Some Kind Of Disaster escrita por Mavelle


Capítulo 27
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

HABEMUS KATE SHEFFIELD AAAAAAAAAAAA
Kate Sharma, na verdade haha! Amei a alteração feita no nome para a série, já que ela vai ter origens indianas, apesar de também amar muito o Sheffield. Inclusive, tô na dúvida se saio mudando pra Sharma ao longo dos capítulos ou se mantenho o Sheffield. O pior é que nem ia me dar muito trabalho mudar porque o Sheffield nem foi citado tantas vezes assim... ai, ai, dúvida cruel.
Bom, de qualquer forma, a Kate da fic (e da minha cabeça) agora é a Simone Ashley e pronto. Já até mudei a capa meio de improviso, e se pá daqui a uns dias eu mudo de novo se achar uma foto mais legal. Enfim, eu amei o cast, ela é linda e maravilhosa e não vai mudar a minha história em nada o fato de ela ser indiana porque a essa altura vocês já perceberam que eu basicamente ignoro descrições (pura preguiça minha, sinto muito).
Nossa, falei horrores kkkkk mas acho que era importante falar disso. De qualquer forma, espero que vocês gostem do capítulo e digam o que estão achando!

Beijos,
Mavelle



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Era sexta-feira de manhã e, enquanto esperava a autorização do plano de saúde para internar sua filha, que estava adormecida em seus braços, Kate não podia não torcer que aquela fosse sua última visita ao hospital pelo próximo ano, pelo menos. Abro uma exceção para tornozelos torcidos por estripulias, mas de resto, não, pelo amor de Deus. Estripulias? Eu tenho 90 anos?, ela pensava, enquanto observava a menina dormir e percebia que não estava mais tão pálida quanto na semana anterior. Charlotte não estava queimada ou bronzeada, mas um pouco mais corada por causa do sol. Ela tinha amado a praia, o que fez Kate se sentir um pouco culpada por não ter ido com ela outras vezes antes, mas logo colocou a culpa de lado e foi aproveitar o dia com a família. E não sabia qual dos dois estava se divertindo mais, se a filha ou o marido.

Primeiro, depois de um banho de protetor solar e pegar um boné do Homem-aranha incrivelmente pequeno emprestado de Gregory, os três foram entrar no mar e Kate se viu quase gargalhando ao ver a reação de Charlotte à temperatura da água. Estava mais quente do que esperaria do mar na Inglaterra durante a maior parte do ano, mas isso não queria dizer muita coisa. Depois, sentou-se com ela para construir um castelo de areia estilizado (não tinham as ferramentas apropriadas para fazer um com formato de castelo), que foi decorado com conchas e pedrinhas que tinham achado, coisa que ela adorou fazer.

— O Newton pode morá aqui! - Lottie disse à mãe depois de terminarem a construção.

— Não quer mais ele em casa com a gente? - Kate perguntou.

Ela parou para refletir um momento.

— Vamo morá aqui também.

— Gostou da praia tanto assim?

— Sim!!! - ela disse, abraçando a mãe.

— Vamos vir mais vezes, então. - ela disse, com um sorriso.

Um pouco mais tarde, constatou que fazia um bom tempo desde que tinha ouvido Lottie rir tanto quanto enquanto batia na água e fazia os respingos subirem, segura nos braços do pai, que competia com ela para ver quem respingava a água mais alto. Ele a tinha deixado ganhar, claro, mas fez ela trabalhar pela sua vitória, como Kate, que era a juíza daquela competição, disse antes de anunciar o resultado do vencedor do Primeiro Torneio de Respingos do Mar da Família Sheffield-Bridgerton. Foi feita uma menção honrosa a Newton, já que todos sabiam que, quando ele se balançava depois de estar molhado, não havia outro possível vencedor, mas ele tinha ficado em casa, dando uma chance aos outros participantes do torneio.

— Se eu soubesse que ela não tinha ido na praia depois daquele dia, eu teria sugerido que viéssemos antes. - Anthony disse, algumas horas mais tarde, enquanto ele e Kate observavam o mar e Lottie dormia no porta-malas aberto do carro, que era um estilo SUV.

— Devíamos mesmo ter vindo antes. Fazia muito tempo que eu não a via tão feliz. E mostrar o mar pra ela foi incrível. Tinha quase esquecido do quanto eu gosto de apresentar coisas novas a ela.

— Sério? - ele parecia surpreso.

— É. Eu acho uma das melhores partes de ser mãe. Poder ver enquanto ela descobre o mundo.

