Contos Olimpianos escrita por Marquesita M


Capítulo 5
Atenas e Atesse




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Durante as provações de Apollo.

Se tinha uma coisa que eu já devia estar acostumado, era com o azar que semideuses tinham e carregavam para onde quer que fosse. A única coisa que eu queria era ter férias legais com minha namorada, decidimos passar um tempo na Grécia para aproveitarmos as coisas que não podíamos fazer naqueles tempos de gigantes e tudo mais. E assim que colocamos os pés naquele país, absolutamente tudo começou a dar errado.

Para começar, o hotel que íamos ficar estava com um ar estranho, como se fosse amaldiçoado e durante esses anos eu aprendi que se os instintos falam, eu tenho que escutar. Depois disso nós fomos atacados por monstros e tivemos que sair da cidade que estávamos, e paramos em Atenas. Aí sim as coisas pioraram pra valer, parecia até que monstros tinham colado cartazes de procurados com os nossos rostos por toda a cidade e quem trouxesse nossas cabeças ia ganhar uma recompensa enorme.

E isso leva a situação atual, que seria estarmos em um castelo rodeados de pessoas que não fazíamos a mínima idéia de quem eram, mas não reclamei. Alguém de lá tinha matado todos os monstros antes que pudessem se quer respirar.

— Annie, que lugar é esse?

Ela não me respondeu, apenas observava algo ao meu lado como se estivesse vendo o Sol pela primeira vez. Isso foi o suficiente para que eu me virasse para onde ela olhava e imediatamente entendi tudo.

Caminhando em nossa direção vinha uma mulher alta e muito bonita, com um corpo de uma guerreira e pose de Rainha, ela tinha cabelos castanhos que pareciam chocolate ao leite e olhos extremamente cinzas. Filha de Athena. A questão é que ela parecia tanto com a Deusa da Sabedoria que fez Annabeth parecer adotada, quase me curvei e falei "Lady Atena" de tão iguais que eram.

— Olá, sejam bem-vindos ao castelo de minha mãe. Eu sou Atesse. - Até o jeito de falar era igual ao da minha sogra, apesar de ser mil vezes mais gentil. - Você deve ser minha irmã que reconstruiu o Olimpo, devo dizer que fez um excelente trabalho. E você é Percy Jackson, não é? Escutei muito sobre vocês dois.

Agora sim a reação da minha namorada fazia sentido. Aquela era a primeira filha de Athena de todos os tempos, Quíron tinha dito que ela era uma guerreira tão espetacular que os Deuses lhe deram a imortalidade. Caras, fiquei com medo só de imaginar que tipo de coisas ela escutou sobre mim, minha reputação entre imortais era meio variada demais.

— Relaxe, minha reputação também segue um caminho meio diversificado. Uns me amam e outros me odeiam, tem alguns que fazem os dois. - Atesse disse como uma forma de tentar me confortar, mas me deixou ainda mais assustado. Como ela sabia o que eu estava pensando?

— Como você sabia que ia te perguntar isso?

— A suas expressões te entregam demais. E você, Annabeth? Como está?

— Bem, muito bem. Não sabia que morava aqui em Atenas, me pegou de surpresa encontrar uma semideusa tão antiga aqui. - Annie ainda estava meio encantada e se embaralhou um pouco, o que me fez sorrir. - Por que mora aqui, sendo que existe Ítaca?

Atesse sorriu e começou a nos mostrar cada parte daquele castelo enquanto explicava um pouco de sua história. Até o jeito de andar e gesticular dela lembrava o de sua mãe.

— Fui próxima de meu pai, o amava muito e passei alguns anos de minha juventude lá naquela cidade, junto com meu irmão. Também tinha um relacionamento agradável com minha madrasta, Penélope, mas Ítaca não é tão cara para mim quanto Atenas. Fui criada aqui por um bom tempo depois que tive de sair do Olimpo e essa cidade se tornou minha casa, consigo andar por ela de olhos fechados.

Criada no Olimpo. Ela tinha sido criada no Olimpo e isso explicava muita coisa de seu comportamento, seus jeitos e tudo mais, ela tinha sido educada por Atena. E isso pegou Annabeth desprevenida, pude notar que ela ficou desconfortável com essa nova descoberta. Peguei sua mão e apertei na minha, me lembrando de como me senti descobrindo sobre outros irmãos que tinham sido e são mais próximos de meu pai.

