Meu nome é Nirvana escrita por belle_epoque


Capítulo 11
A Noite Ainda Não Terminou


Notas iniciais do capítulo

Olá
A quanto tempo!!
Espero que gostem!! Bisou ♥
Belle.Époque



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Você achou que essa foi a parte mais inacreditável da noite, não foi?

Tenho certeza que até aqui você acredita que não há mais nada de impossível que possa ter acontecido no memorável aniversário de dezesseis anos de Nirvana Trindade. Só tenho uma coisa para lhe dizer: “achou errado, otário! ”. Meu aniversário ainda não acabou, então senta aí.

Após nadar pelo que deve ter sido uns bons minutos, até a casa no lago mais próxima, cheguei à uma construção tão ou mais chique do que a casa de Guto Macciani. Diferente da casa dele, essa não tinha aspecto de chalé. Era uma mansão, sem disfarces, sem ressalvas. O deck aportava um pedalinho e um caiaque, nos quais eu me apoiei porque já não aguentava mais sentir agulhas na minha pele e queimação nos meus músculos.

Eu respirei um pouco, aliviada. Cansada de tamanho esforço físico e do frio.

Meu queixo batia com força e eu tinha certeza que meus lábios deviam estar roxos, já que meu batom e minha maquiagem poderosa devem ter se desfeito na água. Aí estava um bom presente de aniversário que seria bem-vindo: maquiagem gótica à prova d’água Era para isso que a tecnologia cosmética estava avançando e de repente eu me senti muito obsoleta.

Não sei como eu não morri de hipotermia essa noite.

Estava tão distraída com o frio e com a dor, que não percebi o grupo de garotos reunidos no deck de alvenaria da casa. Só percebi quando era tarde demais para eu me esconder. Que foi quando um deles gritou:

— EI! Tem alguém ali!

Soltei um palavrão. Não queria que ninguém me visse naquele estado.

Tentei me esconder de novo na água, mas eles se aproximaram rápido pelo deck e antes que eu conseguisse me esconder, um garoto meteu a mão e segurou o meu braço.

— Ei, você está bem?! Quem é você?! — ele perguntou.

Então... surpresa: o garoto que me segurou pelo braço era Silas! Lucas Silas!

Lembram-se dele?

Olhei para ele, chocada.

E ele olhou para mim... sem me reconhecer. É. Eu sei. Por um momento senti uma pontada de decepção no peito porque eu achei que seria algo do tipo “é, eu soube que era ela no instante em que nossos olhares se encontraram”..., mas ao mesmo tempo era bom que não houvesse sido porque... você sabe.

“Mc” e “Brinquedo” seriam o nome dos nossos filhos? Errr... não.

— Meu deus! Nirvana?! — ele gritou.

E quando me reconheceu, ele quase me soltou de susto.

Juro que cheguei à afundar na água, antes dele me segurar de novo mais uma vez e me puxar para o deck, onde eu podia ter algum apoio. Diferente da casa de Guto, cujo deck ficava há pelo menos uns dois metros acima do lago, sendo sustentado por palafitas, apenas por uma questão estética. O deck desta casa era quase do mesmo nível do lago, sendo ligado à mansão por uma escada robusta. Provavelmente por isso eles haviam me visto e chegado tão rápido.

— Você a conhece? — um dos garotos perguntou.

— Pode-se dizer que sim... — Silas respondeu, parecendo estar em choque. — O que você está fazendo aí? Não sabe que a água é imprópria para banho?!

Não, eu não sabia.

Mas obrigada por terem me avisado antes de eu me atirar lá dramaticamente.

— Tire-a daí logo. Depois você faz perguntas, idiota — um garoto mandou. — Ela deve estar morrendo de frio. Se fosse um cara nem teria mais bolas.

(Se eu não estivesse morrendo de frio na hora, eu teria caído na gargalhada)

Silas concordou com a cabeça e me estendeu suas duas mãos para me ajudar a sair da água. Foi quando eu hesitei e olhei para os outros quatro garotos que o acompanhavam. Acredite, eu podia ser uma garota impulsiva e um pouco maluca, mas a última coisa que eu queria era que cinco garotos me vissem de sutiã (irônico já que uma festa inteira havia me visto assim, não é?).

— Eu s- saio, s- se eles se v- virarem — eu mandei, gaguejando de frio.

Silas hesitou, como se não houvesse entendido, mas de repente, todo mundo entendeu ao mesmo tempo, e seus amigos se viraram de costas, soltando risadas de incredulidade. Como se não acreditassem que havia uma garota perdida no Lago Clementine e que ela estava saindo de lá em poucas roupas.

Talvez os boatos de eu ter nadado pelada houvessem vindo daí.

