Among the Wildflowers escrita por Nonni


Capítulo 2
Aquele das minhocas no estojo.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Roland sorriu ao ver a ponta das botas pretas do bom velhinho sentado na poltrona da sala. O saco de presentes descansava no chão ao seu lado, e os ruídos de biscoito mastigados eram bastante audíveis. Com certeza voar pelo mundo, em apenas uma noite, deveria dar muita fome. Ainda bem que a maioria das crianças ofereciam ao papai Noel algo para se alimentar.

Não conseguindo conter a euforia em seu corpinho, Roland olhou de volta para as escadas, apenas para certificar-se que o silêncio ainda reinava, seu avô e pais dormindo. O garotinho voltou os grandes olhos castanhos para a figura do bom velhinho, dividido entre correr até lá ou arriscar chamar Olívia. Sua irmã iria adorar conhecer o Papai Noel também. Roland não queria fazer isso sem ela. 

Antes que decidisse o que fazer, entretanto, o menino ouviu seu nome ser chamado pelo senhor, e não conseguiu conter a surpresa. Como o Papai Noel o tinha visto ali? Ele estava bem escondido atrás da parede. O que faria? Não havia conseguido chamar Olívia a tempo.

O velho senhor levantou-se da poltrona, dando meia volta e…

"Roland! Mano! Roland, acorda!" Olívia sacudia o corpinho do irmão, cochichando seu nome com esperanças de que ele acordasse logo. Eram 5h da manhã, e Olívia torcia para que desse tempo de fazer o que precisava. 

"Via?" Os olhinhos castanhos abriram a contragosto, tentando se acostumar com o breu para olhar para a irmã. "Você me acodou!

"Sim, mano. Temos que ir, rápido!" Ela puxou as cobertas de cima dele, deixando à mostra o corpinho vestido em um pijama de dinossauros. Roland amava muito dinossauros, e em seus poucos anos de vida, não entendia porque não poderiam ter um na fazenda, já que ali viviam diversos tipos de animais. 

"Ir pa onde?" ele sentou-se na beirada da cama, vendo a irmã já colocando botas de borracha em seus pés. "Tá congelanti lá na rua, Via. E o Papai Noel tava no meu sonho!" ele protestou, as mãozinhas ainda a coçarem os olhos. 

"Você disse que queria ir para uma aventura comigo, não disse?" ela perguntou, ajoelhada na frente dele. Apenas seis anos os separavam, mas se alguém os visse ali, perceberia que Olívia parecia gente grande. Roland acenou a cabeça freneticamente ao ouvir a irmã. 

"Eu quelo muitoooo!" Ele falou alto e Olívia tapou rapidamente a boquinha dele. 

"Shiu, mano! Não podemos acordar nem a mamãe, nem o papai e nem o vovô, bem?" ela pediu e Roland acenou com a cabeça. Olívia levantou depois de arrumar as botas do irmão e estendeu a mão para ele, que prontamente aceitou. 

Ambos saíram do quarto pé por pé. Olívia sabia que a mãe e o avô tinham sono pesado, mas seu pai não. E se ela fosse pega indo para rua tão cedo, e ainda por cima levando Roland, a coisa ficaria feia. Quando desceram as escadas, a menina suspirou de alívio. Roland ao seu lado ainda parecia sonolento, e ela se perguntou se fizera certo ao acordá-lo. 

"Tá fio, Via!" Ouviu ele sussurrar baixinho. Eles seguiram até a porta e Olívia parou antes de abrir, ouvindo patinhas pesadas batendo no chão. Fechou os olhos rapidamente. 

Lola. 

Se a cachorra fizesse muito barulho, não teria jeito. A coisa iria realmente ficar feia. 

Mas Lola não parecia muito interessada em acabar com os planos de Olívia. Ela cheirou Roland, fazendo o menino rir baixinho, e depois pediu carinho para Olívia, que não resistiu aos encantos de sua velha amiga. 

Quando se cansou da atenção, Lola marchou até a sala, o rabo balançando de lá para cá. Olívia prontamente pegou o casaco grosso do irmão e o dela, que ficavam junto aos dos pais e avó pendurados em um cabideiro perto da porta. A menina ajudou Roland a vestir, deixando-o bem quentinho e puxando a toca sobre a cabeça dele, para que não congelasse os ouvidos, e, após isso, vestiu o seu, abrindo a porta e puxando Roland pelas mãos. 

