Orgulhosos escrita por Bear91


Capítulo 11
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Finalmente após um longo hiato, estou de volta! Aqui está mais um capítulo c;



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Apesar da profunda concentração em seu ofício, Seto não pode deixar de notar quando seu irmão adentrou seu escritório. Estranhou que ele estivesse de volta tão cedo, afinal sabia que ele estava cuidando da organização de um torneio patrocinado pela KaibaCorp. Percebeu também que o garoto aparentava estar mais agitado do que de costume.

— Não esperava que você voltasse tão cedo, já terminou com todos os preparativos para o torneio? — perguntou o mais velho.

— Longe disso, ainda tenho muito a fazer. — Mokuba respondeu, sentando-se em um sofá que havia ali. — Eu só vim até aqui porque esqueci de pegar o convite que havia separado para a Mai e aproveitar para te pedir o endereço de onde ela trabalha.

A menção do nome de Mai pareceu afetar Seto, que finalmente resolvera fazer uma pausa no trabalho, para dar atenção ao que o irmão falava.

— Então ela vai participar nesse torneio? — perguntou ele, esforçando-se para soar desinteressado.

— Não tenho certeza. — o garoto admitiu inseguro, sabendo da possibilidade dela recusar o convite. — Mas espero que sim, seria tão bom para ela finalmente se reunir com Joey e os outros.

— Wheeler? Pelo visto o nível desse torneio está bem baixo. — Seto comentou em tom de escárnio.

Mokuba ignorou o comentário do irmão, já acostumado com o comportamento dele em relação a Joey.

— O Yugi vai estar lá, seria legal se você também participasse. — disse Mokuba, numa tentativa de despertar o interesse do irmão.

— Você sabe que ando muito ocupado, não tenho tempo para participar de um torneiozinho qualquer. — ele respondeu com indiferença, enquanto escrevia algo em um papel, que logo em seguida entregou ao seu irmão. — Esse é o endereço do Café onde ela trabalha.

— Obrigado, Seto. Vou até agora mesmo! — o garoto agradeceu, já se preparando para sair novamente.

— Espere, Mokuba! — disse Seto, impedindo o garoto que já havia alcançado a porta. — Eu Preciso que você faça algo por mim.

 

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— Não sei se é uma boa ideia, Mokuba. — respondeu ela, após observar por um bom tempo o convite em suas mãos.

— E por que não seria? — perguntou o garoto, antes de tomar um gole do suco que tinha em suas mãos. — Pense bem, Mai. Esse será um torneio grandioso, imagino que já deva estar cansada de só participar desses pequenos eventos, sem mencionar os ótimos prêmios.

— Você tem razão sobre os prêmios, eles até me fazem querer participar. — concordou ela, cogitando a possibilidade de entrar no torneio. — Vou pensar sobre isso, mas não prometo nada.

— Eu realmente espero te ver no torneio! — disse esperançoso. — Você não vai se arrepender de participar, te garanto que te vai fazer muito bem. — argumentou ele, pensando nas pessoas que acabara de convidar antes de ir encontrar Mai.

Mokuba tinha consciência que Mai desejava reencontrar os amigos, mas que ainda estava sem coragem para tomar a iniciativa. Era nítido que ela continuava a se culpar, que achava merecer o sofrimento e a solidão em que se encontrava. No entanto, o garoto não concordava com ela, por mais que Mai tivesse sua responsabilidade no que aconteceu, a culpa de tudo não era apenas dela. A garota havia sido mais uma pequena peça em um enorme tabuleiro, que fora o tempo inteiro controlado por Dartz. Todos os integrantes daquela organização haviam sido manipulados, acreditavam estar fazendo o bem, ela apenas teve o infortúnio de ser uma dessas pessoas.

