Contos Olimpianos escrita por Marquesita M


Capítulo 13
Aparências


Notas iniciais do capítulo

O golpe tá aí...



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Continuação do capítulo anterior.

O jeito que os dois se aproximaram não passou despercebido por Zeus, que mudou a expressão de raiva e ficou com o rosto pálido e confuso, verdadeiramente surpreso. Ártemis também percebeu isso e segurou seu arco com mais força, ela sabia que Zeus não faria nada contra Atena, mas não confiava no pai quando estava em momentos como aquele e não deixaria que ele machucasse sua irmã. 

— Zeus, o que pensa que está fazendo?! Podia ter nos acertado! - O Deus do Mar falou com raiva, apertando seu tridente. - Está maluco?!

— Não mude de assunto, Poseidon! O que está fazendo com minha filha?! Está tentando colocá-la contra mim novamente?! 

Atena soltou o ar que segurava e sentiu lágrimas de alívio se formarem em seus olhos. Seu pai não sabia de seu relacionamento, ele achava que os Deuses estavam preparando um golpe contra ele. Isso foi o suficiente para que Atena se enchesse de raiva e olhasse para o Rei com incredulidade e mágoa.

— O senhor sabe muito bem que aquela situação não foi culpa dele, eu decidi ajudá-los e você também sabe de minhas razões para isso. Não sou maleável! - A voz dela saiu dura e fria, por mais que contasse uma boa quantidade de ira. - Se for me acusar de algo, fale diretamente comigo, Lorde Zeus.

O uso de seu título fez com que o Rei olhasse para sua filha envergonhado, mas ele não estava pronto para deixar o assunto de lado.

— O que estavam fazendo juntos?

— Nada que envolva te tirar do poder, posso garantir. - Atena falou com sarcasmo, impedindo Poseidon de xingar seu pai. - O senhor parece se esquecer que eu tenho uma filha que namora o filho de Poseidon, ou talvez tenha esquecido que eu e ele nos tornamos próximos após a última guerra? Esqueceu que foi ele que saiu para me procurar e me trouxe de volta para casa, meu pai? Ou que ele foi o único que ficou ao meu lado e que escutou meus avisos sobre as guerras?

Zeus olhou para ela e teve a sensação de voltar ao tempo, onde Métis desafiava Oceano para lhe defender, falando que o Deus dos Céus tinha lhe ajudado quando todos os outros viraram as costas. Isso não ajudou em seu humor.

— Atena, o que está me escondendo?

O silêncio que se instalou no local era escurecedor, pai e filha se encaravam ferozmente enquanto os outros Deuses se preparavam para se intrometerem caso fosse necessário. Poseidon notou que a pele de Atena estava do mesmo jeito que a de Zeus, com uma aura elétrica que faria qualquer um que tocasse nela ser eletrocutado, ela estava realmente furiosa, porém tinha percebido que seus irmãos não tinham contado nada sobre Poseidon e provavelmente inventaram alguma mentira para que o rei não ficasse desconfiado sobre esse assunto.

— Não estou fazendo nada que o senhor não possa perceber se prestar um pouco mais de atenção. Agora, se me der licença, tenho assuntos para resolver com Poseidon. - Ela se endireitou e olhou para Hermes e Ártemis. - Dá próxima vez que quiser saber de minha vida, não use meus irmãos.

— Atena, eu ainda não terminei de falar com você.

— Quer me acusar de mais alguma coisa?

— Não me trate assim, Atena! Apenas quero conversar com você, nada mais…já faz um tempo que não vem me ver, sinto falta de sua presença. - E por mais que isso fosse verdade, a Deusa se recusou a dar qualquer passo na direção do pai. - Não seja assim.

— O senhor me acusou de algo sério e agora eu preciso muito de um tempo para mim, ou vou falar coisas que ninguém aqui ia gostar de escutar.

— E esse seu tempo vai ser gasto com meu irmão?! - Perguntou o Rei, indignado.

