Midnight Lovers escrita por Pandora Ventrue Black


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

"Why do you only call me when you´re high" - Miley Cyrus version



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/796562/chapter/4

O celular de Lena não para de apitar, recebia diversas mensagens de Jamilla. Era incrível como aquela garota já se sentia responsável pelo processo de socialização da bruxa. Devem estar se perguntando como a garota conseguiu o telefone da aluna nova. Simples: sua mãe era a secretária do diretor Pine.

Em algum momento ela vai parar?

Creio que não, Bash…

Então coloque o celular no silencioso, estou tentando tomar banho em paz!

Então desista do plano de controlar Hugh e Lincoln!

Ah! O que é tomar banho ao som de um beep irritante? Se chama paraíso e…

Selena não tinha mais paciência. Controlou seus poderes para que a água do chuveiro do quarto a frente do seu esfriasse e estragasse o banho quente de Sebastian. Um grito fino e estridente ecoou pela casa, fazendo a bruxa sorrir.

A conexão entre os dois foi cortada e isso significava apenas uma coisa: Lena havia ganhado essa batalha. Finalmente ela teria a privacidade para tomar uma ducha quente para esquecer da quantidade absurda de dever de casa que recebera em seu primeiro dia de aula.

Jamilla havia combinado em buscá-la às oito, logo Selena tinha um pouco mais de quarenta minutos para se arrumar. Tempo o suficiente para um banho quente e relaxante e escolher uma roupa para o luau. Quando a bruxa sai do banheiro, ainda enrolada em sua toalha, ela encontra uma figura familiar em sua cama.

Celeste.

— Vó! — A garota exclamou envergonhada.

— Não precisa ficar corada, Lena querida, sou sua avó e estou aqui para te ajudar a encontrar uma roupa… Decente!

— Não sei o porquê de odiar meus moletons… — Selena fala segurando com mais força a sua toalha.

— Mãe, o que está fazendo aqui? — Andrômeda fala abrindo a porta com cuidado.

— Lena foi convidada para um luau… — Celeste fiz tocando com as pontas dos dedos as suas bochechas rosadas, como se estivesse flertando — Convidada por Magnus Hollister!

Andrômeda sorri, ela conhecia muito bem sua filha para saber que, por mais que o tal Magnus tentasse, Lena nunca cederia.

— Mãe, mãe, mãe… — Andrômeda fala se sentando do lado da senhora — Lena gosta de meninas, Magnus não faz o seu tipo.

— Mãe! — Aquilo já era demais para a garota. Como se não bastasse a vergonha de estar apenas de toalha na frente de sua avó, agora a senhora sabia dos interesses de Selena.

— O que? Uma hora ela ia descobrir… — A mãe fala dando os ombros

Celeste sorri maquiavelicamente.

— Homens são mais fáceis de agradar… Agora que eu sei que gosta de meninas, meu trabalho como sua estilista pessoal se tornou mais divertido!

— Eu não acredito no que eu estou ouvindo… — Era um pesadelo.

Selena anda a passos pesados até a porta, a abrindo.

— Saiam, as duas! — Ela ordena apoiando sua testa em sua mão — Eu sei me vestir e, mãe, não preciso que fique espalhando a minha vida.

— Selena Bishop Nightingale, você… — Celeste tenta falar, mas antes que terminasse a bronca, Selena fecha a porta.

Se era para ser um momento de relaxamento, você está fazendo errado, maninha!

Bash, fora da minha cabeça! Agora!

Como quiser, Lena!

Selena respira fundo. Sua família não era só feita de bruxas, mas também de pessoas doida. “Com certeza há parafusos a menos na cabeça de cada um deles…”, ela pensa se aproximando de seu armário.

— Ótimo! — Ela exclama ou ver que todas as suas roupas não estavam ali.

Seus moletons, jeans de diversas lavagens, seus tênis gastos e suas roupas esportivas sumiram. No armário havia apenas saias curtas de todas as cores, camisas curtas que mais pareciam sutiãs, vestidos justos e vários tipos de salto.

— Muito obrigada, vovó! — Selena grita e revira os olhos.

Seus dedos estalam e seu guarda-roupa volta ao normal. Ao olhar para suas roupas, sua mente vaga. Pensava em Alexandra, em seu cabelo loiro escuro e suas feições finas. Será que ela iria para o luau? A loira iria se importar com o trabalho que o professor de história havia passado? Tantas perguntas rondavam a cabeça de Lena e ela realmente queria que a resposta fosse sim.

