Among the Wildflowers escrita por Nonni


Capítulo 4
Aquele do choque de realidade.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Na maioria das vezes em que estava com Regina, Robin esquecia que não se encontrava mais em Nova Iorque. Junto de sua caipira, com ela em seus braços, era fácil para ele se perder em pensamentos, deixar o coração leve, curtir o momento e o que estavam construindo. 

Ele havia aprendido a amar Crowley Cornes, era verdade. E muito desse amor era culpa de Regina. Mas o loiro realmente passara a gostar dali, por tudo que sentia naquele lugar. Robin passou os últimos anos buscando se sentir em casa, e por mais inacreditável que parecesse, se sentia em casa ali. Foi questão de semanas. Era a maior loucura, mas também a verdade. Sentia-se em casa. 

E mesmo que se sentisse em casa, havia momentos em que ele sofria alguns pequenos choques de realidade. Eram pequenos episódios, como se ele acordasse de um sonho e tivesse que reafirmar a si mesmo que as duas cidades eram muito, muito distintas. 

Essa volta à realidade acontecia sempre que ele sentia vontade de comer em um fast food, por exemplo. Ou quando, em um impulso, convidara Regina para ir ao cinema. 

"Que cinema, turrão?" Ela dissera, risonha. 

Por Deus! Que tipo de cidade não tinha um cinema em pleno século XXI? 

Mas, Crowley Cornes não tinha. 

Nem cinema, nem MC Donald's, muito menos um shopping ou qualquer coisa muito moderna. 

Não se passavam das 05h30 da manhã. Robin encarava pela cortina aberta o dia começando a apontar no horizonte. Tinha Regina em seus braços, totalmente imersa em um sono profundo, calmo. Um de seus braços passava por debaixo da cabeça dela, e mesmo que o sentisse adormecido, Robin não dava a mínima. Não tinha nenhum outro lugar no mundo que quisesse estar. Os fios negros e bagunçados deslizavam por seus dedos e Robin adorava acordar antes dela, para ficar vendo-a dormir. 

Não havia nenhuma outra forma de começar melhor o dia. 

Era a primeira vez que dormia junto dela na fazenda. Robin tinha muito receio de invadir a privacidade de Regina e Henry, mas era muito difícil dizer não à namorada quando ela decidia por algo. E, além disso, a arquiteta não o deixara ir embora na noite anterior. 

Então agora ele estava ali, observando sua caipira dormir, as mechas castanhas do cabelo dela deslizando por seus dedos, enquanto de tempos em tempos ele levava a ponta do nariz até sua têmpora, sentindo o cheiro dela. 

Robin se sentia o maior dos tolos apaixonados. Fora algo tão rápido, ao mesmo tempo tão incontrolável. Como se estivesse escrito, como se não tivesse outro jeito de ser. Era um bobo, porque deixara que Crowley Cornes o fizesse acreditar no destino. E que tudo era questão de tempo. 

Aquela nova fase de sua vida o fez acreditar em destino porque não havia explicação para ter encontrado o amor de sua vida naquele lugar. Mas isso aconteceu, e eram sentimentos que Robin iria manter apenas para ele, pelo menos por enquanto. A forma como seu coração batia quando a via, a forma como tudo parecia certo. Desejava com todas as forças conseguir preservar sua relação com Regina. Mesmo que tivesse que ser a distância. 

Robin queria tudo com ela. Tudo. 

Mas ainda era muito cedo para colocar aqueles sentimentos para fora, então ele apenas depositou mais um beijo na testa dela, sentindo quando ela suspirou baixinho. 

E então, aconteceu. 

Um galo cacarejou. Muito próximo dali. Uma, duas, três vezes, terminando de despertá-lo completamente. 

Por Deus! Regina tinha um galo! Um galo que cacarejava! 

"Inacreditável!" as palavras saíram por seus lábios antes que pudesse impedir, e a namorada em seus braços se mexeu, as pálpebras abrindo devagar. Robin se amaldiçoou por acordá-la, sentindo Regina se apertar a ele. 

"Você já está acordado?" Um sussurro rouco foi ouvido e Robin beijou-lhe os cabelos. 

"É muito cedo ainda, meu amor. Volte a dormir." 

"Você deveria voltar a dormir também." Regina rebateu, fazendo Robin sorrir. 

"E perder a visão de ver você dormindo? Não, obrigado." Sentiu Regina sorrir e se remexeu para poder olhar o rosto dela. 

"Nunca achei que um homem iria gostar de me ver roncar e babar." ela disse baixinho, os lábios se comprimindo em linha reta, e Robin não conseguiu evitar a risada que saiu por seus lábios. Os castanhos e azuis se encontraram. 

"Você não ronca e também não baba." sentiu as mãos da morena lhe acariciarem a barba por fazer. "Ao menos não babou em mim." e não demorou para um sorriso se esticar nos lábios de Regina. 