— E você cuida de Atenas sozinha? - Annie perguntou, olhando para as pinturas que tinham nas paredes que pareciam retratar a história da cidade. - O que faz aqui?

— Eu cuido em questão de ataques de monstros, ameaças e de vez em quando fico responsável pelas construções, essa última parte é a mamãe que mais fica de olho. Não tenho muita paciência para construir coisas bonitas, gosto de coisas práticas, duradouras e que sirvam bem. Essa parte da beleza eu deixo para meus irmãos que vivem aqui.

Sim, definitivamente uma guerreira e filha de Atena. A cada minuto que passava eu conseguia notar mais semelhanças entre ela e a Deusa, também me perguntei se ela tinha algum super poder que os outros irmãos não tinham, parecia sim que tinha algo maior nela, uma aura mais poderosa e forte.

— Muitos semideuses vivem aqui? - Perguntei com curiosidade e troquei um olhar com a Sabidinha. Talvez pudéssemos colocar um dos planos e ideias geniais dela em prática.

— Alguns. Tem outros que preferem ficar andando sem rumo pela Grécia e eventualmente voltam para cá. E tem aqueles preferem morar em Esparta, por questão de segurança, já que lá não tem tantos monstros quanto aqui.

— Você nunca pensou em mudar? Sei lá, tirar umas férias? - Ela riu de mim e isso me fez ficar vermelho, o que só piorou quando Annie se juntou.

— Semideuses nunca tem férias, você já devia saber bem disso. Devo dizer que os heróis de antigamente tinham mais azar que os de hoje em dia, sabe? Se fossemos amaldiçoados por um Deus, essa maldição duraria anos e nossas missões não eram de dias, ou semanas, geralmente levava um bom tempo para cumprir com as nossas profecias.

— Ah, acho que tenho sorte de estar vivo, então. Muita gente me detesta lá no palácio real.

— E eu também, a Hera simplesmente me odeia e Hermes não é exatamente um fã.

— Ah, a Hera odeia a maioria das pessoas e Hermes não fará nada contra você, pode acreditar. Além dele ter medo da mamãe, ele também é muito encantado por ela, está querendo uma chance com a Deusa da Sabedoria desde sempre. E você tem realmente sorte, Percy! Seu pai fez a vida do meu um inferno por dez anos!

— Quem é seu pai? - Annie me olhou e bateu a mão na testa.

— O pai dela é Odisseu, cabeça de algas! Não se lembra da história dele?

Ah, é mesmo. Para mim fazia todo o sentido que Atena gostasse do cara, diziam que ele era o homem mais inteligente da Grécia e tudo mais, o que nunca fez sentido para mim foi o meu pai detestar ele daquele jeito. Teve gente que já tentou me matar e mesmo assim ele não teve essa reação toda.

Atesse parou em frente de um quarto enorme, do tamanho de uma casa de família, e nos convidou para entrar. Até eu tive que prender a respiração quando comecei a olhar para aquele lugar, parecia irreal demais. Tinha vista para o mar, era branco e com detalhes em dourado e bronze, uma estante enorme e lotada de livros e pergaminhos ficava de frente para a cama, que parecia ser grande o suficiente para que cinco pessoas adultas dormissem lá tranquilamente. E tinha uma fonte, uma fonte de água salgada extremamente bonita, com corujas esculpidas, em um canto ao lado da cama.

— Ah, gostou da fonte? - Ela foi até o lado e apertou um botão, fazendo a fonte se tornar uma passagem para o mar, depois isso virou uma banheira e depois um rio. - Ela ganhou de presente essa aqui, uma das poucas coisas que nunca mudam nesse aposento.

Atena ganhou de presente algo relacionado ao mar e não quebrou ou fez a pessoa que lhe deu o presente em picadinho. Ela gostou disso. Olhei para Annabeth, só para ter certeza de que não tinha escutado errado, e vi que ela sorria com aquele jeito de "eu avisei". E essa cara era absurdamente adorável, as vezes eu nem acreditava que fosse namorado dessa garota.

— Sabidinha, o que foi? - Ela não me respondeu, apenas se virou para sua irmã e eu percebi do que ela estava falando.

— Atesse, há quanto tempo Lorde Poseidon e nossa mãe estão nessa onda de melhores amigos? Me parece muito estranho que tenham decidido deixar de lado essas brigas do nada.

