A Sunday Kind Of Love escrita por EVE


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Sim, desde que mundo é mundo, não temos um minuto de paz. E sim, esse capítulo será uma pequena montanha russa emocional. Já avisado, prossiga.



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"Santa Dinah, sempre operando milagres!" Com as mãos para cima e voz afetada, Pino sabia fazer entradas. Ele chega perto de Dinah envolve os braços sobre os ombros dela e olha para a irmã. 

"Você está," ele diz e medita; os olhos levemente cerrados, "decente," e termina com aquele sorriso de meia boca. "Dick estará lá." Ele comenta com um olhar sugestivo e pisca para Helena. Richard Grayson: hálito bárbaro de charuto, grande apreciador de contato físico e amigo de Pino. 

"Dolores também?" Helena pergunta com uma única sobrancelha arqueada, imitando o irmão. Dolores Wilson: Ex-namorada/Namorada de Pino. Depende muito do humor dos dois. Pretende ser a futura Sra. Bertinelli. 

Dois podem jogar. Pino, desconfortável nos sapatos, olha para Dinah e retoma as palavras. 

"Eu estarei esperando vocês lá embaixo." Rápido ele diz, beija a bochecha de Dinah, deixando-a com um pequeno sorriso e se vai. E o suco gástrico retorna para a garganta de Helena. Apesar da maquiagem, ela estava com a face do pai, pois o sorriso de Dinah desapareceu quando encontrou o seu olhar. A cabeça levemente inclinada para a direita e olhos quase fechados. 

"O que foi?" 

"Nada." Helena vira as costas para Dinah e tenta ajustar sem sucesso o material na penteadeira.  

"Diga-me." 

"Não." 

"Helena." Dinah se aproxima, ajustando os cabelos dentro da peruca. Seu nome dito por ela, ainda que seco e breve, confundia seus sentidos. Lá, estava ela, novamente sob o olhar ferrenho de Dinah.  

"Por quê?" Ela diz apenas para as suas escovas de cerdas macias, mas percebe que falou em alto tom.  

Helena somente recorda da ânsia de vômito quando Dinah era assunto em algumas ocasiões, tantos adjetivos e comentários impossíveis de não serem notados nos lábios molengas dos amigos de Pino. Ela recorda o silêncio do irmão, o sorriso meia boca, expondo suas conquistas - Dolores, a filha de algum comerciante, Dinah, a menina do final da rua - enquanto, esperava a sua confidência, seu silêncio para com Dinah. 

"Por que o quê, Helena?" A face de Dinah está confusa, ainda mais quando observa apenas sua amiga encarando os frascos de perfume da penteadeira. 

"Por que você ainda gosta de acompanhá-lo para apenas ser mais um brinquedo para ele expor para os amigos!" Ela lança as palavras na face de Dinah, sem restrição alguma. As mãos rapidamente juntam-se sobre a boca e os olhos ficam alarmados. 

Claro que não soou como Helena esperava, mas, como sua mãe dizia: Às vezes, a boca diz o que no coração está cheio. Ela sempre analisava toda e qualquer frase antes de expô-la para alguém. Ah, se ela pudesse recolher todas as suas palavras. Mas, não; ela não soube nomear isso, o que a empurrou para algo tão descortês. Tarde demais, o que já parecia o início de um pequeno incêndio, seus pensamentos já estavam todos expostos no carpete e Helena os olhava arrependida em silêncio. 

Ao seu lado, Dinah sustenta apenas uma boca levemente aberta, mas rapidamente o semblante dela suaviza. Ela respira o ar com vigor e senta na beira da cama.   

"É por que... " Dinah diz longe, para as paredes. 

"Din, perdão, eu não quis - "  

"Às vezes, é o único jeito de ficar perto de você." Ela dá de ombros e oferece um sorriso pesado e triste para Helena. Ela retorna a encarar os padrões no papel de parede e respira. E com o ar renovado, assim como as suas expressões faciais, Dinah levanta-se da cama e oferece a mão para Helena. "Vamos, ele ainda está nos esperando."

***

Nada aconteceu de diferente, o corpo alto e rígido de Helena não serviu para passos de dança. Os sons, a música eram tudo demais. Ela não entendia os assuntos da conversa. Sim, Richard estava lá, menos Dolores; onde havia Dinah, Dolores não era assunto.  

