Esposa de Aluguel escrita por Regina Rhodes Merlyn, Marielle


Capítulo 3
Meeting the Rhodes (part. 1)


Notas iniciais do capítulo

Olá flores! Com vocês estão? Espero que todas bem, com saúde e mantendo o distanciamento e permanecendo em casa, sempre que possível.
Conforme combinado, eis o terceiro dos cinco capítulos dessa short que me veio como um furacão e o que é melhor: completinha!!!
Vejamos o desenrolar do Aceito dito por Sarah no capitulo anterior e também iremos conhecer um pouco de sua história, como se tornou mãe dessa fofura e como foi parar em Chicago.
Também teremos mais interação Claire/Connor/amigos do Med unidos par arquitetar uma história crível para ser apresentada diante da família.
Como já falei, The Beatles é a trilha sonora dessa fic.
Grata por todas as rewiews passadas (as quais espero ter respondido todas)...Aguardo ansiosa mais rewiews deste novo capitulo. Boa leitura. Bjinhos flores.



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“...Oh, please! Say to me;

You’ll let me be your man;

And, please! Say to me;

You’ll let me hold your hand;

Now let me hold your hand;

I wanna hold your hand;

And when I touch you;

I feel happy inside;

It’s a such feeling that, my love;

I can’t hide;

I can’t hide;

I can’t hide….”

I Want To Hold Your Hand

The Beatles

Gaffney Chicago Med - área externa ( terça, 15/12 -16:10 p.m)

Narrador

—Connor, me escutou? - Sarah pergunta, estalando os dedos junto ao rosto dele, que pisca repetidamente, saindo do transe.

—Desculpe,...hã..Não. O que você disse? - ele murmura, parecendo surpreso.

—Que aceito sua proposta - ela repete - Por que a surpresa? A menos que tenha desistido ou encontrado outra pessoa para …

—Não - o cirurgião apressa-se em dizer, cortando-a - Não desisti tampouco procurei outra pessoa - garante - Na verdade, estava achando que você não ligaria nem mesmo para me xingar - admite, levando uma mão ao pescoço ao mesmo tempo em que faz uma careta engraçada.

—Então... eu ia ligar, mas dei vacilo com meu celular hoje cedo, o filho de um cliente do local onde trabalho achou que era um submarino e o mergulhou na xícara de café do pai enquanto aguardavam os bolinhos para viagem - conta, franzindo o nariz em uma careta graciosa - O pai fez questão de pagar, lógico, e até comprei um novo na hora do almoço, mas não estava com meus livros para ver seu número,  resolvi vir pessoalmente ao hospital comunicar minha decisão. Eu até liguei para a recepção, mas a moça que me atendeu falou que você estava em cirurgia e como quem atendeu não foi a que indicou, Maggie, preferi não deixar recado - acresce.

—Entendi - Connor diz, ambos voltando-se para a direita ao escutar Will, que se aproximara, juntamente com Claire, sem que percebessem, falar.

—Você trabalha na Jitters? - interroga o médico, apontando o avental que ela trazia preso à alça da bolsa.

—O que é Jitters? -Claire quer saber, enrugando o cenho, curiosa.

—A cafeteria aonde doutor Charles costuma ir todas as manhãs - Will esclarece, a empresária emitindo um “ Ah”  contemplativo - Inclusive, acho que era você quem o estava atendendo na sexta - acresce o médico.

—Uhum - Sarah confirma, reconhecendo o ruivo - É o amigo de Daniel, não é? O que deu carona a ele - pergunta, inclinando minimamente a cabeça a fim de lê o nome bordado no bolso do jaleco.

—Sou, e na verdade foi Connor quem nos deu carona. A mim e Daniel - informa o ruivo, notando a maneira carinhosa e informal a que ela se referia ao Psiquiatra.

—Conhece doutor Charles? - indaga o cirurgião.

—Há quase dois anos já - Sarah confirma- Passei mal no metrô e Daniel me socorreu. No dia seguinte, quando esteve na cafeteria, me reconheceu e desde então nos tornamos amigos - conta, sorrindo de forma afetuosa ao pensar no amigo.

—Mas minha gente, esse mundo é realmente um ovo!! - Claire exclama, surpresa.

—E de codorna! -  Will diz, igualmente surpreso, voltando-se para Connor - Olha que interessante: se eu não estivesse com você na sexta de manhã, a teria conhecido quando fosse chamar doutor Charles no interior da cafeteria!! É destino que chama, né? - comenta, rindo divertido e como adivinhasse estarem falando sobre ele, o Psiquiatra surge.

—Sarah? - Daniel Charles chama, sinalizando a residente que o acompanhava aguardar, indo ao encontro do grupo - O que faz aqui? Estava a minha procura? Algo errado com Sofia? - interroga, visivelmente preocupado, arqueando a sobrancelha ao notar a mão que Connor, instintivamente, pusera sobre a dela - Já se conhecem? - inquere, curioso, o cirurgião retirando-a ligeiro ao seguir o olhar do amigo.

—Não...hã...digo, sim… - Connor enrola-se.

—Mesmo? Que estranho porque conheço Sarah há mais de um ano e tenho certeza de que ela nunca mencionou seu nome - Daniel comenta, olhando-os inquisidoramente, a barista adiantando-se em responder.

—Nos conhecemos sexta à noite, no metrô, quando eu voltava para casa. Estávamos no mesmo vagão - revela ela - Meu celular ficou no assento quando levantei….

—E quando eu percebi que ela não tinha notado, o peguei e corri para devolver - Connor completa, ligeiro.

—Por que foi de metrô para casa? - quer saber o Psiquiatra, encarando o cirurgião, divertindo-se, no íntimo, ao perceber o constrangimento de ambos, intuindo algo estar acontecendo ali.

—Meu carro não pegava e estava sem paciência para esperar o reboque - Connor explica.

—Por minha vez, estava estressada e acabei não sendo gentil com ele, por isso resolvi pedir desculpas pessoalmente - Sarah diz, justificando sua presença ali.

—E como sabia aonde encontrá-lo? Chegaram a conversar? - persiste Daniel, gostando ainda mais ao ver o rosto da jovem atingir um encantador tom de vermelho, fato que igualmente não passou despercebido aos demais.

—Ela deve ter visto meu crachá preso à mochila, não é isso?- Connor apressa-se em dizer , encarando-a.

—Foi isso - Sarah confirma - E como o hospital fica apenas algumas quadras da cafeteria, achei que devia a ele desculpas pelo meu comportamento - reforça, rindo forçado.

