Sobreviventes de Cthulhu escrita por Beyond B Nat


Capítulo 7
Dia 3 - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Esse começo é uma continuação direta do final do capítulo anterior. Pensei nos detalhes da cena depois de ter postado, por isso não deixei junto, hehe. Aproveitem :)



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Gabriel suspirou e conseguiu respirar um pouco mais devagar, porém a única coisa que conseguiu fazer ao reparar que estava “tudo bem” foi colocar os braços sobre os joelhos e esconder o rosto entre eles. Nesse momento ele queria se segurar para não chorar e desabar, porque de tudo que ele já passou, nunca o veio tanto medo de morrer. Já não bastava aquela criatura estar quase sempre por perto, ainda mais quando ele estava se sentindo mal.

Ele não reparou no momento que chegou a cair no sono, apenas que acordou quando ainda estava escuro e Lucas estava acordado na “sala” da casa, distraído mexendo em algumas coisas ao lado da luz fraca de uma vela. 

— Eu e Jade combinamos de pelo menos um ficar acordado enquanto os outros dormem. — Falou Lucas baixo ao perceber que Gabriel havia acordado — Ao menos hoje, pra ter certeza de que nenhum monstro vai nos pegar de surpresa.

— Entendi…

— Você pode dormir mais. Ainda não tou cansado.

Gabriel deu de ombros e continuou ali. Não tinha como continuar dormindo depois do que aconteceu.

— Eu sei o que você tá pensando… — Lucas falou.

— Hum?

— Aquilo tudo que fiz ontem, me desculpa. Eu sei que você ficou bravo com isso, por eu ser um cabeça dura, eu só… Não sei porque eu tava fazendo aquilo.

— Estaria mentindo se negasse que aquilo foi idiota. Mas… Faria diferença?

— Como assim?

— Esquece.

— Começou, agora fala.

Gabriel ficou quieto, vindo em sua cabeça várias coisas que o afligia e lembranças que ele tentava reprimir, mas ele não queria falar sobre isso. Lucas o conhecia o suficiente para saber quando ele ficava nessa situação.

— Tá bom… — Lucas falou — Olha, eu… Apesar de você não querer se abrir, sei que aquilo no túnel foi assustador e ficar ouvindo a luta com os bichos do lado de fora daqui também. Apesar de eu ter metido o louco, eu também tava com medo, mas a gente precisa lutar contra isso, não se entregar, por que se não… Por que estamos vivos, depois de todo mundo que se foi?

Gabriel ficou o olhando, apesar de não dizer nada. Lucas continuou:

— Nós só temos uns aos outros agora. Apesar de nem tudo que sabíamos antes daquele dia ser verdade, você é o que mais sabe ou pelo menos tenta entender essas coisas e nem sei como tem cabeça pra isso, eu já teria surtado, he. Você só… Não deve se entregar tão fácil assim,  porque é você quem normalmente tenta não se abalar com isso. Pode não ser o melhor pra nos acalmar, mas é o que melhor consegue manter a cabeça no lugar pra tirar a gente de situações como essa.

— Esse é o meu segredo, minha cabeça nunca esteve no lugar.

Lucas quase riu alto com isso, mas se conteve para não acordar Jade. Eles ficaram alguns minutos em silêncio até Lucas bocejar e Gabriel dizer para ele ir dormir enquanto ficava de vigia e Lucas concordou.

Dia 3

Algumas horas após amanhecer, Jade olhou em volta da base, checando as armadilhas e os locais por onde os carniçais causaram maior dano na noite anterior. Obviamente ficaram vários corpos de carniçais que eles teriam que se livrar depois, mas isso era o de menos. Pelo estado que ficou seus meios de proteção, daria para tentar consertar, fazendo um certo reforço no que foi danificado, principalmente no portão de alumínio da casa, porém para isso eles precisariam de material, coisa que não tinham, fora as armadilhas que teriam que repor. Outra opção seria arrumarem outro lugar para ir, porém não valeria a pena depois de tanto trabalho que tiveram para arrumar essa casa.

Ele ficou alguns minutos pensando no que eles poderiam fazer e também que a quantidade de carniçais nas proximidades da base deles era grande, e isso não era “normal” se tratando de uma área que não há cemitérios por perto. O mundo pode estar de cabeça pra baixo, mas isso somado com os possíveis sinais ligados a cultistas que Gabriel encontrou antes, era algo preocupante. A única certeza que Jade tinha é que eles teriam que se preparar para o pior e tomar mais cuidado, mas não fazia a menor ideia de como eles resolveriam isso.

Era complicado e ele não gostava nenhum pouco dessa situação.

