Midnight Lovers escrita por Pandora Ventrue Black
Notas iniciais do capítulo
"no body, no crime" - Taylor Swift feat. HAIM
Jamilla dirigia pelas ruas mais solitárias de Salém, a fim de não chamar a atenção de ninguém e para pegar o caminho mais rápido para a trilha em que caminhava com o seu irmão. As lágrimas escorriam fracas e gélidas contra sua pele, refletindo-a como se estivesse brilhando.
— Estávamos andando, fazendo a mesma trilha de sempre e, como sempre, Boxer estava falando e falando… Da banda, das músicas e de tudo isso — Ela funga, sem tirar os olhos da estrada — Você sabe como Boxer pode ser irritante, não é?
— Hum, não exatamente. Nunca conversamos.
— Ah, é? Hum… Bem, ele é extremamente irritante — Jamilla tenta brincar, mas isso a faz chorar ainda mais — Confesso que, bem, com a licantropia, meus sentimentos sempre ficam à flor da pele, mas dessa vez foi diferente…
— Milla…
— Eu paguei, como se tivesse perdido controle de mim mesma — Ela sopra, fazendo uma curva fechada — Quando eu abri os olhos j-já… Já estava em cima dele…
— Se alimentou bem na última lua cheia?
— Defina bem.
— O suficiente para te manter satisfeita.
— E-Eu acho que sim — Selena a encara, queria abraçá-la e enxugar suas lágrimas — Não como pessoas, Lena, se é isso que está pensando.
— Não estou te acusando de nada, Milla.
— Eu sei… Na verdade, nem sei o porquê de está me ajudando — Ela sorri timidamente.
— Somos amigas — A bruxa fala voltando seu olhar para a estrada — Não somos?
— Sim — Jamilla sorri, estacionando o carro — Me siga e evite fazer barulho… Há equipes de busca na área.
— O que?
— É, eu sei… Estou frita!
— Você, pelo menos, escondeu o corpo?
— Estava esperando que me ajudasse a ressuscitá-lo.
— Milla, eu não faço milagres…
— Por favor, Lena — Ela pede, avançando na trilha — Boxer pode ser insuportável, cafona e idiota, mas, ainda assim, é meu irmão, não posso voltar para casa sem ele!
— Só… Me leve para onde você o deixou e, bem, vou fazer o que eu puder, ok?
Jamilla assente, voltando seu olhar para a trilha de terra marrom. A floresta estava quieta, podia ouvir apenas alguns latidos de cachorros da polícia e chamados abafados. Selena sentia o frio tocar a pele exposta do seu rosto, o vento levava seu medo e temores, limpando sua mente para que pensasse no que poderia fazer por sua amiga e Boxer.
“Sebastian adoraria esse lugar”, pensou enquanto observava os pinheiros ao seu redor. Era um lugar de paz e perfeito para os treinos com Seth e, sem sombra de dúvida, seu irmão adoraria ficar horas ali, se conectando com a natureza. Naquele momento era isso que Selena precisava fazer, entrar em contato com aquilo que lhe dá poderes. Água, ar, terra e fogo, os quatro elementos que regiam o mundo bruxo.
— Não estamos longe — Milla funga, puxando seu casaco contra o próprio corpo na tentativa de se aquecer — É logo ali…
— Selena? — Uma voz rouca pergunta.
— O que pensa que está fazendo, mocinha?
Quando a bruxa tira o seu olhar da terra, ela se depara com duas figuras familiares: Nykkia e Scorpius. O homem estava agachado ao lado do corpo pálido de Boxer, enquanto a bruxa Prima iluminava a cena com uma larga lanterna. Os dois pareciam decepcionados, surpresos e assustados, tudo junto e misturado.
— Eu posso explicar…
— Espero que consiga, jovem Jamilla — Scorpius emana, sem tirar os olhos do corpo.
— O que aconteceu aqui?
— Nykkia… — Selena sopra se aproximando da mulher — Milla apagou durante a caminhada e…
— Eu o ataquei, mas não sei exatamente como o fiz. Está tudo confuso na minha cabeça, um grande borrão.
— Minha querida, como não se lembra de se transformar? — A voz de Nykkia é serena e maternal — Não é algo que se costuma esquecer.
— Estávamos andando, pegamos essa trilha desde que ele passou a morar comigo e com a minha mãe, é algo que fazemos para nos desestressar e colocar a conversa em dia, mas, do nada, eu… Parece que fui levada para longe — Ela soluça, colocando as mãos na boca, tentando conter a voz falha — Quando voltei, ele estava assim…
Selena caminha em direção a sua amiga e abraça com cuidado, a garota tinha certeza que se a apertasse, ela desmoronaria. Os olhos da bruxa repousam no corpo meio pálido de Boxer, havia uma grande mordida em seu pescoço, sangrava e odor férrico entrava como água salgada pelas narinas de Selena. Ela queria vomitar, mas precisava ser forte por Jamilla.
— Tio…
— Ele está vivo, ruivinha — Ele se pronuncia sem tirar os olhos de Boxer.
Jamilla arfa, correndo para perto de seu irmão.
— Como…?
— Boxer está vivo, criança, mas creio que, bem, você sabe como funciona — Ele pigarreia — Com você tendo mordido ele.
