Orgulhosos escrita por Bear91


Capítulo 10
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem e perdão pela demora :c



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Valon suspirou cansado, sentindo que o café que acabara de tomar não havia sido tão útil, ainda estava tão desanimado quanto antes. 

Apesar da tentativa de distrair-se com visão da típica e agitada manhã de Dominó, que naquele momento ele observava pela janela do apartamento que compartilhava com Rafael, sua mente não lhe dava trégua. O mesmo pensamento continuava incessantemente a lhe perturbar. 

Ele depositou a xícara vazia na mesa que havia ali, em seguida sentou-se e tirou do bolso a carta que sempre o acompanhara desde que a sua antiga dona a deixara para ele. Olhar para o objeto parecia de alguma maneira lhe trazer um pouco de conforto, fazia com que de certa forma ele se sentisse próximo de Mai. Poderia ser pouco, porém era tudo o que ele tinha naquele momento. 

A falta de sucesso na busca pela duelista estava lhe deixando deprimido, após tantos dias a procurando sem descanso eles ainda não havia encontrado nenhuma pista sobre seu paradeiro. O que mais lhe perturbava era o fato de não saber se ela estava bem, a ideia de que algo ruim houvesse acontecido a garota não saía da sua mente. 

O jovem estava tão imerso em seus pensamentos, que nem ao menos notou quando o silêncio que reinava no cômodo foi repentinamente quebrado, quando Rafael entrou carregando algumas caixas. 

Logo que percebeu o estado de Valon o homem sentiu-se um pouco irritado. 

— Valon, apenas ficar encarando essa carta não vai nos ajudar em nada… — o loiro comentou impaciente, já farto de ver o amigo naquela melancolia. — Eu também quero encontrá-la, mas para isso precisamos nos mexer. 

— Sei disso, Rafael. — ele assentiu cansado, deixando a carta de lado para encarar o homem. — É que nós já passamos tantos dias a procurando e até agora não tivemos nenhuma notícia, todo esse tempo e sem progresso algum… eu apenas me sinto frustrado. 

— Entendo perfeitamente como se sente, mas agora deveríamos nos concentrar em arrumar essas coisas. — ele apontou sério, movendo uma caixa de lugar. — Já faz mais de duas semanas que nós nos mudamos para cá e as coisas ainda continuam uma bagunça, não podemos continuar vivendo assim. 

Ele olhou ao redor do cômodo e viu-se obrigado a concordar com o amigo. Haviam caixas por todo o apartamento, caixas que já deveriam ter sido esvaziadas. 

A princípio não pensaram que gastariam tanto tempo em Dominó, focaram-se apenas em tentar encontrar Mai e negligenciaram completamente a tarefa de organizar seus pertences na casa nova. Contudo, após se dar conta que encontrá-la levaria mais tempo que imaginaram, Rafael começou a defender a ideia de que não poderiam seguir vivendo em meio a todo aquele caos. 

— Certo, eu ajudarei. — concordou o jovem, pegando uma das caixas que estavam ali, embora um pouco insatisfeito. — Eu apenas julgo que isso seja uma perda de tempo, nós deveríamos estar procurando pela Mai e não brincando de arrumação. 

Valon não se importava realmente com a questão da organização, estava mais preocupado com a busca por Mai, mas se viu obrigado a ajudar por Rafael. 

— Nós já procuramos durante toda a semana, tirar um dia para arrumar essa bagunça não fará muita diferença. — ele argumentou com severidade, sentindo-se novamente impaciente. — Se ela de fato estiver nessa cidade, mais cedo ou mais tarde iremos achá-la. 

Valon o encarrou pensativo, não conseguindo afastar de sua mente um certo pensamento. 

Nos últimos dias notara que Rafael não aparentava estar tão determinado em sua busca, ele sentia que o amigo não estava de fato ansioso para encontrar Mai. E ele não gostava nada de perceber certa hostilidade na voz de Rafael, quando o amigo falava da própria irmã. Parecia que apesar da descoberta do laço sanguíneo entre os dois, os sentimentos dele em relação à garota não haviam mudado, a hostilidade anterior aparentava continuar ali e ainda mais forte que antes. 

— Sabe, às vezes penso que você não está realmente interessado em encontrá-la. Você não parece nem um pouco preocupado com ela… — confessou ele, finalmente revelando a sua frustração. — Sei que você nunca se deu bem com a Mai, mas apesar das suas desavenças ela é sua irmã de sangue, então deveria ao menos tentar ter algum afeto por ela. 

Rafael não podia negar aquilo, sabia que o amigo não estava errado. A verdade era que ele de fato não se sentia tão inclinado a reencontrar a recém-descoberta irmã, enxergava aquela missão simplesmente como um modo devolver a felicidade a seus pais. 

Reconhecia que Valon estava certo, sabia que realmente deveria vê-la como família e tentar criar algum apreço por ela, mas ainda não era capaz disso. As memórias que tinha de Mai não eram nada positivas e depois que soube que ela havia abandonado os pais, Rafael não pode evitar sentir mais aversão por ela. Mesmo naquele momento Rafael ainda era incapaz de compreender os sentimentos do amigo, parecia absurdo que ele houvesse se apaixonado por aquela garota tão insensível, mas ele sabia que seria inútil falar sobre isso com Valon. 

