Some Kind Of Disaster escrita por Mavelle


Capítulo 12
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Oie!!
Voltei com a conclusão do casamento, espero que gostem! Digam o que estão achando da história nos comentários.

Beijos,
Mavelle

(spoiler: o Anthony sobreviveu à entrada da Kate)



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Anthony sabia que Kate era uma mulher bonita. Sempre soubera disso.

Para ele, era apenas um fato, como dizer que o céu é azul ou que a Terra tem formato elipsoide. Havia quem pudesse discordar, mas provavelmente eram pessoas com quem não valia a pena discutir.

Porém naquele momento, quando a viu pela primeira vez em seu vestido de noiva, ele de alguma forma sentiu aquilo. Parou de ser um fato, ou mesmo uma percepção, e se tornou algo quase que palpável. Tinha exercido um efeito físico nele – seu coração tinha parado por um segundo antes de voltar acelerado – e isso era difícil de entender. Já tinha se sentido atraído por muitas outras mulheres antes, mas nunca tinha sido assim. Inferno, mesmo quando tinha se sentido atraído por ela em outros momentos não tinha sido assim. Havia uma estática no ar, como se algo estivesse prestes a acontecer.

E Kate sentia isso também.

Antes de entrar, seu pulso estava acelerado. Tinha dito que não estava nervosa, o que era verdade, mas pouco antes de entrar se sentiu um pouco ansiosa, pensando que todos iam estar olhando para ela. Tudo isso passou ao ver Anthony parado lá na frente e segurando a mão de Charlotte. De certo modo, eles realmente seriam uma família e ela sempre se tranquilizava quando via os dois juntos. Alguma coisa sobre ver eles juntos parecia… certa.

Seu coração voltou a bater normalmente, mas, ao focar o olhar em Anthony, acelerou-se novamente. Era acostumada a vê-lo usando ternos quase todos os dias, então achava que não se afetaria ao vê-lo no fim do corredor.

Quão inocente tinha sido.

Ele estava incrível naquele terno cinza com a gravata azul que combinava com as flores do vestido dela. Não tinha como não se sentir atraída até ele. Dentro de um instante, ela se viu abraçando a irmã, que tinha entrado com ela, e já segurando a mão de Anthony.

— Você está linda. - ele disse, sussurrando no ouvido dela.

— Você também não está nada mal. - ela sussurrou de volta, já prensando os lábios para não rir. Não chegava perto da opinião dela, mas não ia perder a oportunidade de zoar com a cara dele.

Ele revirou os olhos, mas também queria rir.

— Perde o noivo, mas não perde a piada.

— O primeiro é garantido, então não tem porque perder a piada.

Novamente, Anthony revirou os olhos, mas manteve o sorriso no rosto. Todos os presentes se admiravam pela bolha que os dois tinham criado no momento em que seus olhares se encontraram. Tinha se tornado perceptível que, para eles, estavam sozinhos naquele jardim. E, depois, muitos se sentiram intrusos ao verem os dois trocarem algumas palavras em voz baixa em meio a sorrisos.

A cerimônia passou num instante. Eles fizeram os votos tradicionais - nenhum dos dois quis escrever votos - e trocaram as alianças. Depois, claro, de convencerem Charlotte a entregar as alianças para o padre, para quem ela olhava desconfiada. Foi necessário algum convencimento, mas ela acabou entregando o par de alianças ao padre, apesar de ainda olhar para ele de cara feia.

— Pelo poder a mim investido, eu vos declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva.

Anthony puxou Kate um pouco mais para perto enquanto ela colocava os braços ao redor de seu pescoço. Então simplesmente se beijaram.

E, com aquele beijo, selaram seus destinos.

***

Algumas horas mais tarde, já depois que a maior parte dos convidados estava levemente (ou muito) alterada, foi que Kate e Anthony finalmente tiveram tempo de parar para comer alguma coisa.

— Ao menos, nós escolhemos bem. - Anthony disse, ao provar a entrada.

— A essa altura, qualquer coisa teria caído bem. Eu estou morrendo de fome.

— Somos dois.

