encontrou Dazai sentado sobre a cama, encarando o chão.

Yukichi se sentou silenciosamente ao lado de Osamu, as duas mãos postadas sobre seu colo. Ficaram os dois ali, em silêncio, Osamu encarando o chão e Yukichi encarando Osamu- encarando a forma como seu olhar transbordava irritação, encarando a forma como apertava sua mandíbula, encarando a forma como apertava os punhos.

Por fim, tocou a cabeça do garoto, acariciando-o.

— Você fez bem, Osamu.

— Ãhn? – Osamu murmurou, confuso.

— Obrigada por cuidar do Atsushi-kun- Disse, afagando sua cabeça mais firmemente.

Osamu apertou os lábios, a raiva em seus olhos sendo substituída por frustração.

— Não...Eu não cuidei dele- Ele murmurou- Não viu o estado dele? Tinha sangue até na blusa dele.

— Não tinha como você adivinhar o que estava acontecendo. Não foi sua culpa.

— Foi sim! -Ele chiou, afastando a mão de Fukuzawa com um tapa.

Arregalou os olhos, surpreso.

— Aquele garoto, o Akutagawa, ele era meu colega de quarto, aquele de quem eu te falei. Ele bateu no Atsushi por minha causa. Ele não tem um pingo de autocontrole, é assim desde que morávamos juntos. E eu...Eu só piorei isso e-

— Osamu.

Trêmulo, Osamu virou seu rosto na direção do homem. Seus olhos arregalados transbordavam raiva e arrependimento, sua frustração evidente nos punhos apertados. Lentamente, Yukichi tomou suas mãos, abrindo-as e massageando-as onde as unhas haviam deixado marcas.

— Não foi sua culpa.

Fukuzawa fechou os olhos, abaixando a cabeça. Seis meses de convívio haviam lhe ensinado o quão orgulhoso Osamu conseguia ser, e a forma como suas mãos tremiam nas suas deixava evidente que o garoto precisava liberar suas frustrações de alguma forma- a forma mais simples possível para um ser humano.

Sabia que abraços não seriam bem-vindos, então simplesmente continuou segurando aquelas mãos pequenas, esperando Dazai Osamu terminar de chorar.

Depois de alguns minutos, sentiu o garoto puxar suas mãos, levando-as ao seu rosto, certamente para secar a trilha de lágrimas. Ergueu-se do chão, abrindo os olhos e olhando na face vermelha e cansada do garoto.

— Troque de roupa e desça, teremos macarronada hoje- Disse, caminhando na direção da porta- E vê se não vai incomodar demais o Kunikida. O coitado sofre demais nas suas mãos.

Ouviu o garoto rir baixinho, um pequeno sorriso satisfeito surgindo em seus lábios. Abriu a porta do quarto, arregalando os olhos levemente.

— Iik! -Atsushi chiou, os olhos arregalados.

— Atsushi-kun? -Osamu perguntou, esticando-se para poder ver atrás das costas de Fukuzawa.

— Eu...Eu...Desculpa, desculpa, eu...

— Estava...ouvindo atrás da porta? – Fukuzawa perguntou, os olhos arregalados. O dia de hoje com toda a certeza estava conseguindo surpreende-lo.

— N-não! Quer dizer, sim, mas, não, err... -Ele abaixou a cabeça, tentando esconder as bochechas ruborizadas. Adorável.

Voltou o olhar para Dazai, que desviou o olhar. Não parecia apreciar o fato de que o garoto ouvira sua autodepreciação, mas também não parecia querer repreender Atsushi. Sentiu um sorrisinho se formar em seus lábios.

Voltou a fazer uma cara séria, agachando-se e voltando o olhar para Atsushi

— Atsushi, não escute conversas atrás das portas- Disse, contente em ver que o garotinho não se encolhera ou se assustara com seu sermão- Da próxima vez, basta bater. Entendido?

— Uhum.

— Ótimo- Afagou-lhe os cabelos brancos, voltando a erguer-se- Osamu, troque-se. Desçam quando estiverem prontos.

.

— Pode se sentar, Atsushi-kun- Osamu disse, desabotoando a camisa de seu uniforme.

O garotinho permaneceu de pé, pressionado contra a porta. Tinha uma expressão nervosa no rosto, as bochechas vermelhas e os olhos aguados.