—Doutor Charles? - a residente chama, fazendo-o voltar-se, sinalizando a jovem aguardar mais um pouco, dando atenção ao grupo novamente.

— Então está tudo bem com Sofia? - reinquere Daniel, olhando-a Sarah atentamente.

—Sim, sim. Ela está ótima - assegura a jovem

—Certo - ele limita-se dizer,olhando-os alguns segundos antes de anunciar - Bom, preciso ir andando. Dê um beijo na pequena por mim - pede, sorrindo gentil.

—Darei, pode deixar - garante ela, soltando o ar na medida em que o Psiquiatra se afasta após ter cumprimentado os demais com um gesto de cabeça.

—Aprovados!! - Will e Claire dizem juntos, sobressaltando tanto Connor quanto Sarah - Ambos estão aprovados - Claire reitera, abrindo um largo sorriso.

—E com louvor, diga-se, porque se conseguiram passar pela sabatina surpresa de doutor Charles sem titubear, conseguem passar por qualquer um! - comemora o ruivo, franzindo o cenho - Aliás, não tinha idéia de que Daniel fosse tão curioso - comenta.

—Nem eu - Connor corrobora, sacudindo a cabeça, dando atenção a Sarah - Quando podemos conversar com calma? Combinar nossa história? - questiona-a, Claire adiantando-se dizer antes que ela respondesse.

—Eu quero estar presente também, afinal todos na família sabem que não temos segredos um com o outro - argumenta a empresária -Quase nenhum segredo, quero dizer - corrige-se, rindo divertida - Além disso, Will e eu já bolamos algumas histórias bastante críveis…. e por falar nisso, você pretende apresentá-la como noiva ou esposa? - questiona, olhando diretamente para Connor, não dando a ele chance de responder - Porque se resolver dizer que se casaram em, sei lá, algum arroubo ou momento de paixão arrebatadora, precisamos acertar o quando, como e onde direitinho para….

—Amor, amor...respire! - Will interrompe o discurso inflamado da namorada, segurando-lhe as mãos -Só. Respire. Lenta e calmamente - orienta, fazendo-a acompanhar seus movimentos  - Agora, antes que Sarah meta o pé achando, corretamente, bom dizer, ter se envolvido com um bando de malucos, que tal deixarmos os dois a vontade? - sugere, começando afastar-se, levando a empresária consigo.

—Mas não contamos a eles nenhuma das idéias que tivemos!! - Claire protesta, fazendo bico.

—Estou certo de que Connor vai encontrar um tempinho para ouvir e considerar nossas idéias - apressa-se em dizer o médico, sorrindo de forma encantadora - E também estou certo de que saberemos o que eles decidiram já que irão precisar de nossa corroboração, portanto, vamos aproveitar e comer algo porque estou morto de fome! - pede, esfregando a barriga.

—Credo Will, que escolha de palavras mais mórbida!! - reclama a empresária, o riso em seu rosto contrastando com a seriedade que tentava imprimir a voz, acompanhando-o em direção ao agrupado de trailers ali perto.

—Não se preocupe. Tenho quase certeza de que não é contagioso! - Connor brinca, atraindo a atenção da barista para si novamente, fazendo-a rir - Mas em uma coisa estão certos: precisamos combinar nossa história para evitar falhas, especialmente se for levar sua filha - alerta, encarando-a.

—Vou. Não cogitaria deixá-la por tanto tempo ainda mais nessa época do ano - Sarah diz, o encarando - Eu trabalho de segunda a sábado, das seis às três da tarde. Depois deste horário pego Sofia na creche e sigo direto para casa, jantar e me preparar para aulas - relembra.

—Normalmente eu folgaria amanhã, mas como passarei quinze dias fora, comecei a compensar algumas horas - Connor conta, coçando a barba por fazer -  Acho que consigo sair por volta das dezesseis - diz - Se puder me esperar, te levo para buscar sua filha e aproveitamos para conversar até a hora de suas aulas, que tal? -sugere.

—Por mim tudo bem - concorda a barista - E quanto a sua irmã e o namorado? - indica o casal com um gesto de cabeça.

—Hoje a noite converso com os dois sobre as maluquices que certamente inventaram - Connor afirma, dirigindo um olhar carinhoso a dupla -Me liga quando chegar em casa  para eu salvar o seu número e combinarmos como faremos amanhã- pede.

—Ok - concorda ela - Bom, vou te deixar trabalhar. Até amanhã - despede-se, fazendo menção ir embora, Connor segurando sua mão num impulso, retendo-a.

—Obrigado. Não sei o que te fez mudar de idéia, mas agradeço - agradece, sincero.

—Ok - Sarah limita-se dizer, sentindo um formigamento estranho quando suas mãos se separam, lançando um sorriso pequeno ao cirurgião antes de girar do próprio eixo, indo embora, Connor permanecendo parado, observando-a se afastar.

—Ela é bonita -Claire declara, assustando-o - E parece ser bem legal, o que já é uma evolução levando em consideração ter sido você a escolhe-la - provoca-o.

—E sozinho - Will acrescenta, Connor fuzilando-o com o olhar.

—Daria pra vocês pararem de se materializar a meu lado? Tô começando a ficar com medo de ter uma bruxa como irmã e um bruxo como amigo - resmunga.

—Não é nossa culpa se ficou babando e não percebeu que nos aproximamos - retruca Claire, o casal rindo de forma maliciosa.

—Eu não estava babando! Eu só….- Connor ameaça rebater, encarando ambos um segundo, sacudindo as mãos - Esquece. Não adianta argumentar com vocês mesmo! - diz, suspirando impaciente - Jantar mais tarde? - pergunta, olhando de Will para a  irmã alternadamente.

—Uhum. Eu levo minha beleza e o vinho - avisa o ruivo, lambendo os dedos de forma pouco educada, fazendo o cirurgião rolar os olhos.

—Eu mereço! -Connor  bufa - Tentem não se atrasar - recomenda, dando-lhes as costas sem esperar resposta, retornando ao interior do hospital.

—Sabe, se não conhecesse seu irmão diria que está interessado naquela garota - comenta o médico, Claire olhando-o de sobrancelha erguida - É que ela não parece ser, em nada o tipo dele, logo, por que a convidaria?? - argumenta, erguendo as mãos.