Mais cedo naquele mesmo dia, o garoto acabara de estar com Yugi e os outros. Tivera a missão de convidá-los tanto Joey quando Yugi para o torneio, quando os dois aceitaram ele logo pensou na possibilidade de um encontro entre eles e Mai. Apesar de não saber se ela realmente aceitaria, por saber que a duelista ainda permanecia insegura, ele decidiu que deveria ao menos tentar. Sabia o quanto Joey estava preocupado com a amiga que supostamente desaparecera e ter que mentir sobre não saber nada já começara o atormentar.

Yugi e Joey já haviam confirmado a presença no torneio, logo, se Mai também participasse, eles com certeza iriam se encontrar.

— Está bem, você me convenceu. — suspirou cansada, finalmente dando-se por vencida. — Seria estupidez ignorar esses prêmios.

— Ótimo! — exclamou o garoto, satisfeito por ela finalmente concordar.

— Mas agora preciso voltar ao trabalho. — informou ela, levantando-se da mesa. Apenas fizera uma pequena pausa para conversar com Mokuba, que havia aparecido ali para lhe entregar o convite.

— Eu entendo, também preciso ir. Ainda restam alguns convites para distribuir. — comentou ele, também levantando-se com intenção de ir embora dali, contudo se lembrou de algo. — Mai, tem mais uma coisa que quase me esqueci.

Mai se virou novamente, sem compreender e o viu pegar uma pequena caixa com Roland, que acompanhava o garoto. Em seguida ele lhe entregou a caixa.

— O que é isso? — ela perguntou confusa, sem entender do que se tratava.

— Não sei do que se trata, foi o meu irmão que pediu para te entregar. — explicou ele, também desconhecendo o conteúdo da caixa. — Agora que já cumpri a minha missão, eu já vou embora.

— Certo, então nós nos vemos no torneio.

— Claro! — disse ele, antes seguir caminhando em direção à saída, com Roland ao seu lado.

Ela observou o garoto deixar o estabelecimento, depois voltou o olhar para a pequena caixa em suas mãos e a abriu. Encontrou dentro dela um celular, que parecia ser da última geração. Não compreendeu muito bem por que Seto lhe mandara aquilo, contudo naquele momento aquilo não parecia ser importante.

A questão do torneio havia ocupado todos seus pensamentos, apesar da resposta que dera a Mokuba ela não tinha realmente certeza se teria coragem para participar.

De fato, ela estava extremamente interessada nos generosos prêmios. Afinal, desde que voltara a participar de torneios, apenas recebera pequenas recompensas. Que na realidade poderiam ser consideradas justas, considerando o nível dos oponentes que vencera. E esse era outro ponto, ela estava cansada de enfrentar oponentes fracos. Que prazer poderia existir em vencer alguém inferior? Mas, por outro lado, estaria ela pronta para a possibilidade de reencontrar Joey?

 

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Trocou de canal novamente, já pela quinta vez. Não parecia haver nada de bom na televisão naquela noite, logo quando ela mais precisava de uma distração.

A garota decidiu que assistiria aquele canal, o filme que era exibido aparentava ser melhor que o programa do canal que tentara anteriormente. Contudo, logo começou um intervalo e para a sua infelicidade começou a ser exibido um anúncio divulgando o torneio que aconteceria dentro de dois dias. O comercial enfatizou os prêmios e o elevado nível dos duelistas que participariam do evento, o que de alguma forma atingiu Mai. Desligou a televisão e pegou o convite para o torneio que estava na mesa a sua frente e o encarrou pensativa.

Talvez devesse parar finalmente de fugir, ela estava cansada de enfrentar oponentes fracos, apenas por temer encontrar algum conhecido. Já havia sido covarde por tempo demais, precisava voltar ser o que era antes, uma duelista ambiciosa e forte. Mai havia se decido, iria participar do torneio.

Abruptamente, um toque desconhecido começou a soar no seu apartamento, a surpreendendo e desviando sua atenção.

Ela olhou em volta, confusa sem compreender de onde aquele toque vinha, até que notou que vinha da caixa que Mokuba lhe em entregara em nome de Seto. Ela a abriu encontrando o objeto que emitia aquele barulho, em seguida o pegou e observou a tela que avisava que alguém estava ligando. Fitou o aparelho por alguns segundos, ponderando o que deveria fazer. Por fim resolveu atender a chamada.

