Hinata não podia estar mais longe do filho. Aparentemente seu pai estava melhor do que nunca e não precisaria de assistência integral. Ela precisava voltar para sua vida, já havia passado tempo o suficiente longe de Boruto e seu coração de mãe estava sofrendo com a saudade e tudo que poderia enfrentar.

Seu filho tinha apenas 4 anos e ela ficou aliviada por ter decidido deixá-lo aos cuidados de Kurenai, não o queria envolvido em todo esse furacão.

Após o encontro com Naruto, ele não havia a procurado e ela tinha decidido que seria melhor assim. Ainda que se sentisse bem mais leve após o confronto.

Aguardaria mais alguns dias para resolver as burocracias do processo que deixaria rolando pela justiça, até que precisasse voltar para a audiência.

Ela só precisava conter seu pai por mais alguns dias e voltar para casa. Hanabi já havia sumido em mais uma viagem e toda burocracia hospitalar ficou a encargo dela. Precisava pegar os resultados dos exames e marcar as consultas do pai na próxima semana.

Finalmente chegou à porta do consultório de Sakura, mas antes que pudesse bater, ela se abriu e a médica passou por ela.

ㅡ Ah, Hinata. Estava à sua espera, me aguarda um minuto aqui na sala que eu preciso entregar esses papéis com urgência. ㅡ Levantou o maço de papéis que carregava.

Hinata a olhou desconfiada e Sakura ficou mortificada. 

ㅡ Não tem ninguém aí dentro, eu juro ㅡ falou, sem graça e saiu correndo.

Hinata entrou receosa. 

De fato, não havia ninguém. Suspirou aliviada, olhando os quatro cantos.

Da última vez que estivera ali, não havia reparado no consultório de Sakura. Era tudo extremamente branco e organizado. Na prateleira, haviam porta-retratos de família. Sakura e Sasuke de noivos. Os dois com as famílias. Sakura e Naruto. Sakura e Sasuke com um bebê. 

Eles realmente acabaram juntos. Ela sorriu.

ㅡ Nove meses e a menina nasce a cara do pai ㅡ constatou, analisando a semelhança da menina com Sasuke.

O toque de seu celular preencheu a sala e ela o buscou rapidamente dentro da bolsa. Era Kurenai, estava na hora de falar com o filho.

ㅡ Oi, meu amor!

…

Sakura voltou correndo, não queria deixar Hinata esperando por muito tempo. Queria pedir desculpas pelo que havia acontecido dias atrás. Estava se sentindo extremamente culpada e não queria arrastar mais aquela situação.

Parou diante da porta de seu consultório para se recompor. Não podia simplesmente entrar descabelada. Tocou a maçaneta da porta para abri-la, mas o que escutou a fez estancar.

ㅡ Não precisa chorar, querido. Continue obedecendo a tia Kurenai ㅡ a voz de Hinata era alta e clara. ㅡ Eu volto logo, não precisa chorar. Lembra-se do que eu te disse? A mamãe te ama.

Sakura estava em choque. Mamãe? Como assim mamãe? Hinata não poderia estar falando com um animal ou algo do tipo. Não havia formas dela ter entendido aquilo errado.

Esperou a conversa cessar e abriu a porta com cuidado. Sua mente tentando processar a informação, se deveria ou não confrontar Hinata.

Ela havia se casado? Será que prejudicou o casamento dela ter encontrado com Naruto? E porque ela havia deixado o menino? Agora a conversa de Neji e Hiashi fazia sentido.

Ela pensou que seria melhor não dizer nada. Mas como guardaria aquela informação para si? Não poderia esconder do primo que a mulher que amava havia seguido em frente e tinha filhos. Sabia que ele não iria querer se meter no meio de uma família.

Sakura quis disfarçar, mas não conseguiu mudar a expressão de choque. Assim que encarou a morena, ela entendeu que Sakura havia escutado a conversa.

Mordeu os lábios. Merda.

ㅡ Eu fui ver um paciente e… você tem um filho? ㅡ Sakura não escondeu a surpresa no tom de voz.

Era o fim da linha. Não tinha como negar. Se inventasse uma mentira, como adoção, seria como chamá-la de idiota. Teria que contorná-la, e rápido.

ㅡ Sim ㅡ admitiu.