— Valon, não me compreenda mal. Quero encontrá-la, mas nós já passamos muito tempo a procurando sem ter nenhuma pista. — falou ele, por fim, com a pretensão de pôr um fim àquele assunto. — Depois que colocamos a casa em ordem procuraremos em um lugar mais apropriado, mas por agora seja paciente. — acrescentou, com esperança de aquilo fosse o suficiente para ele se manter quieto por um tempo. Contudo, ele realmente esperava conseguir alguma informação ao ir aquele lugar. 

 

                                    Xxxxxxxxxxxxx 

 

Mai estava apoiada no balcão, a garota observava com tédio o cardápio a sua frente. O movimento no café aquela manhã estava baixo, então não restava muito o que se fazer além de esperar algum cliente aparecer.  

E ela estava grata por não ser um dia movimentado, porque naquela manhã ela não estava se sentindo nada bem. Parecia lhe que os resultados de negligenciar sua alimentação estavam finalmente se mostrando, ela nem se sentia muito surpresa pelo mal-estar. Concluiu que talvez devesse se alimentar melhor dali para frente. 

Em meio aos seus pensamentos, escutou a voz de sua patroa lhe chamar. 

Agnes, uma senhora de meia-idade muito gentil. Era tia de Samantha, fora a mulher que havia lhe conseguido aquele emprego. 

Não era exatamente o tipo de trabalho que Mai gostava, mas ela não poderia realmente reclamar. Trabalhava ali apenas por meio período, estava encarregada somente de servir as mesas e ajudar com algumas tarefas simples, além de tudo o salário era bom. Enquanto não voltava a duelar como antes ela precisava de algo para se sustentar, então aquele trabalho era justamente o que ela necessitava. 

— Mai, nós temos um novo cliente. — a mulher lhe alertou, para que ela fosse logo anotar o pedido. 

— Sério? Eu nem o ouvi entrar. — ela respondeu, endireitando a postura e pegando o cardápio para levar para o cliente. — Já vou atendê-lo. — afirmou, seguindo em direção a mesa que estava ocupada pelo que parecia ser um homem, que por estar de costas ela não conseguia ver suas feições. 

Ao chegar até o cliente, ela depositou o cardápio na mesa e com os olhos no bloquinho de notas, que era usado para anotar os pedidos, perguntou no tom mais cordial que podia: 

— Senhor, será que já posso anotar o seu pedido? 

— Me traga um café sem açúcar e depois eu quero falar com você, Valentine. — o homem respondeu num tom casual e ao ouvir aquela voz Mai logo o reconheceu. 

— Seto? — ela questionou surpresa, parando finalmente para encarar o cliente que atendia, encontrando Kaiba ali. 

— Por que essa surpresa? Depois de tudo que passamos ainda não se habituou a me ver? Já passou da hora de você se acostumar. — ele comentou com desdém. 

— Não é isso, Kaiba. É que eu não esperava te ver aqui. — admitiu, ainda sem entender a presença dele ali. 

Já fazia alguns dias desde a última vez que ela o vira, quando num segundo momento de insensatez acabara novamente se entregando a ele. Ela não sabia exatamente o que sentir ao vê-lo, ficar com ele naquela noite pareceu uma boa ideia, uma boa maneira de se distrair. No entanto, no dia seguinte quando acordou sozinha em seu apartamento ela se arrependeu novamente. 

Ele havia ido embora sem dizer uma palavra sequer, não que ela realmente esperasse algo diferente de alguém como ele, mas ainda assim aquilo a incomodou. Contudo, Mai sabia que poderia apenas culpar a si mesma, a responsabilidade era toda sua por se envolver com ele. Não era uma garota ingênua e sabia bem o que estava fazendo quando aceitou aquele beijo de Seto e se permitiu a todo o resto, mas depois daquilo não esperava o ver de novo. Apenas queria deixar enterrado o fato de ter passado a noite com ele, porém Kaiba continuava a surgir na sua frente, lhe forçando a manter vivas as memórias dos momentos que passara com ele.  

— Vou te dizer do que se trata, mas agora traga logo o meu café, não posso ficar aqui a manhã inteira. — ele a apressou, tentando evitar gastar mais tempo do que necessário ali, forçando Mai a deixar os pensamentos de lado. 

Alguns minutos depois, Mai voltou com a bandeja em mãos, que continha uma xícara. Ela a depositou na frente de Seto, e em seguida disse: 

— Aqui está o seu café. 

Seto a observou de cima a baixo por alguns segundos, parecendo refletir sobre algo. 

— Você até que fica bem nesse uniforme, é menos vulgar que as suas roupas habituais. — ele comentou num tom casual e em seguida pareceu analisar o lugar. — É estranho te ver aqui, esse trabalho não combina muito com você. Pensei que tivesse voltado a duelar… por que está trabalhando aqui?  

Ela o fitou, não muito satisfeita com o comentário dele sobre as suas roupas. 

— Eu ainda não estou participando de torneios grandes, então esse trabalho é bem-vindo. — ela explicou seca, ainda irritada com as palavras dele. — Além disso, dinheiro nunca é o bastante e como já deve saber, diferente de você eu tenho que me esforçar para ganhá-lo. 

— É difícil compreender você, Valentine. — ele admitiu, sem realmente entender o porquê dela estar ali trabalhando como garçonete. — Não seria mais fácil simplesmente voltar para sua família? Eu sei que eles têm uma ótima situação financeira. 

