Contos Olimpianos escrita por Marquesita M


Capítulo 9
Desabafos e Planos com Di




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      Durante Cronos.

Quase ninguém sabia, mas Atena era extremamente próxima de Dionísio e adorava seu irmão ao ponto de passar horas e horas conversando com ele sobre qualquer coisa. Ele sempre foi um ótimo ouvinte e depois da última briga que teve com Poseidon, Atena precisava desabafar com alguém que não fosse lhe julgar ou lhe dizer conselhos irracionais e mentirosos.

— Dionísio, está ocupado? - Ela perguntou enquanto batia na porta do templo do Deus do Vinho.

— Para você? Nunca. - O homem respondeu, abrindo as grandes portas de madeira arroxeadas, dando espaço para Atena entrar e sorrindo calorosamente. - Fique a vontade, minha irmã.

Ele era muito diferente do Sr.D, diretor do acampamento. Esse era Dionísio, seu irmão de cabelos tão escuros que pareciam a cor de suas uvas preferidas, o rosto bonito e harmônico de um príncipe e era da mesma altura dela, ou seja, alto. Tinha olhos penetrantes e um sorriso provocativo, sempre pronto para fazer alguma coisa divertida e que lhe traria problemas.

— Pode me acompanhar em uma caminhada pelo Olimpo hoje? Tem algo que eu queria te perguntar.

O tom que ela usou fez o Deus ficar sério, pois ele assentiu na hora e lhe estendeu o braço, esperando Atena o segurar. Logo os dois saíram e começaram a andar até que chegaram em um belo jardim, que estava lotado de uvas de todos os tipos.

— Di, você me acha incapaz de amar? Ou de demonstrar amor?

— Não, só quem não te conhece o suficiente pensaria algo assim. Claro, você não demonstra muito suas emoções e seus conselhos, por mais que sábios, são sempre incompreendidos, mas não te acho incapaz de amar ou de demonstrar que ama. - Dionísio lhe falou com sinceridade, olhando-a com aquele par de olhos penetrantes. - Se Hermes foi o que lhe disse isso, mande-o para o Tártaro! Ele só está chateado porque não consegue sua atenção.

Atena preferia mil vezes que Hermes tivesse sido o que lhe tinha dito palavras cruéis durante aquela festa. Ela conseguia entender o lado de Poseidon, também não gostaria que votassem para matar sua filha, porém não merecia ter escutado metade daquilo e apenas falou a verdade. Correr riscos quando mundo está nas mãos de semideuses poderosos, que são instáveis com os poderes e emoções não era a coisa mais inteligente do mundo. Principalmente um que destruiria o mundo inteiro para salvar uma pessoa.

— Quem me dera tivesse sido nosso irmão, ele é mais gentil nessas coisas.

— Ah, foi o nosso adorado tio que pensa que o filhinho dele não pode fazer nada de errado, não é? Bom, pode mandar ele para o Tártaro também! - Seu irmão falou com raiva, fechando os olhos e balançando a cabeça repetidamente. - Poseidon coloca muita fé nesse meio-sangue dele, acho que está tentando reparar erros passados. Engraçado ele te falar de sentimentos sendo que teve um monte de filhos e só se preocupou verdadeiramente com alguns, ele traí a esposa dele com qualquer ninfa que passe, destrói cidades quando fica irritadinho e depois vem falar de você?! Atena, durante sua vida imortal você cometeu dois erros grandes, e nenhum deles foi por falta de emoção.

— O menino não é ruim, Di. Ele tem suas qualidades, embora muitas delas possam se tornar perigosas no futuro.

— Bom, eu pensava que Teseu não era ruim e olha o que aconteceu com Ariadne. Herácles também parecia ser um bom menino, olhe para Zoë Doce-Amarga! Não consigo confiar em heróis. Eles falam tanto de nós, Deuses do Olimpo, sobre como somos egoístas e só os usamos, sendo que eles fazem o mesmo. Os humanos fazem o mesmo, todos fazem a mesma coisa. Todos se usam!

Tudo o que o Deus do Vinho lhe falou era verdade, exceto a parte dos erros, pois eles foram muitos, não apenas dois. A maioria desses erros envolviam Poseidon. E não podia ficar 100% com raiva pelas traições de Poseidon, pois em algumas das vezes que os dois escorregaram, ele já era casado. Ele foi o único que viu mais do que a fachada que ela usava para vários Olimpianos, então escutar aquelas coisa do homem que sempre amou foi doloroso o suficiente para lhe fazer chorar nos braços de seu pai, embora não tivesse contado para Zeus o motivo de sua tristeza óbvia.

