Contos Olimpianos escrita por Marquesita M


Capítulo 4
Nascimento




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   Ilíada/Odisséia

Poseidon não acreditava que isso tivesse acontecido no meio de uma guerra e com aquele homem maldito que a Olimpiana tanto admirava e protegia. Não, como que ele iria se controlar na frente do conselho inteiro, quando tudo o queria era gritar de raiva e ódio por não ter sido ele o qual ela recorreu para aquilo ou por ele não ser o que teria a honra de ser o pai de sua primeira criança. Ele não iria para conselho nenhum. Não antes de entender tudo o que estava acontecendo em sua vida imortal e infernal, queria gritar para as parcas que aquilo não estava sendo justo. 

O Deus do Mar foi direto para o templo dela, assustando algumas ninfas e espíritos da natureza com sua expressão fechada e raivosa, não se importou com formalidades e educação quando chegou, apenas entrou e trancou a porta. Athena se virou rapidamente para ele, parecia que já o estava esperando. Não chegou perto dele, somente o encarou com aqueles olhos cinzas que pareciam raios e que o deixavam cada vez mais encantado. Odiava o poder que aquela mulher tinha, Poseidon a deixaria fazer o que desejasse com ele e naquele momento começou a se perguntar se existia alguma forma, qualquer coisa que o desprendesse dela. 

— É verdade? - Perguntou em uma voz baixa e dura, que logo se transformou, ficando alta e raivosa. - É verdade que teve uma criança com aquele mortal desgraçado?!

— Não fale assim dele! E o que eu faço ou deixo de fazer não é da sua conta! - Athena retrucou no mesmo tom, já perdendo a paciência. - Eu não te devo satisfações, então se veio aqui para isso eu sugiro que vá embora, estou ocupada.

Ele riu e se aproximou dela, que não se moveu. Fazia tanto tempo que não ficavam próximos daquele jeito, que ele momentaneamente se esqueceu de tudo o que iria falar, dos tantos xingamentos e maldições que estavam na ponta de sua língua. Era só olhar para aquele rosto que se esquecia do mundo todo, aquele rosto firme e sério, régio e com um ar de guerra que ele tanto amava.

— Não faça seus jogos comigo, não consegue me enganar. Eu sei que já estava me esperando.

— Engraçado você falar de jogos como se nunca tenha feito nada de errado. É tão culpado quanto eu e sabe muito bem disso!

Ela tentou se afastar, mas ele a segurou pelo braço e fez com que a Deusa voltasse para o mesmo lugar que estava, entre ele e a mesa que vivia cheia de planos e estratégias bem organizadas. Poseidon colocou as mãos nos dois lados do corpo de Athena, ficaram tão próximos que suas frentes se chocavam e isso fez com que ela prendesse a respiração.

— Você não vai sair daqui até ser franca comigo. Isso é algum tipo de vingança atrasada por eu ter me casado com Anfitrite? Era você que falava que entre nós só existia coisas carnais, não é? Foi você que jurou nunca se casar e foi você que disse que eu precisava de uma Rainha!

Ela o empurrou com tanto ódio que o assustou, batendo em seu peitoral com os punhos fechados e seus olhos escureceram perigosamente.

— Não fale o nome dessa mulher perto de mim! E não tem nada de vingança, apenas aconteceu! Ele não é um monstro, Poseidon! E não se atreva a jogar essas palavras contra mim, pois foi você que disse isso e depois ficou irritado quando eu as repeti. - Respirou fundo e olhou para o Deus do Mar com certa indignação. - E meu juramento vai continuar de pé, eu não quero me casar. Nunca quis e você sabe todos os motivos por trás disso. 

Para Poseidon, Odisseu era pior do que isso, muito pior do que qualquer monstro ou criatura das trevas. Cada vez que pensava em Athena com o rei de Ítaca, seu estômago parecia que estava sendo apertado e uma raiva descomunal lhe subia a cabeça, estava parecendo Ares, com vontade de matar alguém e a ira o consumia ao ponto de seu corpo começar a tremer, assim como o Mar que acompanhava seus sentimentos. Ele sabia que tinha uma parcela de culpa bem grande nisso, só que a Deusa também tinha. 

— Ele é um imbecil! - Falou com veneno o suficiente para transparecer todo o seu desgosto, o que fez Athena fechar os olhos e suspirar. - Você se deitou com ele?! Você o ama?! RESPONDE, ATHENA!

Os dois Deuses ficaram em silêncio, tentavam respirar de forma tranquila, mas estava sendo impossível. A mulher se encostou na mesa mais uma vez e ele virou de costas, apertando os olhos para que as lágrimas de raiva não saíssem, foi um esforço ridículo, pois em poucos segundos elas já estavam escorrendo. Nenhuma mulher se comparava a Athena, ela era a única capaz de lhe fazer sentir coisas com a maior intensidade possível. A relação que mais lhe trouxe alegria e que o destruiu por completo quando chegou ao fim. Não, aquilo não poderia ter um fim, seu coração parecia que estava sendo rasgado e esquartejado de tanta dor emocional e ele não sabia o porquê, não poderia ser amor ou coisa do tipo, poderia? Amor era uma palavra muito forte para duas pessoas que viviam em conflito.