Entretanto, a paz deles durou pouco, já que alguns convidados começaram a ir se despedir. E, depois disso, vários outros. No fim, já perto das 23 horas, só tinha sobrado a família dos dois. Charlotte estava adormecida em um trio de cadeiras colocadas juntas, coberta pelo paletó de Anthony para não sentir frio, e os irmãos estavam fazendo a brincadeira de passar por baixo da corda (que era o véu de Kate). Edwina e Simon seguravam a corda enquanto os outros tentavam passar, já que nenhum dos dois queria se ver no meio do fogo cruzado entre os irmãos. Eles levavam jogos a sério demais. John, o namorado de Francesca, não sabia o que estava por vir, então inocentemente aceitou brincar com eles, mas foi eliminado na primeira rodada.

— Todos vão ter que lavar a própria roupa na mão até que esteja sem manchas. - Violet disse, parando perto de Anthony e Kate, que riram do comentário dela. A essa altura, ambos já tinham sido desclassificados, já que Kate distraiu Anthony para que ele batesse na corda e ele depois fez o mesmo com ela. Agora, só tinham sobrado Eloise, Hyacinth, Benedict e Gregory e a disputa estava acirradíssima, mesmo que ninguém entendesse como Benedict, o mais alto de todos os irmãos, ainda estivesse na competição.

— Acho que é o justo. - Kate disse. - Pelo menos não vou ter que lavar o meu.

— Vão mandar para uma lavanderia enquanto estiverem na lua de mel?

— Sim e não. Vamos mandar para uma lavanderia, mas não enquanto estivermos longe, já que não vamos sair para a nossa lua de mel agora. - Anthony disse.

— E por que não vão sair agora? - Violet perguntou.

— Charlotte vai trocar de medicamento essa semana. - Kate respondeu, com um pouco de alívio. As sessões de quimioterapia tinham acabado, apesar de ela ainda precisar tomar alguns remédios. - E aí tem uma consulta com um geneticista para avaliar quais as chances de um transplante de medula acontecer, se for necessário.

— Ah, sim. - ela respondeu, num tom grave. Não era um assunto que nenhum dos três queria discutir naquele momento.

— De qualquer forma - ela continuou, voltando para o tópico lua de mel -, nós vamos para o Peru mês que vem. - Violet deu um sorriso malicioso. Ah, se ela soubesse que não vamos fazer nada, Kate pensou. - Ah, e você pode tomar conta da Lottie enquanto estivermos viajando? A Eddie vinha ficar com ela, mas apareceu um workshop que ela vai precisar participar.

— É claro que eu fico com ela. - Violet disse, com um sorriso, antes mesmo que Kate pudesse terminar seus argumentos dizendo que dariam um jeito de levar Lottie até a Escócia. Ela sorriu de volta para a sogra.

— Muito obrigada. Eu acho que vai ser bem mais confortável para ela assim.

— Também quer que fique com Newton?

— Se puder, eu ficaria muito grata.

— Claro. Hyacinth e Gregory vão adorar. - ela parou para refletir por um momento. - Só espero que não dê ideias a eles.

— Me dar ideias de que? - Hyacinth perguntou, já se aproximando com um sorriso travesso. Ela tinha perdido e agora Eloise era a campeã da noite.

— Nada.

— Eu ouvi que a Lottie e o Newton vão ficar lá em casa, então como não é um bebê, posso ter um cachorro?

— Que Deus me ajude. - Violet disse, e então virou para os recém-casados. - Sabem, se quiserem ir, eu posso terminar as coisas por aqui. Como pegar o resto do bolo, doces e comidas em geral.

— Sério? - Kate parecia surpresa, então só abraçou Violet. - Muito obrigada.

— Por nada. Eu tenho vários ajudantes, então nem se preocupem. E amanhã o almoço é lá em casa.

— Obrigado, mãe. - Anthony disse, a abraçando e beijando sua testa.

