Midnight Lovers escrita por Pandora Ventrue Black


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

"Seven Devils" - Florence + The Machine



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Os anos de 1690-1692

Estava de noite, na verdade, não dava para saber, pois a jovem estava presa, em um lugar escuro e frio. Isolada do mundo, de sua irmã e de seu amor. Cadeia, era onde estava. Seu crime? Não sabia ao certo, talvez fosse seu nome, vinha de uma longa linhagem de bruxas escocesas e desde que uma doença assolou a pequena vila que vivia nas terras gélidas da Europa, Brigdet e sua irmã gêmea partiram para as Américas, em busca que um lugar longe de toda a morte que tiveram que presenciar.

Seus pais estavam mortos, assim como seus amigos. Uma peste, foi isso que os ceifou, uma enfermidade nojenta e pustulenta. Ninguém sobreviveu, exceto as duas, que zarparam para outro continente. Uma viagem cruel e traiçoeira, mal sabiam como tinham sobrevivido naquele navio maldito, eram moças, solteiras e sem família, uma lanterna que atraía os homens de pior caráter, como se eles fossem mosquitos.

Entretanto, chegam em uma nova terra; juntas sempre foram capazes, fortes. Unidas seguiram em frente, marcharam sem rumo até encontrar a pequena colônia de Salém, que ainda tentava se fortificar no território traiçoeiro. Foram acolhidas pelas freiras do local, tratadas como meninas “perdidas que venceram um oceano sozinhas em busca do amparo divino”, era o que falavam. As Bishop não acharam ruim, tinham uma cama quentinha e comida todos os dias, porém, não tinham privacidade o suficiente para praticar sua magia e logo seriam Chamadas, descobririam o rumo que deveriam tomar no mundo bruxo.

Alguns meses antes do aniversário de Bridget, ela conheceu Anthony, um homem poucos anos mais velho que dizia ser um desbravador. Aquilo a conquistou, a ideia de viver com um aventureiro, um explorador. Anthony era para ela a própria “Libri Magia Antiquis”, o livro, ou melhor, uma lenda bruxa sobre um livro que continha todas informações sobre a magia do mundo sobrenatural, era a enciclopédia de tudo o que era mágico. O aventureiro era isso de certa forma, um almanaque, um livro de histórias sobre descobertas e missões desbravadores.

Mas a mentira e a farsa de Anthony não foi muito longo, ele era filho do governador e todos o conheciam desde criança. Quando Bridget descobriu, não sangrava a mais de mês; estava grávida. Carregava um filho do homem que a enganou, que abusou de seus sonhos e a fez amá-lo com todo o coração.

Poucos meses depois a irmã mais nova de Anthony, Betty Phips, e sua prima, Abigail Williams, começaram até ataques. Primeiro, os gritos aleatórios e guturais, como se as meninas estivessem sendo atacadas por algo. Depois veio os acessos de raiva, que contaminou mais duas crianças, agora já eram quatro crianças enfermas com o mesmo padrão de comportamento. O terceiro estágio eram os ataques epilépticos, nos quais elas caiam no chão, reviravam os olhos e se debatiam, sujando-se com a própria saliva e, às vezes, com os as próprias excreções. Ao final do mês janeiro já eram quase vinte pessoas, crianças e adultos que exibiam o mesmo quadro.

A colônia de Salém estava em pânico com os relatos dados pelos doentes, que falam de seus sintomas: beliscões e alfinetadas, um calor, como uma chama de fogueira, que se espalhava no interior das pessoas, sonhos estranhos e sentimentos impulsivos para atos impensáveis.

O povo queria respostas, tratamento e mudança, mas o Governador Phips não era capaz de lhes proporcionar isso, ele não sabia o que estava acontecendo e também se sentia impotente em relação a sua filha mais nova, que lhe pedia toda noite que ela a curasse.

