Contos Olimpianos escrita por Marquesita M


Capítulo 17
Antes da Tempestade


Notas iniciais do capítulo

N/A : O primeiro capítulo foi apagado e eu reescrevi o segundo, que tomou o lugar do primeiro. Vou escrever nas notas todas as vezes que um dos capítulos for reescrito. Leiam! É o "Recomeço"



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Antes do último olimpiano 

Poseidon suspirou, estava cansado de escutar o mesmo discurso de Zeus durante o solstício e de minuto em minuto olhava para Atena, que estava sentada em uma posição que o lembrava muito de seu irmão. Depois de todos esses anos, ele ainda tinha dificuldade de acreditar que a Deusa da Sabedoria era filha de seu irmão, mas em alguns momentos conseguia ver as semelhanças que deixavam bem claro seu parentesco.

Ele se lembrava da última vez em que falou com Atena e se arrependia do que tinha dito, ainda mais agora. Ela havia acabado de perder um de seus filhos que mais tinha sido próxima e mesmo que Dédalo tenha se tornado algo que ninguém pensou que se tornaria, provavelmente pelo luto que passou, ele tinha tomado uma decisão corajosa ao finalmente abraçar a morte e encarar a pessoa que foi responsável por acabar com sua vida mortal.

Do canto do olho, o rei de Atlantis conseguiu ver que Hades o observava e levantou uma de suas sobrancelhas, silenciosamente perguntando o que ele queria. Ele deu de ombros, mas Poseidon viu que seus olhos foram para Atena, que olhou para Hades logo que sentiu que estava sendo observada. Ela, assim como Poseidon, também arqueou uma sobrancelha e seu olhar intenso se prendeu ao Deus do Mundo Inferior, que lhe lançou um sorriso. Poseidon franziu o cenho, achou estranho o ato, já que Hades sorria de uma forma aceitável apenas quando se dirigia a Perséfone, e mesmo assim eram raras as vezes. Sua desconfiança aumentou ao notar que Atena retribuiu o sorriso com um dos seus próprios, de uma forma mais fraca.

— Estão liberados para as festividades! - Hera encerrou o conselho com uma voz estranhamente alegre. - E não bebam demais! Não vamos repetir o que aconteceu no ano passado!

A sala dos tronos foi se esvaziando aos poucos e antes que Poseidon pudesse chegar ao lugar da Deusa da Sabedoria, Dionísio já estava ao lado dela, guiando-a com uma das mãos em suas costas. Os dois pegaram seus cálices de vinho e sentaram afastados dos demais, conversando de forma próxima. A cada minuto que passava, Poseidon ficava mais estressado e ansioso, queria falar com ela antes que voltassem para a mesma rotina, porém todos pareciam querer um pouco da filha de Zeus para si naquele dia.

— Se ficar olhando nessa intensidade por mais alguns segundos, vai conseguir abrir furos nas costas de nosso sobrinho. - A voz de Hades fez com que o moreno tirasse os olhos da cena. - Pensei que vocês dois se detestavam...e agora te vejo aqui, se remoendo por não conseguir um minuto de atenção da Deusa mais brilhante do Olimpo. Essa família não cansa de me surpreender.

— Não sei do que está falando. - Poseidon respondeu e tomou um longo gole da bebida que segurava, voltando sua atenção para Atena e Dionísio. - E pelo que vi, você estava sorrindo para ela durante o conselho inteiro. Perséfone pode ficar com ciúmes.

O tom sarcástico e ácido que o Deus do Mar usou fez com que Hades sorriso ainda mais, soltando um leve riso.

— Aparentemente não é Perséfone que pode ficar com ciúmes, não é mesmo? - Antes que pudesse respondê-lo, Hades o interrompeu com outro riso. - Deveria se preocupar mais com os outros Deuses do que comigo. E não se perturbe muito, não vou falar nada para o nosso irmãozinho.

— Não tenho ciúmes, apenas achei estranho que você tenha se aproximado dela.

— Não diria que somos próximos, mas admiro muito a capacidade mental dessa mulher...se não soubesse que também é filha de Métis, eu nunca acreditaria que nosso irmão foi quem a fez.