"Isso é meu subconsciente fazendo de tudo para que eu não perca o namorado." disse baixinho, acomodando a cabeça entre o ombro e pescoço dele. De surpresa, entrelaçou suas pernas as de Robin, os pés gelados ficando no meio dos dele. A arquiteta esperou que Robin reclamasse, mas o homem apenas os acolheu entre os seus, e Regina sabia que havia achado o melhor turrão do planeta Terra. E era seu! 

"Posso colocar algodões nos ouvidos e arrumar babadores." fez graça, recebendo um aperto na cintura. O galo cacarejou novamente e Robin suspirou. "Você tem um galo." 

"Como?" 

"Tem um galo. Cacarejando." Robin sussurrou. 

"Ah, o Frango! Ele vai fazer isso sempre, nos mesmos horários." saiu dos braços dele para olhá-lo. Robin tinha uma sobrancelha levantada. "Desculpe, devia ter te avisado. Espero que ele não tenha te acordado." 

"O nome do galo é Frango?" perguntou apenas. 

"Temos ele há dois anos. Na época, eu e Zelena achamos que era adequado." Regina explicou, um biquinho imperceptível se formando nos lábios. O coração de Robin aqueceu dentro do peito, aquele sentimento que fazia ele querer permanecer ao lado dela pelo resto da vida. 

Não importava se ela tinha um galo, patos, galinhas, cavalos e todo o zoológico naquela fazenda. Robin poderia se acostumar com isso, porque a sensação, por incrível que parecesse, lhe trazia paz. E ele não aguentou, teve que puxar a morena novamente para seus braços, os lábios se encontrando com os dela. Sem entender, Regina correspondeu ao beijo, sorrindo quando Frango cacarejou mais uma vez. 

"Eu já acordei com diversos barulhos em Nova Iorque… você sabe bem do que estou falando." Começou, fazendo referência ao tempo que a morena morou na cidade. Ela assentiu, esperando que ele continuasse. "Mas nada acalmou meu coração como o Frango. Porque sempre que ouvi-lo, eu vou saber que vou abrir meus olhos e encontrar você em meus braços…" 

"Robin…" 

"Posso me acostumar com isso." Ele sorriu para ela e Regina não aguentou e juntou seus lábios aos dele novamente. 

"Eu nunca duvidei disso. Bem vindo a Fazenda Mills!" beijaram-se mais uma vez, e mais uma, e teriam se beijado mais, se Frango não tivesse cacarejado e as gargalhadas não tivessem tomado conta do quarto. 

Era um choque de realidade gostoso de se ter. Robin sobreviveria a isso. E ele não fazia ideia do quanto. 

 

Alguns anos depois…

 

Robin sentiu o colchão afundar e não demorou para que Olívia se colocasse no meio dele e Regina. Sua esposa tinha um sono pesado e não acordou, mas sua menininha sabia que ele tinha um sono leve e que estava acordado. 

"Papai, o Frango não me deixa domir." disse manhosa, as mãozinhas esfregando os olhinhos tão azuis quanto os do pai. O homem sorriu, puxando a menina para deitar em seu ombro. Os cabelos claros estavam embaraçados, e Robin começou a fazer um cafuné, esperando que isso fosse mais forte do que os cacarejos de Frango. 

"Eu vou ter que conversar com o Senhor Frango então, por estar atrapalhando o sono da minha caipirinha." ele disse baixinho, para acalmar o coração de sua menina. 

Lá fora, o galo cacarejou de novo e Olívia suspirou, impaciente. 

"Viu só, papai? Ele é temoso!" reclamou, e mesmo sem encará-la, o homem sabia que ela tinha um beiço nos lábios. 

"Parece muito com alguém que eu conheço." Robin falou baixinho, levando as mãos aos pés da filha e percebendo que pareciam duas pedrinhas de gelo. Não importava que eles vestissem meias nos pés dela todas as noites, Olívia sempre se livrava delas. E infelizmente, havia herdado os pés gelados da mãe. 

"Sim, papai, parece muito a mamãe! Ela também é temosa!" Olívia falou séria, e Robin abafou a risada nos fios castanhos claros da filha. 

Deuses, ainda bem que Regina tinha sono pesado. 

Lá fora, Frango cacarejava mais uma vez. 

E Robin lembrou-se do que falara para Regina há anos atrás, na primeira noite que passara na fazenda. Encarava os cacarejos de Frango como um presente, porque abria os olhos e via seu mundo inteiro ao seu redor. 

Sua família. 


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Notas finais do capítulo

A minha amiga Jeane Karla, todo o crédito pela ideia desse plot. Obrigada por tudo!
E a todas vocês que leem e os amam tanto quanto eu, todo o amor do mundo. Obrigada pelo apoio!
Espero que tenham gostado e me deixem saber o que acharam.
Beijos e até a próxima!



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