— Eu fiquei um pouco abalada com isso. - Atena não tinha problemas em admitir essas coisas para Dionísio, ele já tinha lhe consolado várias vezes no passado, provavelmente o único outro Olimpiano além dos gêmeos e de Zeus que tinha visto a Deusa derramar lágrimas. - A única coisa que eu queria era que outros me entendessem, entendessem que as coisas que faço são racionais e para a segurança de todos, não para machucar ninguém.

E Poseidon devia saber disso. Bom, ele sabia, apenas se recusava a aceitar que ela fosse tão controlada em certos aspectos e fazia de tudo para mostrar para ela que estava tudo bem deixar as emoções tomarem conta das coisas. E para todos os outros Deuses, isso era permitido, porém Atena não podia ter esse luxo. Ela era a razão, a sabedoria e todas as coisas da mente, não podia simplesmente esquecer esse lado, era uma parte dela. Ela era assim e não ia mudar para agradar ninguém, não iria apagar sua essência por ninguém.

— Não ligue para essas coisas, acho que ele falou só para te atingir e isso está me preocupando, Nea. Já tem um tempo que você me procura com coisas emocionas que geralmente são causadas por ele.

Isso também era verdadeiro e Atena momentaneamente gelou. Será que seu irmão estava percebendo a verdadeira natureza do relacionamento dela com o Deus do Mar? Foi tão cuidadosa em esconder esse amor que a possibilidade lhe deixou aterrorizada, pois se ele realmente tivesse percebido, então outros também teriam tido a mesma percepção.

— Apenas fiquei balançada, que nem aquela vez que briguei com ele no mundo mortal e você veio me fazer companhia.

— Ah, eu nunca entendi o motivo daquela briga, só sei que foi feia. Você não é de beber para esquecer, mas naquele dia virou todas as garrafas do bar que fomos.

A Deusa da Sabedoria quase retorceu a cara ao se lembrar do dia que encontrou Poseidon e mãe de Percy em um restaurante em Nova York. Ela mesma estava acompanhada de um mortal, não apenas qualquer mortal, mas Liam Pace, o pai de Malcolm. A briga tinha sido mais por raiva acumulada do que qualquer outra coisa, e ciúmes, é claro. Atena suspeitava que essas crises de ambas as partes só iam acabar quando eles falassem para todos sobre o relacionamento, isso se ainda estivesse de pé a promessa de tanto tempo atrás.

— É uma pena que seus vinhos sejam os únicos com algum poder sobre mim, Dionísio. As vezes queria poder beber até esquecer. - E ela não podia, pois sua memória nunca falhou, nem mesmo quando ela precisava que falhasse apenas para ter alguns segundos de paz. - As vezes queria sumir do mapa, ir para algum lugar seguro e que nada do nosso mundo me encontrasse.

— E quem não? Não aguento mais esse maldito castigo, sabe? Esses semideuses não são todos ruins, mas é inevitável viver tanto tempo em um lugar e não se apegar, e um dia eles vão morrer. - Ele suspirou e jogou a cabeça para trás em um movimento exasperado. - Não entendo essa punição, estou sendo punido de várias formas e tudo por caprichos dele. Sabe, tem dias que eu me pego pensando em como queria ser você, só que a sua vida é bem mais difícil que a minha.

Dionísio também era um dos únicos que percebia que ser a filha favorita de Zeus não era só maravilhas. Ela tinha um radar em si, toda vez que seu pai precisava de ajuda ele lhe chamava, quando o Olimpo tinha problemas era a mesma coisa, ela não podia ficar tanto tempo longe de casa ou seu pai ia lhe buscar pessoalmente. E se Atena errasse, ele perdoaria, porém se tivessem alguma briga, a primeira coisa que faria era lhe jogar isso na cara. Apesar de tudo, ela amava seu pai com todas as forças e quando ele não estava em suas piores épocas, era sempre uma excelente companhia.

— Sim, queria poder ter essa liberdade que a maioria tem, embora eu sinta que meu lugar é realmente aqui nos céus.

— Mas é. Todos nós sabemos que seu lugar é por aqui mesmo, isso chega a ser triste de vez em quando, pois fica difícil de te encontrar.

— Sim, principalmente agora que estamos em uma pré-guerra e estou lotada de trabalho. - O cansaço em sua voz entregava muita coisa e era evidente. Fazia um bom tempo que não ficava esgotada assim, ao ponto de não conseguir olhar para planos de batalha. - Depois disso vou tirar umas férias merecidas, talvez eu vá para Ítaca.

— Papai vai ir te buscar.

