Some Kind Of Disaster escrita por Mavelle


Capítulo 21
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Oieee!
Gente, eu não sei cumprir promessas de ficar um tempo sem postar. É um defeito meu e eu já aceitei que provavelmente jamais mudarei. Dessa vez, eu estava determinada a cumprir, mas consegui terminar mais dois capítulos no fim de semana e esse capítulo é bem filler, então fiquei com pena de colocar ele pra ser o primeiro que vocês teriam de esperar uma semana pra receber. A gente vai manter o cronograma de só postar uma vez na semana, mas só a partir da semana que vem. De qualquer forma, comecem a acompanhar a história para serem notificades quando eu postar capítulo novo.
E eu resolvi postar porque tô feliz. A gente vai ser vacinado (algum dia), eu finalmente troquei a capa (provavelmente vou trocar de novo quando tivermos nossa Kate real oficial), apareceu mais gente nova lendo (oi katrinalima850 rs) e A HISTÓRIA RECEBEU UMA RECOMENDAÇÃO!!! Quase caio da cadeira depois de ver isso. Novamente, muito obrigada ThisGirl. Isso fez a minha semana (e talvez o mês inteiro).

Beijos,
Mavelle

Música: Painting Roses - Dresses



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Quando disse para Kate que eles se virariam, Anthony na verdade acreditava que estaria tudo sob controle e que acabariam a semana em relativa paz.

E, aparentemente, ele estava certo.

Na segunda, terça e quarta feira, tudo tinha corrido de acordo com o plano. Tinha ido deixar Charlotte na sua mãe antes de ir trabalhar e ido buscá-la depois do trabalho. Violet tinha dito que eles podiam jantar lá todos os dias dessa semana e Anthony simplesmente aceitou. Depois disso, quando voltavam para casa, levavam Newton para passear e Charlotte podia brincar no playground por um tempinho.

E aí, quando voltavam para casa em definitivo, Anthony fazia a maior parte da rotina noturna de Charlotte, mas, antes de a colocar para dormir mesmo, ligavam para Kate. De vez em quando, Edwina interferia também, para a alegria da sobrinha.

Aquela chamada era a melhor parte do dia dos três. Do dia de Charlotte porque estava sentindo falta da mãe e do dia de Anthony e Kate porque era uma lufada de ar fresco. Não que estivessem descontentes com suas atribuições, mas a verdade é que sentiam falta de conversar um com o outro e algo tão simples quanto aquela chamada de vídeo já fazia total diferença no dia.

Depois de um tempo, diziam que Charlotte devia ir dormir e ela escolhia um dos dois para contar uma história e, apesar de ambos aceitarem sugestões, ela não pediu nada como o “como vocês se conheceram?” da sexta feira, o que deixou Anthony aliviado. Prefiro não fazer descobertas sobre o que eu sinto enquanto conto histórias para ela, ele pensou. Sim, agilizou as coisas da última vez, mas não sei se quero repetir a experiência. E também é melhor não responder nenhuma pergunta difícil.

Depois que Charlotte adormecia, os dois continuavam conversando (com algumas poucas interrupções de Edwina) até terem que ir dormir.

Tudo funcionava bem. Talvez bem até demais.

Na quinta feira, entretanto, as coisas pararam de funcionar tão perfeitamente. Anthony tinha adiantado o máximo de trabalho que conseguiu nos três primeiros dias da semana e ia trabalhar de casa na quinta e na sexta. Combinou com Daphne que ela resolveria os problemas mais urgentes que surgissem e que podia ligar para ele caso não conseguisse resolver. Aproveitaria o tempo em casa para revisar alguns contratos, coisa que já devia ter feito há tempos, mas que envolvia parar de fazer todo o resto e se dedicar àquilo. Não devia ser tão difícil fazer isso em casa, certo?

Errado.

No começo do dia, parecia que daria certo e Anthony fez as coisas como de costume (fora a sua corrida, que estava deixando de lado essa semana porque não ia deixar Charlotte sozinha por uma hora em casa). E então, resolvendo começar a trabalhar mais cedo, foi para o escritório e já começou a ler, porém, antes que pudesse chegar na terceira página do primeiro contrato, Lottie acordou. Ele então parou e foi preparar o café da manhã dela, aproveitando para já tirar algo do congelador para fazer no almoço.