—Eu só não fico chateada com sua observação ...porque penso o mesmo - admite a empresária, franzindo o nariz ao fazer careta, refletindo um segundo antes de falar - Não sei o porque ou o como, mas o fato é que ela, por alguma razão, atraiu a atenção de meu irmão e confesso estar bastante curiosa para conhecê-la um pouco melhor. Quem sabe não é a cura para o dedo podre de Connor? - supõe, sorridente.

—Você é impossível, sabia? - Will declara, envolvendo-lhe a cintura - E é por isso que me apaixonei! - exclama, roubando um beijo.

—Uhum...sei. E termos nos conhecido no mesmo dia em que fomos, ambos, dispensados sumariamente por nossos respectivos pares e termos ido, coincidentemente, afogar nossas mágoas no mesmo local nada tem a ver com isso, certo? - o provoca, envolvendo-lhe o pescoço, não dando a ele chance de rebater - Na verdade isso é o que menos importa já que foi graças a isto que nos encontramos e vou agradecer pelo resto da vida! - declara, ficando na ponta dos pés para beijá-lo.

—Eu ouvi um amém?? - Will brinca, largando o sanduíche, inclinando-a para um beijo que arranca aplausos dos poucos presentes.

………………………………………..

Apartamento Connor (22:47 pm)

—Por que você não usa a situação na qual ela e doutor Charles se conheceram? Além de ser verdadeira,  ainda isenta ter de dizer que a menina é sua filha - Ethan Choi sugere, sorvendo mais um gole da cerveja enquanto encara a Connor.

—Boa idéia!  - Will anui, dobrando o pano de prato com o qual enxugava a louça - Trata-se de uma situação comum, fácil de acontecer e estaria apenas alterando os personagens  já que, de fato, a conheceu no metrô só que em outra ocasião - argumenta, coçando o queixo- Você a socorreu, depois a reencontrou na cafeteria, travaram amizade e se apaixonou. Perfeito! De tudo que pensamos até agora, me parece ser o mais viável e com menos risco de falhas - conclui, animado.

—Seria perfeito não fosse um pequeno detalhe - April diz, atraindo atenção dos homens para si - Ava Bekker - cita, provocando caretas de desagrado.

—Que tem a miss simpatia? - Will questiona.

—Tem que no período em que Sarah conheceu Daniel eu ainda não havia terminado, em definitivo, com Ava - adianta-se em responder o cirurgião, apoiando as mãos na mesa - E antes disso teve a Robin. Entre as duas, não sei se houve tempo suficiente para conhecer e me apaixonar por outra.…

—Não houve - Claire o interrompe, categórica, sem desviar atenção do notebook em seu colo - E papai não apenas soube desses relacionamentos, como conheceu ambas. Não vai colar - decreta.

—E ainda tem a menina - April recorda - Me desculpe a sinceridade Connor, mas não acho que faça o tipo que se envolve com mulheres que tenham filhos - observar a enfermeira - Ao menos não para transas de ocasião - apressa-se em dizer, Claire sorrindo discretamente ao escutá-la.

—Então não sei mais o que sugerir, além de apresentá-la como sua nova namorada - Ethan declara, abrindo os braços, encarando o cirurgião - Seria bem mais simples e sensato - pondera.

—Seria...não fosse o fato de Connor jamais ter levado namorada a alguma reunião familiar antes, o que pressupõe ela ser bem mais do que isso, e algumas pessoas que estarão presentes farão questão lembrar disto! - Claire enfatiza, fazendo uma careta de desagrado - Alguns parentes podem ser bastante desagradáveis...pra dizer o mínimo! - acrescenta, seu tom amargo chamando atenção de Will.

—Eu devo me preocupar? - quer saber o ruivo.

—Não, mas esteja preparado para algumas indiretas e diretas bem indigestas….Entre outras coisas.. - murmura a empresária enquanto digita, emitindo um rosnado baixo.

—Ela tá falando sério? - indaga o ruivo, voltando-se para Connor.

—Imagine enfrentar meia dúzia de Cornélius e saberá o quão sério é - declara o cirurgião, pegando seu celular, que vibrava com alerta de mensagem - Sarah me enviou seu número e disse estar acordada caso precise lhe perguntar algo - avisa.

—Qual a idade da filhinha dela? Em que mês nasceu? - Claire pergunta, erguendo o rosto, encarando o irmão.

—Por que? - ele devolve, enrugando o cenho.

—Só pergunta - ordena ela, gesticulando, impaciente ante a inércia dele - Anda!!.

—Ok, ok - Connor concorda com um suspiro, digitando a mensagem.

—Por que quer saber essas coisas? - April questiona-a, sentando-se ao lado da empresária.

—Para começar, está mais do que evidente que Connor não pode apresentá-la como uma conquista recente já que depois que terminou com Ava meio que virou um ermitão e mal tem sido visto fora do hospital, o que é de conhecimento tanto público quanto de nosso pai - argumenta, pondo uma mecha de cabelo para trás da orelha - Também não dá pra usar a história com doutor Charles pelos motivos já citados, logo, Sarah terá de ser alguém do passado não tão recente, mas também não tão distante, e é por isso que quero saber a data de nascimento da bebê - explica.

—Ahhh...quer montar a história partindo do nascimento da neném para que as datas não se choquem com algum outro envolvimento conhecido do Connor caso resolvam dizer que é filha dele - conclui April, sorridente.

—Exato! - confirma a empresária, estalando a língua - E nesse ponto esse período de afastamento social vai ser bastante útil já que ele pode dizer que reencontrou a Sarah, descobriu ser pai, e por isso anda mais recluso - complementa, estalando os dedos - Data por favor - exige, fazendo Connor bufar.

—Quinze de Maio de dois mil e dezenove - informa.

—A menina tem um ano e sete meses - quantifica Ethan rapidamente - O que nos leva a crer que tenha sido concebida entre Junho e Agosto do ano anterior…

—Que, coincidentemente, bate com um dos períodos em que  Connor esteve fora - informa Claire, fazendo-o enrugar o cenho - Você esteve ausente da cidade por dois períodos em dois mil e dezoito. O primeiro em meados de Maio e o segundo do final de Julho ao comecinho de Agosto. Dois congressos médicos. Um em Delaware e outro em Vegas, no qual passou mais tempo. Vinte dias, para ser exata - conta, enrugando o cenho - Por que passou mais tempo em Vegas? - quer saber, erguendo os olhos para o irmão.

—Uma cirurgia - Connor revela, sentando-se - O congresso estava terminando quando Latham ligou avisando ter me indicado para realizar o procedimento na filha de algum senador amigo dele, então tive de permanecer na cidade mais tempo para realizá-lo e para acompanhar parte da recuperação da paciente - relembra o moreno.

