Meu nome é Nirvana escrita por belle_epoque


Capítulo 12
A Melhor Noite DE Todas!!


Notas iniciais do capítulo

Prepare-se para a encrenca
Encrenca em dobro!
Bisou♥
Belle.Époque



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Então fui trocar de roupa. Vesti minhas roupas secas e quentes novamente e fiquei aliviada por Cibele ter trazido até mesmo meus coturnos. Por um instante, confesso que tive medo de que Guto fosse tão... imbecil que não a deixasse pegar as minhas roupas, mas ela me falou que pegou enquanto ele não estava olhando, então começou a me ligar feito desesperada, só para constatar que meu celular havia ficado no bolso do vestido.

Ela me acompanhou até o quarto de hóspedes e ficou falando sobre o como Guto ficou furioso com a minha saída triunfal. Quer dizer, ele não esperava aquilo, e todo mundo achou o máximo eu pular no lago e sumir depois. Como uma criatura aquática. Essa agitação tomou a festa toda e não pararam de falar nisso até quando ela foi embora.

— Ok, mas eu quero saber o DaniBele — eu a interrompi, colocando o meu vestido. — Meu ship está vivo? Sobre o que vocês falaram? O que ele falou? Me conta tudo desde o início.

Ela ficou vermelha, como se estivesse tentando não falar sobre isso.

— Depois que você me jogou em cima dele... — ela começou, me censurando com o olhar. — Eu fiquei muito sem graça e ele achou que fosse algum bêbado querendo arrumar confusão, mas então ele viu que era eu e disse: “ah, nossa garota, você quase levou um soco de graça”, ai eu falei: “por favor, não me bata, não sou uma Dora Milaj e não sei me defender”, então ele riu porque entendeu a referência.

Eu revirei os olhos.

Ah, os adolescentes e suas referências da cultura pop.

— Então nós começamos a conversar sobre... bem, sobre coisas. Ele disse que não se acha parecido com Michael B. Jordan e eu falei: “como não?! Você tem espelho? ”. Até que chegou um momento em que ele perguntou porque nunca me viu no colégio e eu falei: “Como você nunca me viu? Eu ando colada com a Nirvana...”. É possível que alguém implique com você, mas sequer note minha presença ao seu lado, Nirv? Eu achei que não até falar com ele.

E ela parecia triste quando disse isso.

Infelizmente, apesar de bonita, não havia como negar que Cibele é uma garota apagada. Não que houvesse algo de errado em passar despercebida, às vezes era tudo o que eu queria..., mas é como minha mãe me disse há muito tempo: “nenhuma garota boa faz história”. No fim do ensino médio de quem as pessoas se lembrariam? Nirvana ou Cibele?

Bem, as pessoas que importavam, se lembrariam de Cibele.

— Pelo menos ele te percebeu hoje — eu disse, tentando animá-la. Lembrá-la do que realmente importava. — E vocês se deram bem, não foi?

— Ele é legal... muito legal — ela disse, como se não acreditasse.

Eu também não acreditaria, já que ele andava com Guto, por isso era bom dar o benefício da dúvida, às vezes. Se eu supusesse que todo jogador de basquete popular seria um babaca como Guto, Silas também seria um babaca e até agora, ele havia se mostrado o oposto disto com seus amigos.

A questão é: acho que a frase “diga-me com quem andas e eu te direi quem és” era uma mentira. Veja bem, Cibele andava comigo e isso não fazia dela uma garota impulsiva e respondona. Logo, era possível que existissem pessoas não-babacas que andassem com o rei da babaquice.

Estou certa? Claro que estou.

— Quando disse a ele que eu andava com você, foi quando ele perguntou se você havia vindo também e disse que você tinha que ir embora porque você estar ali era o que Guto queria — ela contou.

Eu concordei com a cabeça, calçando minhas meias e meus coturnos. Então parei e olhei para ela:

— Espera... vocês falaram que ele ia me fazer uma coisa e acabou que ele fez outra — eu comentei. — Será que Daniel mentiu para você?

Ela negou com a cabeça.

— Guto mudou de ideia, porque viu que Daniel e eu estávamos falando com você — ela respondeu.

É. Para ter aquele fim desastroso ele deve ter improvisado mesmo.

