Midnight Lovers escrita por Pandora Ventrue Black


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

"As the World Caves In" - Matt Maltese



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07 de Março de 1999

 

Querido Diário, ainda me pergunto porque escrevo em você. Tenho vinte e três anos e ainda não larguei minha mania infantil de documentar os meus sentimentos. Acho que o faço para externalizar o que penso, é mais fácil lê-los do racionalizá-los.

Me sinto perdida, como se tivesse sido largada em um barco e navego em águas raivosas e desconhecidas. Faz uma semana desde que vi meu pai, voltei para Salém por conta disso. Meu sonho é se afastar dessa cidade tenebrosa e seguir minha vida em outro lugar, talvez Nova York ou Los Angeles. Porém, tudo isso ia ter que esperar.

Você, Diário, sabe que eu sou uma bruxa e que meus pais e irmãos também são. Não tenho vergonha do que sou, muito pelo contrário, sou muito grata por ter nascido assim, o único problema é que existem pessoas que não me querem viva: Os Caçadores. Temo que seja por isso que minha mãe me convocou de volta a Salém, meu pai pode estar em perigo.

Agora estou aqui, na minha casa ao lado do Museu de Salém, onde é guardado todas as recordações sobre o assassinato de bruxas como eu. Meu pai, Órion, é o curador do local, assim como o seu próprio pai. Mas ele não está aqui, nem no museu nem na cidade e ne em nenhum lugar. Ele sumiu. Desapareceu.

Minha mãe, Celeste, não sabe mais o que fazer. Estamos todos aqui, na verdade, meus irmãos nunca saíram daqui. Scorpius, o mais novo, ainda está no colégio, não chegou nem no ensino médio. Electra, a do meio, acabou de fazer dezoito, e já se acha a mulher mais madura do mundo. Ela me irrita como se sua vida dependesse disso. Agora decidiu namorar, o que por si só não é um problema, mas ela fez uma péssima escolha. Está com um homem bem mais velho que ela, um tal de Seth.

Diário, me entenda, não é ciúme, é preocupação. Ela mal começou a vida adulta e já está namorando um cara sete anos mais velho que ela! É pura irresponsabilidade! Tenho certeza que ele só vai partir o coração dela. Tentei conversar com ela, juro, e ainda por cima fui super gentil, mas ela não quis me ouvir (como sempre). De acordo com Electra, ele é um bom homem e um bruxo poderoso, coisa que eu não acredito. Por mais que ele tenha vindo de Nova Orleans e carregue o sobrenome Nightingale, ele pode ser só mais um garoto (nota: não um homem) querendo se aproveitar de uma menina (lê-se: minha irmã mais nova).

Celeste está bem com o relacionamento dos dois, o que me indigna, mas não sou nem louca de discutir com a minha mãe. Ele mora conosco, ou melhor, no porão da casa e eu voltei a dividir meu quarto com a minha irmã, que agora me ignora solenemente.

Ah, Diário, como eu queria estar no meu dormitório agora. Lá era barulhento? Sim, muito. Eu tinha algum tipo de privacidade? De forma alguma. Os corredores eram fedidos? Sim! Mas como eu preferiria estar lá, longe de toda essa confusão, entretanto, não me acalmaria enquanto meu pai não estiver em casa.

Ele é o homem mais bondoso do mundo (e o mais pançudo também). Órion é, sem sombra de dúvida, o melhor pai do mundo e o bruxo mais poderoso de todos, por mais que para muitas pessoas ele não passe de um velho museólogo, fascinado pela história da nossa cidade. Meu pai, Diário, não é um Bishop, minha mãe é quem carrega o sobrenome, mas ele sabe muito mais sobre Bridget e Blair Bishop do que Celeste.