"O que vamos apontar, Via?" ele perguntou, curioso, enquanto seguiam pelo caminho de pedras até o lago da propriedade. Olívia sorriu, arteira. 

"Vamos caçar minhocas!" exclamou apenas, vendo os olhos castanhos do irmão se iluminarem com a travessura. 

"Minocas!" Roland deu um gritinho, e Olívia fechou os olhos momentaneamente. "Deculpa" o garotinho pediu, encolhendo os ombros. 

Se os pais não acordassem, estavam no lucro, pensou ela. 

Antes que chegassem no gazebo, desviaram do caminho e seguiram até perto do lago, onde se abaixaram e começaram a fazer buracos na grama, com as pequenas pás de jardinagem que Olívia havia separado e deixado pelo caminho, para que não levantasse suspeitas. Ela também havia conseguido uma lanterna, já que o dia não havia amanhecido totalmente. 

"São muitas que pecisa?" Roland já havia desistido das pás, e com as mãos, colocava as minhocas dentro de um saco plástico, com terra, para que elas não morressem, segundo Olívia. 

"Muitas!" A menina fez uma careta ao ver as mãos do irmão, pensando que teriam que parar no tanque antes de entrar dentro de casa novamente. Depois de conseguirem algumas dezenas de minhocas e parecerem satisfeitos com a diversão, que fora marcada por muita risada, eles fizeram seu caminho até o tanque que ficava na parte de trás da casa. 

"Tem que esfregar bem forte, mano." Olívia mostrou para Roland, enquanto passava um sabonete em barra nas mãos e esfregava embaixo da água. A mais velha, depois de lavar as mãos, colocou uma caixa de madeira na frente do tanque, para que o irmão pudesse alcançar também. "Estica as mãos" pediu e assim ele fez. Olívia arremangou as mangas dele e colocou as mãos do irmão embaixo da água. 

"Cledo, muito fia!" Roland reclamou, enquanto esfregava as mãozinhas com força. Minutos depois, já que a situação de terra nas mãos de Roland estava bem crítica, os dois conseguiram entrar em casa novamente. 

Como a verdadeira irmã mais velha que era, Olívia ajudou o irmão a tirar as botas, o casaco, deixando tudo em perfeito estado. Subiram devagar as escadas, pé por pé, e podiam notar que a casa continuava em silêncio. Ela colocou Roland na cama e fez carinho nos cachos castanhos até que o menino pegasse no sono novamente. Depois, seguiu até seu quarto, a sacola com as minhocas em sua mão. Quando passou pelo quarto dos pais, seu coração acelerou ao perceber que a luz estava acesa, os feixes passando por baixo da porta. Olívia redobrou ainda mais o cuidado, passando como um gatinho esperto até seu quarto. 

Assim que estava em território seguro, a menina guardou as minhocas dentro da mochila. 

Ao se jogar na cama para dormir mais um pouquinho, sorriu. Se sentia adorável! 

***

Dezembro é o mês mais corrido do ano. Natal, Papai Noel, presentes, ceia, férias. As pessoas realmente enlouqueciam. E mesmo que Crowley Cornes fosse a cidadezinha mais pacata que Robin já havia conhecido, naquela primeira sexta de dezembro ele achou estar de volta a Nova Iorque. 

Era a terceira vez que o homem tinha que frear de repente porque algum carro lhe cortava a frente. Ele não conseguia entender o porquê de tanta pressa. Era certo que todos tinham o que fazer, mas por Deus, não era como se o Papai Noel estivesse em caso de vida ou morte. 

O loiro agradeceu aos céus quando conseguiu sair da avenida principal e acessou a rua da escola dos filhos. Quando chegou ao local, foi impossível os olhos não pararem na bela mulher escorada na Ford Edge vermelha, concentrada no celular. 