Tituba, uma de suas escravas e também a babá de Betty, odiava ver a garotinha sofrer, afinal cuidou dela desde seus primeiros anos de vida. A escrava era uma adulta vinda de Barbados e uma Prima, bruxa que trabalhava com excelência com a magia primeira: o vodu. Desde que a garota ficou doente, Tituba passou a utilizar sua magia, mantida escondida por medo de Sr. Phips, mas deixou tudo isso de lado para amenizar o sofrimento da sua criança, fazendo chás, poções e rituais para que a Mãe Natureza a ajudasse.

Pensando? — Uma voz suave e melódica emana da escuridão — Não se assuste, sou como você, querida.

D-Do que está falando? — Bridget choraminga dentro da cela.

Tituba e estou aqui pelo mesmo motivo que você — Ela fala se aproximando das barras geladas que as separavam — Não se preocupe, sou uma bruxa assim como você.

E-Eu não sou uma…

Sua aura, querida, é uma aura bruxa. Não precisa mentir para mim, eu e você estamos no mesmo barco.

Bridget funga, acariciando a barriga grande.

Pela minha Grande Mãe Natureza, está grávida?

Bridget assente envergonhada.

Espere só um segundo… Por acaso você não é a garota que sempre esperava o Sr. Anthony no portão dos fundos, ou é?

A garota se cala e logo sente seu bebê chutar.

Céus… Esse bebê é dele?

Sim.

Anthony sabe?

Pretendia contar, mas o pai dele enlouqueceu antes disso.

Essa criança não pode morrer — Tituba alerta — A Lei do Retorno não é algo que se deve brincar.

A famosa “Lei do Retorno”, a primeira coisa que sua mãe falou quando teve a menarca. A Terra e toda a ordem natural do mundo deveriam sempre estar em equilíbrio, bebês nascem e alguns não, mas sempre por motivos naturais, a Mãe Natureza sabe o que faz, sempre soube e sempre saberá. Porém, quando um bebê é impedido de nascer por forças externas, algo ruim estava predestinado de acontecer.

Eu sei, acredite em mim, eu sei — Ela tenta engolir as lágrimas, mas falha miseravelmente — Estava escondida com a minha irmã, mas ela… — Seu corpo aquece, Blair merecia um destino pior que a morte — Minha irmã me acusou e agora estou aqui. Com uma criança em meu ventre e uma corda em meu pescoço.

Eu imagino, querida. Acham que lancei essa doença nas crianças, em minha amada e pequena Betty. Nunca seria capaz de fazer algo desse tipo — Tituba fala, se encostando nas grades — Eles tem medo de nós.

Quem?

Os humanos. Temem que façamos o mesmo que fazem com a gente — A mulher suspira — Homens não sabem como as engrenagens do mundo funcionam, acham que podem dominar tudo. Eles não sabem, porém, que a natureza segue as próprias regras e está bem longe de se curvar perante nós.

Anthony não é assim — Bridget deixa escapar — Quer dizer, não era. Quando o conheci era um homem bom, explorava tudo ao nosso redor para conhecer, entender e não para destruir.

Um homem? Que não destrói? Essa é uma história que estou disposta a ouvir.

Não é muito longa…

É melhor do que ficar louca nesse silêncio — Bridget sorri e pigarreia.

Anthony, meu amor, que dizer, meu antigo amor, me conquistou com sua bondade em relação a natureza, por muitos meses achei que ele fosse um bruxo por conta de seu cuidado e interesse. Mas era tudo uma farsa, ele era filho do Governador Phips e não se passa de um menino rico às custas do suor dos outros — A bruxa sente seu corpo tencionar por conta da raiva — Ele me deixou, me renegou na frente de seu pai e de todos presentes no tribunal.

Aquele menino sempre me intrigou. Muito quieto e observador.

Sim…

Imagino que deva estar machucada… Seu coração, partido — Tituba comenta — Eu sinto muito.

Bridget assente, era um “obrigada” silencioso.

Queria ter sido mais esperta, não ter caído em seus braços. Agora tenho uma criança que nem vai… — Sua barriga doí. Uma pontada forte — Ele chutou.

