Uruha *POV*

Estamos mais uma vez prontos para passar a noite sob as estrelas, acomodados em casais espalhados pela campina, olhamos ao longe luzes laranjas enfeitando a capital.

Uma vila redonda com várias estradas que levam a ela, as ruas parecem fazer um labirinto laranja piscando suas luzes e dando uma figura de imponência ao grande castelo acima da pequena colina ao lado da vila. 

Com muralhas de pedra redonda, o castelo se projeta para cima como se quisesse alcançar o céu, com a largura nem muito grande nem muito pequena, com a altura enorme até para um castelo.

Estamos longe, em um morro acima da capital, mas amanhã conseguiremos chegar lá. 

— Gostou da vista?_ Ouço a voz do meu moreno e ele me abraça por trás, beijando meu ombro, deitado atrás de mim. 

— É linda. É tudo tão iluminado, tão bonito, parece ser tão avançado também. _ Murmuro brincando com seus dedos. 

— Avançado?_ 

— É, estou vendo, mesmo daqui, que tem construções que nunca imaginei, as luzes, como fazem para não apagar? _ Olho para o castelo enorme. _ Sem falar aquele castelo. É enorme._ 

— Gostou?_ Sinto-o remexer e então relaxar, olho para trás e beijo seu queixo, olho de novo para a vista. 

— Bem, sim. É bonito de se ver, parece ter muitas coisas a explorar._ Concordo levemente com a cabeça. 

— Curioso, uh? Mas. . ._

— Mas. . ._ Mordo o lábio. _ É grande, e é uma família só, não é? Então, eles não se sentem sozinhos? Ou então eles não ficam afastados demais? Quer dizer. . . Imagine, um casal e dois filhos morando ali, com empregados e mais várias coisas. . . _

— O que tem?_

— Bem, a mãe não vai cozinhar para seus filhos, porque tem os melhores cozinheiros para isso. O pai vai ser o Rei. . . Muito trabalho e vai se trancar em um dos, não sei, centenas de quartos que tem ali? E então, muito luxo afasta as pessoas, os filhos não se sentiriam sozinhos? Com tanto espaço, mas tão frio. . . Eu não sei._ Suspiro e fecho os olhos relaxando. _ Se eu fosse escolher um lugar para morar, não ia ser grande, ia ser um espaço aconchegante e do tamanho certo para cada um ter seu espaço, mas ainda assim não se sentir sozinho. Eu escolheria um lugar com a cozinha grande, porque eu quero aprender a cozinhar e reunir a família para comer. _

— Eu adoraria experimentar suas receitas, Kou-chan._ Sinto um beijinho na cabeça e abro os olhos sorrindo. 

— Ia ser bom. Já pensou? Um lugarzinho pequeno, onde eu possa acordar cedo e ver o Sol nascer. . . Com um jardim, não muito grande porque eu quero cuidar das flores. . . Uma casa com cheirinho bom, não de limpeza ou abafado, um cheirinho de lar. _ Acaricio as mãos do moreno. 

— E os filhos?_ Olho para ele. 

— Bem, não sei, talvez seja só o filhote._

— Por quê? Não quer ter mais de um?_ Ele me abraça mais apertado. 

— Não, é que. . . Será que conseguiria ter outro? Tive tanta dificuldade em ter um só. _ Dou de ombros. _ Mas se possível, sim, queria ter mais que um. Sempre sonhei em ter uma família grande e carinhosa. . . Mas ainda sim, vi tantas famílias terem vários filhos que aí, não tinham recursos para sustentar a todos, e deve ser horrível ver um filho passar fome ou frio. . . Então . . ._

— Não se preocupe._ Ele me corta. _ Eu garanto que conseguiria sustentar todos os filhos que você quiser ter. Todos eles, sem deixar nada faltar a ninguém. _ Sorrio me encolhendo em seus braços. _ E, se você conseguiria ou não ter mais filhotes. . . Bem, vamos tentar, não é?_ Olho para trás e ele beija meu lábio inferior.

— É, poderíamos tentar._ Sorrio. _ Você comeria minhas receitas? Mesmo se tivessem ruins?_ Ele ri de leve. 

— Mesmo se estivessem horríveis, eu e nosso filho comeríamos tudinho, porque te amamos muito e somos sua família._ Sinto meus olhos encherem d'água. 

— Obrigado! Obrigado, Aoi, por ter me dado uma família, era o que eu mais queria, muito obrigado, você realizou um sonho meu. . ._ Me agarro em seus braços e sinto-os se firmarem ao meu redor. 

— Obrigado você, meu amor, eu também queria ter uma família. _ Beija meu ombro e eu sorrio me aconchegando nele. _ Vou garantir que tenha todos seus sonhos realizados. _

.:.:.:.:.

—Por que estão te olhando dessa forma?_ Murmuro incomodado para o moreno ao meu lado. 

Chegamos na capital e estamos atravessando ela por dentro, não sei onde é a casa do Aoi, mas deve ser bem afastada do centro da cidade. 

Ruki e Reita se despediram de nós a uns poucos minutos junto de Kai e Miyavi, já que a casa dos dois era em um dos bairros militares da capital. Quem diria que são os dois Generais do exército do Rei? 

Mas o que mais me incomoda é as pessoas olhando Aoi e eu, quer dizer, tem vários casais novos e diferentes por aqui então por que me olham de cima a baixo, me medindo com o olhar? Como se eu tivesse passando por um teste de qualidade. 