—Sozinho? - Will pergunta, entendendo o raciocínio da namorada.

—Sim - confirma ele.

—E o melhor: estava solteiro! - Claire relembra, batendo palmas -  Poderia ligar para a Sarah, por favor - pede, deixando o computador de lado, os olhos brilhando.

—Para...??? - Connor quer saber, olhando o quarteto, que àquela altura o encarava com sorrisos vitoriosos - Por que estou com a sensação de estar perdendo algo? - questiona.

—Só liga para ela - Claire reitera - E põe no viva voz - solicita.

—Ok - ele concorda, dando de ombros, indo para a discagem automática, aguardando-a atender - Oi. Minha irmã quer falar com você. Vou colocar no viva voz - avisa o cirurgião - Pronto.

Pois não? -Sarah pergunta, o farfalhar de folhas sendo ouvido.

—Estamos atrapalhando? - Claire quer saber, solicita.

—Não. Só estou revisando algumas notas do curso, aproveitando que cheguei mais cedo e Sofia já dormiu- tranquiliza-a.

—Certo - diz a empresária, empertigando-se - Veja bem Sarah, não quero parecer invasiva, mas para montar a história de vocês preciso de algumas informações pessoais suas, certo? - justifica-se.

—Sem problemas -responde a barista.

—Ok. Para começar, você lembra quando sua filha foi concebida? O mês e, se não se importar em partilhar conosco, em qual cidade? - pergunta.

—Claire!! - Connor ralha, incomodado.

—Ela disse sem problema - defende-se a empresária, erguendo as mãos.

—E não há mesmo - reitera Sarah - Foi perto do final de Julho, entre os dias vinte e sete e trinta e um…— conta, Claire retendo o ar e cruzando os dedos - Estávamos nas proximidades de Vegas, em um desses assentamentos só de trailers, aguardando o agente do pai dela ligar confirmando a próxima apresentação da banda - completa, fazendo a empresária saltitar alegremente.

—O pai de sua filha é músico? - Connor pergunta antes que pudesse se conter.

—É...ou era. Não sei se ainda tem a banda. Perdemos o contato bem antes de Sofia nascer -revela.

—Que tipo de som eles faziam? Rock? Pop? Você tocava ou cantava? - Will pergunta, curioso.

—Indie e eu tocava pandeiro além de ajudar nos vocais - revela ela -Algo mais? 

—Alguma chance de ele aparecer de surpresa, tipo vir visitar a filha pelo Natal? - Claire interroga, Connor calando-se quando estava prestes chamar-lhe atenção mais uma vez, ao escutar o suspiro pesaroso do outro lado da linha.

—Ele não a conhece. Nunca quis conhecer - revela a barista -  A última vez em que nos falamos foi justamente no dia em que lhe comuniquei estar grávida. Depois disso, como falei antes, perdemos o contato, ou melhor, cortamos relações -conta.

—Eu sinto muito - Claire lamenta, sincera, arrependendo-se em ter trazido a tona tais lembranças.

—Tudo bem. Foi melhor assim - declara Sarah- Algo mais?

—Não, não. Por enquanto só isso. Obrigada - agradece a empresária.

—Duplamente - Connor acresce - Me liga amanhã, quando estiver de saída do trabalho para te buscar e fecharmos tudo - pede.

—Ligo. Boa noite - despediu-se ela, desligando após o grupo desejar-lhe o mesmo.

—Eu nem conheço o cara, mas já não gosto dele. Como alguém pode não querer conhecer a própria filha? - April declara, revoltada.

—Pois é. Eu ia querer - Will assegura - E assumiria mesmo que não ficasse com a mãe - garante o médico.

—Idem - Ethan corrobora.

—Digo o mesmo - Connor sussurra, pensativo, piscando algumas vezes, olhando diretamente para a irmã ao voltar a falar - Por que ficou feliz com as respostas ? - quer saber.

—Porque a data que ela citou, quase casa com sua estadia em Vegas - Claire explica, voltando a tela do computador para ele - Vê? - aponta uma linha que destacara -E digo quase porque você chegou em Vegas dia vinte e oito de Julho e retornou a Chicago dia dez do mês seguinte, ao passo que ela já estava por lá mas não sabemos se permaneceu depois de terminar com o tal namorado - argumenta, ajeitando a mecha outra vez - O importante é que temos uma justificativa para um encontro casual entre vocês -diz, animada - Sarah estava sofrendo com o término do relacionamento com o tal músico babaca, algumas amigas a levaram para uma noitada a fim de afogar as mágoas, pelo menos é isto que eu faria por uma amiga - comenta, sorridente -, e daí ela encontra esse cara, médico, bonitão, irresistível e solteiro, que estava de passagem pela cidade e pensa: por que não?...

—Não enche a bola dele ou vai ficar insuportável!! - Will brinca, encolhendo-se ao ter o ombro socado por Connor, rindo divertido.

—Nada melhor do que um flerte sem consequências, para aquecer um coração partido! - April exclama, levando ambas mãos ao coração de forma dramática.

—Né non!?! - Claire anui, ainda sorrindo - Só que o flerte teve consequências e nove meses depois ela deu à luz uma linda menininha, minha sobrinha… - pisca freneticamente -, e suas únicas  informações a respeito do pai era ser médico e morar em Chicago - prossegue, empolgada, sentando-se ereta - Claro que, como toda mulher moderna, ela não pensou em vir atrás dele com cobranças e coisa e tal….

—Até porque deveria ter sido um rolo sem consequências - April reitera.

—Isso!! -Claire exclama, estalando a língua - Mas aí se viu obrigada, por alguma razão: doença, falta de grana ou algo do tipo, procurar por ele…

—Ou talvez  tenha simplesmente aceito uma proposta de trabalho em Chicago e cruzou com o Connor em uma dessas noites …

—Que por sua vez a reconheceu e se aproximou, acabando por descobrir ter uma filha e, lógico, se proposto assumir a menina. Desde então os dois veem se acertando sendo esta, inclusive, a razão de seu brusco, inesperado e ainda sem explicação, rompimento com a queridíssima doutora Ava Bekker bem como do aparente e recente isolamento social de meu querido irmão !! - Claire conclui, tocando a mão que April lhe estendia, ambas voltando-se para o trio, que as olhava de boca aberta.

—Elas são boas! - Ethan elogia recuperando-se antes de Connor e Will.

—E como! Até eu acreditaria se me contassem dessa maneira - Connor admite.