— Vai, mas eu não vou sair de lá por um bom tempo. Ninguém me valoriza nesse lugar, e lá e em Atenas é diferente, todos me tratam com o devido valor e respeito.

— Por que você não vai visitar Diomedes, ao invés de ir para a cidade de Odisseu? Vocês dois se adoram e vai te fazer bem ter uma companhia que não seja totalmente humana ou divina. Ou que não seja uma alma.

Isso era inegável, pois Atena nutria um enorme carinho e admiração por Diomedes, sempre que podia ia o acompanhar em aventuras ou qualquer outra coisa que o heróis gostasse de fazer e que seriam desafiadoras.

— Diomedes é mais difícil de lidar do que Odisseu, por mais que eu goste dos dois na mesma intensidade.

Dionísio soltou uma gargalhada e pegou dois cachos de uvas, entregando um para a irmã, observando cada movimento que a mesma fazia.

— Você deveria se permitir sair da zona de conforto mais vezes, não acha? Pode se surpreender e muito com todos.

Atena não iria conseguir ficar perto de Diomedes por muito tempo, ele lembrava justamente a fonte de seus problemas e em vários aspectos, como a impulsividade e o orgulho. Não, precisava ficar perto de uma fonte de equilíbrio, de alguém que a lembrasse dele, mas que também trouxesse memórias familiares e que lhe manteriam com os pés no chão, alguém que era um pouco Poseidon e um pouco Atena. Ela precisava da presença de Odisseu, precisava de alguém que, por mais que a idolatrasse e muito, ainda lhe seria capaz de escutar todos os seus problemas sem nenhum tipo de julgamento pré-definido.

— Nea, você realmente não está bem. Se o que Poseidon lhe falou foi tão forte assim, não acha que é melhor confrontá-lo? Ele pode ser quem for, mas também te deve respeito.

— Acho que entre eu e o Deus do Mar tem coisas demais para nos respeitarmos. Não sei se vamos conseguir fazer as pazes.

E isso lhe preocupava muito. Amor não era o suficiente para sustentar um relacionamento, isso já era mais que claro, e ela e Poseidon estavam cada vez mais distante um do outro, como se o amor entre eles tivesse virado outra coisa e ela não queria isso. Era doloroso demais perceber que estava perdendo o único homem capaz de lhe despertar sentimentos românticos profundos, sinceros e duradouros.

— Mas vocês já tentaram fazer as pazes em algum momento? - Dionísio levantou a mão em sinal para que a irmã fechasse a boca que acabado de abrir. - Estou falando de sentar e conversar, e não gritar, amaldiçoar ou jogar coisas um no outro. Coisas civilizadas.

— Eu sou civilizada, irmãozinho. - Disse com sarcasmo, enquanto jogava a cabeça para trás e sentia o vento. - Deuses, eu quero sumir! Quero ir para algum lugar bem distante daqui, onde papai não vai poder me encontrar. Vou achar um lugar que ele nunca pense em me procurar e passar uma boa temporada fora.

— Me leve junto.

— Se prometer ficar fora de festas e bagunças, eu penso nessa possibilidade. Não vamos poder chamar atenção ou coisa do tipo.

Dionísio sorriu e passou os braços pelos ombros da mulher, abraçando-a. Fazia tanto tempo que não conversava com sua irmã e isso o entristecia de certa forma, pois essa era a única de sua família que realmente lhe dava algum valor.

— Faz muito tempo que não saímos juntos para aventuras ou coisa do tipo.

— Sim. Só que nenhuma pode se comparar com a nossa primeira! Te treinar foi uma das coisas mais desafiadoras que eu tive que fazer na vida, parecia até um castigo.

Embora tenha dito aquilo, a Olimpiana sorriu para o outro com diversão. Tiveram excelentes momentos de felicidade, liberdade e alegria juntos e ela sentia falta disso. Precisava se deixar levar um pouco para poder voltar a si.

— Dionísio, eu tive uma ideia e só vou te contar depois, só que não podemos falar para ninguém sobre a nossa localização.

— Posso levar a Ariadne?

— É claro que sim!

Isso era uma das coisas que Atena realmente admirava nele. Ele era o Deus mais leal que tinha naquele lugar, não traía a esposa e sempre queria sua companhia. Era o tipo de coisa que ela sempre desejou ter com o senhor dos Mares.

A Deusa da Sabedoria se despediu e sacudiu a cabeça, não podia permitir que seus pensamentos fossem naquela direção. Entrou em seu templo e foi direto para as cartas, sorrindo ao encontrar a que estava precisando ler no momento. Era a hora de aceitar o convite de Frey.

 


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