Deixe Os Sonhos Morrerem escrita por Skadi


Capítulo 12
Capítulo XI




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Klaus tinha um livro que amava muito.

Era um lindo livro ilustrado sobre pássaros e ele gostava de folhear as páginas e olhar os animais. Sempre gostou de ficar olhando os desenhos por minutos, maravilhando-se com as lindas cores e sorrindo enquanto acompanhava a curva de cada linda pena, absorvendo todos os detalhes.

Às vezes, sua mãe se juntava a ele.

Klaus se sentava entre suas pernas cruzadas, o livro aberto na frente dele.

Ele se lembrava de ter dificuldade em esconder sua empolgação nesses momentos. Ele não pôde deixar de se contorcer em seu colo, rindo para si mesmo.

"O que é isso?" Ele perguntou, apontando para a ilustração de um pássaro.

Klaus sabia muito bem o que era aquele pássaro, seu nome estava escrito no topo da página. Mas ele gostava de ouvir a voz da mãe, então perguntava todas as vezes.

"É uma garça", respondeu ela, seus lábios roçando a nuca dele.

"E este?"

"Mmh, isso é um tordo.”

Klaus virou a página e pressionou o dedo indicador no papel. "O que é esse, mamãe?"

"Isso é um bem-te-vi. Você gosta?"

"Eu tenho um favorito." Klaus começou a folhear as páginas, tentando encontrar sua ilustração favorita. "Ah! Este aqui, mamãe."

Sua mãe se inclinou para frente para ver melhor a ilustração e então riu.

"Oh! Um flamingo!"

"É rosa!" Klaus fez um gesto selvagem. "E - e ele fica em uma perna só! É bobagem!"

"Você gosta porque é bobo?"

Klaus acenou com a cabeça vigorosamente. "Eu gosto. É bonito."

"Sim, é um lindo pássaro."

Klaus virou as páginas novamente e parou quando seus olhos pousaram na ilustração de outra criatura bonita.

"O que é isso?"

"Um beija-flor", respondeu sua mãe. Klaus pôde ouvir um sorriso em sua voz. "É o meu favorito, sabe?"

Klaus piscou. Certamente, era um pássaro bonito. Pequeno e gracioso mesmo no desenho, com uma bela plumagem azul.

"Por que é o seu favorito, mamãe?"

Ela cantarolou e acariciou a página com a ponta dos dedos.

"Os beija-flores são rápidos. Suas asas são mais rápidas do que qualquer outro pássaro. Eles quase parecem flutuar no ar em vez de voar. Você sabia? Algumas pessoas dizem que eles morrem se param de se mover."

Klaus franziu a testa. "Eles morrem?"

"Eles dizem que sim. Quem sabe? Eu só vi um desses uma vez, anos atrás." Sua mãe colocou os braços em volta da barriga de Klaus. "Mas eles são pássaros fortes, mesmo sendo tão pequenos. Você sabia que eles não podem andar? Eles só podem pular de galho em galho."

"Oh," Klaus murmurou. "Isso é triste."

"É? Eu não acho que eles estão tristes." Ela beijou o topo de sua cabeça. "Eles nunca param de se mover e ficam lindos, mesmo quando voam tão freneticamente. Eu gostaria de poder viver como um deles."

"Vôo?" Klaus perguntou. "Mamãe, você quer voar?"

"Não, principezinho", respondeu ela. "Eu quero me mover. Eu quero nunca parar de me mover."

Ela estava presa.

Klaus não entendia completamente naquela época, mas conforme crescia, percebeu que sua mãe era como um pássaro preso em uma gaiola. E não importava o quão bonita a gaiola fosse; mesmo quando feita de ouro, uma gaiola ainda é uma gaiola.

Klaus esperava que ela ainda estivesse se movendo.

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Abrir os olhos era uma luta.

Klaus estava acordado, mas estava achando difícil abrir os olhos. Se sentia como se ainda estivesse meio adormecido, porém, seu corpo estava entorpecido e pesado, sua cabeça tonta. Mesmo assim, ele estava acordado e queria abrir os olhos.

Demorou mais do que ele gostaria de admitir, mas, finalmente, ele conseguiu abrir os olhos. Logo se deparou com uma luz cegante, tão forte em seus olhos que os fez arder e involuntariamente fechar novamente.