Seu corpo magro é atingido por uma onda de dor tremenda que por um momento ela achou que ia desmaiar. E depois mais uma pontada. Outra. Mais uma. A dor ia e vinha com poucos segundos de distância. A bruxa fecha os olhos e tenta controlar a respiração.

Está chutando muito — Ela reclama — Mais do que o costume.

Está de quantos meses? — Tituba pergunta nervosa, agarrando o amuleto em seu pescoço

— Sete, eu acho… Oito, talvez — Ela geme, sentindo o corpo esfriar, como se estivesse desistindo de existir.

— Criança! Deite e deixe-me ver — Tituba ordena, colocando a cabeça e o braço entre as grades — Vamos, ande. Não temos muito tempo.

Bridget engole em seco e se arrasta com dificuldade até a mulher, se deitando para ser examinada.

— Não, não pode ser — Tituba arfa, engolindo o próprio medo.

— Tituba?

— Está parindo, minha querida.

Bridget é atingida por um balde cheio da água mais fria do mundo, perdeu o fôlego e se esqueceu de respirar.

Sua criança estava vindo, talvez um pouco mais cedo ou, até mesmo, no tempo certo, ela não sabia dizer. A hora havia chegado, precisava ser forte, sua criança dependia isso. Ao respirar fundo e se lembrar de sua velha mãe, encontrou forças dentro de si que nunca imaginou que tinha.

— Empurre — Tituba ordena — Você consegue, querida.

A bruxa segura a respiração e força seu corpo para impulsionar o bebê. Estava ali, deitada em um piso duro de terra batida, em um cubículo de pedras e enjaulada como um animal, quase uma semana sem um bom banho e uma alimentação decente, ou seja, o exato oposto do pão duro e velho fornecido pela cadeia e, ao menos isso, compartilhava sua solidão com outra mulher, uma Prima gentil e doce, que mais parecia sua mãe.

— Está indo bem, muito bem — Tituba fala, com uma voz serena — Consigo sentir a cabecinha.

— Sério? — Bridget soa cansada, e realmente estava.

Seu corpo estava focado na criança, sua pele estava fria e seus olhos, marejados, mal conseguia ficar abertos.

— Sim, minha querida. Agora preciso que se concentre nesse bebê, combinado? — Ela murmura um “sim” — Certo, preste atenção em mim. Precisa ser forte, pois o parto sempre vai ser um momento difícil. Quando eu falar “empurre”, você faz e se eu disser para parar, me obedeça.

Bridget urra, suas partes íntimas pareciam estar em chamas, como se tivesse sentado em um ferro quente. Se parir fosse assim ela tinha certeza que nunca mais teria filhos, ou melhor, ela não poderia ter mais filhos mesmo se quisesse, sua sentença já foi dada: Forca.

— Está saindo — Tituba suspira — Empurre!

Bridget o faz, desejando estar morta. A dor que cortava seu corpo era tão forte e devastadora que ela se esqueceu de respirar. As lágrimas corriam pelo seu rosto como uma cachoeira descontrolada, tanto de alegria por logo ser capaz de ver o seu bebê e de medo, sua dor parecia matá-la.

— Mais uma vez, querida — A mulher fala sentindo seu rosto transpirar.

Tituba nunca havia sido uma parteira, o máximo que fazia durante o parto das escravas do Sr. Phips era ajudar a mãe a contar a respiração ou segurar o bebê assim que nascesse. Entretanto, tinha presenciado muitos nascimentos e esperava do fundo de seu coração não ser responsável pela morte da mulher do outro lado da cela e de seu bebê. Ela entoava mentalmente um mantra antigo de Barbados, pedia para a Mãe Natureza proteção, saúde e um guardião para essa criança.

“Oh, Mãe Natureza. Faça com que ele me ouça!”, ela pede “Eu sei que deixei Vlad na Inglaterra mas preciso dele”. A mulher pedia que os ventos levassem sua súplica, ele seria o único capaz de ajudá-la, sempre foi e sempre será.

— Empurra!