— Realmente gosto de dinheiro, não nego que adore bens materiais, mas eu gosto do que posso ganhar por mim mesma. — ela disse assumindo uma expressão séria. — Não voltaria para aquela casa nem por todo dinheiro do mundo, mas deixemos esse assunto de lado. — ela suspirou cansada, não querendo falar sobre aquele tema. — O que você quer falar comigo, Kaiba? 

Por um momento Seto se sentiu curioso sobre o porquê de Mai haver deixado uma família tão abastada para viver sozinha, ainda mais considerando a personalidade que ela tinha. Alguém tão ambiciosa como ela não abandonaria uma fortuna certa por um motivo qualquer, mas ele sabia que aquela era uma informação irrelevante para ele, então resolveu deixar isso de lado. 

— Não é nada tão importante. — ele disse com desinteresse, dando um gole no café quente. — Eu poderia ter apenas te ligado, mas você nem ao menos tem um celular. — Seto a fitou com certa irritação por um momento. — Que inconveniente! Como alguém dessa época pode viver sem um celular? Você sempre me faz gastar o meu tempo de forma desnecessária. 

— O que posso fazer? Eu nunca vi a necessidade de ter um, além disso, a única coisa importante para um duelista é o seu baralho, o resto é dispensável. — ela explicou despreocupada, não se importando com a irritação de Kaiba. 

— Se você tivesse um teria me poupado o trabalho de vir até aqui para te encontrar. — argumentou irritado, dando mais um gole na bebida. 

— Já que não é importante, então do que se trata? 

— Isso é sobre o Mokuba, meu irmão continua preocupado com você. Ele acredita que você esteja muito sozinha sem aquele bando de idiotas, e fica o tempo inteiro falando disso, então eu quero que você vá jantar conosco hoje. — disse Seto, explicando a situação. — Para que ele possa ver que você está bem e pare de se preocupar. 

Mai logo se sentiu culpada ao escutar as palavras de Seto. Ela era tão grata a Mokuba por toda ajuda, não era justo que ele acabasse perturbado por causa dela. 

— Eu não imaginava que o Mokuba se importasse tanto comigo, não foi minha intenção fazê-lo se preocupar tanto. — ela admitiu com pesar. 

— A culpa é toda sua por fazer sempre tanto drama. — Seto disse com certo desprezo, ele odiava o sentimentalismo exagerado ao qual a maioria das pessoas se entregava. — Agora me responda logo, você jantará conosco hoje? 

— Eu não tenho nenhum plano, mas… 

— Se não tem nada marcado, então está resolvido. — ele afirmou, interrompendo-a. — Esteja preparada às sete, o nosso motorista vai te buscar. — completou, tirando da carteira uma nota e deixando na mesa, em seguida se levantou. 

— Espera… eu ainda não concordei com isso. — protestou ela, percebendo que Seto já estava indo embora. 

Antes sair ele virou para encará-la uma última vez. 

— Seja boazinha e não decepcione o meu irmão, ele realmente se importa com você. — ele disse antes de sair dali, sem dar a oportunidade de Mai lhe responder. 

Mai apenas o assistiu deixar o estabelecimento, com uma expressão confusa em seu rosto. O convite a pegara de surpresa, mas não parecia ser algo tão ruim, afinal aquilo era para tranquilizar Mokuba. Já que ela criara aquela situação deveria dar um jeito de consertar as coisas. 

Enquanto Mai olhava Kaiba ir embora, Agnes se aproximou sem que ela se dar conta. 

— Aquele era o seu namorado? 

— Não! Eu e ele jamais daríamos certo, ele é apenas um… 

— Tem certeza? — ela a interrompeu, a olhando sugestivamente. — Vocês parecem bem próximos e pelo que ouvi vão até jantar juntos… — a senhora disse com uma expressão divertida, se deleitando ao observar a expressão da garota. 

— Não é o que está pensando, apenas jantarei com ele pelo Mokuba. — ela tentou explicar, mas sua patroa já havia voltado para a cozinha, lhe deixando sozinha com seus pensamentos. 

O comentário de sua chefe fez com que voltasse inevitavelmente a pensar sobre ela e Seto. Não poderia ignorar o fato de que em algumas horas teria que lidar com ele novamente, embora fosse ao jantar somente por Mokuba seria inevitável ter que lidar com ele e essa ideia a deixava insegura. 

Ela queria manter distância do CEO, desejava ter tempo o suficiente para esquecer o que acontecera entre os dois. 

Afinal, Mai tinha consciência de que não deveria continuar com qualquer relação com ele, aquilo parecia ser a receita para um desastre, não que ela fosse estúpida o suficiente para deixar seu coração ser partido por qualquer um. Na verdade, sempre fora ela quem costumava partir corações, nunca fora sua intenção, mas de alguma forma ela sempre acabara o fazendo. O problema era que Seto Kaiba não era um homem comum, então se envolver com ele não aparentava ser uma ideia inteligente. 

E o modo como ele a afetava parecia preocupante, as suas atitudes contraditórias a deixavam cada vez mais confusa. Em um momento ele a tratava com tanto desprezo e no seguinte ele era surpreendentemente gentil, lhe fazendo acreditar que talvez houvesse algo de bom nele. E essa crença que parecia ganhar cada vez mais força em sua mente estava começando a lhe assustar. 