Selena fecha os olhos, ela sabia exatamente o que isso significava.
— Boxer vai virar uma licantropo — Jamilla sopra, incapaz de controlar as lágrimas.
— Vamos levar ele para a Mansão — Nykkia aconselha, tocando o ombro de Scorpius — Tenho que passar na minha loja antes, levarei alguns amuletos.
Scorpius sorri de leve, fazendo Selena arquear a sobrancelha.
— Você e seus amuletos, Nykkia — Ele brinca tocando o rosto da mulher.
O que Selena não sabia era que Scorpius e Nykkia eram amigos quando novos e, quando o Bishop teve que se mudar, eles mantiveram o contato, conversando por cartas e depois por e-mail. Fora ele que aconselhou a Celeste que aceitasse Nykkia como cuidadora e governanta da Mansão Blackwaters.
— Nem tente me irritar, Crux — Ela avisa, se afastando do toque de Scorpius — Venha comigo, Lena — Nykkia pede abrindo os braços, indicando o caminho do carro — Pegaremos umas coisas para você e seu irmão, Jamilla.
Milla assente, enxugando as lágrimas.
— Nós vamos dar um jeito nisso, amiga — Selena murmura, ajoelhando-se ao lado da licantropa — Eu prometo.
— Ele não está morto, L, isso já me deixa muito, mas muito feliz — Ela respira fundo, encarando Selena — Mas ele vai ser um de mim… Boxer nunca, hum, nunca soube… Ele não sabe o que sou e o que logo vai ser.
— Contaremos a ele juntas, combinado?
— Mm-hum.
— Lena, hum, eu não sei o que aconteceu comigo…
— Daremos uma olhada nisso também, minha querida — Nykkia sorri acolhedoramente — Há forças malignas aqui em Salém.
— Ótimo, ajudou muito…
— Preciso ir, Milla — Selena fala, apertando de leve o ombro da amiga — Fique com o meu tio, ele vai saber o que fazer.
Jamilla assente e a bruxa se levanta, seguindo Nykkia até o seu carro preto.
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Quando Nykkia estacionou o carro, Selena se deparou com a estreita casa de dois andares ao lado do Museu de Salém. Seu coração apertou, era um sinal de que estava em um lugar mágico, a casa que sua mãe descreveu no diário, onde Scorpius, Andrômeda e Electra cresceram. Servia agora como uma lojinha de bugiganga, ou, como Nykkia diz, adereços personalizados para entregar para qualquer pessoa, uma renda extra para a governanta.
— Querendo levar uma lembrancinha? — Nykkia brinca, vasculhando algumas de suas diversas caixas de objetos para bruxaria.
Selena sorri e assente negativamente.
— O que acha que vai acontecer com o Boxer?
— Provavelmente vai passar pela transformação na próxima lua cheia — Sua voz soa casual, tranquila — Tenho certeza que sua amiga não queria isso, mas é o que vai acontecer.
— Dói? — A voz de Selena sai fraca, como um sussurro, um suspiro entre a madeira da estante e a fumaça de incenso da loja.
— Muito — A mulher sopra, parando suas mãos agitadas — A pior dor do mundo, é o que falam. Eles precisam, hum, bem, trocar de pele de certa forma.
— Parece cruel…
— A vida não é um mar de rosas, Lena — Nykkia suspirou, encarando a garota, compadecendo com o medo da mais nova — Gostaria muito de dizer que vai ser simples, mas não é assim. Boxer vai passar pela pior noite de sua vida daqui a alguns dias, assim como sua amiga passou quando se transformou e assim como milhares de outros licantropos — Selena engole em seco, encolhendo os ombros — Mas essa não é a pior parte.
— Do que está falando, Nykki?
— Licantropos podem ser temperamentais, é da natureza deles. O pavio curto e a agressividade, eles não sentem as emoções como nós, as bruxas, sentimos. É tudo muito mais ampliado — Ela explica, se aproximando de Selena, vasculhando uma prateleira cheia de livros — Mas nunca se perdem na própria cabeça, não esquecem de quem atacam e como atacam.
— Não entendi — Selena comenta, segurando o livro que lhe fora entregue — A Milla disse que perdeu o controle de si e…
— Bruxas não tem esse poder — Nykkia continua, folheando as páginas amarelas — Não podemos alterar a realidade de uma pessoa, não dessa forma, tirando completamente a consciência. Outra coisa tomou conta do corpo de Jamilla naquela caminhada, ou melhor, alguém.
— Nykki, você não está fazendo sentido.
— Página cento e onze, no topo — Ela sopra, fazendo Selena encarar a página encardida e velha do livro em suas mãos.
“Não, não é possível”, ela pensou “São lendas. Meu pai sempre me disse que eram histórias para assustar crianças sobrenaturais”. Selena sentiu o peso das letras nas páginas amarelas, era como uma maldição, um feitiço infernal, ela podia sentir o seu coração parar de bater e sua respiração falhar. Nada daquilo podia ser verdade e, se fosse, Sebastian estaria em perigo.
“Como se não fosse suficiente ter Caçadores nessa maldita cidade e a maldição de Bridget Bishop, agora isso?”
— Os Sete Líderes do Inferno — A voz da garota soa fraca, como uma folha que cai de uma árvore no outono.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Espero que gostem!