Assim, Anthony e Kate se despediram dos outros e foram para casa. Charlotte dormiria na casa de Violet com Edwina para dar a eles um pouco de privacidade para a primeira noite. Quando chegaram em casa, já perto da meia-noite, ambos estavam cansados, para dizer o mínimo. Havia muito tempo que Kate desistira dos seus sapatos e agora andava descalça, segurando-os numa mão, enquanto a outra segurava o vestido para não arrastar no chão. Os dois saíram do carro e só iam entrar na casa, mas Anthony a fez parar.

— Espera. - ele a pegou no colo de surpresa, o que a fez soltar um gritinho meio misturado com uma risada.

— Anthony! - ela protestou.

— É tradição. - ele disse com um sorriso ao passar pela porta, já fechando-a com o pé. - Não mata seguir a tradição uma vez na vida, não concorda?

— É, acho que não faz mal. Deixa só eu passar a corrente na porta. - Anthony parou do lado da porta e Kate praticamente se debruçou sobre o seu ombro para trancar a porta de casa.

— Você prefere que eu te carregue estilo bombeiro? - ele perguntou, já voltando a se mover enquanto ela voltava para a posição que estava antes.

— Não. Minha pressão baixa agradece ser assim.

— Você fica tonta de cabeça para baixo? - Anthony perguntou, enquanto começava a subir as escadas. Kate se admirava com a naturalidade com a qual ele a levava escada acima e ainda conversava.

— Sim, com muita facilidade.

— Desculpe, não sabia.

— Tudo bem. Já posso descer?

— Pensei que estivesse gostando da carona.

— Não é que não esteja gostando. É que já faz bastante tempo, estou me sentindo uma inválida.

— Bom, sua parada é aqui. - ele anunciou, ao chegarem ao quarto, já depositando Kate de volta no chão.

— Obrigada. Agora nossa casa não vai ficar cheia de espíritos malignos. - ela disse, sarcasticamente.

— Por nada. - ele respondeu com um sorriso.

Ambos foram trocar de roupa e lavar os rostos (em momentos alternados), mas, enquanto Anthony lavava o rosto, Kate apareceu na porta do banheiro, já usando uma roupa de dormir e com o cabelo preso num coque mal feito.

— Eu vou fazer alguma coisa para comer, você quer?

Ele franziu o cenho e olhou para o relógio.

— Você sabe que já passou da meia-noite, certo?

— E eu vou dormir com fome? Podia ser três da manhã que eu iria comer alguma coisa. Enfim, você quer comer? - ele ia dizer que sim, mas seu estômago roncou antes. Kate sorriu. - Vou interpretar isso como um sim.

Eles saíram do quarto e fizeram o caminho até a cozinha. Chegando lá, Kate parou, pensativa.

— O que vai fazer? - Anthony perguntou.

— Eu não faço ideia. - ela admitiu. - O que tem de comida aqui é o que estava no seu apartamento, já que a maior parte das minhas coisas só vem amanhã.

— Eu acho que tem ovos na geladeira.

Ele abriu a geladeira, constatando o que já imaginava: tinham ovos na geladeira.

— Você só tinha ovo na geladeira quando trouxe a mudança ontem? - ela perguntou, levemente indignada, e pegou três ovos da geladeira, separando-os ao lado do fogão.

— É. A ideia de levar comida da geladeira de um lugar pro outro não me agradou muito, então as coisas foram acabando e eu fui deixando de comprar. - ele deu de ombros.

— Ok. Ovos. Tem miojo?

— Acho que tem um pacote.

— Meu Deus do céu, eu casei com a única pessoa na face da Terra que morava sozinha e não tinha um estoque de miojo. - ela murmurou, já indo para a despensa e pegando o bendito pacote, além de um pouco de manteiga para fritar os ovos.

— Isso é porque eu tenho 30 anos e não 21. - ele disse, já sentando na bancada da cozinha, enquanto ela procurava uma panela para o miojo e uma frigideira para os ovos. - Além disso, minhas habilidades culinárias são superiores a isso.

— Bom, as minhas também, mas tem dias que é tudo o que sai. - ela disse, já colocando água para ferver e depois sentando ao lado dele na bancada. - Precisamos ir ao mercado amanhã.