ㅡ Você é casada?

ㅡ Não! ㅡ negou rápido demais. ㅡ Quer dizer, no momento, não ㅡ foi a mentira que pode se agarrar.

Sakura levou as mãos à boca, entendendo erroneamente.

ㅡ Por causa do que aconteceu? Hinata, mil desculpas. Eu não sabia, nunca foi minha intenção causar algum problema para você.

ㅡ Não se preocupe. Não foi por isso. Foi por… outros motivos. Mas já faz um tempo.

Sakura ficara tão transtornada que não notou a hesitação e o nervosismo na voz de Hinata.

O clima entre as duas ficara mais tenso. Hinata não podia deixar transparecer a mentira que tinha inventado. Se Sakura decidisse fazer perguntas sobre o filho, era capaz de ter um infarto ela mesma. Com certeza ela ligaria os fatos. Era uma pessoa muito inteligente. Mas para sua sorte, Sakura estava bem alheia à sua preocupação, sua cabeça dava voltas e voltas de como contaria aquilo para Naruto. Como seria ela a destruir as esperanças do primo.

A médica ainda pediu mais um milhão de desculpas pelo que acontecera e Hinata tratou de ir embora logo. Precisava voltar para Suna o mais rápido possível. Com sorte, Naruto também cairia naquela história e ela estaria a salvo.

…

Shion não havia ajudado com muita coisa. Primeiro, recusou-se a respondê-lo. Mas Naruto foi até seu apartamento e tocou a campainha até que ela o atendesse.

ㅡ Você me deve isso, Shion ㅡ disse, assim que ela abriu a porta a contra gosto.

ㅡ Eu não te devo nada. Te dei uma informação valiosa, você decide o que faz com ela. ㅡ Cruzou os braços diante de si. Parecia uma garota birrenta. 

 ㅡ Não pode dizer essas coisas e não dar mais detalhes. ㅡ rebateu, querendo ter um argumento válido. Mas isso só fez a loira revirar os olhos. Nada fazia esse cara esquecer Hinata. ㅡ Não vou sair daqui enquanto você não falar.

ㅡ O que eu te disse foi só uma suposição, eu não tenho contato com ela e a família dela há anos.

Ela era muito boa em enganar alguém. Foi evasiva e escorregadia o tempo inteiro e não disse mais nada que pudesse ajudá-lo a entender as acusações e o comportamento de Hinata. Shion nunca foi um exemplo de bondade, mas ele sempre fez vista grossa para o comportamento fútil da mulher. Agora era fácil de ver. Tudo nela o irritava.

Dessa forma, não tinha jeito. Hinata era a única que podia responder àquela questão. Então foi ao único lugar que poderia encontrá-la, na mansão Hyuuga.

Estacionou o carro próximo ao portão, bem no ponto cego da câmera de segurança, por trás das árvores, como fazia nos tempos em que namorava Hinata e tinha que buscá-la às escondidas. Andou pela trilha de seixos amarelados e abriu o pequeno portão dos fundos que sempre ficava aberto e dava para o jardim, nos fundos da casa.

Rodeou a casa pelo canteiro de flores e assim evitou passar pelas câmeras de segurança que ficavam próximas à piscina.

Tentou a sorte batendo na porta da frente. Gritaria por ela, se necessário. Para ele pouco importava as aparências. Inúmeras vezes foi até ali e não obteve respostas. Agora que tinha uma oportunidade, não a desperdiçaria.

Antes que pudesse bater de novo, uma voz o impediu.

ㅡ Ora, ora se não é o cachorrinho da Hinata ㅡ Neji falou, encostado na pilastra que sustentava o teto da varanda. A voz carregada de escárnio ㅡ Mal soube que ela está aqui e já está se rastejando.

ㅡ Não que seja da sua conta ㅡ respondeu e Neji levantou as mãos rendido. Já era especialista em lidar com os Hyuugas e sua arrogância. ㅡ Mas só saio daqui depois de falar com ela.

ㅡ Acha que ela vai querer falar com você? ㅡ Neji riu. ㅡ Olhe para si mesmo, você é uma piada. Tem esse jeito tosco e grosseiro. Não é do nosso nível, achei que já tivesse entendido.

