Some Kind Of Disaster escrita por Mavelle


Capítulo 25
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Oiee!!
Como prometido, voltei a postar nas terças-feiras após as boas notícias do capítulo passado. Espero que gostem! Ah, e digam o que estão achando da história nos comentários. O feedback de vocês é muito importante pra mim.

Beijos,
Mavelle

Citação: O Rei do Inverno - Bernard Cornwell



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Depois da festinha, Charlotte estava bem cansada, como já era esperado, então já a colocaram para dormir pouco depois dos convidados irem embora. Kate tinha que admitir: estava feliz que tivessem feito aquilo. Precisavam mesmo de uma animada nos espíritos, que teria acontecido mesmo que Eloise não tivesse dito que era compatível.

Lottie já estava deitada na cama com seu pijama e com o cobertor até a altura das axilas. Kate estava sentada num cantinho da cama e Anthony estava num banquinho que ficava perto da cabeceira. Era assim que faziam praticamente todos os dias, às vezes mudando o lugar em que cada um estava sentado.

— Quer que conte uma história? - Anthony perguntou à filha. Seria o dia dele de contar uma história para ela, já que Kate tinha contado no dia anterior.

Mas, para a surpresa de ambos, ela ignorou a pergunta e fez outra, para a qual nenhum dos dois estava preparado.

— Por que só eu tenho o cabelo assim? - ela perguntou, parecendo bem triste.

Anthony olhou para Kate, sem saber o que dizer.

O cabelo dela tinha caído um pouco no começo do tratamento, quando tinha feito uma quimioterapia mais moderada, mas não era nada tão perceptível. Inclusive, entre parar a quimioterapia e ter que recomeçar, o cabelo que tinha caído tinha crescido de novo. Entretanto, agora estava fazendo um tratamento mais intenso, necessário tanto porque era uma recidiva quanto para prepará-la para o transplante de medula, e o cabelo tinha caído de vez.

Kate tinha percebido em alguns momentos que Lottie estava olhando de uma forma estranha para Taylor, que tinha o cabelo crespo e bastante volumoso (muito semelhante ao da mãe), mas achou que talvez fosse porque fazia um tempo que elas não se viam. Não imaginava que ela podia estar com inveja ou mesmo percebendo que ela era a única sem cabelo.

— Porque você está tomando aquele remédio, lembra? - Kate disse num tom carinhoso, mas dava para perceber a dor em sua voz.

— É, mas por que? - ela parecia inconformada.

— Você estava ficando muito cansada de novo. - Anthony disse. - Lembra no aniversário da Taylor, que todo mundo ainda queria brincar e você estava sentada comigo porque tinha cansado? - ela assentiu. - O remédio que você tá tomando é pra não ficar mais cansada, mas, enquanto você não melhora de vez, ele faz algumas coisas que não devia para poder funcionar.

— E é por isso que seu cabelo caiu. - Kate completou.

— Não é justo. - Lottie disse, fazendo um biquinho.

— Não, não é mesmo. - ela respondeu, com um suspiro. Nada sobre a situação dela jamais seria justo. Não era justo que uma criança de menos de 3 anos tivesse que passar por aquilo. Não era justo que ninguém passasse por aquilo, para falar a verdade. Entretanto, dizer que a vida não era justa seria muito amargurado. - Mas às vezes coisas ruins acontecem e não dá pra controlar como ou quando elas vão acontecer, só como vamos responder a elas.

— E você está se saindo muito bem na resposta. - Anthony disse.

— Por que? - a menina questionou.

— Porque você é a menininha mais corajosa que já existiu.

— Sou? - ela parecia surpresa.

— É sim. E você é assim porque aprendeu com a mulher mais corajosa do mundo. - ele escutou Kate respirar um pouco mais fundo. - Você nunca reclamou de não poder ver seus amiguinhos ou de ter que ir para o hospital ou de ter que levar uma furadinha toda semana, mesmo que esteja nesse direito. E sua mãe... Ela é minha rocha. Eu agradeço aos céus todos os dias por ter ela comigo.

— Eu ainda queria ter cabelo. - ela disse, com um biquinho.

— Eu sei, meu amor. - Kate disse, passando a mão pelo rostinho dela. - Às vezes, pode ser difícil ser a única pessoa diferente num lugar, mas isso não é ruim. As pessoas são diferentes umas das outras e isso é bom. Além disso, isso é temporário. Você vai melhorar e aí seu cabelo vai crescer de novo.

— Quando?

