Contos Olimpianos escrita por Marquesita M


Capítulo 16
Profecias




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Profecias

Por muito tempo, Métis negou a existência de tal profecia. Ignorou ao inúmeros avisos de suas irmãs e de seus pais, deixou de lado os olhares preocupados que Prometeu lhe lançava e isso pareceu funcionar. Estava praticamente convencida de que aquela profecia não seria cumprida. Isso tudo mudou quando percebeu que alguma coisa poderosa estava crescendo dentro de si. Não alguma coisa, uma criança. Uma Deusa.

Sim, uma mulher viria primeiro, justo como a profecia. Métis se lembrava bem do dia em que Gaia fez sua presença ser notada no meio do salão de seu pai, dizendo que ela seria mãe de duas divindades poderosas e inteligentes, a mulher viria primeiro e seria o motivo de maior orgulho do pai, mas o homem, que viria depois, iria se rebelar contra ele e tirá-lo do poder. No momento que colocou seus olhos em Zeus, ela soube que ele seria o homem com quem se casaria. E ele seria o homem que iria causar sua destruição, ou seria destruída pelo amor que sentia por ele ou de alguma outra forma que envolvesse as parcas.

Passando as mãos na barriga, que ainda não aparentava estar carregando alguém, a Rainha dos Deuses se sentou em sua cama e suspirou, o nervosismo crescente. A cachoeira que tinha em seu quarto deixava claro que o cansaço interno, também estava se tornando externo. Quando se casou com Zeus, não conseguia entender o por quê seu futuro filho iria querer tirá-lo do poder, pois ele era um excelente governante. Agora, depois de alguns anos, ela conseguia ver todos os motivos com clareza. Ele nunca estava satisfeito com poder e sempre queria mais, além de pensar que todos estavam contra ele na maior parte do tempo, chegando ao ponto de acusar Hades de traição. E mesmo com todos esses defeitos, ela não conseguia deixar de amá-lo e o conhecia melhor do que ninguém. E era por esse motivo que tinha medo, não sabia mais o que esperar do Deus que tanto lhe trouxe alegrias, pois agora ele só vinha com preocupações e raiva, com acusações absurdas e cegas. 

Sabia que Zeus a amava, que nunca desconfiaria dela ou a faria sofrer se estivesse em um momento são, mas naqueles últimos meses ele nunca estava bem, sempre procurando por culpados e traidores, querendo mais do que devia, desejando tudo que lhe fizesse chegar cada vez mais alto. Mesmo sabendo dessa profecia, ele escolheu se casar com ela. Talvez isso significasse alguma coisa. Ou talvez não. E Métis, como a boa Deusa da Prudência que era, queria estar preparada caso precisasse fazer alguma coisa.

A mulher de cabelos castanhos correu para suas irmãs, procurando especificamente por Idia, a visão. Idia e Estige foram as irmãs que ela mais se aproximou e por mais que amasse todas as Oceanides, elas duas tinham um lugar especial em seu coração. E como sempre foi, se encontrasse uma, encontrava a outra.

No momento em que colocaram os olhos nela, as duas Deuses já perceberam que alguma coisa estava errada. Logo notaram que as mãos da esposa de Zeus estavam acariciando a barriga de forma protetora e seus olhos se arregalaram. A pele branca de Estige se tornou esverdeada, como se estivesse doente e Idia, com seus cabelos vermelhos iguais aos de Dione, parecia desnorteada ao prendê-los em um coque e se aproximar dela com a maior cautela, suas próprias mãos estendidas para tocar o ventre de sua irmã.

— Eu preciso de ajuda, Idia. - Por mais que quisesse transparecer uma falsa sensação de calma, sua voz lhe entregou. Nunca conseguia fingir em frente de suas irmãs. - Preciso saber o que vai acontecer comigo e com a minha filha.

As três irmãs eram absurdamente diferentes. Enquanto uma era sombria, quieta e assustadora, com cabelos negros que escondiam parte de seu rosto, a outra tinha madeixas brilhantes e vivas, sempre com sorrisos e uma palavra amiga. Métis era a guerreira, alta e um tanto musculosa, cabelos rebeldes e castanhos, um rosto bonito e ao mesmo tempo intimidador, e seu humor era muito parecido com o mar, imprevisível.

— Farei o que puder.

