Contos Olimpianos escrita por Marquesita M


Capítulo 7
Solário Lunar




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/796426/chapter/7

Durante as provações de Apollo

Ártemis estava extremamente irritada. Sua raiva era tanta que não cabia no peito, parecia que ia explodir a qualquer momento. Estava na sala dos tronos, todos os Deuses, todos menos seu gêmeo, estavam lá e seu pai falava do castigo de Apollo como se não fosse nada, como se o filho dele não fosse de valor algum e ela estava perdendo a paciência.

— Ártemis, você está extremamente quieta hoje. - Zeus lhe disse enquanto eles observavam Apollo durante mais uma provação.

— Deve ser porque transformaram meu irmão gêmeo em um mortal, tiraram os poderes divinos deles, me proibiram de ajudá-lo e ele pode morrer a qualquer instante. - Ela fez questão de deixar o sarcasmo bem claro em cada palavra, sorrindo inocentemente para o pai.

— Ai, Ártemis! Pare de ser chata, se alguma coisa acontecer nós vamos colocar outro Deus no lugar dele! - Afrodite falou como quem não queria nada e em segundos soltou um grito de surpresa quando bloquearam uma flecha que ia acertá-la no meio da testa. Ares tinha bloqueado o golpe e olhava para a Deusa da Lua com ódio, se levantando do trono. - Como ousa tentar me machucar?!

Ártemis também se levantou e se virou completamente para seu meio-irmão, não se importando em responder a pergunta da mulher que tanto detestava. Sentiu que Atena também havia saído de seu trono, o que fez o outro dar um passo para trás.

— Afrodite, a próxima vez que você falar outra estupidez envolvendo o meu irmão, não vai ter nada e nem ninguém que me impeça de acabar com você. Entendeu? - Sim, a paciência da caçadora estava cada vez menor e a única coisa que lhe impediu de voar na Deusa do Amor foram os braços seguros de Atena, que a puxaram de volta pra seu trono.

— Artie, não escute ela. Você sabe que Apollo vai conseguir cumprir essas provações, ele não está sozinho. - Atena tentava a acalmar, sussurrando palavras de conforto e conselho, como sempre fazia, porém isso não estava funcionando hoje. - Eu sei que está irritada, mas não vai conseguir nada falando com nosso pai dessa forma, por mais que ele mereça.

Isso era novo, foi tão inesperado que fez Ártemis se assustar. Sua irmã nunca ficava contra Zeus, podia até discordar dele, mas isso era algo completamente inédito. Ela olhou para a Deusa da Sabedoria e suspirou, sabia que tinha razão e que o máximo que conseguiria com isso era receber um castigo também, embora não parecesse tão ruim quanto ver seu irmão quase morrer a cada lugar que ele e seus amigos paravam.

— Eu vou me retirar desse conselho, não estou aberta a discutir nada sobre essa injustiça que está acontecendo com Apollo e não vou ficar aqui escutando certos idiotas falarem dele como se ele fosse substituível. - Ela tornou seu olhar para o Rei do Céu e ficou mais séria. - Se alguma coisa irreversível acontecer com ele, eu NUNCA vou perdoar o senhor e vou fazer de tudo para que se arrependa. Pode me ameaçar o quanto for, mas se Apollo morrer eu não vou sossegar até te ver arrependido o suficiente para implorar meu perdão.

Ela não ficou para ouvir o resto, apenas sumiu e foi para o único lugar que encontraria paz naqueles tempos, foi para o templo de Apollo, que ficava grudado ao seu. Dentro daquele lugar iluminado havia uma estátua deles dois, de costas um para o outro e com os arcos em mãos. Juntos eram invencíveis e por mais que ela não demonstrasse tanto assim para os outros Olimpianos (ao menos não como havia mostrado hoje), Ártemis amava seu irmão mais do que tudo no mundo.

A Deusa da Caça olhava cada coisa que tinha lá, cada objeto que gritava a personalidade do Sol e sentiu lágrimas escorrerem por seu rosto, algo que a pegou de surpresa. Fazia muito tempo que não chorava ou que se dava o luxo de se permitir sentir qualquer coisa realmente dolorosa, precisou ficar mais fechada por conta de suas caçadoras, suas adoráveis meninas que ela não teve como proteger e que perderam suas vidas. E agora chorava como nunca chorou antes, podia enfrentar muita coisa, mas sabia que não conseguiria perder sua metade, seu gêmeo. Não, como viveria anos e anos sem aquele sorriso brilhante, sem as caçadas em família ou até mesmo sem repreendê-lo por flertar com tudo que andasse? Deuses, só o pensamento de passar a eternidade sem seu melhor amigo lhe fazia mal e ela se encolheu na cama de Apollo, segurando firmemente o travesseiro.