— Não dá pra saber. - Anthony respondeu. - Mas sabemos que, quando você melhorar, tudo vai começar a se ajeitar devagarinho. E aí você pode deixar o cabelo crescer até ficar igual a Rapunzel. - ele tocou a ponta do nariz dela com o indicador, o que a fez rir.

— Assim é muito, papai.

— É muito mesmo. - Kate disse. - Não quero nem pensar no trabalho que me daria para desembaraçar aquilo tudo.

Os três riram e Charlotte bocejou, já coçando os olhos também.

— Quer ouvir uma história? - Anthony perguntou, voltando ao que tinha sugerido antes daquilo tudo começar. Ela negou com a cabeça. - Então vamos só ficar aqui até você adormecer, ok?

Ela apenas assentiu e fechou os olhinhos. Enquanto isso, Anthony passava a mão pela cabeça dela devagarinho e Kate cantarolava uma música. Menos de cinco minutos depois, a respiração dela ficou mais profunda e era claro que tinha adormecido. Ambos deram um beijo na testa dela e simplesmente saíram do quarto.

Assim que colocaram os pés para o lado de fora, Anthony simplesmente a abraçou forte e Kate soluçou. Aquilo vinha tão de dentro de sua alma que, antes de chorar, ela só soluçou por alguns segundos. As lágrimas correram pelo rosto dele também, tanto pela filha quanto pela dor de Kate.

— Eu devia ter percebido. - Kate disse, as lágrimas correndo livremente pelo seu rosto.

— Não tinha como você saber. - ele retrucou, segurando o rosto dela nas mãos. - Não tinha como ninguém saber. Ela não tinha dito nada até hoje.

— Mesmo assim. Ela passou a tarde olhando estranho pra Taylor. Eu devia ter pensado nessa possibilidade.

— Tá tudo bem. Não dá pra controlar tudo, muito menos o que se passa na cabeça de uma criança de 3 anos.

— Mas... - ela começou a protestar.

— Não diga mais nada. Você é perfeita para nós e isso não é um tópico aberto para discussão.

Ela sorriu.

— Acho que vocês tem uma opinião muito parcial sobre mim.

— As duas pessoas que mais te amam no mundo teriam uma opinião parcial sobre você? - ele perguntou, ironicamente.

— Sim. Se alguém é capaz de ignorar minhas falhas são vocês.

— Mas olhe pelo outro lado. Como as pessoas que mais convivem com você e que mais te amam, ninguém melhor que nós pra dar um veredito sobre você.

— Então, apesar das minhas falhas, vocês acham que eu sou perfeita?

— Você nunca falhou no que é realmente importante. Saber ler mentes não é pré-requisito pra ser uma boa mãe. - ela riu um pouquinho. - Claro que facilita a vida e todas acabam aprendendo ao menos um pouquinho com o passar do tempo, mas não saber disso ainda não te desqualifica da categoria.

— Obrigada. - Kate disse, beijando-o em seguida. - Estava precisando ouvir isso.

— Por nada. Sempre que precisar, pode contar comigo pra te lembrar que você é incrível. Eu te amo.

— Eu também te amo. - ela disse e o beijou novamente.

— Agora, o que nós vamos fazer sobre a Lottie? - Anthony perguntou.

— Eu não sei. Comprar uma coleção de toucas pra ela? Eu sei que não é o ideal, mas acho que seria uma forma de fazer ela se sentir menos estranha. Não dá pra obrigar ninguém a ter amor-próprio, muito menos uma criança.

— Pode ser. - ele disse, concordando, mas, ao mesmo tempo, pensando, assim como ela, que só aquilo não seria o suficiente.

— Eu preciso ir. A Eddie pediu pra falar comigo quando terminássemos aqui. - Kate disse, percebendo que os dois estavam em silêncio há um bom tempo.

— Ok. Eu vou tentar ler um pouco para me distrair.

Assim, Anthony foi para o quarto deles enquanto Kate ia encontrar com a irmã, que a esperava pacientemente no sofá da sala.

— Tudo bem? - Edwina perguntou, assim que a viu terminar de descer as escadas.

— Demorei muito? - Kate perguntou, já sentando ao lado dela.

— Só um pouquinho.

— Sobre o que você queria conversar? - ela perguntou, claramente tentando evitar falar sobre o que a tinha atrasado.

— Eu tenho uma novidade. - Edwina anunciou, um sorriso animado no seu rosto.

Um sorriso muito semelhante ao da mamãe, Kate não pôde deixar de notar. Tinha comentado com Edwina o que tinha descoberto, e, apesar do choque de ambas por não terem o mesmo pai e a mesma mãe, logo chegaram à conclusão de que aquilo não mudaria as coisas entre elas. Eram irmãs e era isso o que realmente importava.