No pequeno restaurante, sentada à mesa com seu acompanhante entusiasmado que sempre surgia com diversos tópicos de conversa, enquanto ela apenas oferecia para Richard alguns comentários vagos. 

Com o passar do tempo, ela passou a observar as gotículas de água que se formavam na superfície da taça, lentas, elas obedeciam a gravidade e se acumulavam na base. Helena movia o copo, formando vários círculos úmidos na mesa vermelha. E ali estava ela, pendendo seu olhar entre sua taça de uma bebida terrivelmente doce e Dinah, agora, essa moça que ostentava um sorriso aberto, bem diferente daquela face de antes que nada entendeu.

***

No final da noite, Helena deitada na cama, olha para o teto. "Dinah isso, Dinah aquilo..." Os seus pensamentos diziam. Dinah gostava de estar com ela...Dinah gostava de estar com ela? A frase estando em uma incessante repetição e nada concluir disso, era apenas cansativo. Dinah gostava de estar com ela. Ela queria silenciar essa voz e dormir, e esperar amanhecer outro dia. 

Os toques baixos na madeira a retiram dos devaneios e Dinah aparece em sua porta. Helena rapidamente se senta na cama "O que você está fazendo aqui? Nós tínhamos deixado você na sua casa, algumas horas atrás." Ela diz diante do aparecimento súbito da amiga. 

"Eu disse para o meu pai que esqueci algo na sua casa." 

"Oh." Foi o que pôde responder. 

Elas adoram escolher o silêncio e pensar onde colocar as palavras. Um momento, onde Helena talvez possa iniciar seu discurso de desculpas para Dinah ou ajudá-la na busca do algo que ela esqueceu. Mas, Dinah a surpreende e senta junto a ela e novamente, quando tudo de Dinah é tão próximo, seu ar é escasso. 

"Sobre mais cedo..." Dinah diz carregando a mesma expressão de antes. Por certo, ela continuou dizendo várias outras palavras, mas para Helena a real importância estava nos olhos escuros, mais embriagantes que qualquer uísque do pai, na pele brilhante até sob a baixa luz, nos lábios como nenhum outro; e os batimentos do seu coração ecoando como uma marcha militar nos seus ouvidos. 

Os olhos de Helena fecham-se e ela busca aqueles lábios com os seus. Úmidos e frios ao toque e lá permanecem. Helena se afasta com uma imagem turva de Dinah de olhos ainda abertos para depois, sentir algumas lágrimas quentes na bochecha. Ela havia beijado a sua amiga que ainda estava imóvel, sem reação e para completar seu estômago doía novamente. 

A única sensação possível era das unhas entrando na palma da mão, quase sangrando. Ela imploraria alguma reação de Dinah. 

“Din, eu, eu-” Ela estava entrando novamente naquela confusão de pensamentos e a face de sua amiga era a última coisa que conseguia encarar. 

Dinah embala suavemente o rosto de Helena entre as mãos dela, e aproxima a própria testa com a de Helena, ainda controlando a respiração. Ela sorri, antes de beijá-la nos lábios. E o fez de novo e de novo e de novo. 

Para Helena, momentos próximos ao infinito; o rosto quente e ciente das mãos úmidas repousadas nas bochechas, enquanto era beijada pela menina que gostava de estar com ela. 

Dinah afasta o rosto e Helena com dificuldade permite a distância entre elas, segue o rosto dela. 

"Eu...eu preciso ir." Dinah sussurra contra os seus lábios aquecidos.  

Para Helena restou somente, observá-la partir. Ela é deixada na cama com náuseas e calor no corpo, ainda tocando a boca com seus dedos, a fim de manter a memória de um beijo. Helena não soube o quanto aquele momento durou, mas foi tão insuficiente. 

Semanas depois do seu primeiro beijo e sem rever Dinah. Helena é mandada para o internato católico na Suíça. 


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Notas finais do capítulo

Que viagem, não é mesmo?
Brevemente a segunda parte e spoilers: vai ser melhor ainda. Pode não ser para você, mas eu estou animada com o que escrevi.



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