Se ele estivesse aqui seria tão contra o relacionamento de Electra quanto eu. Sinceramente, o que minha irmã viu naquele Seth. Ele só é alto e parece ser um astro de rock e… Céus, o que estou escrevendo. Ele é normal, só isso. Tem uma voz bonita, é claro, não posso negar, rouca e misteriosa e os olhos mais cintilantes que já vi na vida: azuis como o céu no verão. Ok, talvez eu entenda o porquê de Electra ter se apaixonado por ele, mas aparências enganam, não é? Por mais que ele seja educado, o que em parte eu acho que seja um ato para me enganar; não há motivos para ele ajudar a minha mãe descer as escadas, ou arrumar a mesa em todas as refeições, ou ajudar na limpeza e organização da casa.

Droga, ele simplesmente é bom. Talvez esse seja o poder dele, criar ilusões! Mas não é possível, pois carrego um amuleto contra esse tipo de magia. Ele não mexe com a nossa cabeça, ele sabe sim tocar violão perfeitamente, o cheiro de seu perfume é inebriante porque sim e seu toque é como fogo porque ele é assim!

Ai, Diário. Quero socar aquela cara perfeita dele, raspar o cabelo negro e sedoso enquanto ele dorme, jogar meio litro de desinfetante nele para ver se consigo tirar o seu estúpido cheiro da minha mente. Céus, consigo sentir todas as nuances do perfume dele: meio amadeirado e com um leve cheiro cítrico.

Chega, por hoje é isso. Já me humilhei o bastante por hoje. Até breve, Diário.

 

Selena segurava em suas mãos o diário de sua mãe, o caderno parecia pesar, pelo menos, cem quilos, mas, na verdade, era um conjunto de páginas costuradas a mão, tão leve quanto uma pena. Depois da tia Electra ter expulsado Alexandra da casa e Jamilla ter ficado para presenciar um jantar estranhamente silencioso, as duas se encontravam no quarto de Selena, encarando pilhas de memórias dos Bishop anteriores.

— Sua tia namorava o seu pai… — Jamilla comenta tirando os olhos do diário.

— Acredite, estou tão surpresa quanto você, mas, só um minuto… — Os olhos de Selena se arregalam — Você estava lendo o diário?

— Claro e não se preocupe, não sou uma Caçadora — A garota fala com tranquilidade, se sentando perto da janela — O cheiro de uma bruxa é diferente de um humano, sabia? Tinha minhas dúvidas, mas todo mundo nessa casa tem o mesmo cheiro.

— O que? Eu não estou entendendo, Milla.

— Sou um lobisomem, Lena, apesar de preferir o termo licantropa — Ela sorri e uiva baixinho.

— Eu não…

— Imaginei que não tivesse sacado, mas aí está, a verdade nua e crua.

Selena sorri. Nunca tinha feito amigos sobrenaturais.

— Sua mãe?

— Não, não é… Fui mordida há dois anos e ela ainda não sabe — Ela suspira olhando pela janela — Não sei como ela reagiria, sabe, ela é humana.

— Sim, eu imagino. Bem, agora que sei sobre você e suas suspeitas foram confirmadas, desculpa não te falar antes…

— Que isso garota! — Ela sorri e se senta ao lado de Lena, que estava radiante — Não precisava me contar nada, mas agora que sabemos, o que tem a dizer?

— É uma loucura, nunca tive amigos sobrenaturais — Selena comenta com um sorriso no rosto — Agora tenho uma amiga lobiso… Quer dizer, licantropo.

— Eu também não, Lena. Não há outros seres sobrenaturais aqui.

— Nem mesmo Magnus?

— Ele tem um cheiro normal, Lena — Selena percebe as bochechas da amiga ficarem levemente rosadas — Magnus tem uma beleza sobrenatural, mas nada além disso.

— Ainda não acredito que gosta dele! Ele é um idiota.

— Correção: um idiota gato.

Selena revira os olhos.

— Não me diga que não tem uma queda pelos Hollister.

— Não sei do que está falando, Milla.

— Eu vi você e Alexandra, L. Não adianta mentir.

— Você viu o beijo? — Selena indaga nervosa, suas mãos começaram a ficar suadas e rapidamente ela se afastou de sua amiga.

— Claro, não sou cega e…

O celular da bruxa começa tocar. Era Kathy.

— Oi, L.!