— Por que você demorou tanto para atender, Valentine? — perguntou impaciente a voz do outro lado da linha, assim que Mai atendeu o celular.

— Então é você Seto. — constatou ela, já começando a se arrepender de ter atendido o telefone.

— É claro que sou eu, quem mais seria? — retrucou com impaciência.

— O que você quer? E por que me mandou esse celular? — indagou confusa e com certa irritação pela típica atitude de Kaiba.

— Não está claro? É simplesmente porque você precisa de um.

— Eu já te disse, não vejo a necessidade em ter…

— Pare de dizer coisas irrelevantes e me escute, Valentine. — interrompeu ele, querendo logo acabar com aquilo. — Apenas liguei para avisar que daqui a uma hora vou passar para te buscar para jantarmos, então esteja pronta logo.

— Jantar? — Mai indagou confusa. — Achei que o Mokuba já estivesse tranquilo e...

— Isso não tem nada a haver com o meu irmão. — Seto disse com certa firmeza, a interrompendo novamente. — Eu apenas quero jantar com você, então trate de estar pronta em uma hora, não gosto de atrasos. — declarou antes de finalizar a ligação.

— Espera, eu não concordei com isso! — afirmou ela, antes de notar que ele havia desligado. — Bastardo! Não acredito que desligou na minha cara…

Ela estava surpresa e irritada com o que acabara de acontecer, mas ela ainda não havia comido e afinal de contas aquele poderia ser um bom modo de parar de pensar no torneio. Então logo desligou a televisão e foi para o quarto decidir o que vestiria para o encontro que Seto acabara de lhe “convidar”.

Após uma hora ela estava pronta, Seto que havia acabado de chegar em frente ao prédio havia lhe mandado uma mensagem de texto, lhe avisando para descer. Mai não estava muito satisfeita com aquela história de celular ou com toda aquela situação de forma geral, mas disse a si mesma que era apenas um simples jantar. Não queria pensar nas consequências daquela incomum aproximação entre os dois, muito menos nos sentimentos estranhos que surgiam quando pensava naquele frio homem.

Decidindo ignorar aqueles pensamentos e aproveitar o jantar, sem demora ela desceu e em seguida avistou o carro de Seto estacionado lhe esperando. Mai abriu a porta e entrou no conversível e seus olhos logo encontraram-se com os de Seto e ela logo disse:

— Você tem uma visão muito distorcida do que é convidar alguém para um jantar, Kaiba.

Seto apenas a ignorou suas palavras, enquanto admirava a beleza da garota, que havia sido ressaltada pelo belo e justo vestido que ela trajava.

— Sabe, eu poderia muito bem não ter aparecido e te deixar esperando. — acrescentou ela, enquanto colocava o cinto de segurança. — Era o que você merecia por desligar na minha cara e nem ouvir se eu aceitava ou não jantar com você.

— Belo vestido, Valentine. — comentou Kaiba, se aproximando dela. — Combina com seus olhos. — completou, antes de surpreendê-la com suave carícia em seu rosto e seguida selar seus lábios com um intenso beijo.

Como da última vez, aquela atitude de Seto deixou Mai desconcertada e trajeto até o restaurante foi silêncio, se por um lado ela se sentia indignada pela forma despreocupada como Seto agia, também se sentia confusa por estar admitindo tal comportamento e principalmente por estar cada vez mais confortável com suas ações e companhia.

 

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Mai sentiu o olhar de Seto sobre si. Quando ergueu a cabeça para fitá-lo, ele indicou o prato dela e franziu as sobrancelhas.

— Qual o problema? Há algo errado com a comida? — perguntou Seto, confuso.

Não parecia haver nenhum problema com a comida, contudo ele havia percebido que a loira mal tocara a refeição.

— Não, não há nada errado com a comida. Eu apenas perdi o apetite. — respondeu cansada.

