Midnight Lovers escrita por Pandora Ventrue Black


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

"Train Wreck" - James Arthur



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A família Bishop se encontrava na sala de estar da casa, Andrômeda estava sentada no chão entre Selena e Sebastian, recitando feitiços de cura na esperança de fazê-los acordar. Seth observava o fogo, sentado desconfortavelmente em uma poltrona qualquer, seus punhos estavam cerrados e seus olhos marejados, ver seus filhos assim, apagados e frios como a própria morte, o faziam tremer de raiva. Scorpius passava suas mãos em cima de Alexandra, sem tocá-la fisicamente, apenas avaliando a situação da garota. Celeste preparava um chá para tentar acalmar os nervos de todos, apesar de falhar miseravelmente por conta de suas mãos trêmulas.

Electra, diferentemente dos outros, se encontrava no porão da casa, também conhecido como o laboratório de poções escondidas no coração da Mansão Blackwaters. Sua respiração estava irregular, mesmo ela tentando, por anos, manter sua postura de durona, a mulher estava quebrando, pedaço por pedaço, desmanchando, aos poucos, sua fachada tão bem construída.

O que os outros moradores não sabiam era que Electra não estava procurando uma cura, e sim uma forma de entrar na mente dos mais jovens. Ela tentou quando ouviu Selena gritar, mas algo estava bloqueando a sua magia. Lá no porão, onde todo o maquinário de Órion, seu pai, estava, a mulher lutava para manter sua mente fria e racional, o que, na sua opinião, não era fácil.

— Céus, Electra, se controle! — Ela murmura triturando algumas ervas — Sanguis sánguinis mei, passus es pasco, ut mens tua mea ut veraniolum meum et caro tua est.

Ela respira fundo e aproxima de seus lábios um cálice antigo com um líquido verde dentro de sabor e odor adocicado.

— Sangue do meu sangue, permita-me navegar em ti, sua mente como minha assim como minha carne é tua — Ela clama sentindo seu poder fluir.

Electra se sente afundar, como se seu corpo estivesse derretendo. “O feitiço estava fazendo efeito”, ela pensou, “Eu preciso vê-los, tenho que vê-los. Se eles se forem… Ah, céus, não sei nem o que eu faria”. Sua visão se torna borrada e suas pálpebras, pesadas. Com um último suspiro, Electra se esvai, enquanto seu corpo atinge o chão em um baque surdo.

— Lena? Bash? — Electra clama no momento em que abre os olhos na nova dimensão.

Ela estava em um cemitério humano, cheio de lápides e grama para ser cortada, seu caminho sendo iluminado pela luz cintilante da lua.

— Lux — Ela sussurra fazendo uma bola de luz surgir em suas mãos — Garotos? Onde estão?

— Estão aqui, Electra, mas distantes — Uma voz fria e rouca ecoou pelo local, sendo carregada pelo vento.

O corpo da bruxa congela, era como se a voz fosse a própria morte: alheia e cruel. Sua mente se volta para uma única possibilidade:

— Estão vivos?

Nada. Nenhuma resposta.

Estava sozinha novamente, largada em meio ao cemitério mundano envolta por névoas e ventos gélidos. Começou a andar, era o que seu instinto estava dizendo, ela precisava achá-los, nem que isso demorasse uma eternidade. Selena e Sebastian não podiam estar mortos, os gêmeos não tinham esse luxo.

Quando Electra finalmente os viu, crescidos e saudáveis, os dois foram brutalmente retirados dela. A mulher tinha essa aura, tudo o que queria era sempre retirado. Primeiro com Rick Phips, seu primeiro amor e primeiro namorado, os dois passaram um ano juntos, e, por um momento, Electra se esqueceu de seu azar e de suas origens, por um momento  ela achou que podia ter uma vida normal, longe da bruxaria, afastada dos problemas gerados por sua linhagem. Sua alegria, calma e paz não duraram muito. Seu coração foi partido, quebrado em milhares de pedaços.

Ela nunca queria normal. Electra tinha duas sinas: ser uma bruxa e ser uma Bishop.

— Meninos? — Ela clama acelerando o passo.

— Estão vivos — A voz fala novamente, mas desta vez ela se materializa na frente da mulher.

Era uma sombra escura, rodeada por uma nuvem escura, negra e sem vida. Seus olhos eram vermelho cor de sangue, mais pareciam gotas que vazavam de uma ferida recém-aberta. Era dele que emana a voz solitária e autoritária.