Quando voltamos para a sala, eu devolvi o casaco para Silas e ele se ofereceu para nos acompanhar até em casa. Dessa vez, no entanto, Luiz chega a lhe dar as chaves do carro dele e pedir para que Silas dirija porque era “mais rápido” e “mais seguro”. Er... para quem?

— Desculpa, quantos anos você tem? — perguntei à ele.

— Hum... quase dezoito — ele disse com um toque de incerteza.

— Como isso é mais seguro? — perguntei à Luiz.

— Garota, a gente dirige desde os dezesseis aqui — ele riu. — É só ele não passar por nenhuma blitz que é suave.

Cibele abriu a boca em choque (não sei se era pelo convite ou se era porque estávamos falando de Silas ou pelo absurdo daquela situação), mas lhe dei uma cotovelada para que não parecesse uma caloura antissocial, e fingisse que estava tudo bem. Mais um dia normal na nossa adolescência.

Você está preocupada com regras? — Nat Centineo pareceu achar engraçado e cruzou os braços. — Ouvi dizer que você era do tipo que as quebrava e....

É. Eu realmente tinha uma fama que me seguia.

— Tá bom! — resmunguei. — Mas quero deixar registrado que acho que cara que dirige antes dos 18 um bando de babaca. Tenho dito!

Eles apenas riram. APENAS. RIRAM. E nos despedimos educadamente de seus amigos e eles se despediram efusivamente, me abraçando e brincando:

— Da próxima vez que decidir atravessar o lago, pode chamar a gente. Somos uma boa companhia.

Eu dei uma risada.

Pior que eles eram uma boa companhia mesmo.

.

Sim, eu sei que não deveria ter entrado num carro dirigido por um cara que está legalmente proibido de tirar carteira de habilitação. Mas, em minha defesa, poxa... me dá um desconto, tá? Eu havia acabado de pular num lago a menos de 12º e congelado até os ossos, além de ter nadado por meia hora. Me desculpe se eu estava cansada demais para andar até o ponto de ônibus mais próximo.

É claro que o carro de Luiz era um Jeep Land Rover que, na minha opinião, é carro de riquinho metido à besta. Mas pelo menos era limpinho. E, para a minha surpresa, Silas passou o caminho todo conversando com Cibele sobre tudo e sobre nada, e ela ficou muito sem graça porque nem em mil anos se imaginaria conversando com ele: o cara mais velho e muito popular.

Caras do terceirão, né?

Parece um upgrade na vida de qualquer garota do primeiro ano.

Quando ele parou em frente à casa dela, minha melhor amiga mostrou um pouco de receio em descer. Em me deixar sozinha com ele. Mas, sinceramente, se Silas quisesse se aproveitar, teria o feito quando eu estava apenas usando o seu casaco..., não que ele quisesse... eu espero.

Parando para pensar na situação toda, percebi o quanto eu fui idiota. Quer dizer: eu havia aceitado a hospitalidade de um grupo de cinco caras e usando apenas roupas íntimas... Foi irresponsabilidade minha. Com tantas histórias horríveis que ouvimos por aí, eu tive sorte por ter encontrado caras legais.

Eu estaria perdida se eles não fossem.

Vou deixar uma nota mental para mim mesma para não contar sempre com a bondade dos outros. Apesar de que, morar em cidade pequena, faz isso comigo.

— Eu vou te ligar quando chegar em casa — eu disse, para tranquilizá-la. Então para tirar graça com ela eu disse: — A gente tem que falar sobre aquilo.

Cibele ficou vermelha que nem um tomate.

Sabia muito bem ao que eu me referia.

— Tá... vou esperar — ela respondeu, sem graça.

Antes de ir embora, ela se virou para mim e disse:

— Essa noite foi divertida... obrigada.

— Essa noite foi maravilhosa! — eu a corrigi.

Ela riu, acenou para Silas, e então foi embora.

É claro que bateu um nervosismo quando fiquei sozinha com ele no carro. Quer dizer... a gente nunca se falou desde que nos vimos aquela vez. Nos corredores nos cumprimentávamos, mas nunca era algo do tipo: “vamos ser amigos!” Silas tinha seus próprios amigos e as garotas do terceiro ano que, sem dúvida, davam em cima dele feitos abelhas no mel.

— Como vai o seu clube? — ele perguntou, para puxar assunto.