— Talvez eu deva… Usar algo mais colorido…

E meia hora depois Selena estava vestida com um jeans escuro, uma regata de renda preta com uma blusa branca por baixo. Era o melhor que podia fazer, já que havia considerado que todas as outras cores, como o amarelo queimado de uma saia de bolinha que tinha, tinham a deixado feia.

— Vai ter que servir! — Ela fala colocando uma bota coturno de salto médio.

Com um suspiro ela se levanta e se encaminha para o banheiro. Seu cabelo ainda estava molhado e, por conta do tempo, Selena não ia ser capaz de arrumá-lo. Apenas o penteou, pegou seu celular e ligou para Kathy.

— Lena?

— Oi, Kathy!

— Oi! — Ela guincha animada — Como foi o primeiro dia de aula?

— Normal, mas fui convidada para um luau… Na verdade um cara surgiu em uma moto e convidou todo mundo. Jamilla, uma garota da minha aula de história, vai me levar.

— Uau! Já fez amigos! — Kathy finge chorar — Logo vai me esquecer!

— Não seja dramática e… — Uma alta buzina chama a atenção de Selena.

Pela janela do quarto dava para ver Jamilla em um vestido roxo escuro justo ao lado de seu carro vermelho. Linda, como se tudo nela estivesse perfeito. 

— Jamilla acabou de chegar, tenho que ir…

— Ok, garota, vai lá! Arrasa!

— Tchau, sua doida! — Selena fala sentindo uma pontada de dor em seu peito. Era saudade.

Jamilla buzina novamente, fazendo Selena e Sebastian descerem as escadas correndo. Os gêmeos se despedem de sua família e entram no carro vermelho. O veículo cheirava a perfume doce e gel de cabelo. A garota não queria admitir mas Jamilla e a ideia de ver Alexandra no luau a deixava animada, havia a feito esquecer dos corvos, de Bridget Bishop e da alma que vagava na propriedade.

O que Selena mais queria naquele momento era festeja e ela tinha certeza de que sua mais nova amiga faria questão de que a bruxa aproveitasse a festa ao máximo.

 

⇻♡⇺

 

O luau estava esplêndido: música alta e envolvente, risadas e luzes coloridas. Tudo isso sendo banhado pela luz opaca de uma lua cheia. Parecia que grande parte dos alunos da Phips High estava divido entre o deque e uma cabana de madeira.

— Bem-vindos ao chalé dos Hollister, mais conhecido como a maior casa de festa de Salém! — Jamilla comenta saindo do carro — Zero adultos e uma piscina privativa!

— Você quis dizer um lago? — Bash comenta arrumando o cabelo — Para mim isso é tudo, menos uma piscina.

— Espertinho, ein? — Jamilla fala mostrando a língua — Isso é uma parte do Darkside River, o que fica preto no inverno… Os Hollister são donos de muitas áreas nessa região.

— Eles são donos de áreas de floresta? — Selena indaga curiosa, acompanhando Jamilla é o deque.

— Eles são podres de rico, Lena, são donos de muitas terras aqui em Salém…

Não me lembro deles, mana…

Nunca saímos muito quando vínhamos passar nosso aniversário aqui… Não conhecemos ninguém além de Nykkia e nossa avó.

Sebastian observava o local, estava feliz. A música que ecoava pelos ouvidos dos gêmeos era um rock dançante. Jamilla caminhava explicando tudo o que os Hollister possuíam: o maior mercado da cidade, três salões de beleza e a pequena e única academia da cidade. Além disso, os pais de Magnus Hollister ajudaram a escola a construir um ginásio há sete anos, ou seja, eram donos de quase toda a cidade.

— Olá, querida! — A voz de Magnus interrompe a conversa das duas meninas.

Lena…

Se acalme, Sebastian!

O céu começou a ficar coberto por nuvens cinzas, a luz da lua, que outrora iluminava o lugar de forma mágica, agora estava coberta. Tudo isso era culpa de Sebastian, suas emoções estavam descontroladas. Nada nem ninguém machucaria sua irmã.

— O que quer? — Ele sibila ficando entre o demônio loiro e Selena

— Quero apenas falar com essa beldade atrás de você, novato! — A voz de Magnus soa maliciosa, mais parecia que estava recitando um feitiço de sedução do que falando

— Está tudo bem, Bash — Lena diz tocando o ombro de seu irmão.