— O que é? - Kate estava curiosa.

— Como você sabe, eu terminei meu mestrado em junho.

— Sim. Eu acompanhei a defesa da sua dissertação pela internet, apesar de ainda não ter entendido a diferença de uma mosca Chrysomya para uma Cochliomyia.

— Pontos extras por lembrar dos nomes certos.

— Eu escuto você falar sobre isso há 6 anos. Tinha que absorver alguma coisa.

— Bom, as moscas do gênero Chrysomya tem marcas latitudinais no tórax enquanto as do Cochliomyia tem marcas longitudinais. - ela explicou. - De qualquer forma, ainda não tinha muita certeza do que faria agora, então meio que saí enviando meu currículo por aí.

— Por aí? - ela levantou uma sobrancelha. Adorava a irmã e sabia que o sentimento era recíproco, mas Edwina não gostava de ficar num mesmo lugar por muito tempo. Muito menos em Londres.

— É. - ela disse, ignorando a provocação. - Enfim, eu recebi uma proposta de emprego como professora substituta na Universidade de Dublin e com a possibilidade de me tornar titular depois que terminar o doutorado. Eu não vou receber para fazer o doutorado, como era no caso do mestrado, mas também não vou precisar pagar, já que vou atuar como professora lá.

— Eddie, isso é incrível! - Kate disse, já a abraçando. - Por que não tinha dito antes?

— Porque eu ainda não tinha recebido a resposta oficializando tudo isso até hoje de manhã. E aí eu quis contar primeiro para a Heather. - ela tinha um olhar levemente culpado no rosto.

— Eu entendo porque você queria contar para ela antes de contar pra mim. Como ela reagiu?

— Muito bem. Principalmente considerando que ela aceitou uma proposta bem parecida da mesma universidade duas semanas atrás. - ela sorria.

— Vocês tinham combinado de tentar vagas na mesma universidade para o doutorado? - Edwina assentiu, com um sorriso que só crescia e que Kate não conseguia não copiar. - Eu estou tão feliz por vocês!

— Obrigada. Eu estou feliz por nós também.

— Quando você começa?

— Eles tinham pedido que eu fosse essa semana, mas, como o Anthony vai viajar, consegui convencer eles a me deixarem me apresentar lá na segunda da próxima semana.

— Eddie, você devia ter simplesmente aceitado. Eu e a Lottie ficaríamos bem.

— Eu não gosto da ideia de vocês sozinhas enquanto eu poderia estar aqui. Eu disse que tinha um compromisso familiar e eles entenderam. A Heather vai para casa organizar as coisas dela e chega lá na quinta-feira. Aí, depois que eu chegar, vamos procurar um lugar para alugar.

— Meu Deus, você realmente vai morar com a sua namorada. - Kate disse, um pouco emocionada. E então a abraçou. - Minha irmãzinha não é mais tão pequenininha.

Edwina riu.

— Eu vou ser sempre sua irmãzinha.

***

Enquanto Kate conversava com a irmã, Anthony tentava, em vão, se distrair, mas sua cabeça estava a mil por hora. Não parava de repassar a conversa que tinham tido com a filha e não parava de ver a expressão de tristeza no rosto dela, primeiro questionando porque e depois dizendo que aquilo não era justo.

E não era mesmo. Nunca seria justo que tivessem de observar ela sofrer e não haver nada que pudessem fazer sobre o assunto.

A não ser que...

Não, ele pensou, já afastando a ideia da mente. Nem pense nisso.

Ele pegou o livro e se concentrou no que estava lendo, tentando afastar os outros pensamentos de sua mente. Era uma releitura da lenda do rei Artur, então acreditava estar em território seguro (até porque já o tinha lido), porém, ao invés das cenas de batalha e discussões políticas e religiosas que compunham a maior parte do livro, encontrou a primeira vez que o personagem principal via a mulher que se tornaria (anos depois) sua companheira até o fim da vida.

 

Ceinwyn entrou no salão alguns instantes depois. Desde nossa chegada a Caer Sws ela estivera escondida nos aposentos das mulheres, e essa ocultação apenas aumentara as expectativas entre aqueles de nós que nunca tinham visto a filha de Gorfyddyd. Confesso que a maioria de nós esperava se desapontar com a estrela de Powys, mas na verdade ela brilhava mais do que qualquer estrela. Entrou no salão com suas damas de companhia e a visão da princesa tirou o fôlego dos homens. Tirou o meu. Tinha a cor clara mais comum aos saxões, mas em Ceinwyn esse tom se tornava uma beleza pálida, delicada. Ela parecia muito jovem, com rosto tímido e modos recatados. Usava um vestido de linho tingido de amarelo–ouro com o uso de cera de abelha, bordado com estrelas no pescoço e na bainha. O cabelo era dourado e tão leve que parecia brilhar tanto quanto a armadura de Artur.”