Seto não acreditou muito em sua resposta, notando uma palidez incomum na garota.

— Você está se sentindo bem, Valentine? — indagou ele, sentindo-se levemente preocupado com a garota.

— É só um pequeno mal-estar. — Mai admitiu.

— Quer que eu te leve em casa? Ou talvez ao hospital? — insistiu ele.

— Não, não é nada sério. — ela recusou, tentando deixar de lado a indisposição que sentia, mas bastava um olhar para a comida que sentia seu estomago revirar.

Ela imaginava que aquela sensação desagradável logo iria passar, como de costume. Aquela indisposição já estava se tornando algo frequente em seus dias, tanto que ela já havia se habituado. Às vezes ela se perguntava se deveria ir ao médico, a persistência daqueles sintomas estava começando a perturbar.

— Há algo te incomodando além desse mal-estar? Você parece silenciosa demais hoje, isso não combina com você, Mai. — comentou ele, antes de tomar um gole da taça de vinho.

— Você está muito observador hoje, Kaiba. Isso também é algo incomum se tratando de alguém como você. — retrucou ela num tom divertido, surpresa pelo interesse demonstrado por ele.

Seto a encarrou com certa irritação, não gostando da resposta dela.

— É o torneio que acontecerá daqui a dois dias. — Mai confessou. — Eu não sei se realmente quero participar.

— Mokuba comentou que você iria participar, ele está muito animado com isso. — apontou tentando aparentar desinteresse, mas com uma nítida insatisfação. — Por algum motivo, meu irmão parece estar ansioso para que você se reúna com Wheeler o novamente.

Com a menção ao nome de Joey, Mai tornou-se instantaneamente melancólica.

Seto notou a mudança no humor da garota e não pode deixar de sentir desgosto, o fato de Joey Wheeler ter tanto poder sobre Mai começara a incomodá-lo consideravelmente. Desde que Mokuba colocara em sua mente a imagem de Mai se reunindo com Joey, os dois retomando a proximidade e cordialidade do passado, ele sentia uma pontada de desconforto.

— Então Joey realmente vai estar lá. — constatou a garota, sem muito ânimo.

— Por que está com tanto medo de encarar aquele idiota? — ele indagou, mal conseguindo disfarçar a indignação. — Você não perderia nada cortando permanentemente as relações com ele.

As palavras de Seto a irritaram, mas sabia que não poderia esperar algo diferente dele.

— Você jamais entenderia, Kaiba. — declarou ela, sendo incapaz de disfarçar a angústia que sentia. — Não conhece o valor de uma verdadeira amizade e o quão vergonhoso é ter sido a responsável por ter a destruído.

Seto estudou-a por alguns instantes, incomodado por vê-la tão cabisbaixa por alguém tão insignificante. Então ele perguntou com aspereza:

— Então vai deixar de participar do torneio? Vai deixar de batalhar por pura covardia de encontrar com o Wheeler?

 — Ainda não sei, talvez eu participe ou talvez não. — confessou cansada, antes de virar de uma vez o conteúdo que havia na sua taça. — Eu não quero pensar nisso agora.

— Você e esse seu estranho hábito de fugir, primeiro fugiu da própria família e agora até mesmo dos seus supostos amigos. — comentou casualmente, genuinamente intrigado com as ações da garota. — Aliás, eu não consigo compreender por que você iria querer fugir da sua família, até mesmo mudar de sobrenome, isso foi bem extremo.

Mai ponderou se deveria falar sobre aquele assunto, que por sinal era algo que ela preferiria que ficasse enterrado, não queria que ninguém soubesse sobre sua ligação com aquelas pessoas. Contudo, Seto já sabia a verdade sobre ela, então não havia muito sentido em tentar ser misteriosa sobre aquele assunto.

— Precisei fazer isso, se usasse o sobrenome da minha família eles teriam me encontrado facilmente. — admitiu com certa mágoa, recordando dos pais. — Além disso, Valentine combina bem mais comigo do que Laurent. — ela completou, tentando disfarçar o amargor que lhe trazia aquele assunto.