— Onde eles estão? — Ela pede com calma e gentileza, mas a sombra não parece se importar. Na segunda vez, Electra já não tinha a mesma paciência — Se não me disser eu juro que…

— Vai me matar? — A sombra ri, era uma risada mórbida e claustrofóbica.

Parecia, ou melhor, era o próprio diabo que estava rindo.

— Você não é párea para mim, bruxa.

O maxilar de Electra estava tão tenso, que ela podia sentir seus dentes rachando.

— Ah, o que vai fazer? Chorar?

— Cuidado com o que fala, pois eu sou Electra Bishop e…

— “Vem de uma longa linhagem de bruxas”? — A sombra zomba, a interrompendo — Eu sei exatamente quem você é, Electra.

Ela engole em seco, fechando as mãos em punhos firmes como o próprio solo. Agora estava apenas ela, sem luz, de frente para a sombra que parecia chorar vinho, pois embaixo dos seus olhos estavam marcas escuras.

— Quem é você? — Ela sibila dando mais um passo para frente.

— Sou muitas coisas, Electra — A sombra se move, desaparecendo e aparecendo atrás de bruxa — Já escreveram muito sobre mim. Tenho muitos nomes. Fico surpreso e magoado por ainda não ligar os pontos. Achei que fosse mais inteligente, devido ao seu histórico de farsas, mas acho que fiz o juízo errado.

— O que está esperando? O que quer?

— Estou esperando que faça jus a sua família, bruxa — Ele suspira e some mais uma vez.

Respirando fundo, Electra volta a caminhar. Seu coração batia rapidamente, apesar de sua face expressar nenhuma emoção além de repulsa. A sombra, criatura que a atormentava, era horrenda mesmo não tendo rosto ou forma corpórea.

— Se eu fosse você não daria mais um passo — Ele alerta reaparecendo do outro lado do cemitério, a quase dez metros de distância de Electra — Está andando no Limbo, bruxa. Tenho que avisá-la, já que é burra demais para formar conclusões sozinhas.

Limbo.

Lugar perigoso para qualquer pessoa que adentrar, sendo ela humana ou sobrenatural. É um meio espiritual de indecisões e perdições, mais um passo e Electra poderia ficar presa para sempre ali, recolhida em sua própria cova e sendo martelada constantemente por seus piores pesadelos.

A bruxa sente seu coração se estilhaçar: Selena e Sebastian estavam no Limbo.

— Onde eles estão? — Mais uma pergunta sem resposta — Responda ou vai se arrepender, Sombra.

A criatura ri alto.

— Quem está procurando, bruxa?

— Se me conhece tão bem como diz, deve saber exatamente o por quê de eu estar aqui.

— Zomba de mim… Você é realmente uma criatura fantástica — Ele fala caminhando em sua direção, com a fumaça ao seu redor diminuindo a cada passo — Vocês, bruxas, sempre me surpreendem, com a destemida missão de manter a ordem natural do mundo. Bem e mal, água e fogo, caos e ordem. Mas parece que não está lidando com as dualidades de sua raça, não é?

— Eu dito as minhas próprias regras — Ela fala sentindo uma rajada de ventos empurrando seu corpo para frente, a aproximando da sombra — E trazendo crianças para o Limbo não me parece ser a “ordem natural das coisas”.

— Não as trouxe ao Limpo para fazer as engrenagens do mundo fluírem, queria conversar com você — A sombra explica ficando a centímetros de distância de Electra.

A mulher era capaz de sentir o cheiro da sombra, era uma mistura de álcool e terra molhada. Seus olhos não estavam mais o vermelho vivo de antes, estava mais escuro, sereno até. A fumaça havia se dissipado completamente revelando a sua real face: cabelos castanhos escuros como café, pele pálida o suficiente para que algumas veias, finas e vermelhas, ficassem levemente visíveis.

— Eu odeio mentirosos — Ele sibila, encarando os olhos de Electra como se pudesse enxergar a sua alma.

Mentirosa?”, pensou. E então o peso do mundo caiu sobre seus ombros, a verdade veio à tona como um grande balde de água fria. Electra passara todos esses anos enganando a todos, mas agora havia sido pega e enlaçada perfeitamente pela própria mentira.

— Finalmente ligando os pontos.

— Cale a boca!

— Quando pretendia falar a verdade? — Ele fala caminhando lentamente até parar ao lado da bruxa — Mentiras não são aceitas no mundo bruxo, muito menos na família Bishop, já que foi isso que lhes trouxe a ruína, ou eu preciso refrescar sua memória?