—Já pensaram em aproveitar esse talento sendo roteiristas? - Will sugere, a namorada piscando e lhe soprando um beijo antes de dar atenção ao irmão novamente.

— Amanhã você e Sarah tapam os buracos com o quando, o como e o onde se conheceram e como foram parar na cama, porque imaginar essas coisas é algo que nenhuma irmã deveria imaginar! - exclama a empresária, apertando os olhos e sacudindo-se energicamente - Troquem algumas informações pessoais, nada muito íntimo, afinal passaram um bom tempo longe um do outro e na noite em questão, ou noites, fica a critério de vocês, não trocaram confidências e agora estão se conhecendo melhor por causa da neném - sugere - Cabe, igualmente, a vocês decidirem se irá apresentá-la como noiva ou esposa. Só avisem para que eu e Will saibamos - pede, levantando-se - Amanhã ligo para Mathilda avisando que levará duas convidadas muito especiais  e tentarei, ferrenhamente, resistir às investidas dela por maiores informações - avisa, rindo de forma travessa, pendurando a bolsa no ombro - Preciso dos dados dela e da menina pois irei comprar  nossas passagens. Me passe documentação e qual melhor horário. Quanto mais rápido fizer isso melhor porque mesmo sendo um voo relativamente rápido, estamos às portas do Natal - alerta, enlaçando seu braço ao de Will - Acho que é tudo - pondera, tamborilando o indicador no queixo.

—Se não for, amanhã vemos o restante - Will diz, bocejando - Estou cansado e alguns de nós não poderão folgar amanhã - alfineta, ganhando um estirão de língua de April.

—Tá reclamando do que? Vai passar quinze dias longe da loucura que é o PS nos feriados de final de ano! - Ethan lembra-o, despedindo-se de Connor - Até quinta e se precisar de ajuda com algo mais, basta pedir - prontifica-se.

—Obrigado - agradece o cirurgião, acompanhando o grupo até a porta, despedindo-se, massageando o pescoço enquanto caminha para o quarto após trancar tudo, as recentes descobertas sobre o passado de Sarah mexendo com seus sentimentos de uma forma que não conseguia entender, atiçando a tal ponto sua curiosidade em saber mais sobre ela, que passa parte da noite e todo o plantão no dia seguinte em alerta, aguardando, ansioso, o telefonema dela, que acontece apenas perto das dezessete horas.

—Desculpa, mas precisava justificar meu pedido de dispensa no trabalho —justifica-se ela tão logo ele atende.

—Tudo bem. Acabei de realizar meu último atendimento e já iria te ligar para saber se poderia passar no café e te pegar - Connor afirma, vestindo a jaqueta, segurando firme a alça da mochila enquanto caminha para fora da sala de descanso.

—Pode vir. Estarei em frente ao café - ela avisa.

—Ok. Estou indo - ele avisa, desligando, seguindo direto para o estacionamento e de lá ao encontro de Sarah - Oi - cumprimenta assim que ela entra no carro - Tudo certo? - pergunta, atencioso, ao notar sua expressão taciturna.

—Uhum. Só estou cansada - mente, preferindo não comentar o quão inapropriado o carro esporte dele era para acomodar os dois e uma criança de colo, olhando-o de soslaio - Vai voltar para o hospital depois de conversarmos? 

—Não. Por hoje encerrei meu plantão - comunica ele, pondo o veículo em movimento - Para onde? - pergunta, corrigindo-se logo em seguida - Digo, qual o endereço da escola de sua filha?

—Siga quatro quadras acima, vire à direita e depois a esquerda. O segundo prédio a sua esquerda - orienta, agarrando-se, instintivamente, ao banco quando Connor acelera sem aviso prévio, o carro avançando em uma velocidade que considera assustadora - Hã… não quero ser chata, mas poderia ir mais devagar? - pede, retendo o ar no momento em que ele ultrapassa outro veículo na metade do trajeto - Por favor!! - acresce, algo em seu tom de voz fazendo-o obedecer sem questionar.

O restante do percurso é feito em absoluto silêncio, Sarah quebrando-o somente ao ter a filha nos braços.

—Acho que deveria ir de metrô e te encontrar em casa - sugere, temerosa.

—Bobagem! Por que se sujeitar ao desconforto se pode ir mais rápida e confortavelmente? - inquere Connor, olhando-a.

—Rápido é exatamente o problema!! - Sarah enfatiza, olhando dele para o carro e de volta para ele.

—Não estou entendendo. Pensei que seria bom chegarmos cedo em seu apartamento assim ganharíamos tempo - argumenta o moreno, olhando-a confuso.

—De fato, ganharíamos bastante tempo….

—Então o que estamos esperando? - questiona o cirurgião ao mesmo tempo em que abre a porta para ela com um gesto cavalheiresco, fazendo-a soprar pesada e longamente, desistindo de argumentar, entrando no carro.

Somente quando Sarah se acomoda (ou deveria dizer se espreme?) juntamente com a filha no assento do carona é que Connor entende a razão de ela ter sugerido ir de metrô.

—Desculpe - pede, envergonhado - Não tinha… não pensei que ficaria tão desconfortável para você e a pequena - admite, evitando olhá-la diretamente - Se preferir ir ….

—Tudo bem Connor. Já me ajeitei aqui. Podemos ir, mas por favor, não acelere demais - implora, distraindo a filha com um brinquedo - E reze para não encontrarmos nenhum guarda extremamente zeloso ou terá problemas - comenta, espremendo os lábios para conter riso ante a expressão dramática no rosto dele.

—Com a sorte que ando é bem capaz de acontecer - Connor murmura, pondo o veículo em movimento novamente, tentando atender ao pedido de Sarah.

Logo estão no apartamento dela.

—Fique a vontade. Vou guardar minhas coisas, banhar Sofia e já volto. A cozinha é logo ali, caso tenha sede - avisa, seguindo o estreito corredor que leva aos quartos, deixando-o sozinho.

—Certo - Connor murmura, olhando em volta, optando por sentar-se e aguardá-la retornar, aproveitando para examinar o lugar.