— Não é o único. - Ele devolveu, balançando o cálice nas mãos. - Já que tocou no assunto, o que te fez sentir solidário com Atena no dia hoje?

— Sua curiosidade está aflorada, não é? - O tom sarcástico fez com que Poseidon fechasse a cara, embora tivesse se mantido calado. Queria saber a resposta. - Ela acabou de perder um de seus filhos mais brilhantes e antigos, um dos que era mais próxima...e um que vai sofrer muito. A única pessoa que parece alegre com o sofrimento dela é Hera.

— Nossa irmã fica feliz com o sofrimento de todos os filhos de Zeus que não vieram de seu próprio ventre.

— Não tenho como discordar.

Hera e Atena nunca se deram muito bem, apenas colaboravam uma com a outra quando tinham interesses em comum, o que era raro de acontecer. Atena dizia que Hera não tinha nenhum senso de justiça e a rainha dos Deuses pensava que a filha mais velha de seu marido era arrogante e narcisista, que só pensava em si mesma.

— E Poseidon, eu não sei qual é a natureza de sua relação com ela, mas peço que controle sua língua hoje...

Não esperando respostas, o senhor dos Mortos se afastou e deixando o outro irmão ainda mais inquieto. Sabia que não devia ir até lá, mas precisava falar com a Deusa antes que tivesse que voltar para suas obrigações, então interrompeu a conversa que ela estava tendo com um dos guerreiros.

— Desculpe, mas preciso roubá-la por um instante. - Poseidon olhou para a mulher de uma forma penetrante. - Aceita uma dança? Ou talvez um vinho?

Ela não falou nada, apenas se despediu do outro homem e se levantou do banco, fazendo seu longo vestido balançar no vento e se deixando ser conduzida por ele para um lugar mais afastado dos outros Deuses, onde ambos pegaram mais vinho. O rei de Atlantis não pode deixar de notar que ela deu um longo gole na bebida, sem nem saborear antes de engolir.

— O que quer? - A mulher falou quando chegaram em um dos jardins, sendo direta. - Se me chamou aqui para discutir de novo, sugiro que vá embora e me deixe em paz. Não estou boa para brigas hoje.

— Sinto muito por Dédalo.

— Sente, é? - Ela falou, desacreditada. - Não sabia que você era capaz de sentir pena das pessoas. De todas as formas, eu não esperava nada diferente dele...de todas as minhas crianças, ele sempre foi o mais ambicioso e não media esforços para conseguir o que queria, a única pessoa que colocava algum senso dentro daquela cabeça dura era Ícaro. Eu fui dura com Dédalo, mas não tenho remorsos. Ele finalmente entendeu o que deveria ter entendido desde o início e a minha mágoa de hoje não é com ele, por mais que todos pensem que é. Eu escolhi tê-los com a consciência de que eles morreriam e eu não. A única vez que fui pega de surpresa foi com Erictônio, meu primeiro filho...

— Eu me lembro.

Sim, não havia como esquecer. Poseidon nunca escutou um grito tão desesperado e dolorido em toda a sua vida, e esperava nunca escutar aquele som sair dela novamente. Todos os Deuses se lembravam do dia em que Atenas pegou fogo pela primeira vez, eles segurando Atena, que tentava desesperadamente chegar ao seu filho, embora já fosse tarde demais para que pudesse salvá-lo. Foi o primeiro filho que a Deusa perdeu. E foi o único que ela não havia pretendido ter, que lhe veio de surpresa.

— Eu sei que sim, foi você que me tirou da cidade depois que consegui me livrar dos outros e descer até lá.

— Se não está chateada por isso, pelo o que está?

— Sabe muito bem o motivo, não precisa se fazer de desentendido agora.

Ele entendeu o que ela quis dizer e o remorso cresceu em seu peito. Ambos ficaram em silêncio por um tempo, sem saber o que dizer para o outro e ele aproveitou esse momento para observá-la melhor. Seus cabelos estavam presos em um coque bonito e um tanto frouxo, que paravam no meio de sua nuca. Sua roupa, como sempre, era formal e bonita, que lhe caia perfeitamente bem, ela tinha mania de fazer suas próprias togas e sempre usava cores que destacavam seus olhos e sua pele.