A bruxa o faz, urrando de dor. Seu corpo vacila entre ficar acordado e desmaiar. Bridget sente seus braços fraquejarem, como se tivessem virado mingau, e desabou no chão, se engasgando com as próprias lágrimas. Um momento de calma apossou o local, a bruxa podia finalmente respirar, percebendo naquele momento o quanto amava sentir o ar frio entrar por suas narinas. O pior já havia passado.

Tituba tinha em seus braços o bebê, gordo e saudável, mas algo na criança o despertou uma curiosidade. Sua aura e uma marca quase que imperceptível em seu pescoço. “Não, não pode ser”, pensou “É impossível”.

— Tituba? — A voz da mãe soa fraca e rouca.

— Não… Não, não — A mulher tinha sua mão na boca e balançava negativamente a cabeça.

“Aura bruxa, mas a marca…”, Tituba sussurrou dentro de si “Eu reconheceria a marca a quilômetros de distância”.

— Tituba? — Ela chama mais uma vez, sentindo frio tomar conta do seu corpo. Alguma coisa estava errada.

O pior definitivamente não tinha passado.

— Oh, criança, o que você fez? — A mulher falou quase que em um sopro.

— Me dá a minha criança, Tituba.

— Essa criança não é sua, minha querida — Disse, encarando a bruxa enquanto ninava o bebê — É do outro mundo e não do nosso, querida. Pertence a outro mundo.

Bridget engole em seco. “Ela deve estar delirando”, pensou “É! Está louca. Meu filho é meu!”

— Me dá o meu bebê — Ordenou sentindo o seu poder fluir.

A mulher o fez sem pestanejar, aquela criança não era dela no final das contas. No momento em que pegou seu bebê, Bridget se engasgou com a própria saliva. Tituba estava certa, na verdade, estava muito mais do que certa. A criança nunca seria de Bridget, não só por conta de sua sentença de morte marcada, mas também por causa da pequena, mas visível, marca no pescoço de seu filho.

— Não… — Ela arfou, chorando como uma criancinha, sem nem conseguir falar, muito menos respirar.

 

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— Espero que tenha uma ótima notícia para me dar, Tituba, por que o sangue daquele guarda no topo da escada é terrivelmente azedo — Uma voz sombria ecoa pelas celas, fazendo o coração de Bridget gelar.

Tituba conhecia muito bem aquele sotaque puxado e quase lírico, era o inglês que ela tanto amava. O conde de Dawnton era um homem altivo, com um corpo atlético, traços finos da nobreza, cabelos negros e olhos tão azuis que pareciam brancos. Conhecido por sua inteligência e reclusão, o conde raramente abandonava seu pequeno palácio no interior das florestas de Dawnton, mas quando ouviu sua amada o chamando, ele não podia se segurar, mesmo que desejasse de todo o coração permanecer em sua província.

Vlad Dawnton e Tituba se conheceram por acaso na América quando o conde veio a negócios para o outro lado do mundo, queria investir nesse novo pedaço de terra e aumentar sua fortuna. Se apaixonaram, mas eram diferentes demais para ficar juntos, não só porque ela era uma escrava e ele um nobre, mas também por conta de suas descendências sobrenaturais. Ela, uma bruxa Prima. Ele, um vampiro. Nunca daria certo mesmo que tentassem com todas as forças.

— Q-Quem é você?

— Conde Dawnton, jovem donzela — Ele suspira e se vira para a outra mulher no local.

Seu coração para, que dizer, ele sente algo parecido com o seu coração parando. Por um momento suas pernas fraquejaram, como se não soubesse andar. Sua amada continuava linda, com seus cabelos castanhos em pequenas tranças que ela sempre prendia em um coque alto, seu corpo magro e esbelto rodeado por tecidos coloridos e sempre adornada de amuletos.

— É bom vê-lo, meu querido — Ela deixa escapar, se segurando nas grades para tentar ficar mais perto dele.

Vlad para de pensar, deixou seus instintos tomarem conta. Por mais que sua mente dissesse que era errado, seu coração clamava pelo toque de Tituba. Ele avança, ultrapassando as barras de metal que os separavam e tomou-a nos braços, beijando-a como nunca antes. Ela o fazia sentir vivo, quando estavam juntos o vazio dele evaporava e era substituído pelo amor, pelo calor de sua pele escura e macia.