O ambiente em si era bastante austero e até organizado visto haver uma criança em idade de aprendizado, ele supõe, notando a estante aonde livros e revistas de designer dividem espaço com outros de literatura, gibis e livros infantis (de diversas utilidades). Erguendo um pouco mais o olhar, visualiza dois porta-retratos do tipo multifaces e outros três individuais. Em um destes, reconhece Sarah ladeada por outras três mulheres, todas muito parecidas, levando-o a crer serem suas parentes. No seguinte ela aparece, sorridente (apesar de ter, claramente, acabado de dar a luz) com a filha no colo. Os demais estão repletos de fotos da garotinha em várias fases. Em um nicho abaixo dos porta-retratos, pequenos bibelôs se acumulam, todos de figuras femininas em situações corriqueiras, como arrumar casa ou passear no jardim munida de uma sombrinha, em materiais diferentes (madeira, porcelana, vidro..). Logo abaixo da televisão (mas não muito), um pequeno aparelho de som capaz de reproduzir cds e longplays, o que o surpreende a ponto de o fazer levantar e se aproximar, examinando tanto o aparelho quanto a admirável coleção que ela possui, distraindo-se o suficiente para assustar-se quando a escuta falar a suas costas.

—Desculpa a demora. Sofia estava um pouco agitada pela mudança de rotina - justifica-se, indo direto para a cozinha - Acabei de receber mensagem de um colega de classe avisando que não haverá aula hoje, portanto poderemos conversar com calma - comunica, olhando os armários, fogão e bancada - Está com fome? Porque eu estou e se não se importar podemos ir falando enquanto preparo algo para nós, caso queira, evidente - condiciona, voltando-se para ele, finalmente.

—Não me importo e estou faminto, admito. Não comi quase nada o dia inteiro - conta, indo ao encontro dela com um longplay nas mãos - A pequena dormiu? - quer saber, apoiando-se a bancada que servia como separação de ambientes e mesa ao mesmo tempo.

—Uhum - confirma ela, separando o que precisaria para preparar um jantar rápido - Normalmente ela dorme já no trem, como viu aquele dia, e só volta acordar um pouco mais tarde, quando sente fome.  Come e dorme novamente, o que é uma benção porque com meu horário consigo dormir o restante da noite sem atropelos - completa, encarando-o - Gosta de yakisoba?

—Gosto. Ela é sempre tão tranquila? - pergunta, curioso.

—Nem sempre - diz ela, colocando as verduras e legumes em uma vasilha, lavando-as - Quando deixam, e ai me incluo, que coma doces entre as refeições da tarde, fica bastante agitada. Tirando isso, dá trabalho apenas quando está doente - completa, pegando a tábua de corte.

—Entendo - Connor diz, sucinto, erguendo o Lp que ainda segurava - Gosta de música clássica? -quer saber.

—Entre outras - ela diz, explicando-se ao ver a expressão dele - Gosto de música que te anima quando triste, te passe algo positivo quando precisa, que tenha letra e a melodia não agrida aos ouvidos - discursa, pondo água para ferver - Em outras palavras, sou bastante eclética - confessa, cortando rapidamente algumas verduras, parando, voltando-se para ele - Esqueci de avisar: não como carne. Importa-se que o yakisoba seja vegetariano?

—Sem problemas -garante, sorrindo gentil - É vegetariana? Vegana? - interroga, ajeitando-se no banco, pondo o Lp de lado.

—Não exatamente. Já fui mais radical, quando apresentada às vantagens de evitar o consumo de carnes, mas agora penso ter encontrado o equilíbrio, para o bem de Sofia - confessa, conseguindo um sorriso franco dele - Então, o que sua irmã pensou para justificar minha presença e a de minha filha? - quer saber, Connor respirando fundo antes de começar a falar.

Calmamente, ele conta a ela como fora o jantar em seu apartamento na noite anterior em companhia da irmã e amigos, explicando o porquê terem chego a um denominador comum de Vegas como sendo a melhor opção para formularem uma história crível.

—Então estava em Las Vegas no mesmo período em que eu? Que coincidência estranha!! - comenta Sarah, preparando a cafeteira.

—Estranho foi minha irmã não ter surtado com isso!! - Connor exclama, pegando seu celular, que vibrava - E por falar nela…- murmura, soprando ao lê a mensagem enviada pela irmã.

—Algo errado? - Sarah questiona, olhando-o de soslaio, notando a expressão taciturna.

—Claire comprou nossas passagens - revela - Segundo ela, teve de fazê-lo porque quase não havia mais voos para a sexta a noite. Iremos no voo das vinte e duas horas - comunica, guardando o aparelho.

—Não gostou de ela ter feito isso? - quer saber a barista, voltando-se, apoiando-se ao balcão da pia, o encarando.

—O problema não é ela ter comprado e sim….-ele para, apertando a ponte nasal, fechando os olhos um segundo, suspirando antes de voltar a falar - Eu deveria ter passado seu número a ela para que pudesse pedir seus dados, mas esqueci - assume - Nossas passagens foram compradas como se fossemos casados - revela.

—Ahh, entendi - Sarah murmurou, dando de ombros - Bem, uma decisão a menos para tomarmos- diz, concentrando-se nas panelas - Em todo o caso, seria bom você me passar o número dela para que eu possa…- interrompe a si mesma ao escutar o choro da filha - Me dê licença - pede, correndo ao quarto da menina sob o olhar dele.

Como ela demorasse retornar, Connor decide ajudá-la com a janta, dobrando as mangas da camisa, assumindo o preparo da refeição. Quando ela volta, afogueada, trazendo a filha nos braços, surpreende-se ao vê-lo na cozinha.

—Me desculpe - pede, indo a seu encontro - Não houve jeito de fazê-la dormir novamente - justifica, pondo a menina na cadeirinha apropriada, entregando-lhe um brinquedo - Desculpe por isso - reforça, parando ao lado de Connor, indicando as panelas.

—Não há do que desculpar-se, Sarah. Na verdade, sou eu quem está atrapalhando sua rotina - pede  o moreno, sorrindo amarelo.

—Não está atrapalhando tanto assim - ela declara, franzindo o nariz em uma careta graciosa ao notar que ele praticamente finalizara o preparo da comida - Te convidei para jantar e acabei te deixando na mão! Que bela anfitriã eu sou!! - brinca, pegando pratos e talheres.

—De forma alguma. Na verdade, amo cozinhar. É uma espécie de terapia para mim - revela Connor, despejando o macarrão, as verduras e o molho em um refratário, pondo-o sobre a mesa - Tomei a liberdade de pegar o vinho que tinha na geladeira e me servir uma taça - avisa.

—Sem problema. Só não te acompanho porque ainda estou amamentando - justifica-se, pegando suco para si e para a filha.