Depois disso, voltou para o andar de cima e, como ela disse que queria desenhar, arrumou algumas folhas para ela, aumentou a altura da cadeira de Kate e a instalou na mesa dela, que ficava de frente para a sua. Menos de dez minutos depois, ela se levantou da cadeira e se deitou no chão, apesar de continuar desenhando. Entretanto, mais quinze minutos depois, ela declarou que não queria mais desenhar e resolveu ver um filme na sala. Assim, Anthony desceu e colocou o filme para ela ver, movendo sua base de trabalho do escritório para a sala de jantar. Ia começar a revisar o segundo contrato, mas lembrou que precisava colocar roupa para lavar.

A partir daí foi um ciclo vicioso de: faz alguma coisa da casa, olha a Lottie, senta pra ler contrato, lembra de coisas que precisa fazer e volta ao primeiro item. Desta forma, de manhã conseguiu ler um total de dois contratos – de dezesseis que tinha levado. Somente após o almoço, quando Charlotte foi tirar um cochilo, foi que ele conseguiu se dedicar de verdade ao trabalho, conseguindo terminar a revisão de outros oito contratos, deixando apenas seis para o dia seguinte. O que uma hora e meia sem interrupções não faz, ele pensava, ao se dar conta que isso nunca acontecia no trabalho. Sempre tinha alguém querendo sua atenção para alguma coisa urgente (que nem sempre era tão urgente assim).

Então Charlotte acordou e, como estava adiantado com o trabalho, Anthony foi brincar com ela. Um pouco mais tarde, pararam para que pudessem ir se arrumar, já que a festinha de aniversário de Taylor aconteceria naquele mesmo dia às 17 horas. Kate – que todas as divindades celestiais a abençoassem –, já tinha comprado o presente, então essa era uma preocupação a menos para ele, que não tinha ideia de como se portar. Devia deixar Charlotte lá e voltar para buscá-la mais tarde? Devia ficar? Se ficasse, devia ajudar com alguma coisa?

Os seus questionamentos acabaram na hora que chegaram na festa. Sheila fez questão que ele ficasse, além de ter mostrado a mesa onde podia se sentar. Claramente a festa tinha sido pensada para as crianças, dado que todos os adultos estavam concentrados nessa mesma mesa.

— Vai ser bom ter outro par de olhos nelas. - ela disse, já levando um refrigerante para ele. Definitivamente, ela deveria querer ajuda com isso. Tinham cerca de 20 crianças entre 2 e 7 anos no quintal da casa dela, mas talvez 10 adultos (4 dos quais eram idosos), sem contar com a animação da festa.

— Se precisar de ajuda de qualquer tipo, estou aqui.

— Obrigada.

Ela se afastou e Anthony ficou na mesa, conversando com os pais de Sheila e John e também com os pais de outras crianças da escola. A cada cinco minutos, mais ou menos, alguém se levantava para ver como as crianças estavam. Em um momento, Anthony pensou ter ouvido Charlotte chorar, então se levantou e foi checar como ela estava, mas ela estava muito ocupada rindo com o teatro de bonecos para ao menos perceber que ele estava ali. Um pouco mais calmo, ele notou que uma criança estava um pouco mais afastada e não ria do teatro. Não lembrava de tê-la visto na sala das meninas, mas algo sobre ela era familiar. Ele só não conseguia identificar o que.

— Quem é aquela menininha? - Anthony perguntou a John, que estava do seu lado.

— Quem? - ele teve um pouco de dificuldade de ver sobre quem Anthony estava falando. - Ah, Monica. Ela é filha dos novos vizinhos. - ele explicou. - Eles acabaram de se mudar para cá da Itália e ela vai começar a ir para a escola com as meninas a partir de setembro, então Sheila achou que seria bom chamá-la para vir e tentar se entrosar com as outras crianças antes das aulas começarem.

— Uma boa ideia.

— Também tinha achado, mas aparentemente não está funcionando. Eu vi a Taylor e a Lottie chamando ela pra brincar antes, mas ela não quis.

— Que estranho.

Anthony não parou mais para pensar no assunto. Pouco depois disso, cantaram os parabéns e Charlotte foi para perto dele e pediu ajuda para comer. Dava para perceber que, apesar de querer continuar, ela já estava cansada.

— Cansou, pequena? - ele perguntou a ela, que comia bolo sentada no seu colo. Enquanto esperava ela terminar de mastigar para responder, colocou de novo o diadema nela, já tentando ajeitar um pouco o seu cabelo.