— Não foi do nada, Annabeth. Eles dois tem muita história, muitas coisas que resolveram ao longo do tempo e outras que se complicaram ainda mais. Não posso falar muito sobre isso, mas talvez um dia ela te conte. Ou não. E aí você terá que descobrir, embora seja meio arriscado demais, tudo entre o mar e a razão é complicado demais. - Ela nos lançou um olhar brincalhão e se sentou em uma poltrona, indicando para sentarmos no sofá em sua frente. De certa forma, Atesse conseguiu ficar ainda mais parecida com Atena.

— Você se parece muito com Lady Atena, muito mesmo. Conheci alguns de seus irmãos por aí e nenhum deles tem essa semelhança todo com ela. - Atesse sorriu e assentiu com a cabeça, como se recebesse aquele tipo de comentário o tempo todo.

— E você se parece muito com seu pai, só não em temperamento. Acho que ser a primogênita ajudou na aparência, ou talvez tenha sido apenas sorte.

Eu não achava que era tanta sorte assim. Qualquer um, só de olhar para ela, conseguia adivinhar de quem era filha e isso também acontecia comigo, não era tão bom assim quando seus pais são Deuses que tem inimigos demais em todas as partes do mundo.

Annabeth ainda olhava para a fonte, embora seus olhos desviassem para a estante de vez em quando e eu sabia exatamente que o que ela estava pensando. Annie queria fazer um interrogatório completo com nossos pais e isso não era uma boa ideia, não queria morrer dessa forma. Tipo, qual é o sentido de lutar para o mundo não acabar, salvar os Olimpianos e tudo mais, sendo que minha namorada ia conseguir nos matar por perguntar coisas privadas para nossos pais?

— Annie, nem pensa nisso. Não quero morrer cedo, muito menos por perguntar coisas da vida pessoal deles!

— Percy, eles nos devem isso! É nosso direito saber!

Eu ia protestar, porém Atesse chegou primeiro e olhou para Annabeth com uma expressão séria o suficiente para que seus olhos ficassem um tanto mais escuros e assustadores.

— Eles não devem nada para vocês, muito menos sobre coisas como essa. Se quer culpar alguém por acontecimentos de sua vida, culpe quem criou as leis antigas, culpe as parcas, culpe os primordiais e titãs, mas jamais culpe minha mãe pela sua vida! Ela é justa, nem os filhos escapam de seu senso de justiça ou de seus conselhos. Acha mesmo que é mais esperta que ela para exigir algo assim?! Largue de ser tola e frágil! Culpe os antigos romanos por sua ida ao Tártaro, culpe Hera! Pare de jogar coisas em cima dos ombros da minha mãe, já tem muitos Deuses e seres imortais que fazem isso e ela não precisa dessas coisas vindas de você.

Minha namorada se levantou em um salto e se aproximou de sua irmã, que não saiu do lugar e apenas a encarou.

— Você não sabe de nada!

— Sei de muitas coisas, criança. Minerva e Atena não são a mesma pessoa e se vocês dois acham que sim, então deveriam começar a respeitar Ares um pouquinho mais, já que ele é tão parecido assim com Marte, não é mesmo? - A voz dela pingava sarcasmo e naquele instante eu percebi que ela tinha razão, mas Annie não parecia pensar a mesma coisa. - E saiba que mamãe avisou todos os Olimpianos sobre todas as possíveis ameaças que eles tinham, falou em conselhos e fora deles, ninguém deu ouvidos!

Atesse realmente estava certa. Não existia apenas uma parca, existiam três, assim como Zeus tinha falado após a luta contra os gigantes. Hera devia ter sido mais esperta e escolhido outro caminho, Zeus não devia ter cortado a comunicação com os semideuses e eles deviam ter escutado Atena enquanto ainda tinham tempo.

— Annie, ela tá certa. Não foi culpa da sua mãe, ela não estava sendo ela naquela instante e você sabe disso.

Ela me olhou como se eu tivesse lhe dado uma facada e saiu do quarto bufando. Eu me levantei também, mas Atesse segurou o meu braço com firmeza e me empurrou de volta para o sofá.

— Fique aqui e deixe que ela esfrie a cabeça sozinha, não vai adiantar em nada vocês dois brigarem agora e ainda mais por conta disso. Ninguém nunca fala umas verdades para esse menina, não é? Ou ela simplesmente ignora para não perceber seus erros. Minha mãe já foi assim, muitos Deuses são assim até hoje e isso é horrível.

— Você fala muito das falhas dos outros. E as suas? - Ela riu e me encarou, não parecia surpresa com minha pergunta ou com a raiva que foi expressada nas palavras.