— Senti sua falta — Ela sopra.

— E eu mais ainda — Sorri, colocando suas mãos no rosto dela — Porque me chamou, querida?

— Você é o único que pode nos ajudar.

— É meu filho — Bridget fala se levantando com dificuldade.

O conde desaparece e reaparece na outra cela, com o menino em seus braços.

— Ele é como você, Vlad.

— E-Eu não sei como aconteceu… — Bridget tenta dizer, mas suas lágrimas atrapalhavam — Anthony, o pai dele, me parecia humano.

A bruxa se aproxima de Tituba, segurando as suas mãos como se ela fosse capaz de tirar toda a dor da traição.

— Ele mentiu para mim, Tituba — Ela chora inconsolavelmente — Mentiu sobre tudo!

— Posso lhe afirmar, minha jovem, o pai dessa criança é um vampiro, não nascido como meu. Foi mordido, tenho certeza — O conde fala, aninhando o bebê em seu colo — A Marca dele é fraca, diferente da minha. Talvez não chegue a ser um vampiro poderoso, mas sim, ele é um.

— Não!

— Se acalme, querida. Nós vamos dar um jeito — Tituba a consola, encarando o seu amor — Nós sempre damos um jeito.

— O que espere que eu faça com a criança, Tituba?

— Não podemos ficar com ele. Recebemos nossa sentença.

— Eu sei — Vlad sente o corpo falhar, sua amada seria morta — Posso lhes tirar daqui.

— Não podemos alterar as ordens das coisas, Vlad. Por mais que nos tire, nossa sina está marcada. Vi nos ossos, não temos como mudar. Vamos morrer, uma hora ou outra.

— Podemos postergar isso. Moraremos em meu palácio, meu amor. Lá ninguém nos tocará.

— Vlad, querido, eu amaria passar o resto da minha vida com você, mas a natureza é clara. Tenho que morrer aqui, criar minhas raízes mágicas aqui. Outros depois de mim, que nascerem aqui, terão meu sangue nesta terra e serão poderosos — Ela fala — Assim como os descendentes dessa jovem bruxa.

— Eu realmente odeio o mundo bruxo — Vlad resmunga — Qual é o seu plano?

— Cuide deste menino, como se fosse seu. Meu coração diz que ele será responsável por grandes feitos.

— Não! Ele é meu — Bridget exclama, se soltando de sua amiga — Não posso ficar longe dele!

— É o melhor para ele, minha querida.

— Tituba está certa — Vlad diz, colocando o bebê para dormir em seus braços — Criará suas raízes aqui, jovem bruxa e, de acordo com as leis que regem a magia, ele retornará para essa pequena vila para seu Chamado, mesmo sendo um híbrido — Ele se vira para sua amada, em busca de sua confirmação — Ele será Chamado, não é?

— Não sei como funcionará, Vlad. Como você mesmo disse, ele é um híbrido, meio bruxo meio vampiro.

— Meu bebê não será Chamado?

— Pode ser e pode não ser — A mulher fala diplomaticamente — O futuro dessa criança é incerta. Joguei alguns ossos em seu nome, mas nada pareceu.

Bridget sente seu coração se despedaçar em milhões de pedaços. Havia parido uma aberração para o mundo sobrenatural, gerado o híbrido mais belo e doce de todos. O bebê tinha os olhos do pai, castanhos, quase âmbar, e os mesmos cabelos de sua mãe, meio claros por agora, mas daqui alguns anos seriam ruivos como fogo.

— Eu não posso ficar longe dele…

— Não temos muitas opções, jovem bruxa. Ou ficará com ele e assim que o Governador deste fim de mundo chegar aqui embaixo ele será atirado nas ruas, ou poderá crescer comigo, em um palácio onde todos o servirão comidas finas e dormirá em ótimas e macias camas — Vlad alerta, encarando a mãe nos olhos — O que é melhor para seu filho?