— Bem — eu respondi. — Mas as casas antigas estão acabando. Talvez eu deva passar para drogas mais pesadas.

Ele deu uma risada, divertida.

— Drogas mais pesadas? Quais seriam?

— Cemitérios.

Ele riu como se achasse que eu estivesse brincando.

Esse cara não me conhece mesmo, né?

— Espera, você está falando sério?

— Claro! — eu respondi, empolgada. — Você já deu uma passada no cemitério da cidade? Aquele que fica numa colina? Meu deus! Há lápides e mausoléus muito interessantes... como templos antigos. Quero saber tudo sobre eles e sobre as pessoas que foram enterradas ali.

Eu sei que falo como uma maluca.

Sei que muita gente pensa que eu sou uma maluca nessa cidade e até mesmo Silas me olhou como se eu tivesse algum problema mental. Eu só pensei que o sentido da morte não devia ser cair no esquecimento. Também devia ser algo a ver com aquela palavra “monere”. Rememorar. Lembrar.

Pareceu fazer sentido para mim.

Mas aí ele sorriu para mim... e me senti um tipo bom de maluca.

Um tipo... interessante.

— Sabe que é a primeira vez que eu te vejo sem maquiagem? — ele comentou.

Aí eu me senti envergonhada e o ser mais feio do planeta.

Obrigada por ter me lembrado que minha maquiagem PER-FEI-TA havia se desfeito no lago. Queria que ele tivesse me visto antes. Com as sombras, o delineador, o batom... mas ele só viu a eu-sem-graça. Passei minha mão pelo rosto, envergonhada. Me sentindo vulnerável e nua sem os cosméticos.

Como se eu fosse apenas uma garota comum de cabelos pretos.

— Pareço... normal, né? — eu disse sem graça.

E então... ele disse a única coisa que poderia ter consertado todo aquele clima.

— Não... diferente. Alguém como você jamais poderia ser “normal”.

Meu coração deu um pulinho no peito de novo.

E eu sorri.

— Góticos não deviam usar preto? — ele perguntou, mudando de assunto. — Por que você gosta de usar branco?

Eu olhei para mim mesma, um pouco confusa.

— Sei lá... — admiti. — Eu só... me sinto como uma mocinha dos filmes antigos. Quando eu pesquisei sobre a cultura gótica, há uns três anos atrás, por exemplo, fui parar em alguns exemplos interessantes. Atrizes antigas... como Theda Bara, foi quando eu percebi que, bem, em A Família Monstro, Lily Monstro não usa preto... então não é só uma questão de vestir preto. É o conjunto todo! O que é bom, porque, por mais que eu goste de preto, o branco combina comigo melhor. Me sinto como um fantasma vagando por aí e...

Silas apenas concordava com a cabeça, devagar.

—... e você não entendeu nada do que eu disse né? — perguntei.

— É claro que eu entendi... góticos podem usar branco — ele respondeu. — O que é bom porque o branco combina com você melhor.

Dei uma risada. Ele é fofo, né?

— Você está só repetindo o que eu disse ou concordando? — perguntei.

— Concordando. Branco fica bem em você — ele respondeu.

Aí eu me senti tão elogiada que fiquei boba.

Eu sei, sou uma garotinha bobinha, mas ninguém nunca elogiava o meu senso de estilo. Aqui, as pessoas me olhavam como se eu fosse esquisita. Era a primeira vez que alguém “normal” me dizia algo do tipo: “suas roupas combinam com você”.

E isso não era tudo. Ele ainda disse:

— Sabe, há algo bom em eu não saber de nada disso que você disse.

— É? — eu perguntei.

— Você tem a chance de me mostrar — ele respondeu.

E aí eu perdi tudo.

.

Quando paramos na frente da minha casa, lhe dei um sorriso e nos despedimos sem sentimentalismos. Sem abraços, sem troca de olhares... éramos como dois conhecidos que se deviam favores (mesmo que o desconhecido em questão fosse muito bonito). Porém, antes de eu sair do seu carro, ele disse:

— Acho que estamos quites.

Eu pensei nisso e concordei:

— É... Acho que estamos.

Então sai e andei até a minha casa. A sensação era de como andar em nuvens. Sentia como se eu pudesse sair voando por aí como uma vampira. E foi assim que terminou meu incrível aniversário de dezesseis anos.

Simplesmente perfeito.


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