Não havia nenhuma vaga perto, no entanto, e o empresário teve de estacionar ao fim do quarteirão. Regina o esperava na calçada, com calça jeans e botas pretas, um sobretudo azul e xadrez a protegê-la do frio. Assim que viu o loiro vindo em sua direção, um sorriso aberto deslizou pelos lábios, e ela não aguentou, teve que ir ao encontro dele. No momento em que se aproximaram, Robin lhe agarrou a cintura com uma das mãos e selou os lábios nos dela, em um beijo casto e carinhoso. A mulher brincou com o nariz dele usando a ponta do seu e eles entrelaçaram as mãos, caminhando juntos até a escola. 

"Você ligou para o papai para ver se todos os patos estavam no lago?" Regina perguntou, fazendo Robin rir alto. Ela se deliciou com o riso dele, embora estivesse um pouquinho preocupada. Eles nunca haviam sido chamados na escola antes. Não dessa forma, pelo menos. Torcia para que os filhos estivessem bem. 

"Ela não teria como trazer um dos patos na mochila." Robin assegurou, semicerrando os olhos e levando as mãos da mulher a boca, deixando um beijo nos nós dos dedos. "Você está gelada." 

"Nunca duvide de sua filha, senhor turrão." Sentiu ele colocar as mãos dela entre as dele e adentraram a escola, sentindo a temperatura mudar completamente. Mesmo assim, as mãos continuaram unidas e eles pararam em frente à recepção. 

"Olá! Somos pais da Olívia e Roland Locksley, recebemos uma ligação da diretora Becker." Regina informou. 

"Olá, senhores! Podem seguir até a sala da diretora no fim do corredor e aguardem nas cadeiras de espera. Vou avisá-la que vocês chegaram." Uma mulher baixinha respondeu, apontando para o corredor extenso. O casal assentiu, seguindo a direção que a moça indicou. 

"Eles estão bem." Robin disse, apertando a mão de Regina. "Não fique preocupada, por favor."

"Será? Meu coração só vai se acalmar quando eu vê-los." tombou a cabeça contra o ombro dele e sentiu os lábios finos depositar um beijo nos fios. 

"Se não for uma pato, talvez um pintinho." Ele sugeriu para distraí-la, e Regina revirou os olhos. 

"Pois você tome providências e faça sua filha entender que ela não pode sair por aí com patos, galinhas e terneiros." 

"Eu amo a forma que, quando fazem coisa errada, os filhos são apenas meus." disse baixinho, quando enfim chegaram em frente a sala da diretora. Regina revirou os olhos e sentou-se em uma das cadeiras, puxando Robin junto. 

Entrelaçaram as mãos e aguardaram em silêncio, ambos curiosos com o motivo de tudo aquilo. Regina havia recebido a ligação da escola mais cedo, solicitando a presença dos pais de Olívia Mills Locksley. A morena logo ligou para o marido, matutando o que sua menininha havia aprontado daquela vez. 

Regina não sabia mais se o termo "menininha" era adequado para se referir a filha. Olívia estava quase completando 10 anos, e a morena mal conseguia acreditar que o tempo passara tão depressa assim. Sua filha se mostrava cada dia mais inteligente, sensível, adorável e espoleta. A menina nunca parava de aprontar, e sempre levava o irmão para as encrencas. 

Roland estava no jardim de infância. Seu garotinho era uma cópia fiel sua, e Regina amava isso. Ele era tão doce quanto espoleta e normalmente nunca perdia a oportunidade de aprontar com a irmã. Mas ele conseguia ser mais calmo que Olívia e também era um pouco mais dengoso. 

E juntos eles faziam a alegria da fazenda. E a de Henry também. 

"Anna ligou pra você?" Regina perguntou, quebrando o silêncio. Robin assentiu com a cabeça, pensativo. 

"Sim, mas ela não vai vir para o Natal." 

"Por que não?" 

"Ela e Richard vão estar em Londres. Mas Rose e Alice virão." beijou os nós dos dedos da mulher. 

"Olívia e Roland vão ficar chateados porque a avó não vem." apontou, parecendo um pouco chateada também. Amava Anna e a companhia da mulher. Robin sorriu triste. 

"No Ano Novo ela estará aqui. Até lá, Rose vai mantê-los distraídos." 

"Três crianças." riram. 

"Quatro com Zelena." 