— Quer companhia? - Ela escutou a voz de Atena atrás de si, virando para encontrar sua irmã parada na porta e com um semblante triste.

— A sua é sempre bem-vinda, mas não quero te incomodar com as coisas que estão dentro de mim agora.

— Somos irmãs, Ártemis. Você pode me contar tudo o que quiser, sabe que isso não vai sair daqui e eu vou fazer de tudo para te aconselhar e confortar.

Atena se aproximou e a abraçou, fazendo as lágrimas cairem com mais velocidade e sem nenhum tipo de freio. As duas não eram de demonstrar afeto ou coisa do tipo, sempre foram as mais reservadas nesse quesito e muitos julgavam-nas frias por isso. O abraço da Deusa da Sabedoria era forte e preciso, como se refletisse a personalidade da mulher que ela sempre foi.

— Eu nunca detestei nosso pai tanto como agora. Ele parece não ligar para Apollo, não parece ligar para nada que não seja poder! Como posso respeitar pessoas que não cuidam da própria família?!

— Ele tem agido desse jeito há um tempo, não escuta meus avisos ou as coisas que tenho para falar sobre nossa família. Estou cansada disso e sei que você está irritada, mas provocá-lo agora não é sábio, ele pode te colocar em uma posição pior do que a de Apollo, por mais que te ame muito.

— Eu sei que você está certa, só que não estou conseguindo controlar minhas emoções com meu irmão gêmeo em uma situação de vida ou morte. Papai não vai mudar de ideia, Atena! - Mais lágrimas caíram dos olhos prateados da Deusa da Lua , que enterrou seu rosto no colo da outra mulher. - Eu não aguento mais isso! Quero ele de volta!

As Olimpianas ficaram naquele templo em silêncio, apenas se confortando com a presença uma da outra. Por mais que Atena não falasse, Ártemis a conhecia bem o suficiente para saber que ela também estava preocupada com Apollo e que confiava nele para sair vivo dessa, era dessa confiança que Ártemis precisava ter.

— Irmã, o que você anda fazendo nesse tempo? Notei que não passa mais tanto tempo aqui.

— Bom, eu nunca fui de ficar em casa por muito tempo, ainda mais quando o pai está assim. Fico bastante em Atenas, ou apenas ando pelo mundo mortal. - Assim que as palavras saíram da boca de sua irmã, a caçadora notou que alguma coisa estava bem diferente, como se estivesse lhe escondendo algo. - Por que me olha assim?

— Está me escondendo alguma coisa. - Não era uma pergunta e sim uma afirmação.

Atena a olhou de uma forma estranha e suspirou, se sentando em uma poltrona dourada. As vezes sua irmã era tão parecida com Zeus que lhe surpreendia, apenas pequenos gestos ali e aqui que mostravam com clareza que a morena era realmente filha de seu pai.

— O Sol observa o que eu faço, mas a Lua conhece todos os meus segredos. Certo?

— Não todos, você é muito boa em guardar segredos.

Muitas coisas passaram pela cabeça de Ártemis, porém nada parecia ser o verdadeiro problema. A Deusa da Sabedoria escondia muitos segredos, ela sabia bem disso e geralmente não se importava com isso, só que tinha algo nesse que lhe parecia bem diferente de todos os outros. Olhou para a mulher sentada a sua frente e se surpreendeu ao notar que os olhos cinzas estavam ainda mais enérgicos.

— Eu estou passando mais tempo com Poseidon. Muito tempo, para ser sincera. Achei que nessa altura do campeonato você ja tivesse percebido, Apollo notou e não só ele, até papai percebeu e me deu uma longa palestra sobre os milhões de motivos pelos quais eu não devia confiar no Deus do Mar. Até parece que eu não sei lidar com aquele homem, fiz isso durante minha vida inteira.

— Bom, Apollo é o maior fofoqueiro e mesmo assim não me contou nada. Eu realmente não sabia que você e Poseidon tinham se tornado…amigos? - Não, aquela palavra não parecia certa para isso, por mais que sua irmã falasse que estava apenas passando mais tempo com o homem, Ártemis tinha certeza que não podia ser apenas amizade, até o termo ficava esquisito ao ser usado para descrever aqueles dois.

— É, já estávamos trabalhando nessa relação há alguns anos, nossos filhos são muito próximos e de uma forma ou de outra teríamos que nos aproximar. E eu realmente não tenho motivos para duvidar de Perseu e de seu amor por Annabeth.