Olham Aoi como se ele fosse um Deus ou algo assim, alguns se curvam e eles abrem caminho para nós passarmos, mesmo que estejamos passando por uma rua movimentada de comércio. 

As novidades são inúmeras, desde as luzes em lampiões a estradas de pedra e construções. Isso tudo é incrível e bem legal, tem poços de água, polícia andando por aí, carroças e crianças correndo como se fossem os Reis do mundo. 

Falando em policiais, tem um grupo deles nos escoltando. O que está havendo? 

— Aoi, pelo amor, me diga o que está acontecendo?_ Aperto sua mão na minha e ele só me olha com um sorriso bobo, mas ele não consegue disfarçar a palidez e as mãos suadas. _ Tem alguma coisa que não me contou?_

Tento de novo falar com ele, mas ele não faz nada além de beijar minha têmpora e continuar andando. 

Criminosos são liberados em semana fértil e para ir buscar seus pares que são bancados pelo governo até o indivíduo ser solto. Sim, essa é a única coisa que se passa pela minha mente agora. Aoi é um criminoso. 

Mas então viramos uma rua e começamos a subir por ela, a medida que vamos subindo vejo que tem muretas de pedra e uma iluminação melhor, o chão está mais limpo e tudo o mais. 

Aperto a mão do moreno vendo que estamos subindo uma colina. A colina para o castelo. 

— Aoiiii _ Resmungo manhoso. O que está acontecendo? 

— Quero que relaxe, e confie em mim, ok?_ Ele só me responde quando estamos em frente a enorme construção do castelo, enormes janelas, portas de madeira maciça, guardas, bandeiras e vários meios de transporte. . . Eu tô assustado. 

Suspiro e prendo a respiração quando o moreno faz um sinal e as portas duplas enormes são abertas, nem tenho tempo de me perder no enorme espaço na entrada do castelo já que meus olhos se perdem em duas figuras. 

Um casal usando mantos impecáveis, coroas e de aparência superior estava logo ali. O homem com sua postura altiva, o manto amarelo do ouro e preto de seda, jóias e mais jóias brilhando tanto quanto sua coroa de pedras preciosas. A mulher ao lado dele também com jóias até nos cascos, enfeitando tanto sua parte equina quanto sua parte humana, brilhando com um pano branco por sobre o peitoral, e um manto igual ao do homem, preto com dourado, porém mais delicado e fino. A coroa era delicada e também cheia de pedras brilhantes. 

O Rei e a rainha. 

— Yuu, meu filho, que saudades!_ A mulher sorri e vem elegante, de forma rápida e abraça o moreno ao meu lado com força, na mesma hora eu me afasto dos dois, largando a mão do Aoi e arregalando os olhos. 

O moreno retribuí o abraço e depois de uns minutos assim o homem abraça ele também, ficando algum tempo até se afastarem e sorrirem, sorrisos idênticos. Os olhos da mulher e do meu moreno são iguais, os cabelos pretos e lisos, a boca do moreno é cópia da do Rei e eu estou pasmo. 

— Mãe, pai, esse é o Kou. _ Ele se vira ainda sorrindo pra mim, mas ao ver a minha expressão ele ajeita a postura, vem até mim e pega lenta e levemente em minha mão, sorri reconfortante e me leva para mais perto do casal real. _ Kou, esses são meus pais, e eu sou o príncipe de Edo. _ 

Sinto meu queixo cair e arregalo mais os olhos olhando do casal para o moreno. Oh! não, o que está acontecendo?!

Suavemente dou um passo pra trás, mas Aoi vê e segura mais firmemente minha mão. 

— Ahn. . . Eu, E-Eu não. . . Ahhh. _ Me sinto acuado e tento me desvencilhar do moreno recuando um pouquinho mais. 

— Ele é uma gracinha, Yuu, mas não me parece muito bem._ A rainha fala e eu tento recuar mais ainda. 

— Aoi. _ Resmungo angustiado, e o olho pedindo socorro. 

— Kou, por favor, me deixa explicar antes, ok? Eu juro que foi por uma boa causa que eu não te contei. _ Ele me puxa pra perto e me encolho mais ainda, só agora percebendo o quanto os três juntos são imponentes. 

Pisco atordoado e o olho magoado. 

— Então seu nome é Yuu?_ Não tenho coragem de olhar nos seus olhos, nem para nenhum dos outros dois, olho para o chão que me parece muito também. Muito liso, muito rico, muito luxuoso. . . É muito!

Muito para eu e meus cascos sujos de poeira e barro, muito para minha aparência decadente, muito para mim em geral. . . É muito diferente de mim, do que eu sou, muito distante da minha realidade.

— Kou, por favor._ Ele me segura pela cintura e me puxa mais para perto se virando pra mim, mas eu coloco minhas mãos em seu peitoral não me deixando chegar muito perto, quando olho em seus olhos vejo que ele ficou magoado com isso. 

Mas eu me sinto extremamente traído, não sei em quem eu confiava esse tempo todo. 

Fico tão imerso em pensamentos e tão magoado que não noto os passos apressados, só sou despertado por uma voz calma e suave que me arrepia inteiro. 

— K-Kouyou? Kou? O meu Kou-chan. . .?_ Olho para cima arregalando os olhos gradativamente ao encontrar olhos iguais aos meus, as cores iguais e igualmente arregalados.

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