"Você tem um ponto." beijou a bochecha dele e eles esperaram mais alguns minutos. 

Quando a diretora apareceu, uma senhora baixinha e com alguns fios brancos, Regina e Robin se levantaram rapidamente. A mulher os cumprimentou e pediu que a seguissem até a sala, e Regina percebeu que a situação não era nada boa quando viu três crianças sentadas lado a lado. Uma era um menino desconhecido, que Regina não fazia ideia de quem era. Os olhos vermelhos evidenciaram que havia chorado bastante. Ao seu lado estava Olívia, o nariz empinado e sem um pingo de vergonha na cara, enquanto Roland ao lado dela parecia totalmente apavorado. As mãos dos dois estavam entrelaçadas, e Regina sabia que essa era Olívia fazendo o papel de irmã mais velha. 

Quando a menina viu a mãe e o pai entrarem na sala, abaixou a cabeça, como se soubesse que, pela primeira vez, suas travessuras haviam ido longe demais. Roland largou a mão da irmã na mesma hora e correu para o colo da mãe, e mesmo sem saber se podia, Regina o recebeu com muito amor e carinho. 

Ela não tinha ideia do que havia acontecido, e estava com medo de descobrir. 

***

"Só um minuto…" Robin interrompeu a diretora, abismado. "A senhora está me dizendo que meus filhos encheram o estojo daquele garoto de minhocas?" 

Ele buscou o olhar de Regina, mas a morena tinha o rosto escondido nas mãos, tão surpresa quanto ele. Na verdade, era um equívoco falarem que estavam surpresos. Não era tão difícil assim acreditar que seus filhos eram tão espoletas capazes a isso. O grande problema é que Robin não conseguia enxergar por qual motivo Olívia faria algo assim. 

Sua menininha aprontava muito, disso ele sabia e não escondia de ninguém. Olívia adorava fazer folia, e ele e Regina davam a ela total liberdade para isso. Sua esposa havia crescido livre pela fazenda, e tanto ela, quanto Robin, sempre desejaram o mesmo pros filhos.

Eles sempre ficavam surpresos a cada pequena folia, mas Olívia jamais prejudicava ninguém. Ela era totalmente incapaz de fazer mal. Colocar formas de cupcakes em pintinhos, carregar patos de lá para cá, amar conviver com bichinhos era algo totalmente de Olívia. Agora, usar disso para fazer mal para alguém… Robin tinha certeza de que havia algo errado. 

E parecia que sua esposa pensava o mesmo, porque ela não demorou a responder a diretora. 

"Não pode ser… Olívia não faria algo assim, muito menos Roland!" 

"Senhora Locksley, infelizmente foi Olívia quem confessou." A diretora respondeu, cruzando as mãos sobre a mesa. 

"O outro garotinho se machucou?" Robin questionou, embora estivesse mais preocupado em falar com os filhos, que os esperavam ao lado de fora. 

"Não, não foi grave fisicamente. O pobrezinho apenas levou um baita susto!" dessa vez foi Robin quem escondeu o rosto nas mãos. 

"Tem algo errado nessa história. Meus filhos não iriam fazer algo assim por nada. Robin, eles não seriam capaz." os olhos azuis se encontraram com os castanhos. 

"Eu sei que não, Regina." Ele buscou a mão dela e a apertou. "Diretora Becker, nós entendemos a gravidade da situação, e pedimos desculpas. Mas também gostaríamos de conversar com os nossos filhos, saber qual motivo os levou a fazerem isso. Olívia e Roland são arteiros, sim, mas incapazes de causar mal." 

"Foi por isso que lhes chamei, na verdade. Eles não quiseram contar por qual motivo agiram de tal maneira. Sei que são apenas crianças, mas peço que conversem com eles e me informem o motivo. Roland e Olívia são crianças muito doces e as professoras me apontaram que são muito amáveis com todos. Agir dessa maneira com o colega foi, de fato, muito esquisito." 

"Esse garotinho é colega de Olívia?" Regina perguntou. 

"Sim. Faz pouco tempo que ele foi transferido. A família é de Los Angeles." 

"Você pode pedir para que eles entrem novamente? Gostaríamos de pedir para que Olívia e Roland se desculpassem. E também entender o que os levou a fazer isso." Robin pediu, e a diretora concordou prontamente. 