— Mas o que te levou a fugir dos Laurent? Eles parecem se importar com você, estão te procurando até hoje…

— Aquela casa era como uma prisão para mim, todos os anos que passei nela foram um inferno. — ela disse com desgosto, se lembrando do passado. — É uma grande surpresa que aquele dois estejam me procurando, achava que eles nem notariam que sumi ou se notassem ficariam felizes por eu desaparecer.

— Você realmente parece odiá-los. — constatou ele, enquanto tomava mais um gole do vinho.

— Eu não os odeio, apenas não sinto nada por eles. Eles nunca pareceram se importar comigo, na verdade, sempre me pareceu serem eles que me desprezavam. — explicou ela com indiferença.

Seto a observava com atenção, mais interessado na história do que gostaria de admitir.

 — Fui criada praticamente pelos empregados da casa, meus pais nunca tiveram tempo para mim, mas sempre fizeram questão de me manter trancada naquela maldita casa. — continuou ela, dessa vez assumindo uma expressão melancólica. — Aparentemente a minha obrigação era estudar muito para ser uma boa herdeira e cuidar bem da empresa da família, contudo como eu não concordava com esses planos resolvi ir embora.

Seto ficou surpreso com a história de Mai, não esperava que os tais Laurent fossem esse tipo de pessoa, tinha erroneamente assumido que Mai houvera deixado os pais por algum motivo infantil. A interpretara mal, admitiu para si.

Ele havia realmente julgado mal a loira, apesar das atitudes e aparência frívola ela não era exatamente o que aparentava. Kaiba queria lutar contra o crescente interesse que tinha por Mai, contudo cada novo detalhe descoberto sobre ela o deixava mais atraído.

A atenção de Seto foi temporariamente desviada para o garçom, que havia chegado com o prato principal, ele retirou prontamente os pratos anteriores e serviu os novos. Tudo parecia muito apetitoso, o chef daquele restaurante nunca o decepcionara, a comida sempre estava impecável. Contudo, Mai não pareceu apreciar a comida como ele.

No momento que sentiu o cheiro da comida sua náusea voltou quase que instantemente, dessa vez ela sentia que iria realmente vomitar. Apenas murmurou rapidamente a Kaiba que iria até a toalete e apressou-se em direção ao banheiro.

Ao entrar no cômodo, ela correu para a primeira porta que encontrara aberta e vomitou tudo que havia no seu estômago, nem havia dado tempo de fechar a porta atrás de si, tal era a terrível ânsia que sentia. Quando não restava mais nada para pôr para fora, ela apertou a válvula de descarga e tentou se recompor.

Logo que saiu da cabine que estava, encontrou uma mulher a encarando com preocupação.

— Você está bem, querida? Precisa de alguma ajuda? — a desconhecida perguntou.

Mai imaginou que a mulher tivesse assistido à cena deplorável que ela acabara de protagonizar.

— Está tudo bem, ultimamente tenho vomitado tanto que até já me acostumei. — ela admitiu com sinceridade, enquanto ia em direção a torneira mais próxima para lavar a boca.

— Eu também já sofri muito com náuseas no início da gravidez, mas pode ficar tranquila que logo elas passam. — disse a mulher sorrindo, em um tom encorajador. — E de quantas semanas você está? O meu bebê já vai nascer em breve, só mais algumas semanas antes de finalmente poder conhecê-lo.

Mai que estava enxaguando a boca enquanto a mulher falava, demorou um tempo para processar as palavras dela, não parecia fazer muito sentido o que havia ouvido. Após fechar a torneira e secar a boca com uma toalha de papel, ela virou-se novamente para a mulher. Dessa vez ela notou algo que tornou suas palavras mais compreensíveis, a moça tinha uma enorme barriga que denunciava uma gestação já avançada.