Não muito tempo após todos estarem acordados e terem se livrado dos corpos dos carniçais que caíram na noite anterior, eles conversaram sobre o que deveriam fazer. Pela urgência de consertar o estrago na base, mesmo não gostando muito da ideia de buscar recursos, ainda mais por que a limpeza somado com o fato de Gabriel de Lucas terem dormido um pouco mais acabou os deixando com menos tempo, eles precisavam buscar materiais para consertar a base e seria arriscado Jade, mesmo estando em melhores condições, sair sozinho. A situação do dia anterior foi complicada, eles estavam cansados, mas não havia muita escolha.

Assim que conseguiram organizar o que precisavam, o grupo saiu do refúgio. Os últimos dias têm sido difíceis, mas para aliviar a tensão, eles conversaram um pouco dessa vez, com Jade puxando assunto sobre alguns filmes e jogos. Com isso o tempo passou mais rápido e após alguns minutos, eles chegaram numa área com menos construções e várias árvores. Essa área fazia parte do parque que eles exploraram há dois dias atrás. Podia existir ainda coisas úteis nesse lugar. 

Haviam algumas árvores logo adiante, onde o parque se misturava com parte de uma reserva. Algumas plantas e árvores poderiam servir para reforçar onde foi danificado na base.

— Finalmente posso usar o machado para fazer alguma coisa útil além de matar uns monstros! Hehe. —  Lucas comentou — Apesar de que isso vai demorar…

— Quer ajuda?

— Não, pra esse caso acho que não teria muita diferença.

— Verdade. A gente pode procurar mais coisas ao redor enquanto isso — Disse Jade pensativo — Tipo, alguns entulhos, plantas… Só não iria para muito longe, claro.

— Pra mim de boa — Gabriel deu de ombros.

— Ok, não vão se perder.

Decidido o que seria feito, Jade e Gabriel andaram pelos arredores enquanto Lucas ficou coletando algumas madeiras. Eles andaram por alguns minutos, olhando atentamente tudo ao redor, até que encontraram numa área um pouco mais aberta perto de uma nascente alguns entulhos. 

— Hum… O ser humano não tinha outro lugar pra jogar entulho não? — Falou Jade franzindo a testa.

— Xi, só faltou o cabelo amarrado em trança pra ficar igual sua irmã.

— Ah! NÃO!

Gabriel sorriu de leve e começou a checar nos entulhos se havia algo útil. Enquanto pegavam no lixo o que poderiam usar, Jade puxou assunto:

— Ao menos agora você recuperou o humor. Você tá bem?

— Tá muito falante hoje, em?

— Sério. Tou preocupado.

Gabriel suspirou e olhou por alguns segundos “pro nada”.

— Eu tou. Só um pouco cansado.

— Sei que não é só isso. — Jade suspirou — Espero que a gente consiga melhorar a situação. Pelo menos ao nível de não precisarmos sair da base direto.

— É…

Após pegarem algumas peças que no momento foi possível pensar em como poderiam usar, Gabriel e Jade andaram mais um pouco. Dessa vez não parecia haver nada de útil, então decidiram que era melhor retornar antes que se afastassem demais.

Num momento, Jade reconheceu uma planta e se aproximou. Era familiar pois existia essa planta no quintal da casa de seus pais, então ele teve uma ideia e pegou algumas folhas.

Gabriel quase não percebeu que o amigo havia parado e antes de perguntar o que ele estava fazendo, percebeu algo estranho. Jade notou também, algo branco numa árvore não muito distante de onde estava, então quando se aproximou, percebeu que esta estava com várias inscrições entalhadas no tronco e haviam vários ossos pendurados em seus galhos. Era fácil perceber que eram ossos humanos devido ao tamanho e a presença de alguns crânios ao redor das raízes.

— Isso é…

— Sem dúvida é um ritual de algum cultista —  Gabriel falou.

— Isso parece, aquela coisa do mês passado, não era para ter grama como cor esquisita e animais com aparência bizarra aqui perto…?

— Acho que só não tá pronto, pode ser porque ainda é dia, mas não tenho certeza. Bom, não quero ficar aqui esperando o dono disso aí aparecer, vamos voltar p-

De repente eles escutaram gritos. De imediato eles correram na direção que ouviram e escondidos, atrás de umas árvores, avistaram várias pessoas correndo atrás de uma mulher. As pessoas, agiam de uma forma selvagem ao tentar pegá-la, suas roupas estavam esfarrapadas e alguns ou estavam descalços ou com apenas um par dos sapatos.

Gabriel percebeu que a mulher estava fugindo na direção que eles pretendiam seguir, ou seja, onde Lucas estava. Evidentemente Jade também percebeu, pois quase de imediato tirou o revólver do coldre em sua perna e atirou.


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Notas finais do capítulo

Como de costume, próxima parte semana que vem. Até mais :)



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