— Oi, Kathy!

— Oi, oi — Jamilla se pronuncia colando o celular no viva voz.

— Opa, uma voz nova! Sou a Kathy!

— Milla!

— Você fez amizades, Lena! Parabéns!

— Na verdade, eu falei com ela durante a aula e ela me ouviu, mas no fim das contas estamos aqui — Milla ri baixinho.

— Acredite, Milla, Lena não é tão boa assim com amizades! Demorou uma semana para que ela falasse com alguém na Atlantic High, ou melhor, me responder quando eu perguntava alguma coisa.

— Quer espalhar mais alguma coisa, Kathy?

— Não, L. Eu queria fazer uma pergunta — Katherina se cala, ela adorava dramatizar as coisas — Ela já arrumou uma namorada, Milla? E, por favor, não minta!

— Namorada? Não. Mas beijou uma garota — Jamilla comenta pegando o celular das mãos de Selena — Bem aqui na casa!

Selena tenta falar, mas nada sai de sua garganta. Já era, ela e Jamilla conversariam até o dia clarear. Respirando fundo e colocando as mãos nos bolsos do moletom, a bruxa se aproxima da janela se perguntando quanta horas teria que esperar para que Kathy finalmente calasse a boca.

Toc.

Toc.

Era um barulho fino que vinha do outro lado da janela. Quando Selena abre a persiana ela encontra uma garota loira parada no andar inferior, segurando pedrinhas de cascalho em suas mãos. Era Alexandra.

— O que está fazendo aqui?

— Shiu! Sua tia me mata se souber que estou aqui!

— Exatamente!

— Depois te falo, agora, baixinha, tem como eu subir?

— Hum… Atrás das vinhas há escadas, mas tome cuidado, a madeira deve estar podre! — Selena explica apontando para a planta que crescia reste a sua janela.

Ela respira fundo e olha para Jamilla, que parecia ocupada demais conversando com Kathy.

— Milla, já está tarde e eu preciso terminar de ler o diário — A garota mente — Te passo o número da Kathy depois e as duas podem fofocar sobre a minha vida amorosa!

— Mas… — Kathy mia, mas se cala.

— Temos um trabalho de genealogia gigante para fazer, Kathy, eu, mais do que ninguém, estou enrolada — Milla fala passando o telefone para bruxa — Tenho que ir de toda forma, minha mãe me mata se eu chegar tarde de novo. Tchau, Kathy.

— Hum, adeus, meninas — Kathy choraminga e desliga.

— Ela é legal, Lena.

— Kathy é, ao mesmo tempo, a minha sanidade e a minha loucura — Selena suspira — Precisa que eu te acompanhe para fora?

— Sei me virar, não se preocupe — Milla diz pegando sua mochila — Termine de ler esse diário hoje, estou curiosa para saber o final desse romance.

— Quer dizer, como a minha mãe ficou com o namorado da minha tia?

— Dá na mesma! — Jamilla fala com um sorriso no rosto — Te vejo amanhã?

— Não tem para onde fugir…

— Vou aceitar isso como um sim… Até amanhã, Lena!

— Até, Milla!

Selena observa a sua amiga sair de seu quarto e quando ela o faz, a bruxa rapidamente trancar a porta do cômodo. No momento em que se vira para trás, encontra Alexandra tendo dificuldade para entrar pela janela, como se a casa estivesse em uma bolha impenetrável.

Abdito secreto — Selena fala baixinho, fazendo a barreira na parte da janela desaparecer.

— Uma mãozinha?

— Ah, claro! — Ela diz se aproximando da garota e a ajudando a entrar no quarto — O que está fazendo?

— Precisava falar com você, baixinha… Não devia ter te beijado e sinto que isso não ficou claro o suficiente.

— Eu beijo tão mal assim? — Lena fala com um sorriso desajeitado no rosto.