— Eu entendo. No ano novo, depois de assistir ela olhando para a árvore e os fogos de artifício, eu decidi que queria mostrar para ela mais daquilo que eu já não considerava mais importante. Acabamos não indo para lá esse ano, mas eu tive vontade de levá-la em Aubrey Hall e dar uma daquelas longas caminhadas que eu tanto fiz com meu pai durante a infância, mostrando cada planta, inseto ou animalzinho.

— Foi aí que você decidiu?

— Que eu decidi o que?

— Que queria ocupar o lugar de pai na vida dela.

— Eu não acho que foi uma escolha muito consciente. Não saberia te dizer o momento em que isso aconteceu. Não sei nem te dizer se eu tive escolha.

— O que você quer dizer?

— Que você fez um ser humaninho que é impossível não amar.

Kate sorria de leve com aquela lembrança recente.

— Eu te provocaria sobre o que está causando esse sorriso lindo no seu rosto, mas a recepcionista está muito impaciente porque eu não posso assinar a autorização. - Anthony disse, se aproximando dela e já pegando Charlotte de seus braços com todo o cuidado.

— E por que não? - Kate perguntou, enquanto ele se acomodava na cadeira ao lado da sua. - Ela é sua dependente pelo plano de saúde.

— Eu tentei convencê-la, mas ela falou um monte de coisa e eu concluí que deve ter algo a ver com burocracia.

Kate respirou fundo e foi assinar as vias, voltando para o seu lugar em seguida.

— Eloise já chegou? - ela perguntou, ao vê-lo no telefone.

— De acordo com ela, chegam daqui a cinco minutos. - Kate assentiu e então abriu a boca e depois fechou. Quando percebeu que ela não diria, Anthony não sentiu que tinha alternativa se não perguntar: - O que foi?

— Eu ia dizer algo, mas achei melhor não.

— Você sabe que sou eu, né? - ele disse, com um sorriso de lado. - Eu já te escutei falar por meia hora sobre porque comprar absorvente em promoção sempre dava errado pra você.

— Eu realmente passei meia hora falando disso naquele dia? - ela parecia surpresa.

— Talvez não tenha sido meia hora, mas o que eu quero dizer é que você pode me dizer literalmente qualquer coisa e eu não vou te julgar.

— Ah, mas eu realmente não posso dizer a ninguém, muito menos para você. Ia cantar vitória antes da hora, e, se tem uma coisa que minha mãe sempre dizia e que eu provei que era verdade dezenas de vezes ao longo da vida é que se você cantar vitória antes da hora, o que puder dar errado vai dar. Eu sei que é só uma superstição boba, mas eu não posso arriscar. - ela disse, e olhou para Charlotte, que ainda dormia.

— Não é uma superstição boba. Eu concordo com você. Sempre é uma má ideia cantar vitória antes do tempo, apesar de pensamento positivo não fazer nenhum mal.

— Por que você concorda comigo quando eu falo coisas sem sentido lógico?

— Porque o que você falou tem completo sentido. Talvez não tenha tanta lógica para alguém que não acredite, mas eu não duvido do universo, nem da capacidade dele de estragar as coisas depois que percebemos que tudo está indo bem. - ele percebeu o que tinha dito e logo adicionou. - E eu não disse que tudo está indo bem agora, que fique bem claro.

Kate riu baixinho.

Nesse momento, Charlotte decidiu que era hora de acordar, então começou a tentar se espreguiçar, ao que Anthony, que ainda a segurava, respondeu ajudando-a a se sentar.

— Bom dia, bela adormecida. - ele disse, num tom carinhoso.

— Onde eu tô? - ela perguntou, já esfregando os olhos e bocejando.

— Estamos no hospital. - Kate respondeu, olhando para ela. - Lembra que você me ajudou a arrumar a bolsa porque vamos ficar aqui uns dias? - ela assentiu.

— É hoje que eu vou ganhar o suco de osso da tia Elô? - ela perguntou.

Logo depois da última consulta com a oncologista, Charlotte tinha perguntado o que era aquele negócio que a médica disse que ela ia fazer e por que Eloise estava envolvida. Ela esperou até que eles estivessem no carro para perguntar, ao invés de fazer essa pergunta para a médica, que definitivamente conseguiria explicar de uma forma melhor (e menos estranha) do que eles o tinham feito. Assim, simplesmente torciam que ela não dissesse aquilo para a médica.

Ou para qualquer outra pessoa, para falar a verdade.