— Me desculpe, mas a senhora se enganou. Eu não estou grávida. — ela afirmou, se sentido um pouco incomodada pela dedução absurda da mulher.

— Ah! Me perdoe, eu fui logo assumindo coisas sobre você… — a mulher se desculpou constrangida.

— Tudo bem, isso não foi nada. — ela logo disse, em seguida se despediu da mulher e saiu dali apressadamente, sentido que aquelas palavras da mulher a perturbaram de algum modo.

Quando retornou a mesa Kaiba notou que ela parecia mais pálida do que antes, novamente ele perguntou se não queria que a levasse para casa e dessa vez ela sentiu que deveria aceitar. Sentia-se horrível, apenas queria dormir e de preferência esquecer aquela ideia absurda que a mulher havia acabado de colocar em sua cabeça.

E assim o jantar acabou prematuramente, Seto nem terminou sua refeição, prontamente a levou em casa. Foi embora irritado com o final da noite e preocupado com Mai, ela não parecia bem e havia se recusado ir ao hospital como ele havia sugerido.

 

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Mai deu uma última conferida em seu baralho, que se encontrava com todas as cartas distribuídas sobre a mesa de modo a lhe permitir vê-lo em sua totalidade. Havia adicionado as cartas que ganhara de Seto, além de ter retirado algumas outras à fim de deixar o baralho mais balanceado. Após certificar-se que não estava faltando nenhuma carta ela as juntou com cuidado e pegou um acessório que se assemelhava a um cinto, mas que continha grudado em si uma pequena caixinha de couro, Mai depositou seu baralho na caixa e em seguida prendeu o apetrecho na perna esquerda.

Levantou-se da cadeira e foi até o espelho, analisou seu próprio reflexo por algum tempo, não ficou muito satisfeita com o que via, ela estava um pouco pálida e sentia que havia perdido algum peso recentemente. As náuseas que lhe incomodavam constantemente nos últimos dias estavam deixando suas marcas em sua aparência.

Ela suspirou cansada, decidindo que não havia muito o que fazer. Passou um batom nos lábios, numa tentativa de parece um pouco mais saudável. Deu mais uma conferida no espelho, pelo menos os cabelos e a roupas a agradavam, decidiu estar pronta para sair.

Voltou até mesa para buscar o convite do torneio e aproveitou para dar uma olhada no relógio que ficava na cozinha. Ainda faltavam duas horas para o início do evento, mas preferia chegar cedo ao se arriscar a chegar atrasada.

Ela apagou as luzes do apartamento e já estava de saída, quando de repente ouviu o toque do celular. Ela seguiu o barulho do toque até encontrá-lo no sofá e logo o atendeu, já sabendo quem poderia ser o único a lhe ligar.

— Eu não estou com muito tempo. Diga logo o que você quer, Kaiba. — disse um pouco impaciente, estava ansiosa para chegar logo ao local do torneio, tinha medo de que se demorasse demais pudesse acabar perdendo a coragem que reunira para finalmente encarrar a pessoa que mais havia machucado.

— Sem tempo? — retrucou Kaiba, parecendo entender a situação. — Então decidiu mesmo participar do torneio? Confesso que achei que iria se acovardar e fugir mais uma vez do Wheeler. — acrescentou ele num tom provocativo, mas que escondia em seu âmago uma grande irritação, a verdade era que ele preferia que ela não fosse até aquele torneio e reencontrasse Joey.

— É, eu vou participar, já estava saindo de casa quando você ligou. — Mai admitiu, com pouco ânimo, não estava no clima de responder às provocações de Seto. — Eu já cansei de me esconder, não vou deixar de lutar por uma recompensa tão alta só por uma bobagem.

— Que bom que você finalmente decidiu parar com o drama, Valentine — comentou com aparente indiferença, sem deixar que Mai notasse a irritação que ele sentia.

— E por que você ligou? — Mai insistiu, ansiosa para acabar com aquilo e poder ir para o torneio. Em um dia decisivo como aquele, não podia se dar tempo para começar a pensar sobre sua problemática relação com Kaiba.