—Minha vez de dizer: sem problema - afirma ele, em tom divertido, sentando-se, servindo a ela primeiro e depois a si próprio enquanto ela serve pedaços de frutas com aveia para a filha, entregando a menina uma colherzinha plástica antes de sentar-se na cadeira ao lado dela - Sua filha me parece ser uma criança bastante tranquila - comenta o cirurgião, observando a menina enquanto come.

—Não elogie ainda. A qualquer momento podemos ter  chuva de “utas” - alerta Sarah, ambos sorrindo.

—Isso seria interessante - Connor murmura, rindo com o canto da boca sem desviar os olhos da garotinha, que comia seu lanche usando tanto a colher quanto as mãos.

Fazem a refeição em relativo silêncio, os ocasionais “uta, mama” sendo o único som a se ouvir no apartamento até o término da mesma, Sarah retomando o assunto que o levara ali enquanto lava a louça tendo-o a seu lado, enxugando-as.

—Então…- ela começa, limpando a garganta - Como, exatamente, sua irmã sugeriu termos nos conhecido? - quer saber.

—Mama, uta, mama, uta ...mais- a pequena Sofia reclama, virando o prato vazio, fazendo-a deixar a louça de lado um segundo, pegando mais frutas, cortando-as e servindo novamente a menina.

—Connor..?? - chama ante o silêncio dele.

—Hã...sim, sim - ele balbucia, distraído em observar a interação mãe e filha, sacudindo minimamente a cabeça a fim de reorganizar as idéias - Em um bar, aonde supostamente você teria ido afogar as mágoas pelo final de seu namoro - responde, apoiando-se a bancada da pia enquanto aguarda-a retomar a lavagem dos pratos - Teria saído com amigas e nos conhecemos em algum momento da noite. O resto seria a nosso critério - diz, inclinando a cabeça e acenando a menina, que acena de volta.

—O resto? - Sarah repete, colocando o prato com frutas e aveia na bandeja anexa a cadeira da bebê, retornando para junto dele.

—O resto...tipo...Como, onde, se ficamos apenas uma única noite ou mais de uma...coisas do gênero - específica o moreno, olhando de lado para ver o rosto dela.

—Entendi - ela diz, ligando a torneira, recomeçando lavar a louça, refletindo um segundo - Em parte ela estava certa. Eu realmente saí depois que contei a Daryl sobre a Sofia. Mas não para beber. Fui ao encontro da única amiga que tinha à época - conta, finalizando a limpeza da louça, começando a guardar o que ele já havia enxugado - Ela trabalhava em um cassino e fui procurá-la porque fiquei mal com a reação dele….Mal sabia que ainda iria piorar! - suspira, pesarosa.

—Ele te expulsou de ca...do trailer aonde moravam? - a pergunta sai antes que Connor pudesse impedir, e pela primeira vez em muito tempo, ele sente-se envergonhado.

—Na verdade, foi ele quem partiu - ela revela, fechando o armário - Quando contei que esperava um filho, discutimos feio porque ele me ordenou abortar - revela, Connor cerrando os punhos, contendo a raiva - Como me recusei, disse, entre outras coisas, que não cuidaria de filho algum, sendo ou não dele - relembra amargamente - Para evitar uma briga maior, resolvi ir até minha amiga e quando retornei Daryl havia ido embora. Sem bilhetes, despedidas ou um telefonema por dias a fio. Quando finalmente me dei conta que havia me abandonado, juntei o que tinha, vendi o trailer e parti - revela, caminhando até a filha, limpando-a e oferecendo água a menina.

—Veio direto para Chicago? Por que? Conhecia alguém na cidade?- questiona o moreno, decidindo não mais conter a curiosidade.

—Ninguém, e sendo honesta, não sei dizer porque escolhi Chicago - assume, pensativa - Talvez tenha sido movida por um fio de esperança em encontrar Daryl e fazê-lo mudar de idéia. Sabia que a banda teria apresentações aqui em algum momento, mas nos desencontramos - relembra - Por fim, acabei optando por ficar, arrumei emprego na cafeteria, aluguei este apartamento, comecei a estudar e isso é tudo - diz, retirando a filha da cadeirinha - Vamos para a sala - convida, seguindo para o cômodo, Connor seguindo-a, sentando-se na cadeira perto do sofá - Podemos dizer que nos conhecemos no bar do cassino, bebemos um pouco e o resto...bem eles podem imaginar - sugere, pondo a filha sobre o tapete, oferecendo alguns brinquedos a menina, voltando-se para encará-lo - O que acha?

—Concordo - anui Connor, olhando-a atentamente - E que continuamos a  nos ver durante o tempo em que permaneci na cidade - sugere ele - Falta decidir o porquê de sua vinda a Chicago porque, sendo honesto com você, não a imagino vindo à minha procura com cobranças - completa, um sorriso discreto surgindo no rosto dela.

—Não viria mesmo, fossem estas as circunstâncias do nascimento de Sofia - confirma, ficando séria novamente - Podemos dizer que vim estudar e somente então descobri estar grávida, mas ainda assim não te procurei….

—E nos encontramos por acaso, quando meu carro quebrou e resolvi ir de metrô para casa, o que torna  mais fácil a nos decorarmos - Connor completa o raciocínio dela, franzindo o cenho - Se bem que, tirando mamãe, Dulce e Mathilda, ninguém mais irá querer saber detalhes sobre como nos envolvemos...a não ser, talvez, meu pai - acresce, fazendo uma careta de desagrado.

—Devo presumir, por sua expressão, que não tem uma boa relação com ele - comenta a barista, segurando a boneca que a filha lhe estendia.

—Não boa seria ao menos a sombra de uma relação - Connor responde, amargo - Há algum tempo não nos entendemos. Não fossem minha mãe e irmã certamente já teríamos rompido relações de vez - confessa.

—Nossa. Quase tão boa quanto a minha com minha mãe! - ela deixa escapar, fazendo aspas no ar, rindo sem vontade ao notar o olhar inquisidor dele - Ela queria uma coisa para mim, eu queria outra e quando comecei a namorar com Daryl a coisa só piorou chegando ao ponto de eu fugir com ele e a banda - revela, o deixando surpreso - O restante é o de praxe: rodamos metade do país dentro de uma van, depois um trailer, até o rompimento definitivo. Neste meio tempo, mantive contato apenas com minhas irmãs e algumas vezes com meu irmão - conta.