Contudo, Mai entendia que aquilo não era tão surpreendente, ultimamente ela vinha se sentindo muito solitária, tão solitária que inconscientemente estava se deixando levar pela primeira pessoa que aparecera em sua vida. Não era nada saudável, muito menos apropriado, mas provavelmente era melhor que toda a angústia habitual. 

Ela ainda não estava pronta para encarar os seus amigos, a verdade era que a cada dia se sentia menos inclinada a isso. Não parecia certo incomodá-los novamente, já havia causado tantos inconvenientes, não parecia justo aparecer de novo para atormentá-los. Por mais que sentisse falta deles, permanecer longe aparentava ser possivelmente a melhor opção. E talvez por esse motivo ela não sentisse tanta vontade de agir sensatamente, ainda queria um pouco mais daquela falsa sensação de bem-estar.  

 

                                    Xxxxxxxxxxxxxx

 

Joey fitava com grande ansiedade o relógio, temendo que ele e Yugi perdessem o início do filme. 

Já havia alguns minutos que o amigo o deixara ali na loja, enquanto fora até seu quarto para buscar o seu baralho, antes de irem se encontrar com Téa e Tristan. Os quatro combinaram de irem ao cinema juntos, mas os dois ficaram para trás para pegar as cartas de Yugi. 

Naquela altura ele tinha certeza de que iriam chegar atrasados para o filme, mesmo que Yugi aparecesse logo ainda restava o trajeto até o cinema, não havia remédio. 

Conformado com o atraso do amigo, ele resolveu dar uma olhada em volta do lugar, já que estava ali poderia conferir as novidades da loja de jogos. Se tivesse a sorte de encontrar algo legal para seu baralho, talvez a dor de perder o começo do filme, que tanto gostaria de assistir, poderia ser levemente aplacada. 

Notou a existência de alguns pôsteres novos, então deduziu que isso significava que houvesse também novas cartas. Um pôster específico lhe atraiu, que anunciava um novo booster, nele havia uma imagem muito chamativa com alguns monstros que lhe eram familiares. E um deles fez com que de repente seu humor mudasse. 

— Nós já podemos ir! — exclamou Yugi, ao finalmente aparecer. — O que foi, Joey? — questionou o garoto, percebendo que o amigo parecia um pouco cabisbaixo. 

— Não é nada, eu só me distraí com esse booster novo. Parece que tem ótimas cartas, então estava pensando em comprar alguns. — Joey mentiu, tentando não pensar mais no que lhe incomodava. 

O garoto não acreditou muito nas palavras do amigo, conhecia Joey o suficiente para saber quando algo o incomodava, então seguiu o olhar dele até o pôster e finalmente compreendeu o que acontecera. 

— Você está pensando na Mai, não é? — ele perguntou, embora não tivesse dúvidas. 

Joey o encarou confuso, não entendendo como ele descobrira tão facilmente o que se passava em sua mente. 

— Como adivinhou? 

— Bom, não foi tão difícil. Quando vi a harpia nesse pôster imaginei que fosse isso… 

— É amigão, acho que não consigo esconder nada de você. — ele admitiu ainda olhando a imagem que continha a besta alada, um monstro que lhe trazia lembranças de uma amiga querida. 

— Tenho certeza que ela está bem, Joey. — disse o garoto, numa tentativa de confortar o amigo. 

— Será mesmo? — indagou ele, cheio de incerteza. — Ninguém teve notícias dela nos últimos meses, se estivesse tudo bem ela já teria aparecido. 

— Joey, não se preocupe tanto. Acredito que depois de tudo que aconteceu a Mai não se sinta confortável o suficiente para nos ver, você só precisa dar um pouco de tempo a ela. — afirmou com sinceridade, realmente acreditando que apenas fosse uma questão de tempo até ela aparecer. 

— Mas ela é nossa amiga e… 

As palavras de Joey foram interrompidas, quando os dois de repente ouviram o som de motos parando ali por perto. 

— Isso são motos? Espera um pouco, será que é a Mai? — Joey disse esperançoso, animado com a possibilidade de ver a amiga de novo. 

Com o coração cheio de esperança, Joey não perdeu tempo e logo se dirigiu rapidamente para a porta, esperando encontrar Mai do lado de fora da loja. No entanto, ao abrir a porta ele encontrou pessoas diferentes. 

— É realmente ela, Joey? — Yugi perguntou, chegando logo atrás dele. — Vocês?! — o garoto exclamou surpreso, ao ver de quem se tratava. 

— O que vocês estão fazendo aqui? — Joey questionou com certa hostilidade. 

— Também é bom te ver de novo, Wheeler. — Valon afirmou em tom de ironia, enquanto removia o capacete que usava. 

— Nós não viemos atrás de confusão, apenas queremos algumas informações. — Rafael se pronunciou, percebendo que eles estavam apreensivos com a presença dos dois ali. 

— Informações? — Yugi perguntou. 

— No que vocês estão metidos dessa vez? — Joey indagou, sem esconder a desconfiança que sentia dos dois. — Espero que não estejam contra nós de novo. 

— Não diga bobagens, Wheeler. Tudo o que aconteceu ficou no passado, nós viemos aqui com boas intenções. — Valon declarou em um tom divertido, tentando aliviar a tensão que estava no ar. 