— Não devia beber tanto assim.

— Acabou de me levar para pegar mais, sugiro que se decida.

— Você realmente devia parar de beber tanto assim.

Desde que experimentou vinho pela primeira vez, Atena adoro a bebida. Isso fez com que ela e Dionísio se aproximassem, assim como o amor que ambos tinham pelo teatro. Porém, ela não tinha o costume de beber para afogar mágoas, isso havia mudado há uns dezesseis anos, e desde então era comum encontrar a filha de Zeus se afogando em vinho quando algo lhe tirava a paz.

— E você devia parar de falar e cuidar de sua própria vida.

— Falo sério, Atena. - Ele disse, um tanto exasperado.

— E pensa que estou de brincadeira? - A Olimpiana se levantou e se virou de frente para ele. - Eu nunca estou de brincadeira, mas todos vocês acham que meus avisos são uma piada e eu estou cansada disso! Eu sempre vivo um inferno quando alguma coisa nos ameaça!

Ela se afastou, porém ele já havia se levantado e segurado sua mão, fazendo os dois aparecerem no palácio de Atenas. Antes que a mulher pudesse protestar, Poseidon já havia feito com que todo o poder do vinho de Dionísio saísse dela, a deixando completamente sóbria.

— Eu vim aqui para me desculpar com você. - Ele tentou explicar de uma forma que não fizesse a ira dela aumentar. - Sei que errei.

— Por qual motivo? Por me acusar de coisas absurdas, ser arrogante ou por duvidar da minha capacidade mental? Ou talvez por ter sido um completo idiota? Ou por questionar a criação que dei aos meus filhos? - O rosto régio dela se contorceu de tristeza e raiva. Não estava tão irritada, embora a mágoa continuasse presente. - Se tivesse me escutado antes, não estaria com uma guerra batendo na sua porta. Eu avisei que não poderíamos contar com os titãs dessa vez!

Ela tinha avisado para todos que os titãs não seriam idiotas, eles queriam o poder que tinham antes dos Deuses tomarem seu lugar, queriam o que perderam quando os filhos de Cronos o jogaram no Tártaro. E muitos deles estavam ali por vingança.

— Eu não esperava que Oceano fosse fazer isso, Atena.

— É claro que não esperava, Poseidon. E é por essa razão, entre outras, que eu sou a Deusa da Sabedoria. A forma mais fácil de vencer meu pai é tirando seus aliados do caminho, se Oceano tomar Atlantis, ele tira você do jogo. - Atena apontou um dedo acusatório para o Deus do Mar. - E tirando você do jogo, ele consegue romper o equilíbrio do mundo. Oceano não está atrás de poder, ele está atrás de vingança pelo o que aconteceu com minha mãe!

— Então por quê ele está se aliando aos outros?

— Porque não tem como ele vencer meu pai sozinho! Você e todos os outros sabem que a forma de deixar meu pai louco e desestabilizado é ameaçar seu reinado, seu poder! Ele vai ficar paranóico e não irá conseguir enxergar as verdadeiras ameaças, deixando o Olimpo mais vulnerável.

— Está preocupada com o Olimpo ou comigo? - A voz dele saiu um tanto presa e baixa.

Atena suspirou e passou as mãos pelo pescoço, um gesto que fazia sempre que estava muito nervosa, mas não impediu que seus olhos cinza se encontrassem com os verdes do homem. Os olhos dela sempre foram expressivos, assim como os dele. Conseguiam se entender muito bem apenas por olhares como aqueles.

— O que você acha? No Olimpo a força está ligada a todos nós, então dividimos as consequências de um ataque. Atlantis está ligada a você inteiramente, se alguma coisa acontecer com seu reino, é você, e você sozinho, que leva o baque.

— Nada vai acontecer comigo, Atena.

— Ganhou o dom da profecia e não me avisou?

— Você não costumava duvidar das minhas habilidades. Acha que ele é mais poderoso do que eu? - Vendo que não iria obter resposta, ele continuou. - Tem dúvidas sobre o futuro?