Então eu saí da água. E sair de lá parecia mil vezes pior do que ficar lá dentro. O vento era implacável e cortante. Fazendo-me eu me encolher quase que de imediato. Percebendo meu desconforto, Silas pegou o casaco que ele havia jogado no chão (para meter a mão na água e me tirar de lá) e me estendeu para que o vestisse. Melhorou um pouco, mas o frio ainda era quase insuportável.

— Hum... g- ganhei um boné, a- agora um c- casaco... da p- próxima vez eu g- ganho o quê? — eu brinquei, apesar da voz gaguejante.

Isso soou como um flerte para vocês? Porque eu juro que só estava tentando ser engraçada e quebrar aquele momento totalmente mortificante. Ele havia acabado de me ver molhada e de sutiã bege! Tem algo pior do que isso?!

Pelo menos, ele deu uma risada divertida.

Seus amigos riram também, vendo que já podiam se virar.

— Temos muitas perguntas para fazer... mas vamos entrar antes. Está muito frio e você deve estar morrendo — o que parecia ser mais velho dos garotos disse.

Ele era alto e musculoso, de cabelos castanhos e olhos verdes.

Primeiro eles me levam para o quarto de hóspedes, onde me mandam tomar uma ducha porque, como Silas havia dito, a água era imprópria para banho! (Meu deus, que nojo Nirvana, que nojo!). Eu tomei uma ducha quente, que dissipou todo o frio que senti alguns minutos antes, e tentei limpar meu cabelo da melhor forma que eu podia naquele momento. Me enxuguei com uma toalha que estava ali e então voltei a vestir minhas roupas íntimas molhadas, sem os shorts, e apenas com o college de Silas.

Quando voltei a encontrá-los, eles estavam reunidos na enorme sala de estar. Era um cômodo feito apenas para receber os amigos, conversar e beber, decorado com sofás, poltronas e equipado com um minibar moderno. Não muito longe, vi um cômodo de portas largas e abertas que parecia ser uma sala de televisão. Era um ambiente escuro, com um sofá largo e confortável.

— Aí está ela, a nossa sereia — um dos garotos me provocou. — Melhor?

Ele era esguio e atlético, alto também, com os cabelos raspados e olhos escuros.

— Pelo menos eu parei de tremer — eu respondi, dando de ombros. — A propósito, eu não disse, mas me chamo Nirvana. Nirvana Trindade.

— Silas estava nos contando que foi você quem nos assustou ano passado — outro garoto disse, divertido, estendendo a mão para um cumprimento. — Ele disse que foi ideia sua nos assustar daquele jeito.

Eu dei uma risada sem graça.

Aparentemente, era o mesmo grupo do teste de coragem.

— Eu pensei: se é um fantasma que eles querem, é um fantasma que eles vão ter — eu confessei, dando um meio sorriso. — Na verdade, só tive a ideia depois que Silas disse que eu parecia uma assombração. Pensei: por que não?

Eles não estavam bravos comigo, na verdade, lembravam-se daquele dia com nostalgia e diversão. Provavelmente porque sabiam que foi tudo mentira. Como quando mamãe costumava me assustar quando eu assistia meus filmes de terror e eu adorava aquela sensação.

Eles se apresentaram: o mais velho se chama Luiz; o garoto do cabelo raspado se chama Davi, e então tem Vincente, o mais baixo do grupo de cabelos castanhos e olhos azuis, e Ronaldo, um garoto moreno de olhos escuros e cabelos crespos, e então tinha Silas. O famoso Silas: alto, de pele pálida, cabelos negros e olhos cinzas como um céu chuvoso. A perfeita mistura de Nat Wolff e Noah Centineo.

Eles pediram para que eu me sentasse perto deles, perto do aquecedor, então eu fui para lá. Como Silas era a única pessoa que eu conhecia, me sentei do lado dele no sofá. Usando-o como barreira para um garoto mais velho, Ronaldo, enquanto os outros se dividiam em duas poltronas e mais um sofá.

Aí eu pedi para que ele me emprestasse o celular, claro, porque eu precisava falar com a minha amiga para ela me trazer minhas roupas... e isso os fez cair na gargalhada e soltar um “é claro”.

Foi quando a pergunta foi feita: como eu fui parar no lago.

Hesitei, confesso, sem saber se devia contar a verdade ou inventar algo mirabolante e fantasioso. Mas aí eu percebi que eles acabariam sabendo, mais cedo ou mais tarde.

— Bem... aparentemente, Augusto Macciani deu uma festa de aniversário para mim, mas não me convidou porque ele queria me humilhar, como ele sempre faz desde o jardim de infância. Eu fui mesmo assim e ele disse que, para eu ir embora, eu teria que me ajoelhar e admitir que ele era o tal e blá blá blá. Falei “prefiro morrer a perder a vida” e me joguei no lago.