Magnus sorri ao ver a garota. Mas não era um sorriso se alegria, parecia que havia conquistado o El Dorado. Dava para entender os suspiros de Jamilla, Magnus Hollister parecia um Elfo, ou melhor, um Drow: uma linhagem de elfos ligados à escuridão. Seus olhos a noite pareciam quase felinos, amarelos como um sol poente.

— É bom vê-la aqui, Selena.

— Obrigada por nos convidar! — Jamilla fala rapidamente.

— Foi muito gentil de sua parte de chamar eu e meu irmão — A bruxa fala tentando soar diplomática, apesar de temer a aproximação do Hollister.

É, gentil…

Sebastian, por favor, se acalme.

A festa literalmente dependia do autocontrole do gêmeo. Parecia que ia chover, mas não uma garoa e sim uma tempestade com direito a relâmpagos e trovões. Alguns alunos se encaminhavam para a cabana, temiam serem atingidos por uma das descargas elétricas que partiam o céu.

— Queria apenas que o tempo não me traísse — Magnus fala olhando para o céu.

Com sua face virada para cima ele parecia uma anjo, mas não um serafim ou um querubim.

Magnus parecia um anjo caído, como Lúcifer.

— O canal do tempo disse que não choveria até a gente entrar na metade de outubro…

— As vezes eles erram, não é? — Selena comenta dando um beliscão discreto em seu irmão.

Eu juro que estou tentando…

Se esforce mais, Bash!

— Realmente… Ninguém pode controlar a mãe natureza, não é mesmo? — Magnus comenta esticando sua mão na direção da garota — Venham para a cabana, tem espaço para todos.

Selena engole em seco.

Se ela o tocasse sentiria o choque assustador.

— É melhor do que ser atingido por um desses raios…

— Eu não quero morrer! — Jamilla exclama segurando a mão de Magnus e o puxando para a cabana — Prometi a mãe de vocês que voltariam vivos! Vamos!

Eu amo a sua amiga, Lena.

As nuvens começam a se dissipar. Os gêmeos seguem Jamilla e Magnus para dentro da cabana. O homem parecia irritado, sua face não demonstrava isso, porém seu suspiro cansado quando chegou a grande casa de madeira o denunciou. Selena não sabia o porquê dele estar tão interessado nela, mas isso a deixava preocupada. Ele podia ser um Drow ou só um humano malicioso, não dava para saber.

 

⇻♡⇺

 

As nuvens de chuva tinham sumido e o ritmo festivo havia retornado ao luau. Sebastian estava servido com um ponche, sentado em uma roda de conversa com o seu trio para o trabalho de história. Lena estava ao lado de uma floresta, Jamilla disse que em poucos minutos ocorria uma apresentação de uma banda de rock da escola.

Mas não era por isso que Selena estava ansiosa, afinal ela não gostava desse estilo musical. O que havia prendido a sua atenção era que a guitarrista era Alexandra. Por algum motivo Lena se via atraída por ela, de uma forma que ela não conseguia explicar. Talvez fosse curiosidade, um feitiço ou a garota podia ser uma Ninfa e Selena estava caindo em sua armadilha como um patinho.

— Boa noite, boa noite! — Um homem de cabelos negros como a noite fala em cima do palco improvisado — Quem aqui está a fim de um rock?

Os adolescentes gritam e batem palmas.

— Até minha vó faz mais barulho que vocês e ela fez um voto de silêncio! — O cantor reclama colocando sua guitarra.

E novamente uma onda de gritos de comemoração e palmas, mas dessa vez parecia agradar o vocalista.

Selena sente seu coração acelerar. Lá estava Alexandra, vestida com um jeans preto e um top rendado vermelho, por cima disso tudo estava uma flanela três vezes maior do que ela. Sua guitarra era como fogo, suas cores variavam de acordo com a luz. Estava linda, mais do que o normal, parecia uma versão feminina do deus da guerra, Ares, ou, como seu próprio nome dizia, um imperador.

— NO tocará apenas covers hoje — Jamilla fala, afastando sua amiga de seu transe.

— NO? — Selena fala balançando a cabeça.

— Night Owls, o nome da banda.

— Ah, sim… Eles não tem obras originais?

— Tem várias! Mas não costumam cantá-las, gostam de deixar o público curioso — Jamilla explica apontando para o vocalista — Ele é meu irmão, no caso meio-irmão. O pai dele é casado com a minha mãe…

— E como é ser a irmã de um roqueiro?