E fez. Fez o que devia e não devia. Descobriu exatamente o que aconteceria dali em diante na vida de sua irmã. Tudo estava desmoronando como uma grande montanha de pedras e Métis estava no ponto de ser esmagada pelos destroços. Idia contou absolutamente tudo, sobre todos os jeitos e formas, o que aconteceria, o que seria evitável e o que não seria.

— Você não pode contar para ele, Métis! - Estige gritou com ela, segurando seus braços com força. Seus olhos escuros brilhavam com o medo que sentia. - Nós podemos fazer alguma coisa, podemos escolher outro caminho!

A Deusa da Prudência sorriu tristemente, com lágrimas caindo de seus olhos azuis e acariciou o rosto de sua irmã, que sempre tinha sido mais séria e reservada, as vezes um tanto fria, raramente demonstrando emoções. Estige ainda olhava para ela assustada, mas não tirou sua mão.

— Existem três Parcas, o que significa que tenho três caminhos… esses caminhos levam todos ao mesmo lugar, Tige. Esse é o meu destino. Não sei quando Gaia entrará na cabeça de Zeus, se será hoje ou amanhã, mas quero estar preparada para quando esse dia chegar. - Suspirando, Métis pegou as mãos de suas duas irmãs e as apertou. - Quero que me prometam uma coisa.

— Qualquer coisa. - Idia afirmou.

— Prometam cuidar da minha criança por mim. Pelo o que Idia falou, ela não terá uma vida fácil e eu sinceramente não confio em Hera para cuidar dela de uma forma adequada. Cuidem dela como cuidaram de mim.

— Eu vou fazer de tudo para olhar por ela.

— Farei o que conseguir do mundo inferior.

— Então eu sei que ela estará em boas mãos.

As três se olharam e se abraçaram fortemente, sabiam que aquele seria o último abraço que dariam como um trio, a ultima vez que veriam a mulher que cresceu junto com elas e que esteve em todas as suas aventuras.

— Falem para nossos irmãos que eu os amo. E se papai e mamãe não voltarem antes que aconteça, diga que os amo muito e que nada disso é culpa deles. Eles foram os pais mais amorosos do mundo. - Ela olhou para Estige e a cutucou de forma brincalhona. - Está se tornando emotiva?

— Cale a boca, sua idiota! - Ela vociferou, mas se jogou nos braços da morena novamente. - Você sempre será minha favorita.

— Eu amo vocês. Não se esqueçam disso. - Suspirando, ela acrescentou. - Façam com que Prometeu entenda minha decisão.

Quando saiu de lá, a Rainha dos Deuses se sentia perdida e vazia, como se tivesse chorado por horas. E ao mesmo tempo se sentia conformada. Atena seria feliz, seria forte, inteligente, corajosa e poderosa. Seria indomável.

Chegando ao Olimpo, Métis foi em todos os lugares que mais gostava, conversou com os Deuses que lhe eram caros e fez tudo que faria em um dia normal. Sua última parada foi em sua praia favorita.

As conchas pareciam ainda mais brilhantes e ela começou a pegá-las suavemente, com medo de seus poderem fazerem rachaduras. Seriam suficientes para um colar típicos de Oceanides e Deuses-Rio, dessa forma ela não seria esquecida e estaria com a criança para sempre, mesmo que em outra forma.

— Eu vou estar sempre olhando para você e nesse colar você terá uma coisa só minha. Uma proteção das águas, que só as pessoas que tem o poder de controlá-la possuem. - Ela falou suavemente para sua barriga. - Talvez você não controle as ondas, mas sempre terá ajuda quando precisar. Ou talvez as controle de uma forma diferente, afinal de contas você será a Deusa da Sabedoria. E o meu anel, ele se transforma em um tridente divino e poderoso. Ganhei esse tridente quando nasci e ele me acompanha desde então, foi um presente de meus pais, junto com as pérolas da minha coroa de princesa do Oceano.

Limpando as lágrimas que escorriam pelo seu rosto régio e singular, Métis segurou o anel e o colar nas mãos, deixando-os cair no mar. Respirou fundo, levantou as mãos e os dois foram envolvidos em uma luz dourada, que entrou dentro deles.

— Sua vida será cheia de aventuras e de uma forma ou de outra, quero que as compartilhe comigo.

Mais uma luz surgiu, uma leve luz azul que se chocou contra as jóias do mar. Em um instante, uma inscrição apareceu. Αθήνα.

 


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