Midnight Lovers escrita por Pandora Ventrue Black


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

"no body, no crime" - Taylor Swift feat. HAIM



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Jamilla dirigia pelas ruas mais solitárias de Salém, a fim de não chamar a atenção de ninguém e para pegar o caminho mais rápido para a trilha em que caminhava com o seu irmão. As lágrimas escorriam fracas e gélidas contra sua pele, refletindo-a como se estivesse brilhando.

— Estávamos andando, fazendo a mesma trilha de sempre e, como sempre, Boxer estava falando e falando… Da banda, das músicas e de tudo isso — Ela funga, sem tirar os olhos da estrada — Você sabe como Boxer pode ser irritante, não é?

— Hum, não exatamente. Nunca conversamos.

— Ah, é? Hum… Bem, ele é extremamente irritante — Jamilla tenta brincar, mas isso a faz chorar ainda mais — Confesso que, bem, com a licantropia, meus sentimentos sempre ficam à flor da pele, mas dessa vez foi diferente…

— Milla…

— Eu paguei, como se tivesse perdido controle de mim mesma — Ela sopra, fazendo uma curva fechada — Quando eu abri os olhos j-já… Já estava em cima dele…

— Se alimentou bem na última lua cheia?

— Defina bem.

— O suficiente para te manter satisfeita.

— E-Eu acho que sim — Selena a encara, queria abraçá-la e enxugar suas lágrimas — Não como pessoas, Lena, se é isso que está pensando.

— Não estou te acusando de nada, Milla.

— Eu sei… Na verdade, nem sei o porquê de está me ajudando — Ela sorri timidamente.

— Somos amigas — A bruxa fala voltando seu olhar para a estrada — Não somos?

— Sim — Jamilla sorri, estacionando o carro — Me siga e evite fazer barulho… Há equipes de busca na área.

— O que?

— É, eu sei… Estou frita!

— Você, pelo menos, escondeu o corpo?

— Estava esperando que me ajudasse a ressuscitá-lo.

— Milla, eu não faço milagres…

— Por favor, Lena — Ela pede, avançando na trilha — Boxer pode ser insuportável, cafona e idiota, mas, ainda assim, é meu irmão, não posso voltar para casa sem ele!

— Só… Me leve para onde você o deixou e, bem, vou fazer o que eu puder, ok?

Jamilla assente, voltando seu olhar para a trilha de terra marrom. A floresta estava quieta, podia ouvir apenas alguns latidos de cachorros da polícia e chamados abafados. Selena sentia o frio tocar a pele exposta do seu rosto, o vento levava seu medo e temores, limpando sua mente para que pensasse no que poderia fazer por sua amiga e Boxer.

“Sebastian adoraria esse lugar”, pensou enquanto observava os pinheiros ao seu redor. Era um lugar de paz e perfeito para os treinos com Seth e, sem sombra de dúvida, seu irmão adoraria ficar horas ali, se conectando com a natureza. Naquele momento era isso que Selena precisava fazer, entrar em contato com aquilo que lhe dá poderes. Água, ar, terra e fogo, os quatro elementos que regiam o mundo bruxo.

— Não estamos longe — Milla funga, puxando seu casaco contra o próprio corpo na tentativa de se aquecer — É logo ali…

— Selena? — Uma voz rouca pergunta.

— O que pensa que está fazendo, mocinha?

Quando a bruxa tira o seu olhar da terra, ela se depara com duas figuras familiares: Nykkia e Scorpius. O homem estava agachado ao lado do corpo pálido de Boxer, enquanto a bruxa Prima iluminava a cena com uma larga lanterna. Os dois pareciam decepcionados, surpresos e assustados, tudo junto e misturado.

— Eu posso explicar…

— Espero que consiga, jovem Jamilla — Scorpius emana, sem tirar os olhos do corpo.

— O que aconteceu aqui?

— Nykkia… — Selena sopra se aproximando da mulher — Milla apagou durante a caminhada e…

— Eu o ataquei, mas não sei exatamente como o fiz. Está tudo confuso na minha cabeça, um grande borrão.

— Minha querida, como não se lembra de se transformar? — A voz de Nykkia é serena e maternal — Não é algo que se costuma esquecer.

— Estávamos andando, pegamos essa trilha desde que ele passou a morar comigo e com a minha mãe, é algo que fazemos para nos desestressar e colocar a conversa em dia, mas, do nada, eu… Parece que fui levada para longe — Ela soluça, colocando as mãos na boca, tentando conter a voz falha — Quando voltei, ele estava assim…

Selena caminha em direção a sua amiga e abraça com cuidado, a garota tinha certeza que se a apertasse, ela desmoronaria. Os olhos da bruxa repousam no corpo meio pálido de Boxer, havia uma grande mordida em seu pescoço, sangrava e odor férrico entrava como água salgada pelas narinas de Selena. Ela queria vomitar, mas precisava ser forte por Jamilla.

— Tio…

— Ele está vivo, ruivinha — Ele se pronuncia sem tirar os olhos de Boxer.

Jamilla arfa, correndo para perto de seu irmão.

— Como…?

— Boxer está vivo, criança, mas creio que, bem, você sabe como funciona — Ele pigarreia — Com você tendo mordido ele.