— Não, não é hoje. - Kate respondeu. - Só amanhã. Mas hoje você precisa tomar aquele remédio.

— De novo? - Charlotte perguntou, claramente desanimada. Sempre se sentia muito mal depois das sessões e se tornava cada vez mais difícil convencê-la a ficar parada por tempo o suficiente para que pudessem colocar o acesso.

— Sim. - Anthony respondeu. - Essa semana eram duas vezes, lembra?

— Mas é a última vez? - ela perguntou. Sempre perguntava isso, mas, dessa vez, havia a possibilidade de realmente ser.

— Talvez. Vamos torcer que sim.

Nesse momento, Eloise e Violet passaram pelas portas duplas da entrada do hospital.

— Oi, desculpa a demora. - Eloise disse, sentando numa cadeira próxima a do irmão, com Violet sentada ao seu lado. Tinha pego uma senha para ser atendida e teria de esperar um pouco.

— Vovó! - Charlotte exclamou e foi sentar com Violet.

— Tudo bem. - Kate disse a Eloise.

— Vocês não sabem porque nos atrasamos. - ela respondeu, depois virou para a mãe, que estava muito mais interessada em dar atenção à neta do que em participar da conversa com os outros adultos. - Quer explicar por quê, mamãe?

— A história não é pior pra mim do que é para você. - Violet respondeu, ainda segurando Charlotte.

— Vocês brigaram? - Anthony perguntou, preocupado.

— Mais ou menos. - as duas responderam ao mesmo tempo.

— Como você briga mais ou menos? - Kate perguntou.

— Eu estava nervosa, aí peguei um cigarro no armário do meu quarto e fui para o jardim, mas quando cheguei lá, mamãe já estava no meu lugar prestes a fazer exatamente a mesma coisa. - Eloise disse.

— Mãe? - Anthony questionou, já olhando para ela.

— Eu sou uma mulher adulta, capaz de tomar minhas próprias decisões, e sei que é ruim para a saúde, mas tem horas que eu sei que é a única coisa que vai me acalmar. Não faço isso com frequência, no máximo uma vez por semana. - Violet respondeu. Tinha ensaiado essa justificativa na cabeça várias e várias vezes ao longo dos anos.

— Não estou te julgando. - ela o encarou, estreitando os olhos de uma forma muito semelhante a como ele mesmo o fazia. Conhecia o filho bem demais e sabia que ele estava, sim, julgando. - Ok, talvez um pouquinho.

— Acabou que todos esses anos, ela roubava meus cigarros e eu sempre achava que era o Benedict. - Eloise disse.

— Todo mundo fuma escondido nessa família e eu não sabia?

— Eu não diria que é escondido. - Kate disse. Anthony virou para ela como se uma segunda cabeça tivesse crescido no seu pescoço. Ela logo tratou de explicar. - Nenhum deles se mostrou ativamente, mas também não faziam um esforço tão grande pra esconder, já que do lado dos balanços tem um lugar que não dá pra ver da casa e que sempre tem cheiro de cigarro quando quer que Eloise ou Violet saiam de perto. Sempre que eu planejava ir para lá com a Lottie e via alguma de vocês saindo de lá, esperava uns minutos pra poder o cheiro dispersar. - Charlotte assentiu, ainda sentada no colo da avó. Não entendia bem a troca que estava acontecendo, mas ouviu seu nome e algo sobre balanços, então concordou, caso estivessem pensando em levá-la para um playground.

— Você sabia? - Violet perguntou, ao que Kate apenas assentiu. Ela, Eloise e Anthony pareciam chocados pela revelação.

— Por que você nunca me disse? - Anthony perguntou à esposa.

— Não sei. - Kate deu de ombros. - Apesar de não ser um segredo, não parecia certo que eu contasse. Cada um merece sua privacidade.

— E é por isso que eu te amo. - Eloise disse, passando por cima do irmão para apertar a mão de Kate. - Obrigada por respeitar a existência de privacidade e segredos entre irmãos.

— Eloise! Eu tinha acabado de convencer ele que não era um segredo. - Kate reclamou e Anthony e Violet riram.

— Não era mais segredo pra mim, só pra mamãe. - ele disse.

— Como é? - Violet questionou. - Você sabia que sua irmã fumava e nunca me disse?

Antes que eles pudessem falar alguma outra coisa, uma técnica chamou o nome de Charlotte e o painel acendeu, indicando o número que Eloise tinha pego. Ela simplesmente fez sua saída estratégica, mas Anthony sentiu uma necessidade infantil de mostrar para a mãe que tinha conseguido evitar aquela conversa por hora.

