Forget me not escrita por Lua Chan


Capítulo 7
Capítulo 06




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DE TODOS OS MÉTODOS inconvenientemente peculiares de Ossário transformar sua vida em algo miserável, Luke não imaginava que assistir seu melhor amigo se agonizar em dor enquanto estava perfeitamente incapaz de fazer algo fosse um deles. Ele estava ciente das capacidades do Mestre Fantasma, principalmente quando apenas a raiva destilava seu coração de pedra, mas Ossário nunca havia sido tão radical quanto a suas possessões até agora. Afinal, Luke sabia que naquele momento ele mesmo era o grande responsável por Alex se encontrar naquele estado de latência interminável.

Esse era um dos efeitos colaterais das constantes possessões do Mestre Fantasma – além da formação de cacos de memória e de ter a sensação de alguém violar sua privacidade. Por deter uma fonte de poder inigualável, a mera presença de Ossário conseguia causar diferentes níveis de desconforto em qualquer fantasma inexperiente que cruzasse seu caminho. Era como um natural detector de fantasmas e, por Luke ser o receptáculo da consciência do mestre, ele também detinha tal habilidade. Enquanto estivesse possuído, o garoto teria pena de qualquer fantasma novato que se aproximasse dele. Isso dificultava ainda mais as coisas, pois mesmo que quisesse ajudar Alex, somente o ato de se aproximar dele causaria mais dor ao amigo.

Culpa, não é? — a voz de Ossário reverbera em seu cérebro, quase como se estivesse esmagando-o. Pelo menos o público não parecia notar suas caretas de dor enquanto tocava — É uma palavra que parece de seu feitio, sr. Patterson.

Sob as pálpebras cerradas, o garoto consegue sentir as mãos coléricas do Mestre Fantasma se fechando ao redor de seu pescoço, tornando o ar em seus pulmões mais rarefeito conforme o tempo passava. A cada momento em que se imaginava correndo para ajudar Alex, as mãos invisíveis apertavam mais ainda, inundando as maçãs do rosto em tons arroxeados vivos.

— E-Eu... — ele sussurra, baixo demais para os microfones poderem captar. Insuficiente demais para se opor a voz inabalábel do Mestre Fantasma em sua cabeça — P-Por favor, p-pare...

Continue seguindo o acordo, meu garoto, e não teremos incovenientes como esse. — Luke sente como se Ossário estivesse apontando um dedo esquelético para Alex. Por algum motivo, um arrepio se propaga em sua espinha — Quer ajudar seu amigo? Então me obedeça. Você não tem nada a perder.

Um suspiro esganiçado se interpassa entre os lábios de Luke, incapazes de pronunciarem novas palavras enquanto o peso em seu peito se diminuía.

Mesmo em meio as táticas dolorosamente persuasivas de Ossário deter o controle, o garoto tentava recobrar a consciência para analisar a estrutura do palco e poder correr em direção a Alex. Ele solta um palavrão para o ar ao perceber que chamaria atenção demais para si caso saltasse de uma altura de aproximadamente 2 metros até o chão. Pelo menos ainda havia a rampa lateral, próxima de onde Silver tocava em seu teclado – se pudesse ao menos aproximar do tecladista, conseguiria chegar até o amigo.

O peso retorna a preencher os pulmões. Ele sabia que não estaria livre daquela sensação até se desvencilhar da ideia de salvar Alex, mas não podia abandoná-lo. O garoto finalmente sente os olhos de Ophelia pairarem sobre sua nuca, como se estivesse seriamente pensando no que estaria acontecendo com ele – por breves instantes Luke se permite se irritar com a garota vitoriana, lembrando que ela mesmo conseguia ver Alex se contorcendo, mas não fez nada a respeito.

Ele só queria gritar. Para Ophelia. Para si mesmo. Para Ossário.

Alex! — uma voz feminina brande na multidão, atiçando ainda mais o nervosismo de Luke. O guitarrista força seus olhos cansados a nadarem por várias cabeças até encontrar uma garota negra, levemente baixa, em seus cabelos ondulados esvoaçantes pelo vento. Ela certamente conseguia ver Alex, mas Luke não fazia ideia de como — Aguente firme!