— Eu tenho um monte e não vou te contar nenhuma. Você não é meu amigo, não te conheço o suficiente para me abrir assim e o seu jeito é parecido demais com o de seus outros irmãos, isso não te ajuda em nada.

— Conheci muitos de meus irmãos e não me acho parecido com eles.

— Se acha melhor? - Aquilo saiu em um tom desdenhoso e isso me irritou um pouco, não gostava nada quando duvidavam de minhas habilidades. O meu silêncio entregou a resposta e ela sorriu para mim, cruzando as pernas e apoiando o queixo na mão. - Você realmente tem um ego inflado. Bom, também não gosto quando duvidam de mim, entretanto é bom que não saia espalhando para os quatro ventos suas vitórias e acertos, Percy. Não é sábio.

Porra, a cada segundo aquela mulher conseguia ficar cada vez mais parecida com a mãe ao ponto de me deixar com medo. Parecia que Atena estava ali comigo e não uma de suas filhas.

— Você realmente se parece com Atena. Tem alguma coisa em você que é incomum demais. E você é muito protetora com ela.

— É um segredo, por assim dizer e eu não vou contar. E sobre essa proteção...não tem como eu não ser, sabe? Ela é muitas vezes incompreendida e não se importa com isso, mas eu me importo e muito. É muito fácil para todos culparem a Deusa da Sabedoria, é muito fácil para meus irmãos falarem que ela não é uma boa mãe quando se esquecem que ela não teve uma, quando esquecem que Hera não é um bom exemplo de maternidade. Os Deuses acham que é tão fácil assim ser a favorita de Zeus, embora não percebam que isso é praticamente um castigo. Muitas outras coisas estão vindo com esse favoritismo todo. Atena não pode errar que nem os outros, pode? - Ela riu amargurada e bufou. - Muitos Imortais transformaram pessoas em monstros pelos mesmos motivos ou até por coisas mais fúteis e mesmo assim, eles todos só ligam para os erros dela.

— Mas ela é a Deusa da Sabedoria e tudo mais, a própria fala que está sempre certa. Ela já causou muito mal com Medusa e seus filhos sofrem com as aranhas até hoje por causa de Aracne.

— E seu pai quando está irritado destrói cidades. Terremotos, tsunamis e furacões que acabam com a vida de muitas pessoas. Atenas já foi alvo dele. Está vendo alguém culpá-lo? Ares causa guerras o tempo todo, Afrodite tem 80% da culpa por Tróia, Deméter já fez um monte de pessoas passarem fome e por ai vai, mas ninguém se lembra disso.

Eu nunca tinha parado para pensar nisso, nunca mesmo. E ela estava certa, pois Atena tinha criado dois monstros que queriam vingança, porém esses monstros não causavam tantos danos quanto outros acidentes ou maldições.

— Minha mãe já errou, assim como todo mundo. Mas seus erros são raros e comparados com os que outros seres imortais cometem, pequenos. Mais alguma pergunta?

— Por que meu pai odiava tanto o seu? Não é possível que aquele ódio todo fosse por causa do Polifemo, muita gente já fez coisa pior para mim e ele nunca fez nada do tipo, mesmo que tenha falado que sou o filho preferido.

Atesse me analisou e suspirou, balançando a cabeça e bebericando um vinho que eu nem tinha percebido que estava lá. Os olhos cinza dela já tinham voltado para a cor normal e eram tão claros que eu conseguia ver meu reflexo neles.

— Isso você e Annabeth vão ter que descobrir sozinhos. Tem assuntos que eu simplesmente não posso comentar nada, pois alguns Deuses iam ficar realmente bravos comigo. Acho que devíamos procurar minha irmã, ela pode se perder aqui.

A semideusa se levantou e foi na minha frente, caminhando com passos firmes e com a postura perfeita. Passamos por vários corredores antes de encontrarmos Annie. Ela estava sentada ao lado de uma árvore e observava algumas corujas voarem, o Sol fazia seu cabelo loiro brilhar como ouro e parecia estar concentrada demais, notei que ela realmente tinha ficado magoada com as coisas que Atesse lhe falou.

— Vou deixar vocês dois sozinhos e é provável que não me encontrem aqui depois. Até mais, Percy Jackson. E cuide bem de si mesmo.

— Até mais, Atesse. Eu até diria para você se cuidar também, mas acho que você é bem experiente nesse assunto. - Ela sorriu e foi embora, acenando para Annabeth que, por incrível que pareça, lhe deu um de seus sorrisos encantadores.