— Desculpe, preciso ir. - ele disse, já se aproximando de onde ela estava, dando um beijo na bochecha dela e estendendo a mão para a filha. - Vamos, Lottie? - ela assentiu e estava se virando para ir com ele, mas virou para abraçar Violet.

— Tchau, vovó!

— Tchau, meu amor. - ela respondeu, dando-lhe um beijo na testa. - Vou te ver assim que puder, ok? - em seguida, adicionou num tom completamente diferente. - E nós não terminamos nossa conversa, ouviu, Anthony?

Ambos assentiram e Charlotte pegou a mão do pai, que a conduziu até onde Kate já tinha ido com a técnica. Eles subiram no elevador para o 5º andar e foram para o quarto que iriam ocupar pelos próximos três ou quatro dias. A técnica já tinha levado para lá os materiais para colocar o acesso. Kate tinha levado uma bolsa para ela e outra para Lottie e agora as colocava no lugar.

— Tem algum medicamento programado para agora? - Anthony perguntou à técnica, para quem Charlotte olhava desconfiada.

— A dra. Dawson disse para a colocar na hidratação antes da sessão. - ela respondeu. - Pode... - ele simplesmente assentiu e sentou na poltrona ao lado da maca, colocando Charlotte no colo. Já tinham lhe pedido aquilo mais vezes do que jamais queria ter sido perguntado e, a essa altura, os dois já tinham se acostumado com aquela troca. Ele a instruía a fechar os olhos e a segurava no lugar e depois continuava a abraçando até que ela se acalmasse, se fosse preciso. A técnica então virou para a menina. - Oi, gatinha. Eu soube que você quase sabe mais disso que eu, então queria perguntar sua opinião.

— Minha? - ela parecia surpresa.

— A sua, isso mesmo. - a técnica disse, com um sorriso. - Em qual mãozinha você acha que é melhor eu colocar o soro?

— Essa? - ela perguntou, levantando a mão direita e buscando aprovação de Anthony.

— Olha, pode ser essa, mas, se você escolher ela, não vai ter como pintar no livro de colorir que trouxe. - ele disse. - Eu escolheria essa outra. - complementou, pegando a mãozinha esquerda dela.

Assim, a técnica colocou o acesso na mão esquerda dela e administrou o soro. Pouco mais de uma hora depois disso, Violet disse que podiam ir ver Eloise, que estava prestes a entrar no centro cirúrgico. Os três pegaram o elevador e foram para o segundo andar, onde encontraram Eloise com uma roupa de hospital e já deitada numa maca.

— Oi. - Kate cumprimentou. - Tudo certo?

— Sim. - Eloise disse, com um sorriso. - Mamãe desistiu de brigar comigo depois que eu coloquei o avental.

— Eu disse que podemos voltar a essa discussão depois que todo mundo estiver fora do hospital. - Violet disse, já segurando Lottie no braço. - Não é momento de brigar agora.

— Dói pra pegar o suco de osso, tia Elô? - a menina perguntou.

— Suco de osso? - ela estranhou.

— Foi assim que conseguimos explicar pra ela. - Kate disse.

— Ah, ok. - Eloise disse. - Olha, eu nunca fiz isso, mas me disseram que eu vou tomar um remedinho pra dormir agora, então não vai doer, mas que depois talvez doa um pouquinho por alguns dias. - ela fez espaço pequeno com os dedos, para mostrar que não seria tão ruim. E então sorriu. - Mas como você vai ficar bem, eu não me importo de sentir um pouquinho de dor.

— Srta. Eloise Bridgerton? - um maqueiro chamou.

— Sou eu.

— A dra. Kelly pediu que eu te levasse para a sala de cirurgia.

— Ok. - ela disse e se virou para a família, respirando fundo. - É isto.

Kate, Anthony e Violet começaram a falar ao mesmo tempo.

— Vai dar tudo certo.

— Boa sorte.

— Vai funcionar.

Anthony pegou a mão de Kate e os dois apertaram a mão um do outro. Ninguém disse nada, mas ambos pensavam o mesmo: vai dar certo. Ela vai ficar bem. Nós vamos ficar bem.