— Apenas queria saber como você está, não parecia nada bem no dia em que fomos jantar. — ele respondeu num sério, ainda insatisfeito por Mai não ter o deixado levá-la no hospital. — Fui ao café ontem, mas aquela mulher me disse que você estava de folga.

Mai ficou um pouco surpresa, não esperava que ele fosse lhe ligar só por isso. Ela estava tentando não alimentar a ideia de que ele realmente se importava com ela, contudo as atitudes dele estavam impossibilitando seu intento.

— Estou bem, não senti mais nada. — ela respondeu por fim, omitindo o fato que continuava indisposta. Havia passado muito mal no dia anterior e naquela manhã tudo havia se repetido, sabia que cedo ou tarde precisaria ir ao médico, contudo só iria pensar nisso depois do torneio.

— Era só isso que eu queria saber, preciso ir para uma reunião agora. — anunciou, com a intenção de já desligar o telefone, contudo resolveu acrescentar algumas palavras: — Trate de não jogar tão mal hoje, talvez eu vá assistir você.

Novamente ele desligara sem dar a garota uma oportunidade de resposta.

 Mai decidiu que não queria pensar em Seto naquele momento, não tinha tempo para aqueles joguinhos em um dia como aquele. Ela então continuou onde parara quando o celular toucou, deu mais conferida no espelho, pegou o convite e enfim saiu do apartamento.

 

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Quando finalmente atravessou as portas do estádio, Mai sentiu-se um pouco mais leve, mal acreditava que finalmente participaria de um torneio de verdade depois de tanto tempo. Ela olhou em volta do ambiente, viu um pequeno painel onde havia um timer marcando o tempo que faltava para o início do evento. Como ainda faltava uma hora, resolveu explorar um pouco o local.

O espaço era bem amplo e por todos os lados ela via duelistas conhecidos, pessoas com as quais esbara principalmente na Ilha dos duelistas e na batalha da cidade. Se eles estavam ali, agora ela tinha certeza de que a qualquer momento poderia encontrar Joey ou Yugi, e isso a assustava. Não tinha certeza se estava realmente pronta para encará-los, ainda se sentia tão atormentada por tudo que fizera, se considerava indigna de sequer se aproximar deles novamente. Contudo, ela já estava ali e agora não havia mais escapatória, precisava enfrentar seus grandes arrependimentos e pedir perdão para eles.

Após explorar por um tempo, a loira decidiu ir logo procurar o lugar para se inscrever. Recebera um convite que garantia sua participação no torneio, no entanto, ainda era necessário confirmar a sua presença. Sem muita dificuldade, logo encontrou a enorme fila que levava a cabine de inscrições. Mai não esperava que houvesse uma fila tão grande, mas não havia muito o que fazer. A garota entrou na fila, tentando não pensar em todo o tempo que demoraria para finalmente chegar a sua vez.

Após alguns minutos naquela fila, Mai já começara a sentir-se impaciente, parecia não haver nenhum progresso. Ela se inclinou um pouco para um dos lados, tomando o cuidado de não sair da fila e perder seu lugar, numa tentativa de visualizar quantos duelistas estavam em sua frente. Todavia, ela avistou algo que não esperava, pelo menos não tão cedo. Apenas há uns três metros de distância, estavam Yugi e Joey também na fila, além deles notou que Tristan e Téa se aproximavam com algumas sacolas que pareciam ser de comida.

Sem pensar duas vezes, ela logo se endireitou na fila, de modo que ela não fosse vista por nenhum deles. Não sabia o que fazer, em breve estaria cara a cara com os antigos amigos. Ficou ainda mais atônita quando eles iniciaram uma conversa e percebeu que daquela distância conseguia ouvi-los.

— Por que vocês demoram tanto? — Joey perguntou a Tristan e Téa que chegaram a pouco, um tanto irritado com a demora dos amigos. — Mais um pouco e iriam perder o começo do torneio!