Yugi e Joey se acalmaram, apesar da surpresa de ver aqueles dois tão repentinamente, não lhes parecia que os ex-cavaleiros do Doma estivessem ali em busca de um conflito. 

— Só queremos saber se vocês têm alguma informação sobre a Mai. — Rafael disse de uma vez, ansioso para descobrir se eles sabiam de algo. 

— Vocês vieram ao lugar errado, não sabemos nada sobre ela. A última vez que eu a vi foi quando nós duelamos, depois daquilo ninguém soube mais nada. — Joey confessou com certa melancolia. 

— Isso é verdade? Vocês realmente não têm nenhuma ideia de onde ela possa estar? — Rafael insistiu, ainda com algumas esperanças. 

— É como o Joey disse, nós não sabemos nada. — Yugi confirmou com sinceridade. 

— Mas por que vocês estão atrás dela? — Joey quis saber, achando suspeito os dois estarem tão interessados no paradeiro de sua amiga. 

— Acho você que conhece bem os meus sentimentos por ela, Wheeler. Já deve imaginar porque quero encontrá-la. — Valon explicou, o fitando com um olhar despreocupado. — E quanto ao Rafael, ele tem os seus próprios motivos. 

— Depois de tudo o que aconteceu você ainda vai atormentá-la? — Joey indagou revoltado, mal conseguindo disfarçar a indignação. — Não acha que já trouxe problemas demais para a vida da Mai? Eu não acredito que você ainda não desistiu. 

— Admito que fiz mal em levá-la para o Doma, contudo naquela época acreditava que estava a ajudando. — Valon disse com pesar. — No entanto, independente do que aconteceu no passado, eu não posso desistir. 

— Mas aquele dia você disse que a deixaria. — Joey argumentou, lembrando-se do dia em que duelaram. 

— Realmente disse, mas eu não posso cumpri-las. — Valon afirmou, encarando seu antigo rival com uma expressão firme. — Os meus sentimentos por ela são fortes demais, então não posso deixar de lutar pelo coração dela. 

— Você… — Joey começou irritado, mas Yugi o interrompeu propositalmente, tentando evitar que a personalidade esquentada do amigo transformasse aquele conversa em um conflito. 

— E quanto a você, Rafael. Qual a razão de querer encontrá-la? 

— Recentemente eu descobri que a Mai é minha irmã biológica, por isso preciso achá-la. — Rafael respondeu sem cerimônia, não encontrando motivos para esconder a verdade. 

Os garotos ficaram extremamente surpresos com a declaração, não entendendo como aquilo poderia ser verdade. Rafael acabou se vendo obrigado a explicar brevemente para os dois, toda a história de como ele descobrira sobre seu parentesco com Mai. 

Após os dois compreenderem tudo, ambos concordaram em compartilhar com eles qualquer notícia que tivessem sobre ela. Embora Joey continuasse insatisfeito com as declarações de Valon, Yugi o convenceu que aquela era coisa certa a se fazer. Afinal, os dois não eram pessoas tão más, apenas tiveram o azar de serem manipulados por Dartz, então mereciam ao menos um voto de confiança. 

 

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— Obrigada por ter me trazido. — Mai agradeceu, quando o luxuoso carro de Kaiba parou em frente ao seu prédio. 

— Eu já havia dispensado o chofer, então não tive escolha. — respondeu, com aparente indiferença. 

O jantar ocorrera tranquilamente. Mokuba e Mai conversaram bastante, enquanto Seto apenas os observava em silêncio, satisfeito por ver seu irmão tranquilo. E embora não fosse admitir ou demonstrar, também ficara satisfeito por ter Mai ali. 

E após o fim da refeição e um pouco de conversa, Seto acabou se oferecendo para levar Mai em casa, após anunciar já ter dispensado o motorista naquela noite. O que os levara para aquela situação. 

Depois de um trajeto rápido e silencioso, os dois chegaram ao prédio que a loira morava. 

Mai se sentia um pouco desconfortável com aquele silêncio. Durante o caminho até sua casa, e até mesmo durante o jantar, os dois não haviam trocado nada além de alguns olhares discretos, mas nenhuma palavra. Se sentia boba por ter expectativas em relação a ele, Mai sabia que Kaiba era uma criatura fria, mas não conseguia evitar. Era difícil fingir que nada havia acontecido entre os dois, quando as coisas já tinham chegado até o extremo. 

Contudo, embora não se sentisse tão feliz pela indiferença de Seto, concluiu que seria melhor que as coisas fossem daquele modo. Fora um delírio momentâneo da sua mente pensar que poderia encontrar algum conforto com ele, além de ameaçá-la, Seto a humilhara. A única coisa que deveria nutrir por ele era desprezo, não deveria se sentir tão balançada por algumas raras gentilezas, não poderia esquecer a verdadeira natureza dele. 

E com esses fatos em mente, a loira decidiu que apenas iria entregar-lhe o presente que comprara, em seguida deixaria no passado a loucura que cometera ao envolver-se com ele. 

— Eu também agradeço por vir, o meu irmão agora parece bem mais tranquilo. — afirmou ele, virando-se para encará-la. 

— Não foi nada. A culpa por ele se preocupar foi minha, então acho que é o mínimo que eu poderia fazer… — Mai respondeu, enquanto destravava o cinto de segurança. 