O casal levantou e observaram juntos enquanto as três crianças entraram na sala, da mesma forma como saíram. Embora Olívia aparentasse estar segura, não conseguia sustentar o olhar dos pais, sabendo que havia passado muito dos limites pela primeira vez em toda sua vida. A mãozinha estava segurando fortemente a de Roland, e o garotinho alternava o olhar entre a mãe e o pai, como se aguardasse a sentença final. 

Roland sabia que aquilo tudo era uma situação muito ruim, e estava assustado como jamais esteve em toda sua vida. Por um momento se perguntou se o mau comportamento naquele dia anularia todos os bons comportamentos ao longo do ano. 

E se o Papai Noel não visitasse crianças que procuravam minhocas na terra para por no estojo dos outros? Ele havia se esquecido completamente de perguntar isso a Olívia antes de ajudá-la. 

Robin foi o primeiro a tomar uma atitude. Assim que os filhos sentaram, o homem seguiu até eles e se ajoelhou, para que pudessem conversar olhando nos olhos. Mesmo que soubesse que sim, seus filhos fizeram aquilo, o loiro não conseguia ficar tão bravo. Ele sabia, com cada fibra do seu ser, que Olívia e Roland teriam um motivo para aquilo. 

"Qual dos dois vai explicar pro papai e pra mamãe o que aconteceu?" Perguntou apenas, vendo quando Roland voltou os olhos para a irmã mais velha, esperando que ela fosse a porta voz. Olívia encarava os olhos azuis do pai, e Robin via uma coragem e uma força tão grande naquele olhar. Ele amava tanto a sua menininha. 

"Eu não fiz por mal, papai." os olhos azuis da menina marejaram, e a fala dela foi tudo que Robin precisou para saber que na verdade, aquilo tudo não era o que parecia. Nesse momento, Regina se aproximou também, ficando ao lado de Robin e colocando uma mecha do cabelo de Olívia para trás da orelha. 

"O que aconteceu, filha?" Foi Regina quem perguntou, e a menina abaixou a cabeça por um momento, a mãozinha apertando a de Roland, que olhava dela para os pais. 

"Roland não fez nada, mamãe. Ele só me ajudou a procurar as minhocas na fazenda. A culpa não é dele." disse e Roland arregalou os olhos. 

"Eu ajudei, mana!" levantou as mãozinhas para que os pais vissem. "Olha! Ainda tem tela nas minhas unhas!" Olívia revirou os olhos, e Robin riu internamente, pensando no quanto ela se parecia com Regina. 

"Só me ajudou com as minhocas, quem colocou no estojo do Jacob foi eu." disse apenas, e o casal viu pelo canto de olho o outro garotinho se encolher com a menção do estojo. 

"E por que você fez isso, querida?" Robin perguntou, levando a mão ao queixinho da filha que olhava para baixo. Os dois pares de olhos azuis se encontraram novamente, e Olívia desviou por um momento para encarar Jacob. "Você sabe que pode contar tudo para o papai e a mamãe, né?" beijou a mãozinha dela e Olívia o encarou novamente. 

"Jacob fica me chamando de caipira, papai. Todos os dias! Mas não é com carinho, como você fala para a mamãe. Ele faz para rir da minha cara, e eu não gosto." disse, a voz embargando um pouquinho. Tanto Robin, quanto Regina, sentiram o coração pesar. "Eu pedi um montão de vezes para ele parar, mas ele não me ouviu. Continuou rindo da minha cara." 

"E por que você não nos disse, filha?" Regina perguntou, secando as lágrimas que caíam da bochecha da filha e segurando as suas próprias. "Você pode nos contar tudo, você sabe disso, não sabe?" 

"Eu sei, mamãe. Mas eu não queria incomodar você e o papai. Só que, ontem, ele chamou Roland de caipira e riu dele também, e eu fiquei muito brava, mamãe. Meu coração bateu muito forte e eu pensei que se colocasse as minhocas seria melhor e que ele iria ver que não se deve mexer com caipiras." Explicou e Regina apertou os lábios, emocionada.