Me sentei ao lado de minha namorada e olhei para a paisagem linda, que me lembrava o Olimpo de muitas formas.

— Sabidinha, você tá melhor?

— Sim. Eu sei que ela está certa, minha conversa com Apollo foi esclarecedora em vários aspectos e tudo mais, só que eu não estava preparada para escutar a verdade de uma semideusa. Faz parecer mais real. E agora eu também estou frustrada porque não descobrimos nada de novo sobre nossos pais! - Ela bufou e fez um bico, eu a puxei para um beijo e senti seus lábios se curvarem em um sorriso.

— É claro que descobrimos! Você acha mesmo que essa fonte é algo recente? Eu aposto que não! Se bobear é a fonte que ele fez aparecer quando eles dois disputaram a cidade. E ela falou algo sobre Odisseu, disse que eu e você teríamos que descobrir sozinhos.

De repente ela gelou, do mesmo jeito que fazia quando descobria algo que ninguém mais sabia.

— Percy, se você estiver certo então nada disso é recente! Essa amizade deles...ai meus Deuses! E esse negócio com Odisseu também não ia ter sido só pelo ciclope! E as dicas que Atesse nos deu, sobre não ter sido do nada e sobre tudo ser complicado demais! - Annie se levantou rapidamente e pegou minha mão, me puxando de volta para o quarto de Atena. Eu não sabia nem se isso era permitido e fiquei com medo de ser pulverizado, pois Atesse não estava aqui.

Nós chegamos perto da fonte e vi Annabeth apertar o mesmo botão que fazia aparecer uma passagem para o mar, aí ela começou a me olhar como se esperasse que eu fizesse alguma coisa.

— O que foi?

— Como assim, cabeça de algas? Entra nessa passagem e me conta tudo o que você conseguir enxergar lá!

Me senti um pouco lerdo e comecei a descer a passagem, que parecia um túnel de pedras marinhas e com umas pedras brilhosas e esverdeadas, mas não conseguia entrar dentro do mar de jeito nenhum, uma barreira invisível me impedia.

— Annie, eu não consigo entrar. Tem alguma coisa aqui que não me deixa passar!

— Ah, merda! Deve estar enfeitiçada!

Saí da passagem e me sentei no mesmo sofá de antes. Será que meu pai e minha sogra inventaram aquela inimizade para enganar os outros Deuses? Ou para se protegerem de alguma outra coisa?

— Annie, eu posso estar muito enganado e realmente quero estar, mas acho que nossos pais são excelentes atores e vão deixar Dionísio muito orgulhoso com esse teatro todo.

— Não acho que seja atuação, amor. Acho que eles podem ter sido próximos e as brigas foram longe demais, estragando a amizade e os afastando. Eles só foram se aproximar de novo há pouco tempo, pelo visto.

— E se não for apenas amizade?

— Eu já pensei nisso, mas não tem nada que sustenta essa teoria, não é? Se fosse mais que isso, eles teriam que enganar Afrodite e não acho que conseguiriam fazer a Deusa do Amor de boba na própria área. - Ela falou isso, mas não parecia estar muito segura.

— Na verdade nós temos algumas provas, sim. A nossa adorada amiga com cobras na cabeça disse que sua mãe estava com ciúmes e eu tenho certeza que Odisseu não recebeu aquela punição todo só por ser arrogante e por ter furado o olho de Polifemo. Eu sou o filho preferido do meu pai, mesmo assim ele não amaldiçoou ninguém que me fez mal.

— Você acha que Poseidon estava com ciúmes de Odisseu?

— Sim. Esse cara foi o mortal que sua mãe mais admirou, não foi? Ao ponto de ter a primeira criança dela com ele. Ela parecia gostar muito desse homem, muito mesmo e aparentemente também tinha bastante confiança.

— É, minha mãe realmente gostava dele. Quando recebi a marca, ela não estava sã nem nada, e mesmo assim se lembrava de Odisseu, falou que ele saberia como ajudar a encontrar o caminho para casa. - Annie sacudiu a cabeça e me olhou, depois voltou seu olhar para o mar. - Mas tem outro que ela também gostou muito. O nome dele é Diomedes, ele foi tornado imortal por ela e acho que os dois são próximos até hoje.

— E do que adianta serem próximos sendo que é de Odisseu que ela lembra quando precisa de ajuda? Tem alguém que possa nos esclarecer tudo?