Ao fim da minha resposta os garotos estavam se dobrando de rir.

— Espera... você se atirou no lago Clementine... para não ter que se ajoelhar e admitir que Guto é o foda? — perguntou o mais velho, como se não acreditasse.

— Eu prefiro pegar uma doença do que inflar o ego daquele garoto insuportável, sim — confirmei. — Era uma questão de honra...

— Quem liga para o ego dele, ele fez um aniversário para ela e não a convidou! — Um dos garotos, Vincente, disse se dobrando de rir. — Tipo... que merda cara!

— Que ideia de gente desocupada que não tem uma conta para pagar — zombou outro garoto, Davi, o de cabelo raspado.

Silas, apesar da vontade de rir, não o fez. Ao invés ele perguntou:

— Então hoje é seu aniversário?

— Tecnicamente, ontem foi meu aniversário de dezesseis anos — eu respondi.

Àquela altura eu tinha certeza que passava da meia-noite.

Eles discutiram um pouco mais sobre isso tudo, e me desejam parabéns. Enquanto falavam, percebi que alguns garotos eram do time de basquete também, logo, eles provavelmente conheciam Guto. E mesmo assim, me surpreendi que não tivessem ido para a festa dele, que ficava a apenas algumas casas de distância. Quando eu perguntei sobre isso, eles reviraram os olhos.

— Já passamos da época de festas sem sentido na casa de um riquinho — foi o que respondeu, Davi. — A única festa da qual participamos hoje em dia são as reuniões na casa do Luiz...

— Eu acho Guto insuportável — Ronaldo disse.

— Boatos de que o time de basquete não é mais o mesmo depois que eu me formei no ensino médio — Luiz provocou, com um sorriso presunçoso.

Foi quando eu percebi que aqueles garotos eram veteranos. Eles não são garotos da minha turma, são caras mais velhos. Aparentemente, Luiz e Davi já haviam se formado, enquanto Silas, Vincente e Ronaldo deviam estar no último ano do ensino médio, pois são garotos dois anos mais velhos que eu.

Por algum motivo, me senti como se tivesse enfim encontrado o clube de “odiamos Guto Macciani” que eu sempre esperei encontrar e essa sensação quase me deu vontade de chorar e de abraçar todos eles.

— Por que você e o Guto brigam desde sempre? — Silas perguntou.

Eu dei de ombros.

— Ele é incapaz de me deixar em paz. E eu cansei de fingir que ele não fala nada para mim — eu confessei, um pouco desconfortável. — Parece que ele faz questão de ser desagradável comigo. Só comigo. Sempre foi assim.

Os garotos franziram o cenho e trocaram olhares, mas então a campainha tocou.

— Deve ser entrega para você — Luiz me provocou.

Ele sumiu por alguns minutos e então reapareceu com uma Cibele intimidada que trazia um saco onde havia colocado todas as minhas roupas. Quando ela me avistou, correu até mim e disse da maneira mais espontânea que podia ter feito:

— Você é maluca, Nirvana! De verdade!

Minha resposta foi um dar de ombros e um sorriso convencido.

Eu sabia que era.

— A propósito, da onde vem o seu nome? Nirvana — Silas pergunta de repente, curioso. — É por causa da mitologia ou por causa da...

— “One baby to another says I’m luck for meet you”! — eu cantei, interrompendo-o. — Era a música preferida dos meus pais... e como eles eram um casal maluco, acharam que seria legal chamar a filha de Nirvana, como a banda.

Silas sorriu, divertido.

— Então eles tiveram dois motivos para te chamar de Nirvana — Luiz comentou.

Olhei para ele, confusa.

— Se seu aniversário foi ontem, cinco de abril, significa que você nasceu no dia em que Kurt morreu — ele explicou. — Não sei se foi de propósito, mas é irônico.

Sim, eu confesso que eu não sabia dessa informação.

Eu já havia pesquisado sobre o Nirvana, quer dizer, o suficiente para saber que o baterista deles agora era o vocalista do FooFighters e tudo o mais, até mesmo comecei a gostar das músicas, mas eu não sabia que Kurt havia morrido no dia do meu aniversário. Que macabro. Nem fui capaz de comentar sobre.

Eu apenas pedi licença e fui para o banheiro, vestir minhas roupas, mesmo que eu tivesse gostado de usar o casaco de Silas.

Quando me levantei, Silas reparou na cruz que eu desenhei na minha coxa.

— Que legal isso aí — ele disse.

Sim, meu coração deu um pulo como uma menininha apaixonada.

Porque isso significava que ele estava olhando para as minhas pernas.

— É? Eu que desenhei —respondi como se isso fosse nada.

— Você desenha bem — ele disse.

Novamente, meu coração pulou como uma menininha apaixonada.

 


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