"Você é a caipira mais linda, doce e gentil de todos os tempos, minha filha. Não deixe ninguém te dizer o contrário." beijou a testa de Olívia rapidamente. 

"Igual a minha mãe." sorriu. Robin concordou com a cabeça, e foi sua vez de beijar a bochecha da filha.

"Mas você agiu muito errado, filha." O loiro repreendeu. "Você deveria ter contado para nós, a gente viria na escola para conversar com o Jacob. Foi muito feio o que você fez, Olívia. E, mais feio ainda, porque arrastou seu irmão junto." 

"Eu quis caçar minocas, papai." Roland se pronunciou, querendo aliviar um pouco a barra da irmã. "Não é errado ser caipila." 

"É isso mesmo, filho, não tem nada de errado em ser caipira. O Jacob teve uma atitude muito feia." Regina disse, levando o olhar até Jacob, que parecia envergonhado. Ela então voltou a olhar para os filhos. "Mas a atitude que vocês tiveram foi muito feia também. É por isso que eu e o papai vamos querer que vocês peçam desculpas." 

"Mas mamãe…" Olívia começou. 

"Nada de "mas mamãe"... Quando a gente faz algo errado, Olívia, a gente pede desculpas. Você sabe disso, não sabe?" 

"Eu sei…" 

"Então mostra para ele como uma caipira de verdade se comporta, filha. Garanto que ele nunca mais vai incomodar você." Robin a encorajou, e então a menina, junto de Roland, se aproximou de Jacob. 

"Desculpe, Jacob." Olívia disse, baixinho. 

"Deculpa por ter colocado minoquinhas no seu estojo." Roland completou, as mãozinhas juntas nas costas e o corpo balançando pra frente e pra trás, levemente. 

Regina se virou para a diretora Becker. 

"Gostaria que passasse nossos pedidos de desculpas para os pais de Jacob. Iremos comprar um estojo novo para ele. Mas peço que conversem a respeito da atitude dele com os nossos filhos também." pediu, sentindo a mão de Robin na base de suas costas, em forma de apoio. 

"Pode deixar, Sra. Locksley. Fico aliviada que a situação tenha se resolvido." respondeu, e Olívia e Roland caminharam até os pais. Robin pegou Roland no colo e Olívia agarrou a mão de Regina, e juntos, depois de pegarem as coisas dos filhos, os quatro seguiram para a fazenda Mills. 

***

Regina observava no batente da porta Olívia fazer o dever, deitada em cima da cama. A menina mordia a pontinha do lápis e usava os dedos para fazer as operações, muito concentrada no que calculava. Os pézinhos estavam para cima, e ela os mexia incansavelmente. 

Fazia muitos minutos que a mulher observava a filha, ainda pensando em tudo que havia acontecido naquele dia. Para Regina ainda era difícil acreditar que sua menininha havia lidado com toda a situação sozinha. No final, lidou de forma errada, mas mesmo assim, a morena se culpava por não ter percebido o que acontecia antes. Olívia e ela conversavam bastante, e a morena sabia que era da mesma forma com Robin. 

No fundo, a mulher não conseguia ficar brava com a atitude dos filhos. Ela sabia que agiria da mesma forma se ainda tivesse 10 anos. Ninguém mexe com uma Mills, afinal. O plano de colocar minhocas no estojo foi bastante ardiloso, coisa que somente a mente de sua menininha seria capaz de planejar, e no fundo, a caipira que habitava Regina se orgulhava da caipira que habitava Olívia.

"Você não vai entrar, mamãe?" A menina perguntou, a cabecinha escorada em uma das mãos. Regina sorriu, caminhando devagar até a cama e sentando-se, as costas escoradas na cabeceira. Não foi preciso pedir para que Olívia se juntasse a ela, a menininha fechou o caderno e deixou o lápis sobre ele, se aninhando no colo da mãe. 

A arquiteta sentiu imediatamente saudade de quando sua garotinha cabia completamente em seu colo. Era incrível a forma como os últimos dez anos passaram sem nem perceber, e ela sabia que o motivo fora simplesmente a mais pura e repleta felicidade. Não que Regina não fosse feliz antes dos filhos, mas a chegada de Olívia mudou a mulher que ela era. A chegada de Roland também. E Regina sabia que por eles daria a vida se precisasse, assim como Robin também faria o mesmo. 