— Eu… — Ela trava, sentindo as lágrimas encheram seus olhos.

— Guardas! — Um urro maldoso ecoa pela prisão, fazendo as mulheres tremerem. Era o Governador Phips.

— Rápido, querida. Não temos tempo.

— Eu…

— Bruxas!

— Suas crias do demônio!

— Mataram Houston! 

Os homens acusavam descendo as escadarias a passos escandalosos.

— Jovem bruxa, escolha.

— F-Fique com ele. O mantenha a salvo — Ela fala enxugando as lágrimas e se aproximando do vampiro — É um retrato meu, nunca deixe o meu filho esquecer o quanto eu o amo. Diga que a escolha que fiz foi cruel — Bridget chora, entregando ao homem um pequeno papel com ela pintada, ao lado de sua irmã — Explique que tudo foi culpa de Anthony Phips, ele negou que havia me amado, mentiu, e também fala de minha irmã, Blair Bishop, ela também foi uma mentirosa, me jogou aos leões.

— Claro — Ele compadece, permitindo que a mulher beije a testa de seu filho mais uma vez.

— Vá, Vlad, não quero que eles te vejam — Tituba pede erguendo os braços em direção ao homem — Obrigada.

— Sim, conde Dawnton, muito obrigada — Bridget agradece entre soluços.

— Tituba… — Ele fala, abraçando-a novamente. Não queria partir — Eu…

— Não chore, meu amor — A mulher coloca o rosto dele em suas mãos, enxugando as lágrimas silenciosas — Nos reencontraremos mais uma vez. Eu prometo.

— Mas…

— Vá! — Ela ordena e o beija uma última vez.

— Eu te amo, sempre amei.

— Eu também te amo, Vlad, com todo o meu coração.

O conde de Dawnton respira fundo, segurando o choro. Os passos se apertam e inundam as celas como pavor e medo, ele vai abandonar o amor de sua vida mais uma vez e, infelizmente, a deixando para a Morte. Levaria consigo uma criança híbrida, que não era dele nem de Tituba, mas de uma mulher que foi enganada por todos que amava. Seu fim era marcado por mentiras e farsas.

— Cuide dele como se fosse seu filho, meu amor — Tituba pede, com os olhos marejados.

— Queimem, bruxas dos infernos! — Eles gritavam, chegando mais perto delas.

Vlad desaparece, deixando seu coração e sua felicidade para trás. Tituba se aproxima de Bridget, segurando sua mão com força.

— Ele ficará bem.

— Eu não…

— Do que está… — Mas antes que pudesse falar, a jovem bruxa mostra sua mão ensanguentada — Não…

— Está tudo bem.

— Deveria ter parado!

— Meu filho está bem, é isso que importa.

— Minha querida, isso não está certo — Tituba fala, desesperada, com o coração na boca, porém é interrompida por um baque surdo.

Bridget estava fraca, mal consegue se segurar em pé. Estava sangrando a um bom tempo, mas a segurança de seu filho era mais importante. Agora podia abaixar a guarda, deixar seu corpo descansar, sendo abraçada pelo frio e pela escuridão de sua cela de pedras.

— Bridget! — Tituba grita, mas Bridget não era mais capaz de ouvir.

 

⇻♡⇺

 

Anthony estava parado, ou melhor, congelado ao lado de seu pai como uma estátua, não queria olhar para o lado, pois em pé em um banquinho, ouvindo as acusações, estava Bridget Bishop, a mulher que ele amava mais do que suas aventuras e descobertas.

O cheiro férrico do líquido vermelho que tanto amava e odiava ao mesmo tempo invade suas narinas. Ela estava sangrando, e muito. Os olhares dos dois se encontram e o mundo desaba, uma forte tempestade deságua na praça onde seria a execução. Isso era o poder de Bridget, ela é uma Elementuma, bruxas capazes de controlar os elementos que regem o mundo, um tipo raro, poucas o tinham. Costumavam aparecer bruxas com esse Chamado de 500 em 500 anos.