O grande impasse era que Selena queria beijá-la, e queria muito, porém estava confusa. Nunca, na sua vida, sentira algo assim, era como se, de alguma forma, as almas das duas estivessem conectadas. Nykkia disse uma vez que há amantes que decidem se reencontrar em todas as reencarnações, era uma espécie de maldição e, ao mesmo tempo, um paraíso. Romeu e Julieta, casal que realmente existiu, eram de famílias bruxas rivais e alma dos dois estavam conectadas e, no fim, reencarnariam em novos corpos e se apaixonariam novamente.

— Não foi isso que eu quis dizer — Alexandra cerrou o maxilar e arruma a sua jaqueta de couro.

— Está tudo bem, Alex. Eu queria… Hum, bem, você sabe.

— Queria que eu te beijasse?

Selena sente seu corpo aquecer, principalmente na região das maçãs do rosto.

— Está corada.

A bruxa balança a cabeça, desviando o olhar. Ela se sentia patética, incapaz de controlar o corpo e os próprios sentimentos, assim como sua mãe, que narrara ao seu diário, seus sentimentos por Seth.

— Eu gosto — A voz de Alex ficou um pouco mais rouca e aos pouco ela se aproximou da garota, tocando-lhe a face — Lena, posso te beijar de novo?

Selena engole em seco, sentindo uma espécie de eletricidade percorrer o seu corpo, arrepiando todos os pelos de seu corpo. Por um momento ela quis gemer, não por prazer, mas por conta da corrente insana que percorreu o seu corpo. Aquilo tudo era estranho demais, mas era algo que Selena estava disposta a ignorar.

Ela precisava beijá-la.

— Sim — Ela fala e segundos depois é calada com um beijo denso e quente.

A boca de Alexandra é sedosa e macia e tocava a de Selena com calma no início, aproveitando para que suas mãos descessem pela coluna até a cintura da mais baixa. A loira sentia que seu cérebro estivesse prestes a explodir, seu mundo dava voltas e tudo isso era um reflexo do beijo. Seu corpo pedia, ou melhor, clamava por mais, queria tocar mais e mais a garota.

E então um cheiro de sangue.

Férrico.

Invasivo.

— O que foi? — Selena indaga incerta.

— Nada, eu só… — O odor férrico dissipa aos poucos — Precisava respirar um pouco.

Selena sorri, apoiando os braços no ombro da garota.

— Mais?

— Melhor não, Alex… Não sei quanto tempo temos, mas sei que se minha tia a encontrar aqui, estaremos fritas. Assadas. Empanadas. Torradas!

— Entendi, baixinha — Ela fala se afastando e segurando o queixo de Selena — Vamos repetir isso, não vamos?

Selena sorri novamente, mal conseguia conter a alegria dentro de si.

— Vou aceitar isso como um sim — Alexandra diz se aproximando da janela, se preparando para sair — Até amanhã.

— Até!

O quarto de Selena volta a ficar frio e solitário, mas algo em Selena queimava. Era seu coração, que desejava que Alexandra ficasse mais um pouco. Enquanto isso, a loira caminhava por debaixo da chuva com o peito apertado, o cheiro de sangue estava incrustado em sua mente, era como se tivessem colocado o líquido vermelho dentro de seu cérebro por meio de um cotonete em seu nariz.

Um calafrio percorreu sua espinha. Alguma coisa estava errada.

Algo estava a seguindo, ou melhor, alguém.

 

⇻♡⇺

 

14 de Março de 1999

 

Meu pai está morto.

Meu pai está morto, Diário, simples assim. Ele se foi, sem mais nem menos, sem um adeus ou um aviso prévio. O mataram, Diário, eles o mataram. Os Caçadores ceifaram a sua vida sem dó nem piedade. O corpo dele estava em péssimo estado que precisamos encontrar alguém para fazer um feitiço de ilusão para enterrá-lo.

Céus, as páginas estão tão molhadas que mal consigo escrever sem machucá-las.

Descobrimos hoje, no café da manhã, que mal comi. Os homens que nos avisaram era da polícia daqui, incluindo o Xerife Hollister. Como sabemos que foi os Caçadores? O sangue dele foi drenado, Diário. Isso é típico deles, nos matam para usar o nosso sangue para fortalecê-los, nosso poder é capaz de torná-los velozes o suficiente para perseguir um licantropo adulto.