Klaus gemeu e os força a abrir mais uma vez. A luz que o estava machucando pareceu ser menos forte dessa vez, mas Klaus podia ver apenas o branco. Um teto branco. Ele virou a cabeça para a direita e até mesmo esse movimento simples o fez quase se engasgar, pois a sala pareceu girar por um segundo. Havia uma janela à direita e estava chovendo lá fora. A visão de Klaus estava meio embaçada, mas ele sabia que devia estar em algum lugar alto.

"Klaus?"

Klaus estremeceu com o som repentino, soando em seus ouvidos como se alguém tivesse acabado de gritar. Klaus virou a cabeça para a esquerda lentamente e encontrou um rosto pálido na frente dele, cabelo laranja despenteado.

"Klaus, você pode me ouvir?"

Klaus gemeu e apertou os olhos.

"Lis?"

"Sim!" Lisbeth balança a cabeça duramente antes de se levantar abruptamente. "Johnny! Johnny, chame o médico, ele está acordado!"

Klaus queria perguntar a Lisbeth onde eles estavam, mas ele estava cansado. Estava cansado e com a cabeça rodando, os ouvidos zumbindo, não enxergando muito bem e isso o incomodava.

Então ele fechou os olhos novamente, ouvindo o som abafado da voz de Lisbeth, sempre tão irritantemente alta, e sorriu antes de perder a consciência.

Pelo menos ele não estava morto.

Quando ele acordou novamente, seu corpo parecia feito de pedras, mas seus olhos não ardiam tanto. Sua cabeça parecia menos nublada e parou de chover lá fora. Klaus suspirou ao ver o óbvio quarto de hospital, paredes e chão brancos, cama grande com lençóis imaculados na qual Klaus sentia que estava afundando.

Havia flores no quarto. Em toda parte.

"Você me assustou pra caralho."

Klaus virou a cabeça para a esquerda. Lisbeth estava sentada ao lado da cama em uma cadeira de metal, com os braços cruzados.

"Sim, bem, eu não estava exatamente me sentindo bem também," Klaus respondeu. Sua voz saiu em um murmúrio, rouca e instável.

Lisbeth sorriu, mas não parecia bem. Ela estava obviamente cansada, seu cabelo estava um pouco oleoso e a camisa que ela estava vestindo era a mesma que ela estava usando quando Klaus foi baleado na frente do Nightshade.

"Eu tenho perguntas", disse Klaus.

"Tal como?”

"Em primeiro lugar, o que diabos está acontecendo com as flores?"

Lisbeth riu e olhou ao redor da sala. Honestamente, era meio ridículo. Existiam pelo menos quinze vasos diferentes cheios de flores frescas, alguns na mesa em frente à cama de Klaus, outros estão todos empurrados para o canto do quarto.

"As famílias os enviaram", respondeu Lisbeth. "Sergei mandou lírios. Os Keres mandaram crisântemos."

"Claro que sim."

"Eu achei engraçado."

"Vai se foder."

"É bom ter você de volta, idiota."

Klaus suspirou. "Pare de dizer a todos que estou morto."

"Nós não dissemos nada, acho que os Keres simplesmente querem você morto. Ou esperavam que você estivesse."

"Eles não são adoráveis?" Klaus riu. "Onde estamos?"

"Ah." Lisbeth se endireita. "Estamos em um hospital no D-3."

Klaus franziu a testa.

"Como diabos estamos no D-3, não tínhamos passagem concedida."

"Eu sei." Lisbeth lambeu os lábios. "Eu - quando você desmaiou no carro, liguei para o Hanzo."

Ah não.

"Você fez o que?"

"Eu não vou deixar você me dar um sermão. Eu não tive escolha, havia um cara nos seguindo então não podíamos voltar para a cobertura. Precisávamos perdê-lo, então liguei para Hanzo e implorei a ele para nos conceder passagem. Disse a ele que você levou um tiro e que precisávamos de segurança." Lisbeth encolheu os ombros. "Ele nos deu imediatamente. Assim, conseguimos perder o outro cara, pois ele não podia dirigir no D-3 sem levar uma bala no pescoço."

Klaus suspirou. "Deus, Hanzo nunca vai esquecer de me lembrar que eu devo isso a ele."

"Ele não vai. Ele estava realmente preocupado."

"Claro."