—Meu pai também tinha o hábito de planejar minha vida e a de Claire sem nos perguntar o que queríamos. Com ela ele conseguiu, em parte, já que, de fato, minha irmã gosta de administração. Comigo as coisas foram diferentes - Connor conta, recebendo um brinquedo que a menina oferecia-lhe, sorrindo para ela - Nunca nos entendemos em relação a isto e por conta disso, pedi emancipação ao dezessete anos e aos dezoito fui embora para a Colômbia, estudar Medicina - relata, recostando-se - Depois que me formei, andei um pouco por aí até decidir retornar a Chicago, basicamente atendendo a um pedido de minha mãe. Ela sempre teve a saúde frágil - revela, perdendo-se em lembranças por alguns segundos - E quanto a seu pai? O que ele pensa sobre seu afastamento? - quer saber, arrependendo-se de ter perguntado tão logo vê a expressão no rosto dela - Desculpe. Eu não ….

—Meu pai nos deixou quando eu tinha seis anos - o interrompe - Sem cartas, telefonemas...nada - diz, igualmente visitando lembranças do passado -No começo foi difícil para nós, mas com o passar dos dias fomos nos acostumando. Sempre fomos muito unidos, meus irmãos e eu, apesar da diferença de idade, e isso fez toda a diferença- conta, sorrindo triste.

—Parece que temos algumas coisas em comum, além do gosto musical e literário - Connor diz de forma descontraída, aliviando a tensão.

—É, parece não é? - Sarah indaga, atenta a filha, que se segurava nos móveis a fim de pôr-se de pé, ensaiando os primeiros passos sem auxílio da mãe.

—Quando menos esperar, estará te dando tchauzinho e dizendo que vai morar sozinha! - brinca o  cirurgião, ambos rindo divertidos, permanecendo em silêncio durante um tempo impreciso, Connor sendo o primeiro a quebrá-lo - Está ficando tarde e ambos precisamos descansar - declara, pegando seu celular - Vou te enviar o número de Claire para que converse com ela - avisa, o fazendo de imediato - Até a sexta vamos ajustando nossa história - sugere, pondo-se de pé, ela fazendo o mesmo ainda atenta a filha - Venho buscar vocês por volta das nove, pode ser? - pergunta - Prometo vir em um carro adequado - apressa-se em dizer, arrancando mais um sorriso dela.

—Está ótimo. Estaremos prontas - avisa, segurando a menina nos braços, acompanhando-o à porta -Boa noite e  até sexta - despede-se.

—Até e boa noite- retribui o moreno, segurando a mão que a pequena lhe estendia - Boa noite para você também pequena - deseja, beijando a parte interna do braço da menina, acenando a ambas antes de entrar no elevador.

—Tomara não me arrepender em participar dessa maluquice - Sarah sussurra, retornando ao interior do apartamento, recolhendo-se com a filha.

O dia seguinte passa voando e logo a sexta chega e com ela a viagem que mudaria a vida de ambos para sempre embora ainda não soubessem disso.

Conforme combinado, Connor busca mãe e filha no horário acertado (em um carro adequado), unindo-se a irmã e Will no aeroporto. Feitas as apresentações oficiais, o grupo realiza o check in, descobrindo que o voo no qual estavam iria atrasar trinta minutos. 

Decidem então aproveita o inesperado tempo livre para tentar relaxar um pouco... até Will perceber um pequeno detalhe que escapara a todos.

—Alianças!! - o médico exclama repentinamente enquanto tomavam um lanche, sobressaltando-os - Não pode chegar com uma esposa sem aliança no dedo - repete.

—Bem lembrado amor - Claire anui após bater a palma da mão na testa.

—Precisa realmente disso? - Sarah contesta, ajudando a filha manter-se de pé e caminhar em volta da mesa - Posso dizer que não fiz questão ou algo assim - sugere.

—É uma opção, mas se já fizemos tudo tão cuidadosamente até agora, o que custa caprichar mais ?? - Claire questiona, piscando para o irmão.

—Nem vou perder meu tempo discutindo - Connor declara, levantando-se, olhando o relógio - Me ajuda? - olha diretamente para Will.

—Claro - prontifica-se o ruivo, levantando-se também.

—Fiquem atentos às chamadas - Claire recomenda enquanto o irmão e o namorado se afastam, voltando-se para Sarah e Sofia, observando, encantada, a interação mãe e filha, aproveitando o tempo para conhecer um pouco mais sobre a barista além de contar algumas histórias sobre ela e o irmão.

Vinte e nove minutos depois, a dupla retorna, no exato momento em que a segunda chamada para seu voo era feita, Connor optando em colocar a aliança no dedo dela após haverem embarcado.

—Certeza de que precisa mesmo disso? - Sarah repete, abrindo a boca ao ver a peça -Definitivamente, acha mesmo que precisa…

—Acho - Connor a interrompe, fazendo a aliança, lisa e relativamente simples (não fosse o pequeno diamante no centro) deslizar no dedo anelar de Sarah, rindo com o canto da boca por ter acertado o tamanho - Vantagens de um olhar clínico - gaba-se o cirurgião, colocando ele próprio a sua - Eu sei que parece meio assustador já que dá um tom mais oficial a coisa toda - diz, cuidadoso -, mas Will estava certo. Não pareceria real sem alianças. Minha família saberia que algo estava errado. Não seria...eu, entende? - indaga.

—Acho que sim - Sarah responde, ainda sob o impacto da peça - Poderia ter escolhido algo mais simples - protesta a barista.

—Essas foram a mais simples! - Will, que escutava a tudo, diz, voltando-se para eles -Se visse algumas das que ele escolheu teria dificuldade para falar por uns bons dias. Acredite. Eu tive! - exclama o médico, piscando antes de se voltar para a namorada.

—Certo. Mas quando terminar, te devolvo - Sarah avisa, ajustando o cinto e cobrindo a filha, que adormecera tão logo se instalaram nas poltronas.

—Não se preocupe com isso agora - Connor aconselha, arrumando-se melhor ao lado dela - Apenas relaxe e aproveite o voo. Melhor estarmos descansados para enfrentar o primeiro round - aconselha, fechando os olhos, adormecendo quase que imediatamente enquanto Sarah permanece acordada ainda alguns minutos, observando-o, pensando o quão estranha aquela situação era e que precisava ter cuidado pois seria muito fácil se apaixonar por ele….

Continua

“...Yeah, you got that something;

I think you’ll understand; 

When I say that something;

I wanna hold your hand;

I wanna hold your hand;

I wanna hold your hand…”










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Notas finais do capítulo

E por hoje é só! Nos vemos semana que vem.
#sepuderfiqueemcasa
#seforsairusemascarasempre
#apandemianãoacabou
#seprotejaeaquemvoceama



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