— Sim. Tudo o que tem aqui é café e ovo. E o pacote perdido de miojo que vai pra panela.

— Isso diz muito sobre você.

— Que a única refeição que eu preparava em casa era o café da manhã?

— É.

— Não é minha culpa que eu almoço no trabalho e que minha mãe e minha noiva praticamente se revezavam para me alimentar de noite. E aí nos fins de semana as duas faziam a mesma coisa. Fiquei mal acostumado.

— Como você vivia antes de eu entrar de vez na sua vida?

— Eu honestamente não sei te dizer.

E era verdade. Ele sabia que algumas vezes ia na casa da mãe ou dos irmãos, mas não lembrava mais do que fazia quando estava completamente sozinho. Agora, nas raras ocasiões em que comia sozinho, era algo que tinha pedido pelo delivery.

— De qualquer forma, ainda bem que casamos hoje e não no sábado que vem.

— Por que? - ele perguntou, já franzindo o cenho.

— Do jeito que estava indo, sábado que vem só teria um ovo.

Ele revirou os olhos e desceu da bancada ao perceber que a água estava fervendo.

— Volto já. - Kate disse, também descendo da bancada e saindo da cozinha. Anthony colocou o miojo na panela e a manteiga na frigideira para fritar os ovos. Nesse momento, ela voltou para a cozinha, já com o telefone na mão e tirando algumas fotos. Ele simplesmente levantou uma sobrancelha. - Achei importante registrar o primeiro jantar que estamos fazendo na casa nova.

Ele riu.

— Se alguém perguntar qual o primeiro jantar que fizemos aqui você vai responder honestamente miojo com ovo?

— Claro que sim. E ainda vou dizer que foi o que jantamos no dia do nosso casamento.

— Meu Deus. - ele negou com a cabeça.

Os dois terminaram de fazer a comida e se serviram. Apesar de dessa vez já ter mesa e cadeiras na sala de jantar, preferiram jantar no balcão mesmo. Poucos minutos mais tarde, já tinham terminado, deixando a louça para a manhã seguinte. Então voltaram para o quarto, escovaram os dentes e prepararam-se para dormir. Kate simplesmente escolheu um lado da cama e se deitou, mas Anthony tinha outros planos.

— O que você está fazendo? - Kate perguntou, ao perceber que ele estava de pé.

— Estou indo para o sofá. - Anthony disse, já pegando um dos vários travesseiros da cama e se movendo na direção do móvel que ficava encostado na parede. Não era pequeno, já que já tinha sido comprado pensando nessa possibilidade, mas também era praticamente decorativo. O único uso real deveria ser para calçar os sapatos e só.

Kate respirou fundo. Não devia ser confortável dormir ali.

— Sabe - ela começou -, a cama é tão gigante que eu não acho que perceberia se você estivesse na outra ponta.

— Certeza? - ele perguntou, mas já andando na direção da cama. A perspectiva de dormir no sofá não o animava, principalmente com uma cama king size do lado.

— Sim. Nós também precisamos nos acostumar com isso. Estamos representando um papel e ele precisa ser bem interpretado. Depois do ano novo na praia, todo mundo percebeu que a gente estava meio estranho no dia seguinte, e a única coisa que fizemos de diferente foi dormir na mesma cama. No dia do noivado foi a mesma coisa, mas um pouco menos porque essa cama é gigante. Aí imagina se um dia estivermos na casa de campo da sua família ou sei lá e acontece de novo? Além disso, eu não quero ficar revezando quem vai dormir no sofá.

— Eu não te pediria pra revezar comigo. - ele disse, já deitando do lado direito da cama.

— Eu sei que não pediria, assim como você sabe que eu faria isso do mesmo jeito.

Ele deu um sorriso de lado enquanto encarava o teto.

— É, eu sei.

— E teríamos que achar um bom sofá ortopédico logo.

— Existem sofás ortopédicos? - ele perguntou, virando para ela.

— Eu não faço ideia. - ela sorriu e desligou o abajur que estava do lado dela. - Boa noite, marido.

— Boa noite, esposa.


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