— Poseidon…

— É claro que você dormiu com ele. E com isso tenho a resposta das minha outra pergunta, não é mesmo? - Ele começou a fazer o caminho para sai daquele lugar que estava cheio de lembranças, não queria se torturar mais com nada daquilo. - Eu não vou te perturbar mais com isso, espero que seu caso com o herói te traga felicidade.

Poseidon virou para dar uma última olhada na Deusa da Sabedoria, que tinha o rosto para baixo e mordia o lábio, como se estivesse em uma batalha interna. Voltou-se para a porta de novo e quando abriu, ela se fechou sozinha, desse vez sendo trancada com algo que só Athena tinha o poder para abrir.

— Volte aqui. Volte aqui agora e me escute, porque não vou repetir isso muitas vezes durante a minha vida. - Embora tenha falado para ele ir até lá, foi ela que andou para o encontrar com passos largos e decididos, segurando firmemente o rosto do Senhor dos Mares em sua mão. - Eu nunca, NUNCA, fui tão feliz quanto fui com você. E jamais serei. Eu não amo Odisseu ou qualquer outro que passe por sua cabeça. É por você que eu sou completamente louca, seu infeliz! 

Aquilo foi o suficiente para que ele a beijasse de um jeito feroz e que transbordava suas emoções. Não era exatamente uma declaração de amor, Poseidon sabia que ela evitava aquela palavra quando estava conversando com ele, não podia julgá-la por isso, tinha noção do quão perigoso era se expressassem tudo o que existia em seus corações. Enroscou a mão naqueles cabelos pretos gigantes que tanto lhe chamavam atenção e puxou-a para si com força.

— Eu odeio o quanto você me tem na palma da mão, Athena. Você me faz perder completamente a cabeça. Eu não posso aguentar isso por mais tempo.

— Nós vamos ter que nos afastar. Em algum momento vamos ficar juntos novamente, mas isso não vai ser por agora e acho que você sabe disso, e quando voltarmos nós nunca mais vamos esconder nossa relação. Eu quero que você se lembre o quão importante é e sempre vai ser para mim, quero que prometa que nunca vai esquecer de nós dois. 

— Eu não conseguiria esquecer nem se me enfeitiçassem.

— Ótimo. - Ela encostou sua testa na dele e sorriu. - Você quer conhecer minha filha?

Isso o pegou desprevenido, porém ele assentiu mesmo assim e a acompanhou até um dos quartos que tinha no templo. Quando entrou, não pode evitar que um sorriso surgisse. O lugar era decorado em dourado e a maioria das coisas eram feitas de madeira, com estátuas que se moviam e corujas que observavam um berço pequeno e redondo. Poseidon prendeu a respiração quando viu a criança, que não tinha nada de Odisseu além da cor do cabelo.

— Ela se chama Atesse e um dia será uma grande guerreira. - A menininha abriu os olhos cinzas e encarou a mãe, que afagou sua cabeça carinhosamente. - Meu pai permitiu que eu a criasse aqui por um tempo, não sei quando ela terá de ir embora.

— Ela é adorável, é você inteira. Espero que não seja tão teimosa, já é difícil conviver com uma Athena sem perder a sanidade, que dirá duas.

Os dois Olimpianos trocaram um olhar triste e deram um último beijo cheio de sentimentos e promessas.

— Espero que não me odeie tanto assim durante esses próximos anos, não vai ser nada fácil para nós.

— Vamos brigar sempre e você sabe disso, Athena. Eu sou seu rival, entretanto eu jamais seria capaz de realmente te odiar.

— Acho que depois de tudo o que vivemos, não teria como eu te odiar também. Somos rivais.

Rivais para o mundo. Discordavam de tantas coisas, concordavam em muitas. Esconderam esse relacionamento por tanto tempo que Poseidon tinha até perdido a conta, ninguém desconfiava que eles, que sempre brigavam ou discordavam de alguma coisa, guardavam esse segredo. A Deusa da Sabedoria e ele, o Deus do Mar, nunca deixariam de ter atritos, mas em nenhum momento se esqueceram das promessas que foram feitas durante aquele dia. Iriam ser um só novamente, não sabiam quando, apenas sabiam que iriam estar juntos em algum momento futuro. Eram rivais e amantes.

— Athena, eu… - Ah, ele ficou tentado em lhe dizer a verdade proibida, por mais que no fundo tivesse certeza que ela já sabia de todos os fatos. Bom, ele também sabia.

— Não fale, não agora. Quando realmente mudarmos e estivermos prontos, você poderá me dizer isso quantas vezes quiser, mas agora nós precisamos nos afastar. Quando estivermos bem e nos aproximarmos de novo, prometo lhe contar todas as coisas que sinto e que guardei.

 


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