Encarou o garoto, confuso, e vestiu um moletom de gola alta. Vestiu uma calça confortável e enfiou os pés em pantufas, se atirando contra a cama com um suspiro cansado.

Esses eram pensamentos que Osamu jamais transformaria em palavras, pensamentos que ele jamais pensaria em compartilhar com Fukuzawa. Pois não conseguia admitir que a presença de Ougai Mori ainda lhe amedrontava.

Mas o que mais lhe amedrontava era o fato de que o homem realmente parecia ter mudado. O modo como defendera Akutagawa e aquele outro garoto do diretor fora surpreendente- nunca em sua vida diria que o homem faria algo do gênero. Pelo menos não seis meses atrás.

Balançou a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos. Finalmente estava tendo progresso, não podia ficar se afundando no passado. Pelo menos era isso que Odasaku havia lhe dito- para seguir em frente.

Sorriu, voltando o olhar para Atsushi. Deu um tapinha na cama, chamando o garoto, que se aproximou e sentou-se delicadamente. Olhou para Dazai pelo canto do olho, desviando o olhar quando notou que ainda era observado.

Seu sorriso cedeu um pouco, sua confiança abaixando.

— Atsushi-kun, ainda está chateado?

O garoto negou, a expressão nervosa e o rubor aumentando ainda mais. Inclinou a cabeça para a frente, tentando ter uma melhor visão dos olhos heterocromáticos de Atsushi, mas foi interrompido pelo próprio.

— Eh!

Exclamou, surpreso. Atsushi lançara-se sobre seu colo, abraçando-o com força. Ficaram naquela posição durante um tempo, Dazai de olhos arregalados e Atsushi espremendo os seus, envergonhado.

— Obrigada por me salvar hoje, Dazai-san! -Ele disse- Eu tava com muito medo, e fiquei chamando por você nos meus pensamentos. Aí você apareceu. Foi como mágica!

Osamu encarou os cabelos brancos de Atsushi em silêncio, as sobrancelhas franzidas. Apertou os lábios um contra o outro, uma expressão hesitante em seu rosto. Ergueu sua mão lentamente, parando-a logo acima da cabeça de Atsushi, que continuava atirado em seu colo.

Se aquele cabeça e aqueles cabelos fossem de Akutagawa, com certeza ele a teria estapeado e atirado a criança longe. Retraiu a mão um pouco, empalidecendo. Eram memórias assim que faziam lembrar Osamu do quão ruim ele era. Do quanto ele não merecia nada daquilo.

Siga em frente, Osamu. Se você ficar parado e viver com pena de si mesmo, vai viver uma vida horrível.

Respirou fundo, pousando sua mão na cabeça de Atsushi delicadamente. O garoto ergue-a hesitantemente, um olhar curioso no rosto.

— Está tudo bem, Atsushi-kun- Disse, um sorriso animado no rosto- Eu só fiz o mínimo. Juro que da próxima vez eu vou chegar mais rápido para te salvar. Vou correndo na velocidade da luz!

Um sorriso se formou no rostinho de Atsushi, quase o cegando com tanto brilho e fofura. Acariciou os cabelos do garotinho, afastando-o um pouco e se colocando em pé.

— Bem, vamos descer? A macarronada do Kunikida é uma delícia, aposto que hoje você vai terminar o seu prato.

— O que é macarronada? -Ele perguntou, levando um dedo à boca.

— Err...Você vai descobrir. Se eu te contar, vai estragar a surpresa.

Atsushi concordou, já acostumado com as “surpresas” (basicamente coisas que Osamu não sabia explicar) de Dazai. Deram as mãos e deixaram o quarto, descendo para se juntar aos outros.


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Notas finais do capítulo

E então? Alguma alma gostou? KKKKKKKKKKK Por favor, comentem, favoritem, sla, qualquer coisa que me motive a continuar.
Para quem está curioso, Chuuya tem 13 anos e Akutagawa tem 8 anos! Sim, nosso bebê emo é canonicamente 2 anos mais velho que Atsushi, e resolvi manter isso nessa fanfic. Escrever sobre o Ryuu me dói no coração, principalmente depois desse último capítulo do mangá. Força para todos nós!
Até o próximo capítulo, que deve demorar um pouco mais.



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