"Ele queria vir visitá-lo, aqui no hospital. Mas Aiko e eu dissemos a ele para não vir." Lisbeth fez uma pausa. "Você sabe como ele fica quando tem que sair de casa."

"Sim, eu sei."

Maldito Hanzo e seu maldito Valium.

“Na verdade, encontramos o carro que estava nos seguindo ontem”, acrescentou Lisbeth. "Foi abandonado perto do rio, sem placa. Não sabemos onde está o motorista."

Claro que não, Deus proibia que algo acontecesse do jeito que eles querem.

Klaus olhou para seu braço esquerdo e fez uma careta. Existiam tubos agulhados em sua pele maldita. Um tinha um líquido vermelho dentro, definitivamente sangue, o outro tinha uma substância transparente que pingava de uma bolsa que está pendurada acima dele em uma prateleira de metal.

"Há quanto tempo estou aqui?"

"Quatro dias."

Os olhos de Klaus se arregalaram. "Porra..."

"Sim, não foi divertido." Lisbeth esfregou a mão no rosto. "Você - bem, você levou um tiro no plexo braquial e - o médico disse algo sobre sofrer danos nos vasos sanguíneos ou algo assim, eu não sei, você vai ter que perguntar a ele. Você passou por uma cirurgia. Você...você perdeu um muito sangue. "

Klaus balançou a cabeça lentamente. "A cirurgia correu bem, certo? Não vou perder o braço ou algo assim?"

"Bem, você está aqui. Respirando e tudo. Então, sim, eu diria que correu bem."

"Oh, cale a boca," Klaus gemeu. "Eu não preciso da sua porra de atrevimento agora."

Lisbeth permaneceu quieto por alguns segundos depois disso. Ela encarou Klaus com uma expressão indecifrável em seu rosto pálido.

Klaus engoliu seco. "Ei, Lizie-"

"Você quase morreu", disse Lisbeth de repente. "Você estava sangrando muito, Klaus. Você-seu coração parou de bater. Parou de bater no mo-momento que levamos você para o hospital. Eles tiveram que trazê-lo de volta." Lisbeth respirou fundo e balançou a cabeça. "Deus, eles tiveram que trazer você de volta e demorou muito tempo. Você - você estava tão branco, Klaus. Eu sei que você está pálido, mas merda. Merda, você— "

"Ei, não-" Klaus lambeu os lábios. "Escute, estou bem agora. Ok? Estou bem. Eu nem sinto dor."

Lisbeth zombou. "Sim, sem brincadeira. Você está fodidamente dopado com analgésicos. Você teve morfina injetada em você ontem."

"Merda, para onde foi o respeito, uh? Eu levei um maldito tiro, seja legal comigo."

Lisbeth finalmente riu. Aquela risada dela, muito alta e confusa. Klaus não pôde deixar de sorrir porque, talvez, ele sentiu falta disso. Lisbeth.

"Ah," Klaus sussurrou. "Eu levei um tiro pelo Spencer. Ele está bem? August também. Eles estão bem?"

Lisbeth ficou séria com a menção de Spencer e August. Ela endireitou o ombro e acenou com a cabeça.

"Eles estão bem. Ambos estão exaustos, mas bem. August tem estado bastante fraco por alguns dias, mas ele voltou ao normal. Spencer também. Ele estava preocupado, ele se sentia uma merda. Disse que estava culpa dele por você ter levado um tiro. "

Klaus assentiu. "Ah, isso é besteira."

"Eu sei, mas o maldito garoto é teimoso." Lisbeth pressionou os lábios e se inclinou para frente. "Você viu o que eles fizeram?"

Klaus engoliu. Doia até mesmo fazer isso, realmente, sua garganta parecia que estava pegando fogo.

Mas Deus, ele se lembrava disso com mais clareza do que qualquer outra coisa que aconteceu naquele dia.

"Sim", ele respondeu. "Eu vi."

Lisbeth balançou a cabeça. "Spencer quebrou seus pescoços. Com os olhos."

Klaus piscou. "Ele não usou os olhos, você-"

"Eu sei que ele não usou os olhos, mas mesmo assim!" Lisbeth acenou com a mão para ele. "Foi uma loucura do caralho."

Klaus respirou fundo e se retraiu com a pontada de dor que passou por seu corpo enquanto ele fazia isso.