Naruto apertou as mãos em punho, estava farto de ouvir aquilo vindo daquela família. Talvez seu padrinho tivesse razão em relação a eles. Poderia até mesmo entender Sasuke. Eles não tinham escrúpulos quando se tratava de terem o que queriam. 

Tentava se controlar, mas aquelas palavras o tiravam do sério. Agarrou o colarinho de Neji.

ㅡ Bate, seu merdinha. Pode bater. Eu vou te processar por agressão física e invasão a propriedade privada. 

As mãos de Naruto tremiam e seu rosto estava cada vez mais vermelho de raiva. Soltou-o com força, quase derrubando-o no chão.

Tentaria falar Hinata do lado de fora, mesmo que tivesse que acampar. Não sabia do que era capaz se continuasse ali.

ㅡ O covarde de sempre ㅡ Neji disse, com a voz entediada. ㅡ Hinata não vai cometer a mesma estupidez. Pare de dar escândalos. Esqueça ela de vez.

Naruto direcionava um olhar cortante, capaz de penetrar até a altivez de Neji. Resolveu que descontaria todos os insultos, e dane-se os processos. Era questão de honra.

Sem aviso prévio, acertou um soco em cheio em Neji, fazendo-o cambalear e cair no chão. Mal deu tempo de ele entender o que aconteceu e Naruto chutou suas pernas.

ㅡ Levanta seu bostinha ㅡ gritou.

O sangue escorria pelo nariz dele e Naruto esperou que ele ficasse de pé, ainda desnorteado. Neji cuspiu sangue e esfregou o nariz. Logo em seguida avançou em Naruto tão rápido que ele mal pode reagir, empurrando-o para as escadas. Os dois caíram e saíram rolando pelo chão de pedra.

Neji conseguiu ficar por cima e acertar um soco em Naruto bem no olho, fazendo-o soltar um xingamento. Naruto o puxou pelo terno, fazendo o tecido se rasgar.

ㅡ Meu terno italiano, seu desgraçado! ㅡ vociferou, engasgado. A boca começava a inchar por conta do soco.

ㅡ Na loja que você comprou esse, não tinha para homem? ㅡ Naruto se levantou, pronto para dar outro soco. Mas o supercílio estava estourado e o sangue escorria pelo seu rosto.

ㅡ Comprei com a tua mãe ㅡ Neji sentia-se ridículo por trocar insultos como duas crianças de 10 anos, mas não conseguiu evitar revidar.

Os dois continuaram trocando socos e xingamentos, até estarem totalmente esgotados. O rosto de ambos estavam tão inchados que ficaram quase irreconhecíveis.

Naruto encostou-se em um degrau da escada. Suas costelas doíam e seu punho estava em carne viva.  Mas estava de alma lavada, finalmente sentia que tinha feito justiça. Ele gargalhou.

ㅡ Do que está rindo, idiota? ㅡ Neji ralhou. Ele não estava muito melhor. Um lado de seu rosto estava tão inchado que parecia ter sido atacado por um enxame de abelhas. ㅡ Você apanhou bem mais que eu. 

ㅡ Não me faça ir até aí e fazer você engolir essas…

ㅡ Naruto?! Neji? O que aconteceu aqui?

Os dois olharam para Hinata vindo em direção a eles.

ㅡ O que está fazendo aqui? ㅡ Neji foi grosseiro. Quase enxotou Hinata dali. Queria impedir o encontro dos dois.

ㅡ Eu vim trazer… Não importa. O que aconteceu aqui? Vocês saíram no soco como dois adolescentes?
Naruto levantou as mãos.

ㅡ Culpado ㅡ disse. Tentou se levantar, mas ao apoiar o pé direito doeu. Tinha torcido na queda. ㅡ Puta merda.

Neji gargalhou, satisfeito. Ao menos ele estava mais ferrado.

Hinata passou as mãos no cabelo sem saber o que fazer. Não imaginava algum motivo para aquilo ter acontecido, e em nenhuma hipótese conseguia criar uma cena tão ridícula. Ficou meio perdida entre os dois, mas Neji parecia melhor.

ㅡ Eu te ajudo ㅡ se enfiou debaixo do braço de Naruto. ㅡ Se apoia em mim.

Naruto olhou para Neji, vitorioso.

ㅡ Ele só está fingindo, Hinata. É um frangote.