— Que bom que sabe que é a responsável por isso, se não fosse por você ele não se preocuparia em primeiro lugar. — declarou ele acidamente. 

— Por que você sempre tem que ser tão rude? — ela retrucou, sem estar realmente surpresa com o comentário dele. — Mas mudando de assunto, estava pensando se você poderia subir um pouco até o meu apartamento, eu queria… 

— Você quer um tempo a sós comigo? — Seto perguntou de sugestivamente, interrompendo-a antes que ela terminasse a frase. 

Mai fez uma careta, ao entender o que ele estava insinuando. 

— Não é nada disso. É que comprei um presente para você, um agradecimento por aquelas cartas que você me deu. — ela explicou com certa insegurança. Ela não tinha certeza se era uma boa ideia dar um presente a Seto, afinal ele era sempre tão esnobe, as chances de receber uma resposta desagradável eram altíssimas. No entanto, Mai se sentia na obrigação de lhe dar algo em retribuição as cartas que ganhara, elas haviam se encaixado tão bem no seu baralho, então mesmo que não recebesse bem sua gratidão ela precisava ao menos tentar. 

— Tudo bem. Eu já vim até aqui, então acredito que não faria mal subir um pouco. — Seto respondeu mantendo a postura indiferente, mas surpreso pela declaração da loira. Não estava acostumado a receber presentes de ninguém além de Mokuba, até mesmo porque ele tinha tudo que precisava, mas ficou curioso para saber o que Mai lhe comprara. 

 

                                 Xxxxxxxxxxxxxxxxxx 

 

 — Você quer tomar algo? — Mai perguntou, quando os dois adentraram seu apartamento. 

— Não, eu não quero nada. — ele respondeu desinteressado, a seguindo até a sala. 

— Sinta-se em casa, eu vou buscar o seu presente. — ela anunciou, se dirigindo até seu quarto e deixando Seto sozinho ali. 

Seto sentiu vontade de rir ao processar as palavras de Mai, ele sabia que ela estava tentando ser educada, mas como poderia ser possível para ele se sentir em casa num lugar tão medíocre como aquele? 

No entanto, havia outra pergunta que era mais relevante naquele momento: por que em primeiro lugar ele estava ali? Por que novamente ele estava gastando seu precioso tempo com Mai Valentine? 

Ele poderia dizer que fazia aquilo apenas por Mokuba, mas seria uma grande mentira. Por mais que fosse realmente verdade que seu irmão se preocupasse com o bem-estar dela, não era nada tão exagerado como ele havia relatado a Mai, o que de fato o havia motivado aquele convite ao jantar era seu desejo de revê-la. 

Quando escutou os passos de Mai e se virou para encontrá-la novamente, ele sentiu como as razões não pudessem ser mais obvias. 

A aparência dela o fascinava, sempre que parava para observá-la com atenção ele acabava admirado. Parecia injusto que alguém como Mai fosse tão encantadora e atraente, sentia-se enfeitiçado por ela, nem mesmo o fato dela ser uma duelista inferior aos seus olhos era capaz de neutralizar a atração que sentia. 

— Aqui está o seu presente! — a loira exclamou, estendendo-lhe uma sacola com um conteúdo desconhecido. 

 Ele a observou por um instante, antes de finalmente pegar a presente. 

— Um livro? — indagou surpreso, ao abrir a sacola. 

— É que tive a impressão de que esse autor talvez te agradasse, e como eu não me lembro de ter visto esse livro na sua biblioteca, então pensei que pudesse ser um bom presente. — ela explicou com certa insegurança, já se preparando para lidar como uma reação desagradável da parte de Kaiba. 

Seto encarou um livro que tinha em mãos por algum tempo, refletindo sobre o presente que recebera. 

O livro era uma obra que ele já conhecia, “Novum Organum” de Francis Bacon. Ele deu um sorriso de canto, ao perceber que Mai não havia errado completamente ao escolher um presente para ele. Aquela era de fato uma obra que lhe aprazia, embora o objeto fosse lhe ser inútil, já que ele já o tinha em sua coleção. 

Kaiba não pode deixar de pensar o quão patético havia sido o raciocínio dela. Mai poderia até ter acertado em um ponto, entretanto pecara mortalmente em todo resto. Como em uma biblioteca como a dele faltaria uma obra tão essencial e clássica? 

Ele estava pronto para pronunciar algumas palavras mordazes, meramente expressar a opinião que tivera a respeito da escolha de Mai, além de querer reforçar o óbvio. O CEO gostaria de impedir que aquilo voltasse acontecer, afinal ele já tinha tudo o que precisava e jamais necessitaria de nada de alguém como ela. Contudo, no momento em que seus olhos se encontraram novamente com os da loira, quando planejava dar-lhe uma resposta desdenhosa, Seto notou quão apreensiva ela parecia. Mai lhe encarava com certa inquietação, aparentava estar realmente ansiosa para ver a opinião dele sobre daquele presente tão irrelevante. E então ele finalmente se pronunciou: 

— Esse livro… — começou ele, escolhendo as palavras com certo cuidado e já se censurando pelo que estava prestes a dizer. — Eu realmente pretendia lê-lo. De alguma forma você conseguiu me dar algo útil, Valentine. — embora fosse uma mentira, as palavras soaram naturais o suficiente. 

Mai que ainda lhe encarrava, sentiu-se confusa ao escutar as palavras dele. 