O som explode pelos amplificadores do palco. Luke quase se esquece que seus dedos nervosos dedilhando a guitarra contribuíam para ornar parte daquela melodia. Sua mente agora se dividia entre tocar, livrar-se do domínio de Ossário sobre seus movimentos e observar a misteriosa garota que parecia ser sua estrela guia naquele momento de dúvidas e dor. Naquela altura, ela já havia ordenado um burburinho de pessoas se afastarem de Alex – um ponto invisível no meio do nada – e tentado tocá-lo numa tentativa de tranquilizá-lo. Agora ele tinha certeza que a garota era uma corpórea – Alex era intangível em suas mãos. Mesmo assim, ainda tinha algo diferente nela...

Como um corpóreo conseguiria ver um fantasma?

Luke estava tão concentrado em seus devaneios que mal notou Ophelia se aproximando de seu microfone para lançar ao público uma amostra de sua voz encantadora. A boca dela estava tão próxima da sua que o garoto quase pode provar o cheiro de horletã em seus lábios – mas esse era um pensamento que poderia reservar para depois. No momento a garota apenas se preocupava em finalizar seu solo e puxá-lo para longe das luzes, quando eles finalmente estariam no fim da apresentação.

— Espero que esteja satisfeito. — a voz de Ophelia, muito menos aterradora que a do pai, se arrasta com tons de irritação notáveis — Eu avisei que Ossário não toleraria suas rebeldias para sempre.

— O que você quer que eu faça, Ophelia? — ele grunhe, parando para se recompor num suspiro exasperado — É meu amigo logo ali, sabia? Avise a seu papai que nosso acordo não inclui que alguém que eu ame se machuque nas mãos dele. Só minha liberdade e a dele estão em jogo. Espero que ainda lembre disso.

— Luke...

Ele poderia se forçar a ouvir as lamúrias da garota por mais tempo, mas ainda tinha um amigo para tentar salvar. Após ser puxado pelas mãos frias da filha de Ossário e guiado até o centro do palco para fazer uma mesura ao público, Luke corre para os fundos com uma energia que não imaginava possuir em anos.

 

. . .

 

Ela não ligava para as reclamações das pessoas quando repentinamente gritou para se afastarem de um espaço vazio no meio do nada, que para seus olhos seria Alex. Julie apenas queria garantir que o amigo pudesse ficar bem em breve e que ela e os outros conseguissem correr para bem longe desse pesadelo. Pela primeira vez da tarde, Luke não era o centro de seus pensamentos, muito menos Flynn e Reggie, provavelmente perdidos no meio da multidão tentando encontrá-la. A primeira coisa que brilhava no fundo de sua mente era: o que poderia fazer para tirar a dor de um fantasma.

Certamente o Google não tinha as respostas do que havia causado dor, mas não lembrava de nada além dos carimbos de choque de Caleb – uma alternativa que a esse ponto seria impossível, visto que Reggie, Alex e até Luke haviam se livrado dele há muito tempo. Ainda que repleta de questionamentos, ela sabia que tinha que fazer algo e rápido.

— J-Julie? — Alex sussurra, menos arqueado que antes, mas ainda parecendo estar arrasado — Julie, eu... eu me sinto...

— Não fala nada, Alex. Eu prometo que vou te tirar daqui.

Outra promessa quebrada, pensou a jovem Molina, balançando a cabeça como se assim conseguisse afastar os pensamentos perturbadores que estavam estragando o dia – por que ela teria escutado Reggie e Alex implorando para irem ao show?

Julie fica em pé, com metade da atenção jorrada para o amigo e outra para a multidão, na tentativa de encontrar alguma solução eficiente no meio de tantas pessoas. Ela sente o sangue ferver sob a pele quando seus olhos fecham tentando abraçar o fraco sentimento de esperança que vibrava em seu coração como uma chama. Estranhamente, a sensação parecia ficar cada vez mais viva, quase como se pudesse tocá-la e sussurrar em seu ouvido.

Ainda mais.

Ainda mais viva.

Ainda mais viva e quente.

É o que sente quando uma mão recosta em seu ombro com uma delicadeza que não esperava de alguém numa multidão tão fervorosa como aquela. Julie teria dúvidas se seria Flynn ou outro corpóreo até que ouviu a voz que reconhecia em qualquer lugar.

— Por favor, moça... me deixe ajudá-la.

Com uma aura perfeitamente acabada e desesperada, a garota vê Luke Patterson pondo-se a sua frente.

 

 


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Notas finais do capítulo

Se eu fosse a Julie teria dado uma surtada rsrsrs
Pra mais sofrimento do Alex e da Julie, me acompanhe nos próximos capítulos :))
Até loguinho ♡



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