 

Muitas crianças tem o cabelo dourado logo depois de nascer e depois é que vai escurecendo, mas a Lottie sempre teve o cabelo bem escuro, muito parecido com o de Kate… e agora caiu, ele pensou, já se traindo. Passou então a mão pelo rosto. Será possível que eu realmente não vou conseguir parar de pensar nisso?

Foi ao banheiro lavar o rosto e a ideia que tinha rejeitado tão rapidamente apenas 10 minutos antes passou novamente pela sua cabeça ao se olhar no espelho. Seria tão horrível assim?, ele pensou, observando seu reflexo. Eu cortei o cabelo bem baixinho na época da faculdade. Não tão curto quanto isso, mas não ficou horrível.

Será que eu realmente me importo tanto assim com o jeito que eu pareço? Certo que vai ter a viagem e a premiação essa semana e eu tenho que representar bem a imagem da empresa, mas uma careca voluntária não seria algo inaceitável. Um moicano provavelmente seria, mas a cabeça raspada não. Ele respirou fundo e fechou os olhos. Só conseguia ver a expressão triste no rosto da filha. Se isso fizer aquela tristeza sumir do rosto dela pra sempre, eu sou capaz de adotar o visual em definitivo. Mas, com sorte, vão ser só algumas semanas. Eu posso viver com ser careca por um tempo, desde que nunca mais precise ver a Lottie triste assim.

Anthony pegou então a máquina de aparar o cabelo que tinha comprado e que usava para fazer a barba. Não ousaria fazer aquilo sozinho, claro. Caso fizesse, provavelmente ficariam alguns pedaços da cabeça com chumaços de cabelo, então pediria ajuda de Kate, assim que ela voltasse para o quarto.

Começou logo a ajeitar o espaço para fazer o corte, pegando um pufe do closet e o trazendo para a frente da pia. Pegou uma toalha também para colocar ao redor dos ombros. Assim, quando escutou a porta do quarto se fechando e se abrindo, soube que só tinha como ser Kate e logo a chamou.

— Kat, me ajuda? - ele pediu, já segurando a máquina na mão e sentando no pufe.

— O que você está fazendo? - ela perguntou, entrando no banheiro e tentando entender o que ele pretendia fazer.

— Bom, a Lottie estava reclamando que ninguém tem o cabelo parecido com o dela, então eu resolvi raspar minha cabeça. - ele entregou o aparelho para ela. - Achei que seria um jeito de melhorar o humor dela.

Enquanto subia as escadas, Kate tinha se prometido que não ia mais se emocionar ou chorar naquele dia, mas não conseguiu evitar que um bolo se formasse na sua garganta.

— Tem certeza? - ela perguntou, passando as mãos pelos fios.

Ele assentiu.

— Vai crescer de volta. Eu prefiro andar assim na rua por algumas semanas do que ver toda aquela tristeza no rostinho dela de novo.

Kate sentou no colo dele e o abraçou.

— Toda vez que eu acho que não tem como eu te amar mais, você me surpreende e me mostra que tem sim.

— Não é isso que é um casamento? - ele perguntou, virando o rosto para olhar para ela. - Se apaixonar de novo pela mesma pessoa todos os dias?

— Eu honestamente não sei dizer se é isso para as outras pessoas, mas para mim, deste momento em diante, é. - ele a beijou, mas antes que pudesse começar a aprofundar o beijo, ela se levantou. - Ok, vamos começar. - ela pegou a máquina, que ele tinha colocado sobre a pia, e a encarou por alguns momentos. - Eu sei que você me pediu pra fazer isso porque não tem como dar errado, mas eu sinto que tenho que te dizer que nunca fiz isso antes.

Ele riu.

— Não imaginei que tivesse.

— Acho que devia começar com um pente. Aí, se você mudar de ideia no meio do caminho, não vai ficar tão curto.

— Não vou, mas acho que vai ficar mais fácil pra você cortar depois se o cabelo já estiver um pouco menor.

Ela assentiu, acoplou um dos pentes e ligou o aparelho na tomada. Começou a trabalhar nas laterais primeiro e depois passou ao topo. Anthony via pelo reflexo do espelho que, enquanto Kate passava o aparelho, apesar de a boca estar fechada, uma pontinha da língua despontava entre os lábios. Ela geralmente fazia aquilo quando estava muito concentrada no que fazia e, apesar de ela achar ridículo, ele achava adorável. Anthony estrategicamente cobriu a boca com uma das mãos para que ela não percebesse seu sorriso, mas não adiantou.