— Sério? Você realmente vai aceitar meu presente? — indagou desconfiada, sem compreender aquela reação que fora tão diferente da que imaginara. 

— Está decepcionada por eu aceitar, Valentine? — perguntou com impaciência, frustrado pelo comportamento dela. 

— É o contrário, eu só não esperava que você fosse aceitar tão bem o meu presente. — confessou ela, com uma expressão mais tranquila, sentindo-se mais leve ao finalmente confirmar que Seto havia de fato recebido positivamente o livro. — Não é o tipo de reação que esperava, pensei que fosse ser grosseiro como de costume. Mas me sinto aliviada por você não ter detestado, porque aquelas cartas que me deu… elas se encaixaram tão bem no meu baralho, então eu realmente queria retribuir o favor. 

— Que grande bobagem, não havia necessidade de retribuir nada. Aquelas cartas não eram relevantes para mim, não era necessário me comprar algo. — comentou com aparente desinteresse, entretanto secretamente apreciara o ato de Mai. — De qualquer modo, eu agradeço pelo livro, Valentine. — completou ele, com um meio-sorriso. 

Mai deixou escapar um sorriso ao ouvir o agradecimento, sentindo-se genuinamente feliz pelo desenrolar da situação, porém ela notara que o que gostaria tanto de evitar estava acontecendo novamente. Uma vez mais seu coração lhe implorava para acreditasse que aquele homem a sua frente não era tão ruim, que ele apenas se esforçava para parecê-lo. 

Quando ouviu o som de passos, Mai enfim se tornou consciente da proximidade entre os dois que acabara de diminuir ainda mais. E ao sentir um leve toque nos sedosos cabelos, ela ficou novamente em choque quando seus olhos se encontraram com os de Kaiba. 

De repente tudo o que havia pensado anteriormente aparentava ser insignificante, aquela proximidade se tornara tão confortável para ela. Como conseguiria cogitar se afastar quando ele a olhava com aquele semblante tão envolvente?  

Aquele leve sorriso que Seto tinha nos lábios ofuscava o barulho dos pensamentos negativos que tinha a respeito dele, aquela expressão tão branda não poderia pertencer a alguém frio como uma pedra. O anjo que se escondia nas profundezas daqueles frios olhos azuis, parecia sussurrar lhe para que ela acreditasse na existência dele e permitisse que seu calor a alcançasse. 

Desejava apenas ir até ele sem hesitação alguma, era o que o seu coração ansiava. Ela apenas queria saber se Seto também sentia o mesmo, se também queria entregar-se livremente aquele sentimento que era obscuro e ao mesmo tempo tão brilhante, mas ela decidiu que não importava. Ela não precisava de promessas, não tinha pretensão de importar-se com o futuro ou com compromissos, somente desejava que ele continuasse ao seu lado naquele momento. 

O que importava era a sensação agradável que sentira quando Seto a beijara novamente, o ritmo lento e intenso dos lábios dele sobre os seus, a textura macia da pele de sua nuca sob seus dedos, o seu delicioso e já tão familiar perfume que inebriava seus pensamentos. Apenas queria aproveitar aquele momento ao máximo, desejando que ele jamais chegasse ao fim. 

No entanto, nada dura para sempre e logo que aquele fervoroso beijo encontrou seu termo e Mai sentiu novamente o enorme peso da realidade.  

— Preciso ir embora, Mokuba está me esperando. — Kaiba disse soando ligeiramente frustrado, logo após os dois se separarem. — Mas não fique triste, quando eu tiver um tempo voltarei para te ver e nós poderemos continuar de onde paramos. — acrescentou no tom frio habitual, embora seu olhar transmitisse uma emoção diferente. 

— Eu não acho que deveríamos continuar com isso. — Mai pronunciou-se por fim, ainda com a respiração descompassada, se esforçando para ignorar o acabara de acontecer e o impacto que aquele contato tivera sobre ela. 

Seto a fitou intrigado. 

— E por que isso? 

— O que aconteceu foi um grande erro, mesmo que tenhamos nos divertido, não é uma boa ideia continuar com isso. — argumentou ela, assumindo uma expressão séria. — Vamos apenas passar uma borracha por cima de tudo isso e voltar ao nosso desprezo mútuo. 

— Discordo, para mim parece uma ideia ótima. — ele diz se aproximando novamente dela. — E acredito que você também pense o mesmo. Apenas me pergunto porque está tão hesitante, será que está com medo de se apaixonar por mim? — ele perguntou sorrindo zombeteiramente. 

— Me apaixonar por você? Só nos seus sonhos. — ela afirmou irritada, se afastando dele. — A questão é que nós nos detestamos, não se lembra disso? Você sempre deixou claro que não me suporta e… 

— Eu não a detesto. — declarou Seto, interrompendo-a. — Admito que a sua personalidade petulante me incomoda, além de tudo você é uma criatura muito insolente e uma duelista muito inferior a mim. — ele disse a fitando com o que parecia um fio de irritação. — Mas no momento isso é irrelevante, Valentine. O que importa é que eu descobri que a sua companhia pode ser agradável se aproveitada da forma certa. 

Mai sentiu o sangue ferver, indignada pelas palavras dele. 

— O quê? Como assim muito inferior a você? Seu bastardo! — exclamou ela, ultrajada. — Não se esqueça que estamos empatados, você não tem o direito de me insultar dessa maneira. 