— Sim. - ela respondeu, quase se rendendo.

— Já quer ir para casa? - ele perguntou, basicamente para testar a reação dela.

Ela se empertigou.

— Ainda não.

— Daqui a quinze minutinhos nós saímos, pode ser?

— Sim! - ela se levantou e saiu correndo de perto dele, voltando a brincar com as outras crianças. Enquanto isso, ele a observava com um sorriso bobo no rosto.

Cerca de 20 minutos depois, se despediu dos adultos da festa e observou Lottie fazer o mesmo com as crianças, que, a essa altura, já estavam em número bem reduzido. Voltaram para casa depois disso e, como estava bem perto da hora de dormir dela e ela mesma tinha admitido estar cansada, já se prepararam logo para dormir. Anthony tinha mandado uma mensagem para Kate dizendo que já estavam em casa, mas ela ainda não tinha recebido, então seria só ele naquela noite.

— Quer que eu conte que história? - ele perguntou, já ajeitando o cobertor dela.

— Queria perguntá uma coisa. - Charlotte disse, num tom muito sério.

— O que é? - ele se preocupou um pouco.

— Por que eu só tenho a vó Let?

— Como assim? - ele não entendeu a pergunta.

— Tay tem vô John, vó Olivia, vô Gus e vó Natalie. Por que eu só tenho a vó Let?

Essa definitivamente entrava no rol das perguntas que Anthony não queria ter que responder, mas não podia evitar uma pergunta tão direta quanto essa.

— Bom, na verdade, você também tem quatro vovós e vovôs. Todo mundo tem, mas, algumas vezes, as pessoas não conhecem os avós porque eles foram morar com Deus. E foi isso que aconteceu com a vovó Mary, o vovô Miles e o vô Edmund. - seu coração apertou quando falou a última parte. Nunca tinha pensado em seu pai como avô, mas agora queria que ele tivesse tido a oportunidade de conhecer sua fi–Lottie, ele disse para si mesmo. Queria muito que ele pudesse ter conhecido a Lottie.

— Quem gostava da vó Let? - ela perguntou e ele interpretou isso como a forma de ela perguntar quem era parente de quem, mesmo que ela provavelmente não soubesse colocar aquilo em palavras.

— O vô Edmund, meu pai, era casado com ela, mas a vovó Mary era a melhor amiga dela e o vovô Miles também gostava muito dela.

— Vamo visitá eles que nem visita a tia Eddie! - ela disse, inocentemente.

— Nós não podemos ir visitar eles, só lembrar. - Anthony disse. - Sabe aquele dia que nós fomos com a mamãe naquele jardim com as pedras? - ela assentiu. - As pedras são para que a gente lembre deles.

— Ah. - ela pareceu pensar um pouco. E então disparou suas perguntas. - A vó Let vai morá com Deus também? E você? E mamãe? E eu?

Como diabos ele deveria explicar a ordem natural da vida a uma criança de menos de 3 anos sem traumatizá-la e fazê-la ter medo da morte? Uma coisa era falar de todas essas pessoas que ela não conhecia, mas outra completamente diferente era falar de pessoas que ela convivia e de quem gostava.

— Er... - nesse momento, como se fosse um presente dos céus, o telefone de Anthony tocou. Quando viu quem era, sentiu uma onda de alívio percorrer seu corpo. Ela definitivamente esqueceria da conversa que estavam tendo. Mostrou então a tela para Charlotte. - Olha só quem está me ligando.

— Mamãe! - ela comemorou.

Anthony simplesmente atendeu a chamada.

— Oi. - ela disse, com um sorriso. - Desculpem a demora pra ligar, estava com a Eddie fazendo uma ressonância.

— Você ligou bem na hora. - Anthony disse, aliviado. - Já estávamos nos preparando para ir dormir, certo, Lottie? - ela assentiu. - Como a Ed está?

— Bem. A ressonância é basicamente para confirmar que podemos viajar no sábado, mas ela está bem melhor.

— Ainda bem.

— Como foi o aniversário da Taylor? - ela perguntou, mais direcionada a Charlotte do que a ele.

— Legal! - Charlotte respondeu. - Tinha pula-pula e pipoca.

— E o teatro. - Anthony adicionou, olhando para ela. - Achei que você tinha gostado do teatro.

— Gostei. Foi divertido. - ela disse a última palavra bem devagar, depois olhou para a mãe, que assentiu, orgulhosa.