***

Na manhã seguinte, a dra. Dawson decidiu fazer a visita a Charlotte bem cedo, para que já pudessem começar com o transplante o quanto antes. Era tão cedo, que ela encontrou com Anthony no elevador. Ele tinha ido passar a noite em casa, porque, pela política do hospital, só podia haver um acompanhante por paciente, não importando a idade. Assim, tinha voltado para casa depois das 21 horas, quando aparentemente os efeitos colaterais da quimioterapia tinham passado ou reduzido consideravelmente. Claro que, como geralmente era o caso, os sintomas tinham voltado a se mostrar quando ele chegou em casa, mas aí ele não podia simplesmente voltar para lá. Quando Kate disse que Charlotte estava melhor e tinha adormecido, ele mesmo foi dormir, mas estava decidido a voltar bem cedo. Então chegou no hospital às 7 horas, ficando surpreso por já encontrar a médica.

— Sr. Bridgerton. – ela cumprimentou.

— Dra. Dawson. - ele disse. - Estou atrasado?

— Não, de forma alguma. Eu que estou adiantada. Com todo o respeito, acho que vocês estão tão ansiosos para acabar com isso quanto eu.

— Estamos. Não é ofensa nenhuma que você queira se ver livre de nós quanto nós queremos nos ver livres de você.

Ela deu um meio sorriso.

— Na minha área, quando se chega perto do final de um tratamento, você torce que seu paciente se recupere e que nunca mais precise vê-lo e sabe que, por mais grato que ele esteja, a recíproca é verdadeira. Eu raramente aceito casos de crianças porque me apego muito fácil e isso só torna tudo mais difícil. Mas a Charlotte… só posso dizer que vocês exageraram no açúcar com ela. É muito fácil de se apegar a ela.

— Eu sei. – Posso afirmar isso por experiência própria, ele pensou. Minha sorte é que ela se apegou a mim tanto quanto eu me apeguei a ela.

Ambos ficaram em silêncio pelo resto do trajeto até o quarto, onde encontraram Kate e Charlotte já acordadas também. Na verdade, Kate ainda estava acordada. Pelas mensagens que ela tinha mandado durante a noite, Lottie tinha piorado de novo, depois melhorado e piorado mais uma vez. E seguiu nesse ciclo até aquele momento.

— Bom dia. - a dra. Dawson disse. - Como estamos hoje?

— Melhor agora do que de noite. - Kate disse. - Mesmo que não tenha nada a ver, acho que a luz do sol ajudou a melhorar.

— Ainda bem, então. - ela fez uma pequena pausa. - O que acham de fazermos o transplante já agora de manhã?

Kate sentiu seu coração dar um salto. Finalmente estava acontecendo.

— Eu acho uma excelente ideia. - depois virou para Charlotte. - O que você acha? Pode ser? - ela assentiu, ainda muito tímida depois de ter acordado.

— Ok, então. Vou pedir pra trazerem o material.

Assim que a médica saiu do quarto, Charlotte começou a tremer.

E logo depois começou a chorar.

Kate simplesmente a pegou no colo e tentou acalmá-la, mas ela atirou os bracinhos na direção do pai, que tinha se aproximado das duas. Ele apenas a pegou no colo e começou a balançá-la de leve, cantarolando qualquer coisa, quase como se estivesse tentando colocar um bebê para dormir. Kate entendia porque ela tinha ido para Anthony, já que, apesar de ele ter chegado com a médica, não tinha dito nada para corroborar qualquer “ideia maligna” que ela pudesse ter sugerido.

— O que foi, meu amor? - ele perguntou, quando ela já parecia um pouco mais calma.

— Medo. - ela disse, seus grandes olhos castanhos cheios de lágrimas.

— Tá tudo bem você ter medo. - Kate disse, olhando Charlotte nos olhos e enxugando suas lágrimas. - A vovó Mary me dizia que, quando eu tinha a sua idade, sempre que chovia eu ficava com tanto medo, mas tanto medo, que o único jeito que eu conseguia dormir era se ela me abraçasse durante a tempestade todinha. Se ela me soltasse um segundinho só, eu voltava a chorar e o medo me consumia de novo. Eu vou estar aqui o tempo todo, ok? - Charlotte estendeu os braços para a mãe e ela simplesmente a pegou no colo e a abraçou. - Vou segurar você pertinho de mim e, assim, nada de mal vai te acontecer porque meu amor vai te proteger. E aí, enquanto você se recupera, eu vou ficar com você o tempo inteiro.

— O tempo inteiro? - ela parecia surpresa.

— Sim.

— Não vai nem tomar banho?

Os dois adultos sorriram.

— Ela vai, mas, enquanto não estiver aqui, eu vou estar. - Anthony respondeu. - Tudo bem assim?

— Sim.


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