Seto a encarrou por alguns instantes, ele tinha uma expressão despreocupada no rosto que acabara se transformando em um meio-sorriso. 

Em seguida, ele pegou o livro que ganhara de Mai, que anteriormente deixara sobre a mesa que havia por ali e virou-se para encará-la mais uma vez. 

— Agora realmente preciso ir, mas tenha em mente que eu ainda não sinto vontade de esquecê-la. — anunciou firmemente, sem deixar que seus olhos abandonassem os de Mai. — E obrigado pelo livro, Valentine.  

A loira não soube exatamente o que dizer quando ouviu a declaração dele, embora ainda estivesse irritada pelo modo como ele a descrevera, as palavras mais recentes de Seto pareciam muito mais significantes. Ela não sabia se deveria retribuir os insultos, ou se deveria interrogá-lo sobre exatamente o que ele queria dizer com aquelas palavras. Todavia, antes que ela pudesse resolver qual seria a melhor reação, a garota ouviu barulho da porta se fechando e percebeu que Kaiba acabara de partir. 

Seu pensamento inicial fora ir atrás dele, alcançá-lo antes que ele pegasse o elevador e continuar a conversa, mas acabou desistindo da ideia. Aquela noite já havia sido agitada o bastante, o melhor era deixá-lo ir e torcer para que as palavras dele fossem apenas algo dito sem pensar e que, na verdade ele nunca mais apareceria na sua porta. Não importava que o desejo em seu coração fosse o oposto disso, precisava seguir o seu cérebro e seguir a caminho mais seguro, um caminho que não envolvia aquele homem tão complexo. 

                                  Xxxxxxxxxxxxxxxxxx 

 

Quando finalmente chegara até o onde seu carro estava estacionado, logo a adentrou rapidamente, não querendo perder mais tempo. Após fechar a porta e depositar o livro que recebera no banco do passageiro, ele enfim ligou o carro e partiu em direção a sua casa. 

Sabia que já havia demorado mais do que deveria, seu irmão provavelmente ainda estava acordado o esperando, então Seto queria chegar em casa o mais rápido possível. Concentrado no trajeto, não pretendia pensar nas suas ações anteriores naquele momento, preferiria censura-se mais tarde. No entanto, o sinal vermelho lhe obrigou a parar o carro, lhe dando tempo para olhar novamente para aquele maldito livro e desencadear pensamentos inoportunos. 

Nem mesmo quando o sinal se tornou verde mais uma vez, permitindo-lhe continuar seu caminho, ele pode ignorar as perguntas que sua consciência lhe fazia. Era tarde demais, sua atenção estava dividida entre a estrada e garota com quem estava recentemente. 

Ansiava compreender o porquê de tantas atitudes descabidas. Não entendia como havia chegado ao ponto de mentir apenas para não a decepcionar, aquilo não fazia sentido algum. Por que ele estava se importando tanto com ela? Por que continuava a inventar desculpas para vê-la e ansiava estar perto dela pelo maior tempo possível? 

 O modo como aquela situação estava evoluindo o perturbava profundamente, tudo parecia surreal. Ele deveria simplesmente desprezá-la, apenas esquecer que ela existia e seguir com sua vida, mas no lugar disso as coisas estavam tornando-se estranhas. Ele se sentia cada vez mais atraído por ela e essa atração parecia estar o cegando. 

Há pouco tempo ela o vencera em um duelo lhe causando grande humilhação, além de ofendê-lo inúmeras vezes. Esses eram motivos mais que suficientes para que a desprezasse, ainda assim ele estava se aproximando cada vez mais dela. O que começara como uma forma de vingança contra Mai estava tomando caminhos obscuros, uma noite transformara-se em duas ele tinha consciência que desejava que houvesse também uma terceira. 

Isso não combinava nada com ele, mas Seto não sentia muita vontade de evitar. Afinal, qual havia sido a última vez que ele sentira tão atraído por alguém? Ele provavelmente não se lembrava porque nunca houvera ninguém assim, nunca dormia duas vezes com a mesma mulher, nunca se sentia impelido a isso. Ele desconfiava que talvez fosse por Mai te o vencido, o fato dela ser uma duelista decente o suficiente para vencê-lo era difícil de ignorar. Outras vezes imaginava que talvez fosse a sua insolência que o fazia querer domá-la, e claro que também havia a sua bela aparência que acabava desempenhando um papel importante. 

Quando finalmente chegou em frente a sua mansão, ele tentou afastar aqueles pensamentos, talvez fosse apenas bobagem se preocupara tanto com algo tão trivial. 

Do que conhecia de si mesmo, sabia que aquilo não duraria muito e jamais poderia. Afinal, não havia lugar para futilidades prolongadas em sua vida. E justamente por saber disso ele resolveu não se importar com o desenrolar daquela história, não parecia haver mal em continuar aquele envolvimento que aparentava ser cada vez mais interessante. Não era como se ele fosse acabar apaixonado por ela ou algo assim, não tardaria até que ele se cansasse dela, então por que não continuar se divertindo?  


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Notas finais do capítulo

Vou deixar o link de uma musiquinha que me inspirou nesse capítulo, que é da trilha sonora de Nana e tem uma letra linda por sinal ^^

https://www.youtube.com/watch?v=pgZtV97h5QI



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