— Algum problema? Até onde sei, Atena é livre para escolher o que fazer com seus dias, não é? - Poseidon já estava perdendo a paciência e lançava olhares de raiva para o irmão mais novo. Ele não estava bravo por ter sido acusado de nada, já era algo comum entre ele e Zeus essas acusações de traição. - Está preocupado com o que exatamente, irmãozinho?

Zeus se aproximou dele rapidamente, com punhos fechados e olhos raivosos, cheios de eletricidade. Atena, em um movimento ainda mais veloz, se colocou entre os dois.

— Nada de brigas. Falo com o senhor quando estiver mais calma e quando o também já estiver mais tranquilo. 

A Deusa da Sabedoria não deu mais nenhuma abertura para outras discussões, apenas olhou para Ártemis e Hermes, e saiu para fora do Olimpo com Poseidon em seu encalço. 

Os dois Deuses em poucos minutos já estavam andando pela movimentada cidade de Nova York, ambos procuravam algum lugar para conversarem de forma tranquila, embora os nervos ainda estivessem muito presentes. Atena já sabia o que tinha ocorrido, mas Poseidon não e sua irritação refletia nas águas do mar, que estava agitado e perigoso. 

— Se acalme, Poseidon. - A voz da morena estava mais calma, ainda tinha o toque de seriedade que ele tanto amava. - Vai ficar tudo bem.

— As vezes eu odeio seu pai.

Ela nada disse, sabia que ultimamente esse ódio estava sendo algo cultivado em vários Deuses. Seu pai estava fora de si e começava a irritar todos os Olimpianos novamente.

— Vamos nesse lugar aqui, parece ser bom o suficiente para conversarmos sem sermos interrompidos por outras pessoas.

— Ou Deuses fofoqueiros! Eu quero acabar com Hermes!

— Eles praticamente nos salvaram, para falar a verdade. E Ártemis não faria isso comigo, bom, ao menos eu acho que não.

Eles se sentaram em uma hamburgueria, o garçom que os atendeu ficou de olhos arregalados e se curvou ligeiramente. Devia ter uns quinze anos e seus olhos castanhos brilhavam, e aquele sorriso…Hécate, com toda certeza um filho de Hécate.

— Temos que sair daqui, não é?

— Não, Hécate sabe mais do que se meter em meus assuntos.

O garoto continuava sorrindo, porém estava nervoso e quando entregou as comidas, fez uma reverência desajeitada, arrancando um sorriso um tanto brincalhão de Atena, embora o homem continuasse com uma carranca.

— Devia melhorar a cara, Poseidon…o pobre garoto estava com medo de você.

— De mim? Ele faltou sair correndo quando você sorriu!

— Até parece.

— De todas as formas, eu ainda estou irritado. Como que seu irmão consegue ter a língua tão solta? Ele é mais fofoqueiro que Apollo!

— Já disse que eles nos salvaram, não disse? Com toda a certeza inventaram alguma desculpa para meu pai, mas confesso que também fiquei preocupada com Hermes…

— Falando nisso, você ficou de me contar o que aconteceu para o ladrãozinho sair triste daquele jeito de seu templo.

Atena apertou os lábios e olhou dentro dos olhos incrivelmente lindos do Senhor do Mar, ele logo notou que alguma coisa estava bem errada.

— Ele sabe de nós dois, não sabe toda a história, mas já descobriu que estamos juntos.

— E ele descobriu isso sozinho?

— Hermes nunca teve um cérebro ruim e ele me conhece bem demais para não perceber certas coisas.

— Ele gosta de você mais do que você imaginava, não é? Mais do que eu imaginava…

— Sim. - Atena suspirou e segurou a mão de Poseidon, sentindo que o Deus estava tenso. - Nós discutimos um pouco, ele sabe que não gosto quando se intromete na minha vida e mesmo assim o fez.

— O que ele te disse? - A voz de Poseidon estava contida e um pouco fraca, seu temperamento em constante mudança.