Selena fecha os olhos, ela sabia exatamente o que isso significava.

— Boxer vai virar uma licantropo — Jamilla sopra, incapaz de controlar as lágrimas.

— Vamos levar ele para a Mansão — Nykkia aconselha, tocando o ombro de Scorpius — Tenho que passar na minha loja antes, levarei alguns amuletos.

Scorpius sorri de leve, fazendo Selena arquear a sobrancelha. 

— Você e seus amuletos, Nykkia — Ele brinca tocando o rosto da mulher.

O que Selena não sabia era que Scorpius e Nykkia eram amigos quando novos e, quando o Bishop teve que se mudar, eles mantiveram o contato, conversando por cartas e depois por e-mail. Fora ele que aconselhou a Celeste que aceitasse Nykkia como cuidadora e governanta da Mansão Blackwaters.

— Nem tente me irritar, Crux — Ela avisa, se afastando do toque de Scorpius — Venha comigo, Lena — Nykkia pede abrindo os braços, indicando o caminho do carro — Pegaremos umas coisas para você e seu irmão, Jamilla.

Milla assente, enxugando as lágrimas.

— Nós vamos dar um jeito nisso, amiga — Selena murmura, ajoelhando-se ao lado da licantropa — Eu prometo.

— Ele não está morto, L, isso já me deixa muito, mas muito feliz — Ela respira fundo, encarando Selena — Mas ele vai ser um de mim… Boxer nunca, hum, nunca soube… Ele não sabe o que sou e o que logo vai ser.

— Contaremos a ele juntas, combinado?

— Mm-hum.

— Lena, hum, eu não sei o que aconteceu comigo…

— Daremos uma olhada nisso também, minha querida — Nykkia sorri acolhedoramente — Há forças malignas aqui em Salém.

— Ótimo, ajudou muito…

— Preciso ir, Milla — Selena fala, apertando de leve o ombro da amiga — Fique com o meu tio, ele vai saber o que fazer.

Jamilla assente e a bruxa se levanta, seguindo Nykkia até o seu carro preto.

 

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Quando Nykkia estacionou o carro, Selena se deparou com a estreita casa de dois andares ao lado do Museu de Salém. Seu coração apertou, era um sinal de que estava em um lugar mágico, a casa que sua mãe descreveu no diário, onde Scorpius, Andrômeda e Electra cresceram. Servia agora como uma lojinha de bugiganga, ou, como Nykkia diz, adereços personalizados para entregar para qualquer pessoa, uma renda extra para a governanta.

— Querendo levar uma lembrancinha? — Nykkia brinca, vasculhando algumas de suas diversas caixas de objetos para bruxaria.

Selena sorri e assente negativamente.

— O que acha que vai acontecer com o Boxer?

— Provavelmente vai passar pela transformação na próxima lua cheia — Sua voz soa casual, tranquila — Tenho certeza que sua amiga não queria isso, mas é o que vai acontecer.

— Dói? — A voz de Selena sai fraca, como um sussurro, um suspiro entre a madeira da estante e a fumaça de incenso da loja.

— Muito — A mulher sopra, parando suas mãos agitadas — A pior dor do mundo, é o que falam. Eles precisam, hum, bem, trocar de pele de certa forma.

— Parece cruel…

— A vida não é um mar de rosas, Lena — Nykkia suspirou, encarando a garota, compadecendo com o medo da mais nova — Gostaria muito de dizer que vai ser simples, mas não é assim. Boxer vai passar pela pior noite de sua vida daqui a alguns dias, assim como sua amiga passou quando se transformou e assim como milhares de outros licantropos — Selena engole em seco, encolhendo os ombros — Mas essa não é a pior parte.

— Do que está falando, Nykki?

— Licantropos podem ser temperamentais, é da natureza deles. O pavio curto e a agressividade, eles não sentem as emoções como nós, as bruxas, sentimos. É tudo muito mais ampliado — Ela explica, se aproximando de Selena, vasculhando uma prateleira cheia de livros — Mas nunca se perdem na própria cabeça, não esquecem de quem atacam e como atacam.

— Não entendi — Selena comenta, segurando o livro que lhe fora entregue — A Milla disse que perdeu o controle de si e…

— Bruxas não tem esse poder — Nykkia continua, folheando as páginas amarelas — Não podemos alterar a realidade de uma pessoa, não dessa forma, tirando completamente a consciência. Outra coisa tomou conta do corpo de Jamilla naquela caminhada, ou melhor, alguém.

— Nykki, você não está fazendo sentido.

— Página cento e onze, no topo — Ela sopra, fazendo Selena encarar a página encardida e velha do livro em suas mãos.

“Não, não é possível”, ela pensou “São lendas. Meu pai sempre me disse que eram histórias para assustar crianças sobrenaturais”. Selena sentiu o peso das letras nas páginas amarelas, era como uma maldição, um feitiço infernal, ela podia sentir o seu coração parar de bater e sua respiração falhar. Nada daquilo podia ser verdade e, se fosse, Sebastian estaria em perigo. 

“Como se não fosse suficiente ter Caçadores nessa maldita cidade e a maldição de Bridget Bishop, agora isso?”

— Os Sete Líderes do Inferno — A voz da garota soa fraca, como uma folha que cai de uma árvore no outono.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem!



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