— Não exagere Joey, nem demoramos tanto assim. — Téa argumentou, checando o relógio que tinha no pulso. — Além disso, a fila do refeitório estava gigante, não havia muito o que pudéssemos fazer.

— Não ligue para o Joey, Téa. — disse Yugi, entrando na conversa. — Ele está empolgado demais para esse torneio, tanto que está deixando a ansiedade subir à cabeça.

— É verdade! Eu realmente estou muito animado, mal posso esperar para ver qual serão os outros participantes! — admitiu bem-humorado e com o coração cheio de esperança.

Tristan que até o momento se mantinha calado e comendo um hambúrguer, cessou sua refeição quando ouviu as palavras do amigo. O garoto sentiu instantaneamente seu sangue ferver, pois sabia exatamente o motivo do amigo estar tão empolgado por aquele torneio.

— Você é mesmo um idiota, Joey! — disse Tristan com rispidez.

Joey demorou um pouco para processar as palavras do amigo, sem compreender o motivo por trás de tanta animosidade vinda de Tristan.

— Idiota? O que você está dizendo cara? — indagou Joey, reagindo com indignação.

Mai nesse momento, se sentiu um pouco curiosa e resolveu se ariscar para entender o que estava acontecendo, voltando a inclinar-se para ter uma visão do nascente conflito.

— Tristan, o Joey está certo. — intrometeu-se Téa. — Por que está ofendendo-o assim do nada? ­

— Os dois têm razão, você deve se explicar! — acrescentou Yugi, também sem entender.

— Será que vocês não percebem? — Tristan disparou furiosamente. — Ele só está todo animado para esse torneio porque acha que vai conseguir encontrar a Mai por aqui.

Mai que assistia à cena perto dali, foi pega de surpresa com a menção ao seu nome.

 — E daí, Tristan? — Joey logo retrucou, ainda se sentido confuso com o ataque. — É realmente por isso, mas não vejo por que isso faria de mim um idiota.

Tristan ficou ainda mais irritado com a resposta de Joey.

— Como não sabe? Mesmo depois dela ter traído a todos nós, você ainda quer revê-la. Será que não consegue perceber o quanto isso é estúpido? — Tristan perguntou com incredulidade, já cansado de ver seu amigo preocupado com alguém que ele achava não merecer. — Você se esqueceu que quase acabou morto devido aos caprichos daquela garota?

Mai não conseguiu mais prestar a atenção na conversa após ouvir as palavras de Tristan, apenas conseguia lembrar-se da última vez que duelara com Joey. Toda a dor e o arrependimento que sentira ao ter em seus braços o corpo dele praticamente sem vida, ela havia sido a responsável por ele e Valon perderem suas almas para o Orichalcos.

A garota logo sentiu lágrimas beirarem seus olhos, se dando conta que logo não conseguiria segurá-las. Estava claro que havia sido um grande erro aceitar participar desse torneio, ela não merecia ter o perdão de Joey. Não importava se ele fosse a aceitar como amiga novamente, Mai sabia que não merecia ter amigos tão bons de volta. Tristan estava certo em ficar furioso, ela também estava furiosa com si mesma. Ela se odiava por tudo que havia feito, escolhera o pior caminho possível e jamais se perdoaria por isso.

Sabendo que não teria coragem o suficiente para seguir com plano de participar do torneio, Mai decidiu que deveria sair dali o mais rápido possível. Não pode se conter e acabou dando uma última espiada no grupo, que ainda pareciam estar engajados na discussão anterior. Contudo, algo que ela não esperava aconteceu, Tristan olhou na sua direção e ela teve certeza de que ele a vira, sua expressão parecia dizer isso. Instantaneamente Mai sentiu o pânico tomar conta de si, ela não podia encará-los, não conseguiria. Sem pensar muito, ela simplesmente saiu correndo dali, sem olhar para trás e sem notar que havia deixado cair durante a fuga o convite que continha seu nome.


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Notas finais do capítulo

Bom, espero que tenham gostado C:



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