ㅡ E você parece que está muito bem ㅡ Hinata foi irônica. Ela tinha uma bomba nas mãos. Neji sabia de tudo e não tinha nada a perder. Precisa afastar Naruto de maneira definitiva, e começaria tirando ele de lá.

Neji observou os dois se afastarem, borbulhando de raiva.

ㅡ Onde está seu carro? ㅡ Hinata perguntou. 

ㅡ Perto da trilha, nos fundos ㅡ falou, corando. Ela se recordava muito bem onde.

Bufou. Há um mês jamais se imaginaria nessa situação.

ㅡ Não precisa me levar até lá, eu me viro. Vai ajudar seu primo, ele ficou bem pior.

ㅡ Você não vai poder dirigir assim ㅡ respondeu, à contragosto. Queria afastar os dois, antes que saíssem aos socos novamente.

ㅡ Eu me viro ㅡ repetiu.

Os dois andaram em silêncio até o carro, cada um preso em seus pensamentos. Foi um momento estranhamente tranquilo, onde não havia mais o turbilhão de sentimentos que os sufocavam.

ㅡ As chaves ㅡ Hinata disse irritada e Naruto entregou em suas mãos.

Eles entraram no carro ainda em silêncio e Hinata manobrou para a estrada novamente.

ㅡ Você não quer saber por que brigamos? ㅡ Naruto perguntou, já incomodando.

ㅡ Porque são dois machos alfas ou algo do tipo? ㅡ ironizou. ㅡ Não podem ficar um segundo sem se estranharem. O que fariam se eu não tivesse chegado na hora? Que belo exemplo vocês são… poderiam ter se matado. Eu nunca deixaria meu… ㅡ arregalou os olhos. Ela quase disse algo que não era para falar. 

Naruto encolheu os ombros. Não estava orgulhoso do que acontecera, mas não se sentia arrependido.

ㅡ Sabe, Hina, eu não me arrependo. Sinto que precisava fazer aquilo. ㅡ disse olhando pela janela. Os dois ficaram em silêncio.

ㅡ Tem que ter alguma explicação… ㅡ quis entrar no assunto. Arrancaria dela ali mesmo.

ㅡ Naruto, por favor…

ㅡ Não, Hina… nós fomos contra tudo e todos e no fim acabamos separados. Eu sei que mentiu quando me disse todas aquelas coisas. O que me deixa louco é não saber porque você foi embora sem me dizer a verdade.

ㅡ As coisas não podem ser mudadas. São do jeito que são.

ㅡ E por que eu não consigo aceitá-las? Vai dizer que não sente o mesmo que eu?

Hinata parou o carro no estacionamento do hospital e o olhou. Os olhos perolados transbordando emoções e querendo dizer tudo que os lábios não falavam.

ㅡ Só precisa arcar com as consequências das suas ações, Naruto. Não podemos fingir que elas não existem ㅡ sua voz saiu magoada e ela se xingou.

ㅡ Que consequências são essas? ㅡ Perguntou num sussurro, já cansado de bater na mesma tecla.

ㅡ Eu sei do beijo ㅡ ela disse, fazendo ele arregalar os olhos. Tirando-lhe o fôlego como se fosse descoberto naquele mesmo dia. ㅡ Sei do que aconteceu… eu vi. Foi por isso. E achei que tivesse ficado claro como água.

Hinata apertou o volante com força. Tinha raiva de tudo que aconteceu. De como aconteceu. Tinha raiva dela por ter sido imatura e fugido grávida e livrado ele de todas as responsabilidades. De ter passado por tudo sozinha e desamparada. Tinha raiva de Naruto porque era culpa dele. Mas já era tarde e ela era uma mãe solteira. Seu filho tinha somente a ela, única e exclusivamente e agora era ela que tinha que arcar com as consequências.

Ele quis dizer algo. Chegou a abrir a boca várias vezes, mas nada realmente saiu. Não sabia o que dizer diante daquilo. O que poderia fazer? Negar? Jamais seria canalha com ela daquela forma. Mas… como ela soube? Era impossível que tivesse visto.

Sem nada para dizer, ela simplesmente saiu do carro, deixando-o em choque. Ele queria gritar por ela, esclarecer, mas não encontrou sua voz. Não se achou no direito. Sentia-me o mais miserável dos homens.