"Tem lágrimas nos seus olhinhos, mamãe." Olívia acariciou a bochecha dela, preocupada. 

"Eu só estava lembrando de quando você cabia todinha no meu colo e eu podia te proteger de todo o mal." respondeu baixinho, batendo com a ponta do dedo no nariz da filha.

"Você ainda me protege de todo o mal." a menininha respondeu, sorrindo. Regina apertou os lábios, negando com a cabeça. 

"Não pude lhe proteger das palavras de Jacob, filha. Perdoa a mamãe?" pediu e Olívia tombou a cabeça, confusa. 

"Mamãe, eu me protegi das palavras do Jacob. Eu tenho certeza de que, na próxima vez que ele vir mexer comigo, vai lembrar das minhocas e pensar três vezes." falou tranquilamente, e Regina não pode evitar a risada que escapou de seus lábios. 

"Você sabe que agiu errado, não é?" perguntou e a menina anuiu, abaixando a cabeça. "Você sabia que Jacob vem de Los Angeles?" 

"Sim, mamãe." 

"Los Angeles é uma cidade muito grande, filha. Assim como Nova Iorque." 

"A cidade da vovó e da tia Rose! E do papai!" exclamou. 

"Isso mesmo! Jacob não é acostumado a viver numa cidade tão pequena, querida, e eu acho que ele pode ficar um pouco revoltado com as coisas." Regina falou, enquanto acariciava os fios de cabelo da filha, que tinha a cabeça deitada sobre o peito da mulher. 

"Mas mamãe… isso quer dizer que ele pode ser ruim para os outros?" perguntou Olívia. 

"Não, filha. Ele está muito errado também…" A mais velha respondeu. Elas passaram alguns instantes em silêncio. "Você sabia que quando seu pai chegou aqui, ele não gostava de Crowley Cornes?" questionou, ganhando a atenção da menina. 

"Não gostava?" ela devolveu a pergunta, abismada. 

"Não. E ele era muito revoltado." continuou a contar Regina. "Mas eu vi que o maior problema era que ele se sentia muito perdido e precisava de amigos." 

"Você foi amiga dele, mamãe?" 

"Fui. E isso fez ele ficar muito mais a vontade aqui na cidade." 

"Foi quando vocês se apaixonaram? Papai me diz sempre que ele se apaixonou na primeira vez que te viu." 

"Foi sim. Seu pai estava revoltado no começo, mas depois eu descobri que ele era um cara incrível. Foi assim que me apaixonei por ele." sorriu para a filha, que não conseguia desviar os olhos do rosto da mãe. "Mas você já pensou se eu tivesse levado seu pai para uma sala cheia de cavalos logo que ele chegou aqui em Crowley Cornes?" os olhos de Olívia se arregalaram.

"Cruzes, mamãe! Ele teria morrido do coração. Papai não gostava de cavalos naquela época." respondeu, horrorizada. Regina riu e concordou. 

"É por isso, filha, que a atitude das minhocas foi errada, e, por isso, que a mamãe e o papai pediram para você e seu irmão pedirem desculpas." 

"Eu agi mesmo muito errado, mamãe. Mas eu só queria que ele parasse de rir de mim." Regina anuiu, beijando a testa da filha. 

"Eu sei, meu amor. E está tudo bem… a mamãe entende. Eu só quero que me prometa que não fará isso de novo, e que vai me contar quando qualquer pessoa te fizer mal, Olívia." Pediu Regina. Olívia assentiu, beijando a bochecha da mãe como uma forma de tranquilizá-la. 

"Eu prometo, mamãe." Sorriram uma para outra. "Eu amo ser caipira." Exclamou orgulhosa. "Só queria defender meu irmão." 

"E eu te amo mil vezes mais por saber disso, filha. Roland tem sorte de ter uma irmã como você, e eu e seu pai temos sorte de ter vocês dois." Regina falou, e Olívia se jogou nos braços dela, em um abraço apertado. Elas ficaram ali por longos minutos, até que Roland apareceu na porta, o nariz e o rostinho sujos de farinha. 