— Não, eu… — Ela pigarreia — Estou ciente de tudo o que aconteceu com a minha família.

— Bom, muito bom. Por um momento pensei que a queda antes de parar aqui tivesse afetado a sua cabeça.

— Sinceramente, eu não tenho tempo para essas acusações e…

— São afirmações, bruxa — Ele murmura caminhando para longe dela.

Electra balança a cabeça, virando-se para segui-lo.

— De toda forma, preciso encontrar Selena e Sebastian e, infelizmente, a namoradinha da garota. Agora.

— Eles estão bem, como eu havia dito. Estão só dormindo.

— Ótimo! Aonde?

— Engraçadinha — Ele sibila — Há uma regra para que eu te mostre o caminho.

Electra sente a boca pender.

Primeira regra da família Bishop: “Se for fechar algum acordo, tenha certeza que foi você que montou o contrato”.

— Não acho que…

— Então os três ficarão no limpo — Ele retruca.

Os lábios da bruxa se fecham em uma linha, ela não podia arriscar.

— O que quer?

— A verdade. Conte a eles a verdade, Electra.

— Não estou certa do que está falando.

— Ah, mas é claro que sabe, bruxa. Não se finge de sonsa — Ele sorriu exibindo dentes brancos e perfeitamente alinhados — E farei questão de acompanhá-la nessa contação de história.

Ela queria poder gritar, arrancar a socos fortes os seus dentes perfeitos. Transformar a sua face impecavelmente esculpida em um monte de sangue e hematomas. Por uma fração de segundo, Electra quis avançar em sua direção e liberar todos os seus poderes, fazer a criatura sentir na pele o poder de uma Bishop enfurecida.

— Negue e eles ficam presos aqui. Conte meia verdade e eles ficarão aqui. Tente me enganar e eles ficarão aqui. As regras são simples.

Merda!”, pensou.

— Eu aceito — Ela não poderia arriscar, havia muita coisa em jogo, inclusive a sua própria cabeça no momento em que voltasse para a Mansão Blackwaters.

— Boa garota — Ele fala com um largo sorriso no rosto, logo em seguida estala os dedos — Estão seguros em casa.

— Como posso acreditar em você?

— Não pode.

— Eu quero algo em troca! — Ela grita, cerrando os punhos para controlar os seus poderes. Precisava ter certeza de que a barganha seria justa.

— Tem suas crianças em casa. Esse é o acordo — A criatura sorri maliciosamente — Mas imagino o que quer. É a maldição, não? A maldição que você escapou de fininho.

Electra engole em seco, ela sabia desde muito cedo o que corria em suas veias e estava ciente de que o pé na bunda que levara do maldito Rick Phips levaria a desgraça para Selena e Sebastian. Não contou a sua família quando matou o homem que ceifou a vida de seu pai, ou melhor o Caçador, ou melhor ainda, o Xerife Phips e o que ele disse no momento antes de Electra lhe cortar a garganta: “Porque você acha que foi largada no baile de inverno, vadia?”, ele disse, “Estava protegendo a minha família. Minha vontade era aniquilar todos vocês, acabar com a linhagem Bishop de uma vez por todas, mas não fui rápido o suficiente”.

A mulher sentiu seu estômago embrulhar, revirando-se dentro de si, ao lembrar da última coisa que o velho xerife de Salém disse: “Você vai se arrepender por ter me matado, bruxa. Não há nada que um pai não faria para proteger o seu filho e disso você nunca vai se esquecer”. 

O velho xerife estava certo. 

Electra estava pagando por todos os seus pecados agora. Manteve em segredo o calafrio na espinha no momento em que colocou os olhos em Alexandra Hollister, a garota era a cópia do homem que matou Órion; tinha os mesmos cabelos loiros queimados e o olhar vívido.

— Dando uma viagem em suas memórias, bruxa? — A sombra pisca, orgulhosa — Adeus.

— Espera!

— Não acho que temos tempo para isso.

— Por favor!

— Nos veremos em breve, Electra — Ele fala, se aproximando dela — Manterei meus olhos em você.

Electra sente seu corpo formigar, estava sendo levada de volta para o mundo dos vivos.

— Ah, não esqueça de avisar a sua família quem eu … — Sua voz soa falha, como se os dois tivessem perdido a conexão — Me chamo Reaper…

A última parte saiu cortada, como uma ligação telefônica ruim, porém o primeiro nome soou como a água da mais límpida cachoeira. A sombra tinha um nome: Reaper.


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Notas finais do capítulo

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