— Ah, que bom.

Eles continuaram conversando por um tempo, enquanto Anthony estrategicamente fazia cafuné em Charlotte, que acabou adormecendo antes mesmo da história.

— Dê um beijo de boa noite nela por mim, por favor. - Kate disse, baixinho, quando os dois perceberam que ela tinha adormecido. Ele logo deu dois beijinhos na testa dela, ligou a luz noturna, apagou as outras e saiu do quarto. - Isso está sendo bem mais difícil pra mim do que quando nós viajamos. - ela disse, com lágrimas se acumulando no canto dos olhos.

— Era diferente. Nós estávamos bem mais ocupados na viagem. - ele disse, já fazendo o caminho até o quarto deles. - E não era eu cuidando dela. Acho que agora parece mais que você está perdendo alguma coisa do que antes.

— Estou? - ela perguntou, preocupada.

— Não. - ele disse, honestamente. - Você não está perdendo nada interessante, mas volte logo, por favor. Estamos com saudades.

— Também estou com saudade de vocês.

— E eu preciso de você aqui pra me ajudar a responder as perguntas difíceis.

— Nossa. Bom saber que é pra isso que eu existo na sua vida.

— Não só pra isso. - ele respondeu, deitando na cama. - Mas eu acho melhor ter você do lado para saber o que responder. Hoje ela me perguntou porque só tinha uma avó enquanto a Taylor tinha quatro.

— Meu Deus. - ela pareceu preocupada. - O que você disse?

— Disse que ela também tinha quatro, mas que três tinham ido morar com Deus e que não podíamos ir visitá-los. Acho que me saí bem.

— E ela não perguntou mais nada sobre isso?

— Bem, ela perguntou se minha mãe também ia morar com Deus. E eu e você. E ela também.

— Eu teria me desesperado nessa hora.

— Eu quase me desesperei, mas você ligou bem na hora.

— Então você não explicou para ela a ordem natural da vida? - ela levantou uma sobrancelha.

— Graças a você, não.

— Meu timing sendo perfeito como sempre. - ela sorriu.

— Nunca tive do que reclamar. - ele sorriu de volta para ela.

— Temos que pensar em como responder isso, caso algum dia ela pergunte de novo.

— É. Tomara que ela espere até você chegar para termos tempo de pensar sobre isso.

— Só mais dois dias e eu vou estar em casa. Tomara que demore mais.

— Espero que sim.

Ele então ouviu Edwina chamando Kate para alguma coisa.

— Preciso ir. - ela disse.

— Tudo bem. Boa noite.

— Boa noite.

— Te amo.

— Também te amo. - ela sorriu. - Tchau.

— Tchau.

Anthony simplesmente desligou a chamada e se deitou. Era mais cedo do que a hora que normalmente dormiria, então normalmente leria alguma coisa, mas estava cansado de verdade. E aí se pegou olhando para o lado vazio da cama, onde Kate normalmente estaria.

Ele achava que não se importava em estar sozinho, mas a verdade é que sentia a falta dela. Kate tinha inferido que a razão para ele a querer em sua vida era para ajudar a responder as perguntas difíceis, e ele sabia que ela estava brincando quando disse isso, mas essa não era a única razão, nem de longe. Então lembrou de uma música que ela o apresentou anos antes:

Well I don't know about you / Bom, eu não sei você

But when I am alone my body feels dysfunctional / Mas quando eu estou sozinho, meu corpo parece disfuncional

It's true / É verdade

Do you, do you think I'm a fool? / Você, você acha que eu sou um tolo?

I tell myself I'm not one, I am only human / Eu me digo que não sou, que sou apenas humano

Right, then why don’t I feel whole? / Certo, então por que não me sinto inteiro?

Cuz if home is where the heart is then I feel pretty stupid, / Porque se o lar for onde o coração está, então me sinto bem estúpido

My heart lies in your bones / Meu coração está em seus ossos

Do you think that I’m dumb? / Você acha que eu sou burro?

Cuz I call it love, love / Porque eu chamo de amor, amor

I call it love / Eu chamo de amor”

E era exatamente assim que se sentia. Era como se estivesse funcionando pela metade desde que a tinha deixado na Escócia. Só mais dois dias, ele pensou esperançoso. Só mais dois dias e tudo vai voltar ao normal.

Mal sabia ele o que o esperava no dia seguinte.


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