"Via! Mamãe! Vocês tão atasadas pa fazer as bolachas de Natal!" gritou, as mãozinhas na cintura na simples e direta figura de indignação. Regina riu, vendo Olívia se levantar e correr porta afora, gritando por Robin e pedindo que ele a esperasse. Roland correu até a mãe, enchendo-a de beijos e farinha, para logo depois pular de seu colo e correr até a escada. 

"Roland! Cuidado a escada!" mas o menino já estava longe, deixando a mãe para trás. Era verdade que Roland era mais calmo em relação a Olívia, e tinha algo que ele não havia puxado a irmã: medo da escada. E era algo que, com certeza, faziam os cabelos brancos de Regina aparecerem com mais frequência. 

A cozinha da casa, naquela noite, ficara a mais bonita bagunça de farinha e clara de neve, com formas de biscoito e confete para todos os lados. As gargalhadas de Roland e Olívia se misturavam com as risadas de Henry, e Regina achou que iria morrer de amor sempre que olhava para o marido com um avental de rena e farinha por todo o rosto. 

Os filhos dormiram exaustos, jogados no sofá depois de um filme de natal. As bocas estavam brancas de clara de neve, Roland tinha confetes nos cachos castanhos. Mesmo assim, Regina não teve coragem de acordá-los para um banho. Nos créditos do filme, Jingle Bell Rock tocava incansavelmente, e a mulher sufocou um grito quando sentiu as mãos do marido lhe enlaçando a cintura, balançando com ela de lá para cá. Em um movimento, Robin a virou de frente para ele, lhe dando um beijo demorado. Regina lhe enlaçou o pescoço e deixou que o marido balançasse com ela pela sala, rezando para que eles fossem discretos e não acordassem os filhos. 

"Vamos para mais um natal juntos, isso não é a melhor coisa que poderia acontecer?" Robin perguntou, o nariz brincando com a pele da bochecha da esposa. 

"É o meu maior presente todos os anos." respondeu baixinho, sentindo o sorriso que amava tanto crescer no rosto dele. Ela não precisava olhá-lo. Já havia decorado a forma como os lábios se esticavam, que as covinhas apareciam. "Te amo infinito." 

"Eu te amo além do infinito, minha caipira." beijou a bochecha, ponta do nariz e queixo dela. Regina esfregou um pouco de clara que havia na bochecha dele, antes de juntar finalmente os lábios. 

Quando Robin largou Roland na cama naquela noite, o menino acabou por acordar. O loiro se deitou ao lado do filho para que ele dormisse de novo, fazendo um cafuné nos cachinhos que ele havia herdado da mãe. 

"Papai…" chamou baixinho, a voz sonolenta. 

"Fala, filho." Beijou a testinha dele. 

"O Papai Noel vai na casa das clianças que colocam minoca no estojo dos otos?" perguntou, os olhinhos pesando de tanto sono. Robin sorriu contra os cachinhos com cheiro de bolacha, pensando o que fizera para merecer filhos tão incríveis. 

"Eu acho que o Papai Noel achou sua atitude e da sua irmã muito corajosa. Vocês só tem que prometer não fazer isso de novo." o homem falou, sentindo o filho suspirar de alívio. O silêncio reinou no quarto e Robin achou que seu garotinho havia se entregado de novo. 

"Papai… eu posso ser irmão mais velo também? Eu quelo ser legal que nem a Via." soltou de repente e Robin riu com o pedido. 

"Quem sabe no próximo Natal, filho?" 

"Boa noite, papai. Eu amo você." 

"Eu também te amo, filho." beijou mais uma vez os cachinhos e não demorou para que Roland pegasse no sono novamente. 

Regina os observava no batente e quando Robin levantou e caminhou até ela, eles não conseguiram esconder o brilho no olhar um do outro. 

"Eu acho que ele vai ter uma bela surpresa, não é?" beijou os lábios dela. Regina sorriu entre o beijo, não conseguiu evitar. 

"Ele vai." 




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Notas finais do capítulo

Desejo a todas vocês um 2021 abençoado, com direito a vacina, impeachment, seana e muito outlawqueen, claro.
Espero que tenham gostado e desculpe qualquer erro.
Me deixem saber o que acharam.
Beijos e até a próxima!



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