— Me perguntou o por quê de eu ter te escolhido e falou que sempre tentou chamar minha atenção, que sempre fez de tudo para me agradar ao contrário de você.

— E você tem a resposta para isso?

— Eu tenho resposta para tudo. - Antes que ela pudesse lhe dar a explicação, duas figuras divinas entraram na hamburgueria e Atena se endireitou na cadeira, olhando para os dois com uma sobrancelha arqueada. - O que querem aqui? Se ele mandou vocês, já vou logo adiantando que não vou voltar para o Olimpo agora.

— Não é nada disso, entretanto nós devemos uma explicação. - Ártemis  os olhava com suspeita, seus olhos logo foram para as mãos entrelaçadas em cima da mesa e mordeu a língua, estava devendo uns bons dracmas para Dionísio. - Não falamos nada sobre relacionamentos com ele, nos falaram sobre essa suspeita e isso chegou ao ouvido dele por uma das ninfas, porem ele pensou que estavam planejando alguma coisa. Eu não sabia se acreditava ou não sobre os boatos…amorosos, mas falei para ele que vocês provavelmente estavam tentando conviver melhor por causa de seus filhos. E Hermes fez você vir para cá porque sabia que iria me procurar sozinha, ele queria deixar vocês longe um do outro para que nosso pai não desconfiasse de nada…eu realmente tinha saído do Olimpo, mas voltei assim que Hermes me contou que Zeus estava desconfiado de você.

— Eu sei que não fariam isso comigo, só fiquei irritada. Duvidar de mim, depois de tudo que fiz por ele? Acho inaceitável.

E ela sabia, se tinha uma coisa que Atena não duvidava sobre Hermes era sua lealdade. Sorriu para seus irmãos, mas seu sorriso falhou um pouco ao ver que Hermes tinha lançado um olhar triste para o mesmo lugar que Ártemis tinha olhado antes. 

— Bom, eu tenho que ir e irmã, temos algo para conversar depois que voltar ao céu. - Ártemis desapareceu tão rápido quanto tinha aparecido, levando o loiro com ela. 

Poseidon tinha ficado calado, não falou absolutamente nada por um tempo e ficou refletindo sobre o Deus dos Ladrões. Ele já não estava mais ciumento como antes, porém não podia negar que Hermes de certa forma estava certo e isso lhe incomodava. Poseidon, ao seu ver, nunca fez coisas que realmente agradassem Atena, e Hermes, por mais levado que fosse, nunca tinha machucado os sentimentos dela como ele foi capaz de machucar.

— Poseidon, eu sei o que está pensando e quero que pare com isso agora mesmo. - Ela disse, segurando o rosto do Deus com as mãos firmes. - Eu escolhi você.

— Por que? Sabe, seu irmão não está errado…eu nunca fiz nada que te agradasse, sempre te tirei do sério ou fiquei te perturbando, te magoando.

— Você esteve ao meu lado mais do que qualquer um deles, Poseidon. Quando perdi meu primeiro filho você estava lá, quando me frustrei com meu pai de uma forma séria, você também esteve lá. Em todos os momentos que precisei de ajuda, você nunca me virou as costas e isso eu posso garantir que foi o único. Isso conta muito mais do que me trazer flores quando estou bem. Você esteve ao meu lado nos piores momentos e é isso que conta. É muito fácil para todos ficarem ao meu lado quando estou de bom humor e sem nenhum problema, eu sou a que resolve tudo, a que consegue favores…o que conta para mim é o que você faz.

Poseidon se levantou e pegou a mão dela urgentemente, sem dar explicações e jogou dólares na mesa, arrastando a Deusa para fora do restaurante com pressa. Ele só parou de andar quando chegaram em lugar mais afastado do Central Park, onde nenhuma alma humana chegava perto e beijou sua mulher com toda a paixão que tinha, desfazendo o coque milimetricamente perfeito que prendia seus cabelos. Naquela hora e naquele lugar eles não se importaram com nenhum Deus, com nenhum juramento ou com outra coisa que não fosse amor. E era justamente o Amor que os observava.


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