Eu não aguento mais isso. Esse medo constante por ser quem eu sou. Eu sou uma bruxa e posso morrer por causa disso, como se eu ainda vivesse no período medieval. É surreal. Vivo desesperada, sempre pensando duas vezes quando cruzo a rua ou sempre repassando as minhas falas para não correr o risco de um Caçador me encontrar.

Cansei disso.

Chega!

Electra também sente a mesma coisa, para ela a morte de nosso pai precisa ser vingada e, pela primeira vez na minha vida, eu concordo. Órion era um homem bom, muito melhor do qualquer outro ser sobrenatural, não merecia uma morte assim, tão brutal e hedionda. Ele merecia, no mínimo, viver até sua velhice e passar para o mundo dos mortos por meio de um sonho tranquilo. Deveria conhecer seus futuros netos. Droga, ele merecia ver o próprio filho crescer.

Scorpius, tadinho, acabou de fazer treze e mal vai se lembrar de nosso pai. Não vai conhecer a vastidão de sua bondade e nem apreciar os jantares especiais no dia do Chamado. Os Caçadores tiraram isso dele.

Eles tiraram o meu pai de mim e isso não posso aceitar.

Eles tem que pagar, nem que seja a última coisa que eu faça.

Eu, Electra e Seth estamos partindo hoje, vamos durante a madrugada, para não levantar suspeitas. Levo meu coração na mão, não só por conta da raiva enorme que fervilha em mim, mas também porque beijei Seth. Droga, o beijei e não foi só um selinho.

Estava no porão, onde meu pai guarda todas as ervas e ele entrou lá, todo meigo. Se sentou do meu lado e ofereceu um ombro amigo. E então eu o beijei e por pouco não avançamos mais do que isso. Me sinto patética, estúpida e idiota.

Enfim, pegaremos o carro do namorado de minha irmã (e também o cara que eu quase perdi a virgindade) e seguiremos para a Carolina do Sul, onde o corpo de meu pai foi encontrado. Minha mãe me disse que ele estava indo para a Geórgia a negócios, a procura de ervas e aparatos para o próprio laboratório de feitiços. Ninguém sabe o que aconteceu no trajeto entre os dois locais, porém eu vou descobrir quem fez isso com ele.

Primeira parada: *Savannah, Georgia.*

Segunda parada: *Charleston, Carolina do Sul.*

Sei muito bem o que estou fazendo, Diário. É muito arriscado e perigoso, mas não serei capaz de conviver comigo mesma se eu não for atrás dos responsáveis pelo assassinato de meu pai. Estou deixando com a minha mãe meu conjunto de ervas calmantes e para Scorpius, um amuleto. Não estamos seguros e sei que ela precisa de mim nesse momento, mas minha mente está focada em outra coisa.

Preciso de justiça, Diário, e o Xerife Hollister não vai trazer ela a mim.

Farei isso com as minhas próprias mãos.

 

⇻♡⇺

 

Selena se encontrava deitada em sua cama, não havia pregado o olho durante a noite, sua mente estava dividida entre o beijo doce e quente de Alexandra e as páginas do diário de sua mãe. No momento em que desgrudou os olhos do caderno ela percebeu que eram sete da manhã.

— Droga… —Ela grunhi fechando o diário com força — As anotações da minha mãe acabaram nesse dia, quando foi atrás dos culpados…

Você não consegue dormir, não? Virou vampira e não me avisou?

Desculpa, Bash, mas estou lendo os diários da mãe.

Ainda? Céus, Lena, você sabe que horas são?

Sim, eu sei, mas o diário tinha muita coisa.

Coisas interessantes?

Bash, nosso pai era namorado da nossa tia!

E então um silêncio ensurdecedor tomou conta da mente de Selena, seu irmão havia desconectados os dois.

— Está me dizendo que nosso pai namorou a tia Electra? — A voz do menino passa pela porta ao mesmo tempo que ele.