Ela se virou de costas para ele e andou até a cama, sentando na beirada. O Deus do Mar foi até ela e pegou seu rosto nas mãos, acariciando as bochechas altas.

— Não tenho certeza de que vamos ter um futuro.

A sinceridade das palavras dela o pegaram de surpresa. Poseidon, assim como os outros Deuses, sempre se apoiavam no otimismo de Atena em tempos difíceis, já que ela era a parte estratégica da guerra e sempre pensava em tudo o que podia acontecer, criava planos que nunca falhavam e sempre estava um passo a frente de todos. Agora, não era assim. Se ele não tinha certeza de algo, então realmente estavam em uma situação perigosa. Antes pensavam que tinham todo o tempo do mundo, eram imortais e o tempo, por mais que passasse, era infinito. Agora era diferente e isso fez com que ele percebesse coisas que não enxergava antes. Há quantos anos que não falavam palavras doces um para o outro? Que ficavam balanceando entre rivais e amantes? Não se lembrava da última vez em que tinha elogiado a Deusa, ou da última vez que tiveram uma conversa saudável. Eles haviam perdido coisas grandes por erros pequenos.

— Então deveríamos aproveitar o presente.

Eles se beijaram ferozmente, suas mãos exploravam o corpo um do outro como se aquela fosse a ultima vez que fossem se tocar. Deixaram marcas espalhadas pela pele e outras na memória. Quando a manhã chegou, Poseidon não conseguia se deixar ir embora e ficou observando a mulher que o encantou desde o primeiro momento que pisou no Olimpo. Os cabelos negros dela estavam bagunçados e espalhados por suas costas nuas, ela sempre teve a mania de dormir de barriga para cima e ele adorava acordá-la com carícias na coluna, traçando cada músculo das costas.

— Você é magnífica. - Ele não esperou por uma resposta, sabia que a Deusa estava acordada e que logo iria impedi-lo de continuar falando. - Eu amo você, amo como nunca amei e nunca vou amar ninguém. Eu sou seu, completamente seu e sei que ama escutar isso. Deuses, Atena...eu sou louco por você.

— Se fizer disso uma despedida, eu mato você! - Ela se levantou com rapidez, subindo no colo do Deus. - Eu não tenho certeza do que vai acontecer, mas se deixar que te façam algo...eu mato você, Poseidon! Se não voltar para mim inteiro e vivo, vou fazer com que o Tártaro pareça um piquenique no fim da tarde!

— Nada melhor que uma ameaça após uma declaração de amor. - Ele a segurou pelos quadris largos e tirou uma das mechas de cabelo que tinham caído no rosto da morena. - Quer adicionar alguma coisa?

— Eu amo você, bem mais do que pode imaginar. - Ela suspirou enquanto acariciava o maxilar dele com a ponta dos dedos, deixando que deslizassem até o pescoço. - Bem mais do que é permitido.

— Ótimo.

— Me desculpe por ter sido tão difícil ontem, eu não quis te magoar ou te deixar ainda mais preocupado.

— Não teria sido difícil se eu tivesse te dado ouvidos antes, meu amor. E eu aprecio a sua sinceridade, por mais dura que a verdade possa ser. Precisamos ser francos um com o outro e você abriu meus olhos, como sempre.

Ele a beijou carinhosamente e olhou dentro dos olhos dela, que estavam sem nenhuma das barreiras que ela teimava em colocar, e o encaravam com amor.

— Se sobrevivermos, nós dois vamos ter muito o que resolver, Poseidon...mas se estiver disposto a lutar por tudo de novo, então eu também vou estar.

— Se sobrevivermos, não vou te deixar sair do meu lado. - Ele prometeu. - Nunca mais vamos nos separar.

— Então é melhor que faça o que eu mando, pescador. Precisamos viver.

 


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Notas finais do capítulo

N/A : O primeiro capítulo foi apagado e eu reescrevi o segundo, que tomou o lugar do primeiro. Vou escrever nas notas todas as vezes que um dos capítulos for reescrito. Leiam! É o "Recomeço"



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