O filho do Governador sentia o coração apertar, aflito e desesperado, devia ter falado a verdade desde o início, que era um vampiro, mordido a poucos anos em uma de suas jornadas para o interior do continente, devia ter dito que era filho de William Phips e, acima de tudo, confirmado as preces de Bridget; ele sim estava com ela, a amava e ela carregava um filho dele.

“Não devia ter mentido”, pensou “Sou um maldito covarde”.

A sentença foi lida, ou melhor, clamada, a chuva caia forte demais. Bridget permanecera quieta o tempo todo, inexpressiva como se sua vida tivesse ido embora, o que, na verdade, havia acontecido. Seu filho foi tirado de seus braços por um homem que ela mal conhecia, pelo vampiro Vlad Dawnton, porém, a criança teria uma chance de viver, uma oportunidade de ser aceita pelos nobres, desenvolver a magia do mundo bruxo ao mesmo tempo que aprendia a controlar a sua sede por sangue humano.

No meio da multidão ensopada estava Blair, vestida com um capuz que escondia sua face, presenciando o assassinado que ajudou a cometer. Ela também havia mentido, disse que não conhecia Bridget e que suas acusações contra Anthony eram farsas, uma tentativa de escapar de seu destino. Eram parecidas, é claro, afinal era gêmeas quase que idênticas, exceto pela cor do cabelo. Bridget tinha cabelos vermelhos como fogo, enquanto Blair possuía um tom mais apagado de ruivo, que, às vezes, passava de marrom claro, "uma cor esquisita", como costumava dizer.

— Espero que estejam se divertindo — A voz de Bridget soa como um trovão, talvez realmente fosse um.

Todos se calam.

— Sabem de quem estou falando. Não sou mentirosa como eles são, não sou farsante. Tudo o que eu disse em meu julgamento foi a verdade, mas ninguém quis me ouvir. Espero que levem a minha morte como um recado, uma lembrança de que o sobrenome Bishop e Phips será levado para a eternidade — Ela suspira abaixando a cabeça.

Seu corpo está encharcado, seus cabelos grudavam em sua pele exposta e seu sangue escorria pelo palanque como vinho. Ela estava morta de um jeito ou de outro, seu parto foi complicado e desde que seu filho nasceu, ela não parava de sangrar, o enforcamento apenas encurtaria o seu sofrimento.

— Mentiras e mais mentiras cercam essa colônia. Não conseguem ver? Está debaixo do nariz de todos vocês! — Ela grita e um relâmpago corta o ar, roubando suspiros dos cidadãos parados ali — Não vou deixar que isso continue. Me escutem bem, marquem minhas palavras. O mundo tem engrenagens e elas rodam bem, fluídas e lubrificadas, mas os eventos dessa noite ficaram marcados nessa terra.

Blair segura o choro, não queria ver aquilo. Ela havia colocado sua irmã ali e nunca mais seria a mesma. Queria gritar, subir no palanque e a arrancar de lá, usar seus poderes para destruir a colônia britânica, mas ela não podia. Também tinha um segredo: estava grávida. Carrega uma criança e não podia se dar o luxo de perder o bebê. O pai da criança era um viajante, Edgar Whiteklaw, e estaria nos limites de Salém ao amanhecer, para que os dois possam dar um início digno de sua nova vida como uma família.

Blair precisava pensar em seu filho.

— Eu tenho uma criança, nunca a acharão. Não pude criar, mal saiu de mim e já foi levada para longe, parece que ainda a tenho em minha barriga, de tão pouco que fiquei com ela — Ela grita a plenos pulmões — A Terra cobrará a vida não vivida da criança em meu ventre!

Anthony engasga.

Sua amada não estava mentindo, ele era pai, tinha um filho.

E então a ordem foi dada pelo Governador Phips, a corda apertou o pescoço de Bridget, que não lutou contra a sua morte. Aceitou em silêncio ciente do que havia dito, certa de que a Mãe Natureza a tinha ouvido. A chuva passou e o céu se abriu, estrelado.

Bridget Bishop estava morta.


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