— Sem serem punidos pelos dois Deuses? Não.

— E Afrodite?

— Tá maluco, Percy?! - O jeito que ela falou fez parecer que eu tinha assassinado uma coruja. - Olha, eu realmente acho muito improvável que ela não saiba de nada dessa história, mas não quero arriscar isso. Se ela não souber, nós vamos estar entregando os nossos pais e se eles não falaram disso para ninguém, significa que os Deuses não podem saber.

— Eles falaram para Atesse.

— Não, eu acho que ela descobriu e os confrontou, não acho que nossos pais tenham contado para ela. E mesmo se tiverem, ela provou que guarda segredos muito bem.

— Será que nossos pais, os pais mortais, não sabem de nada? Podíamos fazer perguntas não tão diretas.

— Eu pensei nisso e a pessoa mais provável de ter essas informações é a sua mãe. Eu estou com medo de perguntar algumas coisas para o meu pai, sabe? Depois que ele me disse que ainda ama minha mãe, eu achei melhor não perguntar mais coisas sobre o tempo deles juntos.

Cara, isso era complicado. Eu sabia que minha mãe não amava mais meu pai desse jeito, agora ela tinha Paul e Estelle também, só que as coisas na família de Annabeth eram bem diferentes. Bem mesmo. Frederick e Helen se amavam e tudo mais, mas não era segredo que ele ainda gostava muito de Atena, deixou isso mais do que claro quando fomos na missão para resgatar Annabeth e Ártemis.

— Tem algum imortal que possa nos ajudar e que não seja fofoqueiro? Ah, e que de preferência tenha visto tudo entre Atena e Poseidon?

— É lógico que tem, mas eu não acho que seja muito seguro envolver esses Deuses.

— Que seriam?

— Héstia, Hades, Hefesto e Dionísio. Hefesto e Dionísio talvez não tenham visto tanta coisa assim, mas seriam de ajuda. Olha, eu não acho legal envolver mais Deuses ou seres imortais. - Ela falou, meio preocupada e olhou para as mãos. - Eu já perguntei para Apollo algumas coisas e isso já pode ter chegado na minha mãe.

— Sabidinha, ele está sendo punido. Não acho que tenha dado tempo dele falar com Atena.

— Ah, nem me lembre disso. Essa punição foi injusta demais, Apollo não teve culpa disso tudo. Por que ninguém pune a Hera? - Assim que ela falou isso eu me toquei de uma coisa que realmente não tinha percebido até agora.

— Annie, você percebeu que falamos mal de boa parte dos Olimpianos e nada aconteceu?! Será que esse lugar é protegido por alguma coisa?

— É mesmo! Deuses, eu nem me lembrei disso! AH, vamos sair daqui! Estou ficando estressada nesse lugar que é cheio de mistérios e que não consigo resolver nenhum! Odeio não saber das coisas! - Ela falava, irritada, enquanto me puxava para a saída do castelo.

Nisso nós passamos por uma arena, onde um homem alto demais para os padrões normais lutava com alguém. E ele estava tomando uma verdadeira surra. De repente ele foi levado ao chão com uma força inacreditável e eu vi com quem ele lutava. Atesse.

O cara se levantou bem rápido, porém ela era mais rápida e quando ele jogou a lança, Atesse fez um movimento muito sensacional, segurou a lança no ar e a rodou na mão, depois jogou nele e o acertou com tudo no ombro, isso fez o cara gritar de dor e avançar novamente, mas a semideusa pulou em suas costas e torceu o braço dele, o mesmo do ombro machucado. Ela era extremamente feroz no campo de batalha ao ponto de parecer que estava lutando por sua vida.

— Eu nunca quero entrar em uma briga com sua irmã. Nunca mesmo.

Uma verdadeira guerreira que guardava segredos como ninguém. Quando saímos do castelo eu comecei a rir da situação que tinha me metido.

— O que foi, Percy?

— Derrotamos monstros, salvamos o mundo e temos umas outras bilhões de aventuras nas costas, mas agora estamos parecendo dois filhos da Deusa do Amor tentando descobrir coisas sobre romance e sobre nossos pais. Nunca imaginei que minha vida de semideus ia chegar nesse nível de absurdo.

Annie começou a rir também e me abraçou, fomos andando até o nosso novo hotel enquanto conversávamos sobre a possibilidade de fazer um Tinder Olimpiano e como Hermes e Afrodite iriam adorar essa ideia.

 


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