— Um saco! — Ela diz apoiando a cabeça em suas mãos — Não tenho um pingo de paz!

— Eu entendo — Selena comenta com um sorriso no rosto.

Sua namorada vai se apresentar, maninha. Ansiosa?

Bash, privacidade!

Peça um autógrafo dela por mim? Hugh me disse que…

Eu não quero saber qual dos seus amigos está afim dela, Bash!

Já com ciúmes, maninha?

Selena revira os olhos e fecha sua mão em punho devagar, estava fazendo um feitiço. A bebida de Bash magicamente se joga contra o irmão, molhando sua camisa. Ele grunhi e sorri para sua irmã. O gêmeo tira a camisa com calma, fazendo questão de exibir cada músculo em seu corpo.

— Seu irmão quer mesmo ser o galã da escola, não é?

— Infelizmente sim…

Obrigada, mana, estava realmente quente.

Eu te odeio!

O som da guitarra percorre o ar. Selena reconhecia a melodia, afinal precisava sobreviver ao fascínio de seu irmão e pai por rock; Arctic Monkeys “Why'd You Only Call Me When You're High?”.

The mirror's image

It tells me it's home time

But I'm not finished

'Cause you're not by my side

 

And as I arrive I thought I saw you leaving

Carrying your shoes

Decided that once again I was just dreaming

Of bumping into you

 

A voz do vocalista era boa, gostosa de ser ouvida. Haviam feito uma alteração no ritmo original da música, parecia um rock dos anos 80, dançante e envolvente. Porém, Selena não queria ouvir o vocalista, mas sim Alexandra. Se pegou imaginando como seria sua voz. Sensual? Não, ela parecia indiferente demais. Rouca? Talvez.

E então suas dúvidas foram sanadas. Alexandra largou a guitarra e pegou o microfone lançado pelo vocalista e cantou.

Now it's three in the morning

And I'm trying to change your mind

Left you multiple missed calls

And to my message you reply

Why'd you only call me when you're high?

Hi, why'd you only call me when you're high?

 

Sua voz era meio rouca e extremamente melódica. Uma mistura entre uma cantora soul e um roqueiro. Alexandra cantava com tanta paixão que parecia que sua vida dependesse daquela música, seu corpo necessitava cantar. Agachada no palco, ela dava tudo de si. Era uma estrela em todos os aspectos: dedicação, esforço e talento.

Por um momento Selena parecia flutuar, embalada pela música, porém seu olhar foi direcionado para algo além do palco. Uma sombra pálida que, de primeiro lance, parecia um vulto, algo passageiro como poeira.

Era um Espírito.

Mal parecia estar ali, ia e vinha com a brisa gélida do Darkside River. Sua forma era difícil de reconhecer, podia ser uma criança ou até mesmo um animal, baixo e redondo, àquela distância podia ser uma pedra ou uma abóbora absurdamente grande. A luz da lua tornava estava vacilante, resquício do temperamento de Sebastian, iluminando de forma oscilante a figura a beira do rio. Para a bruxa não existia mais música nem pessoas, era apenas ela e a alma translúcida, num embalo fantasmagórico e tenebroso.

Selena não era mais capaz de controlar o próprio corpo, mais parecia estar sob o feitiço da lua, quiçá do próprio Espírito. Seu corpo não era mais dela, pertencia a magia horripilante do momento, seguia as ordens da própria natureza.

O mundo ao seu redor desapareceu, não existia mais o palco de madeira, nem a fogueira. Selena não podia ver seu irmão, nem Alexandra, nem Jamilla, era apenas a bruxa, a lua e a alma. Tudo estava frio, de sua boca emana uma fumaça branca toda vez que respirava com mais força. Todos os pelos de seu corpo estavam arrepiados e seu coração estava acelerado, como se quisesse sair de seu peito. Sinais de perigo, de que Selena precisava desesperadamente correr, fugir, mas também eram sinônimos de excitação, de curiosidade.

Estar perto de um Espírito causava isso? Esse estado de êxtase e aflição representavam a vida entre os mundos? Não era possível. De acordo com Andrômeda e Celeste, as almas penadas eram seres fadados ao próprio vazio, pessoas que se perderam durante sua jornada no mundo dos vivos. Elas deveriam viver apenas no esquecimento, tanto próprio quanto universal, sem sentimentos e sem vontades, no frio reconfortante, vivendo como se estivesse morto, porém caminhando sobre a Terra.