— Fale baixo, Bash.

— Agora que me fala isso?

— Estava ocupada. Lendo — Selena comenta baixinho, abrindo espaço em sua cama para seu irmão.

— Sim, enfiando sua língua na boca da Alexandra.

— Como você…? — A bruxa sente seu corpo aquecer — Esqueça. Apenas não fale para ninguém. Tia Electra surtou ontem.

— Eu a vi lançando um feitiço na casa — Bash fala se arrumando entre os lençóis — O que mais descobriu?

— Nossa avó era curador do museu aqui de Salém. O xerife Hollister disse que foi ataque animal, um urso, mas, obviamente, isso não fez sentido, pois o corpo dele foi encontrado sem sangue…

— Caçadores?

— Óbvio, Bash… Eles nos matam e usam nosso sangue para ficarem fortes.

— Isso é doentio… — O irmão sente um calafrio percorrer sua espinha. Ficou pensando a quantidade de sangue bruxo era necessário para fazer um humano ser tão forte quanto um licantropo — Também andei fazendo o dever de casa.

— O que achou?

— Nada demais. Nossa escola homenageia o cara que matou Bridget Bishop — Ele suspira, pousando seu olhar na janela — Mas Hugh me disse que nossa mãe estudou junto com grande parte das pessoas dessa cidade… O Hugh é um Smith, o pai dele trabalha para o Hollister, em uma das construtoras da cidade.

— E?

— Thomas Smith, o pai do Hugh, é grande amigo do Sr. Hollister — Bash pigarreia se aninhando confortavelmente na casa — A surpresa é que A Sra. Hollister era amiga da nossa mãe, Lena.

— Então a raiva da tia Electra é injustificável — A garota grunhi, cruzando os braços.

— Não, não é — Os olhos de Selena brilham de curiosidade — A Sra. Hollister tem um irmão mais novo.

— Quem?

— Rick Cain.

— Está de brincadeira! Ele é um Cain, não um Hollister.

— Nosso professor pegou o nome da esposa e, maninha, ele era o pegador da escola!

Selena sente sua boca pender o que faz seu irmão sorrir.

— Ele e nossa querida tia Electra namoraram — Bash explica encarando o teto — Consegui entrar na mente do pai do Hugh e vi algumas memórias do tempo dele na Phips High. Ele viu nossa tia ser dispensada no baile de Halloween.

— Por que não me disse antes? — Ela balança a cabeça e o fuzila com o olhar — Não deve entrar na cabeça dos outros assim, Bash!

— Primeiro, não disse porque, e repito, estava enfiando sua língua na garganta da… — Mas antes que ele pudesse terminar, Selena o atinge com o travesseiro, calando-o.

— Cale a boca, Bash! Céus! Deve ter sentido tudo…

— Credo! Eu não sou esse tipo de gente, maninha — Ele fala com uma voz triste — O que pensa que sou?

— Um idiota!

— Também te amo, viu, mana?

— O que os dois estão fofocando a essa hora da manhã? — Uma voz masculina preenche o cômodo.

Era Seth em seu conjunto para corridas matinais: moletom da cabeça aos pés, tênis e um fone de ouvido.

— Falando da escola, pai — Selena mente, sentindo o coração apertar.

— Selena não conseguiu dormir, disse que estava assustada, tendo pesadelo com os corvos.

Obrigada.

De nada, maninha.

— Sério, querida? — Seth indaga entrando no quarto — Você, Bash, se arrume e você, Lena, quer conversar?

— O que? Como assim? Ela pode faltar e eu não?

— Sebastian, você tem três segundos para enfiar essa sua bunda dentro do chuveiro — Selena vê seu irmão abrir a boca para pestanejar, mas seu pai é mais rápido — Ou prefere uma semana sem o celular e nada de Hugh e Lincoln?

— Nada melhor do que um banho matinal, não é mesmo? — Ele fala em um suspiro, avançando para o outro quarto.