— Eu estou fazendo aquele negócio de novo, não é? - ela perguntou, mais pra confirmar que qualquer outra coisa.

— Está.

Ela suspirou.

— Eu pedi pra você avisar se eu estivesse fazendo.

— Mas é uma mania tão fofa e tão inofensiva. Eu não consigo te avisar, porque sei que você vai parar de fazer.

— Bom, eu não gosto.

— Bom, você não precisa ver e eu gosto muito de ver.

Ela revirou os olhos.

— Acho que a primeira parte foi. - Kate disse, mudando de assunto. - Quer parar?

— Não. - ele respondeu. O cabelo já estava bem mais curto, mas não tanto quanto deveria ser.

— Ainda bem. Antes careca do que desse tamanho relembrando sua fase de aspirante a poeta. - ela disse, já tirando o pente do aparelho e começando a passar a máquina rente à pele.

— Por que você tem que lembrar de todas as minhas fases vergonhosas?

— É um dos mistos de benefício e malefício por nos conhecermos a vida inteira.

— Saber todas as besteiras que o outro já fez?

— É. - ela sorriu. - Mas sua fase aspirante a poeta foi foda.

— Não me lembre, por favor. - eles ficaram em silêncio por um momento. - Eu estou tentando pensar em algo que você tenha feito que foi pior que isso.

— Eu nunca fiz algo pior que isso.

— E sua fase emo?

— Ainda não é pior que você com meio centímetro de cabelo e declamando poesia ruim.

— Essas duas fases aconteceram ao mesmo tempo ou é impressão minha?

Ela parou para pensar um pouco.

— Sim. Tem alguma foto da gente nessa época?

— Eu espero que não.

Eles ficaram em silêncio por um momento enquanto Kate continuava cortando o cabelo de Anthony.

— Eu te disse o que a Eddie queria falar comigo? - ela perguntou.

— Ela vai se mudar de novo, não é?

— Como você sabia?

— Ela contou pra Heather enquanto eu estava passando pela sala e elas estavam no quarto. Eu não fiquei escutando, mas ouvi a palavra Dublin e, conhecendo a Ed, assumi que fosse se mudar pra lá.

— É. Elas duas vão trabalhar numa universidade lá enquanto fazem o doutorado.

— Sério? - ela assentiu pelo espelho. - Isso é ótimo.

— É estranho pra mim ver ela toda crescida, morando com a namorada e tudo o mais, apesar de, na idade dela, eu já ter a Lottie. É hipócrita que eu esteja usando meio que dois pesos e duas medidas?

— Um pouquinho, mas eu entendo perfeitamente. Foi o mesmo pra mim quando a Daph e o Simon noivaram. E depois quando a Frannie disse que estava namorando, sendo que na idade dela eu já tinha feito muito pior.

— Coisa de irmão mais velho, então?

— Com certeza. - ele sorriu.

Passaram os próximos minutos em silêncio, até que Kate anunciou que tinha terminado. Ele se virou para o espelho e observou seu reflexo. Levaria um bom tempo para que se acostumasse com aquilo, mas não era horrível.

Bom, tirando o frio na cabeça.

— Como estou? - Anthony perguntou, virando para Kate.

— Estranho. - ela disse, passando a mão pela cabeça dele. - Mas é por uma boa causa.

— Agora só falta ajeitar a barba.

— Não tira a barba, por favor. - Kate disse, passando a mão pelo rosto dele.

— Se deixar a barba crescer, fico parecendo um figurante de The Last Kingdom ou de Vikings.

— É, e se não deixar nada de barba, vai ficar igual ao Lex Luthor.

— Meio termo?

— Sim, por favor. Na verdade, deixando exatamente desse jeito fica ótimo.

— Você acha?

— Acho sim. Amo sua barba desse tamanho.

— Ok, então. Irei ouvir a voz do povo, porque a voz do povo é a voz de deus. No caso, da deusa com quem eu sou casado. - ele disse, passando as mãos pela cintura dela para trazê-la para mais perto de si.

— Deusa? - ela levantou uma sobrancelha, mas, ainda assim, passou os braços pelo pescoço dele.

— Sim. - ele a beijou e sentiu ela praticamente derreter em seus braços.

— Sabe o que eu acho? - Kate perguntou.

— Hm? - ele questionou, olhando em seus olhos.

— Acho que é uma boa hora para um culto. - ela tinha um sorriso travesso no rosto.

— Acha?

— Acho.

— E eu tenho certeza.


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