— Mas você nunca odiou esse herói, apenas desconfiava dele e deixou isso claro.

— Sim, esse menino não deve gostar de mim até hoje por isso. Bom, eu apenas disse a verdade, nem todos os meus conselhos são levados pelo lado bom, no entanto são certeiros.

— Não posso discordar disso.

E realmente não podia. Atena era famoso por alar a verdade, por mais dura que fosse, e por conselhos que por mais que não fossem populares, sempre davam certo. Era por isso que se davam tão bem, Ártemis, assim como sua irmã, não era fã de conversas vazias e cheias de mentiras, tinha seus segredos também, mas quando falava com os outros sobre vários assuntos, era verdadeira e isso só contribuiu para a reputação de fria que ambas as Deusas carregavam.

— Está mais calma com essa situação toda? Quer fazer alguma coisa para se distrair?

— Quero fazer algo para ajudar Apollo sem que Zeus descubra. Preciso de suas ideias.

Sim, ela precisava dessa ajuda específica, pois Atena era extremamente cuidadosa e sabia driblar todos os Deuses como ninguém, nenhum nunca desconfiava de seus planos e ninguém nunca descobria o que ela não deixava que descobrissem. Foram inúmeras as vezes que Atena fez algo pelas costas dos Olimpianos, principalmente para ajudar heróis e seus filhos.

— Fale com as caçadoras. Mande algumas para ajudá-lo, tente não mandar Thalia ou outras que possam chamar a atenção do papai. - A Deusa da Guerra lhe falou com cautela, como se estivesse com medo do Rei dos Céus aparecer a qualquer momento bem atrás delas. - E esteja preparada, se ele permitir que nosso irmão peça alguma ajuda divina, não tenha dúvidas de que você será a escolhida. Deve passar mais tempo aqui do que lá no mundo mortal, mas deve ter cuidado para ninguém desconfiar disso.

— De quem tenho que ficar longe?

— Dos que você geralmente fica. Ares, Afrodite, Hermes e Hera. Se quiser pode ficar em Atenas com Atesse, ela gosta de sua companhia.

Ártemis também adorava sua sobrinha, que lhe era motivo de muito orgulho e as duas eram muito próximas, principalmente na época que ela era uma caçadora. Desde sempre Atesse mostrou que era uma verdadeira guerreira e se parecia tanto com a mãe que era assustador, embora isso não fosse nenhum problema para a Deusa da Lua, pois Atena era sua irmã preferida.

— Vou fazer uma visita, faz muito tempo que não vejo minha sobrinha. Aquele homem ainda está lá com ela ou eles se separaram?

O tal homem era um filho de Hermes antigo e impulsivo, que conheceu Atesse enquanto ela ainda estava na caçada e se apaixonou perdidamente por ela. Depois que a mulher deixou de ser caçadora (muitos anos depois) eles se casaram e tiveram gêmeas, Henésia e Cassandra, que eram tão turbulentas quanto o pai e tão inteligentes quanto a mãe, as duas gostavam de sair viajando pelo mundo e raramente visitavam os pais ou os Deuses.

— Sabe, um dia você vai aprender a gostar do Emílio.

— Duvido muito, ele me irritou desde que o conheci com toda aquela fala mansa. - Ártemis disse a sua irmã, que revirou os olhos novamente. - Não sei como sua filha o suporta.

Quando Atena ia lhe responder, um trovão lhe interrompeu e a fez fechar os olhos cinzas com força. As duas sabiam muito bem que aquilo significava outro conselho e embora a Deusa da Sabedoria tenha se levantado, a senhora dos animas selvagens nem se mexeu.

— Eu não vou falar com nosso pai por um bom tempo, minha irmã. Sei que precisa ir, mas eu não vou sair daqui até que esse pesadelo com Apollo acabe.

— Eu sei, não te julgo e espero que esteja ciente disso. Vou inventar alguma coisa para Zeus te deixar mais quieta. - Elas deram um ultimo abraço e se olharam profundamente, com o carinho que apenas duas irmãs e companheiras de aventuras teriam. - Se cuide, Artie.

— Voce também, Nea.

A Deusa da Sabedoria desapareceu por entre os templos e ela voltou a se deitar na cama de seu gêmeo. Embora solário fosse um lugar para tratar doenças causadas por exposição ao Sol, aquele templo estava servindo para lhe deixar mais próxima a ele e ela se agarrava naquilo com força.

Se algo acontecesse ao Deus do Sol durante essas provações, nada impediria Ártemis de transformar a vida do pai no próprio Tártaro.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Contos Olimpianos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.