— Não sei como não bate nele, pai. Nem um soquinho…

— Seu irmão gosta de provocar, minha querida, só isso — Seth fala se sentando na beirada da cama — Sei que com seus tios aqui, você deve pensar que há algo muito errado com a gente.

— Você nem imagina.

— Estamos testando nossas possibilidades, Lena. Seu tio, por mais que eu odeie admitir, é um Tenebris melhor do que eu… Ele é mais forte por não ter tido filhos.

— Você ainda se comunica bem com os mortos, pai — Selena sorri — Lembra quando conversou com a Lila, minha cachorrinha?

— Lembro, minha filha, ela estava tão feliz — A voz do pai soa nostálgica.

— Foi o meu pedido de aniversário — A ruiva comenta encarando os lençóis da cama.

Sempre odiei aquela cadela.

Só por que ela comeu os seus brinquedos, Bash.

Não sobrou UM Max Steel! Ela destruiu tudo!

Selena respira fundo e olha para o seu pai.

— Há algo que está me escondendo, pai? Mamãe nunca fala da tia Electra e agora ela está aqui e, pior, nunca ouvi vocês falando do tio Scorpius!

— Você sabe a resposta para essa pergunta, Lena.

— É a maldição, não é?

— Pode ser, há muitas possibilidades.

— E o Ritual da Lua? Ele trará respostas?

— Eu não sei, minha filha, é um ritual sinuoso…

— Mas trará respostas, não é?

— Esperamos que sim — Ele fala num suspiro — Agora me diga, o que a loira estava fazendo subindo as vinhas até o seu quarto?

Selena se cala, formando, com a boca, um “O” perfeito.

— Eu gosto dela, Lena — O pai comenta — E ela passou a noite no gazebo, não sei porque…

— O que?

— Ela está no gazebo, deitada no chão. Dá para ver ela do meu quarto.

A bruxa sorri, se levantando com rapidez da cama. Ela sai em dispara, ainda de pijamas e pantufa, em direção ao gazebo de madeira da família, que fica na parte de trás da casa. A garota não sabia o por quê de agir assim, era como seu corpo precisasse estar perto de Alexandra, sentindo cada vibração de sua voz, tocando sua pele quente e beijando sua boca macia.

No momento em que alcançou o gramado seu corpo congelou. Não estava longe do gazebo e por isso foi capaz de captar perfeitamente a imagem. Alexandra não estava dormindo, parecia estar…

— Morta… — Selena sente sua garganta fechar.

O piso de madeira branca estava encharcado de sangue e o corpo de Alexandra estava posicionado de uma forma terrível. A bruxa engole em seco e acelera. Não podia acreditar no que estava vendo. Seu coração parecia quebrar, se estilhaçando em milhões de pedaços, uma dor horrível se espalhou pelo seu corpo, indo dos pés a cabeça.

— Alex… — Ela tenta falar, mas no momento em que toda o corpo frio de Alexandra, uma navalha parece cortar a sua espinha.

Uma dor lasciva percorre o seu corpo, mas ela não estava sangrando, ninguém a havia cortado. Um grito escapa de sua boca enquanto ela pende para frente, caindo em cima da loira. A bruxa enrijece e tenta segurar o choro, falhando miseravelmente, algo de errado estava acontecendo, pois ela era incapaz de se mover ou pensar em algo diferente de sua dor.

Enquanto isso, no quarto a frente do de Selena estava Sebastian, vestido com um jeans escuro e com uma toalha na cabeça. Seu corpo trava e um grito desesperado e gutural emana de seus lábios. Ele sente seus ossos serem esmagados um por um, apesar de ser capaz de ver que todos eles estava em seus exatos e perfeitos lugares. Em seu ouvido ecoava cada creck e isso o enlouquecia.

Os dois estavam assim, insanos por conta dor.

Os gêmeos se encontravam remoendo dores e temores, cavando cada vez mais fundo a própria cova mental.


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Notas finais do capítulo

Comentem: elogios, críticas, o que quiserem. Estou sempre aberta para conversar com vocês e os comentários me ajudam a proporcionar uma história melhor para meus leitores. Espero que tenham gostado.



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