Selena seguia a alma, não sabia exatamente o porquê, apenas estava ciente de que seu corpo queria segui-la, na verdade, ele precisava. Ela não o controlava mais, mesmo se quisesse. A bruxa não tinha mais livre-arbítrio, queria apenas seguir a sombra branca e opaca, como a poeira que pairava no sótão da Mansão Blackwaters. Havia sido tomada por uma força sobrenatural e isso, por mais absurdo que pareça, não a assustada.

Ela seguia o Espírito como uma criança segue sua mãe.

Seguia como as marés seguiam as fases da lua.

Eram dependentes, mesmo vindas de mundos diferentes.

Apenas o vazio. Um grande emaranhado de nada. Sentia apenas suas pernas se movimentando em direção ao deque da propriedade dos Hollister (ou ela estava andando sobre o Darkside River? Era difícil dizer). Tudo era terrivelmente incerto.

A alma parecia guiá-la.

Entretanto, tudo pareceu mudar quando o Espírito a olhou nos olhos. Era uma criança, uma garotinha vestida com roupas coloniais. Uma bruxa? Improvável, era muito nova para ser qualquer coisa, talvez fosse apenas uma menina com um passado traumático, nada além de uma humana com problemas anteriores ao seu nada nascimento, carregando a sina de outra pessoa: uma dívida feita por sua mãe com seres sobrenaturais poderosos, ou algo do gênero. A alma não devia passar dos cinco anos de idade, tão nova, mas com uma carga extremamente pesada em suas costas.

Ela ficou ali, olhando para Selena como se ela fosse sua esperança de passar para o mundo dos mortos, como se Selena fosse sua única chance de sentir algo.

E de repente o frio.

A escuridão a abraça de forma assustadora.

Selena não enxergava nada, nem o que estava em sua frente, muito menos a criança, era como se tudo tivesse desaparecido, inclusive a própria bruxa. Do lugar que deveria estar a alma da criança havia luz fraca, uma fonte luminosa tímida. A bruxa estava afundando, sendo agarrada de todos os lados pelas águas congelantes do Darkside River. Engasgando com o líquido que entrava como concreto em seus pulmões.

Nadar.

Ela precisava nadar.

Mas como? O maior medo de Selena era água. Nunca aprendeu a nadar e morria de medo de qualquer piscina, rio ou mar. Todo essa trauma era culpa de Sebastian, que a empurrara em uma piscina funda quando tinha cinco anos. Naquele fatídico dia Selena quase morreu por conta de uma brincadeira sem graça. Foi socorrida as pressas por seu pai, mas quando Seth a retirou da piscina a garota não respirava. Depois de rápidas e desesperadas compressões a criança finalmente acordou, expelindo a água com cloro de seus pulmões e se agarrando em seu pai.

Agora Selena estava sem seu pai ou qualquer tipo de salva-vidas, sua vida dependia de sua incapacidade de sobreviver em ambientes aquáticos. Ela não sobreviveria àquele mergulho inesperado, apenas se debatia no líquido escuro e afundava, cavando cada vez mais fundo a própria cova. Era o seu fim.

A alma havia a guiado para sua morte.

Lena!

A voz de Sebastian ecoa em sua mente, mas ela estava fraca demais para responder. Selena sentia seus braços e pernas pararem de funcionar, sua força e perseverança, outrora conhecidas como suas maiores características nos jogos de vôlei, haviam saído de seu corpo, desistido de dar mais uma nova chance para a garota. Seu pulmão não lutava mais contra a água fria, pareciam apenas amigos de longa data, companheiros assíduos do próprio destino e isso traria a sua própria ruína.

Aquele seria seu fim.

Não conseguia falar com seu irmão. Parecia que algo dentro de si havia cortado a ligação entre os dois, sinalizando que sua morte logo viria. Já não sentia a ardência da água em seu sistema nem temia o fim de sua vida, provavelmente se tornaria um Espírito, condenada a viver no vazio ou pior, sua sina após sua morte seria repassar a queda no Darkside River.

I-Irmão…

Ela tenta clamar, mas ninguém parece ouvir.

Estava sozinha. Ela e seu destino.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem: ideias, sugestões, elogios; estou sempre aberta para novos aprendizados.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Midnight Lovers" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.