"Vou falar com August", disse Klaus. "Ver se consigo uma explicação para o que eles fizeram depois. Quer dizer, eu tenho minha ideia, mas...quero ter certeza de que estou certo."

Lisbeth acenou com a cabeça e, em seguida, seguiu-se um silêncio natural. Lisbeth estava olhando pela janela e Klaus estava começando a se sentir cansado novamente. Bem, ele achava que era normal. Ele levou um tiro, podia se dar uma folga.

"Lisbeth."

"Mh?"

"Eu sinto muito."

Lisbeth olhou para ele com a testa franzida. "Para que?"

Klaus permaneceu quieto por um momento. "Por tudo."

Os olhos de Lisbeth se arregalaram, os lábios se abrindo ligeiramente. Klaus viu suas mãos segurando seus cotovelos com mais força.

“Lamento tudo o que disse”, acrescentou. "Naquela manhã, quero dizer. Sinto muito."

"Klaus, ouça." Lisbeth se inclinou para frente, olhando para ele intensamente. "Eu posso amar."

Klaus acenou com a cabeça. "Eu sei."

"Eu tenho permissão para amar alguém além de você."

"Eu sei."

"Estou autorizado a tê-los. Posso amar se quiser." Ela fez uma pausa. "Mas só porque eu amo alguém, isso não significa que minha lealdade se foi."

Oh.

"Minha lealdade é sua. Sempre foi e nunca deixará de ser sua. Você a tem." Lisbeth pressionou os lábios. "Você me tem. Sempre."

Oh.

Merda, por que isso é tão bom?

Klaus engoliu o nó em sua garganta e acenou com a cabeça rigidamente. "OK."

"Sim."

"Eu sinto muito."

"Pare de dizer isso." Lisbeth balançou a cabeça. "Eu também sinto muito. Pelo que eu disse."

"Você não quis dizer isso."

"Ainda machuca você. Sinto muito."

"Ok, tudo bem, nós dois sentimos muito." Klaus grunhiu. "Eu não tenho drogas suficientes no meu sistema para começar algumas horas emo suaves, então vamos deixar isso de lado."

Lisbeth bufou, ombros sacudindo levemente com uma risada silenciosa. Deus, Klaus estava tão cansado. Ele jurava que seus olhos mal estavam se mantendo abertos.

Ele se perguntou se estava louco, no entanto.

"Ah," Klaus murmura. "E quanto a Laurent?"

"Laurent? Ele está bem." Lisbeth encolheu os ombros. "Ele está na cobertura, seguro. Nós nos revezamos para lhe fazer companhia."

Klaus engoliu. "Ele está com raiva?"

Com isso, Lisbeth franziu a testa. "Eu - honestamente, eu não tenho ideia. Aquele garoto não sorriu por quatro dias inteiros."

Oh Deus.

"Ele não parece bravo, mas, bem, ele com certeza também não está feliz."

Klaus estremeceu.

Ele está com raiva. Estou morto de verdade desta vez.

"Ryland passou um bom tempo com ele, na verdade."

Klaus arqueou uma sobrancelha. "O que?"

"Sim. Ele fazia a maior parte das voltas, ficava muito com Laurent na cobertura. Especialmente à noite."

Oh.

"Acho que Ryland está começando a gostar um pouco dele."

"Huh," Klaus sussurrou, seus olhos fechados. "Isso é...inesperado."

"Klaus."

"Desculpe, estou cansado. Preciso dormir um pouco."

Klaus ouviu Lisbeth murmurar algo antes de tudo escurecer novamente e ele se pegou dando boas-vindas ao sono como um velho amigo.

~•~

É muito cedo para isso, mas Klaus não tinha escolha.

O cirurgião que cuidou de Klaus era um homem na casa dos cinquenta anos, seu cabelo cinza claro e seu corpo precisava de mais comida. Mas ele tinha olhos inteligentes, queimando com algum tipo de paixão que Klaus raramente via mais. Ele se chama Louis Beckett e não tinha medo de Klaus, o que era suficiente para ele respeitar o cirurgião mais do que a maioria dos homens.

"Você está se recuperando muito bem, Sr. Burzynski," Louis disse enquanto olhava o prontuário médico de Klaus em uma prancheta. "Vamos deixá-lo sair do hospital logo, desde que haja alguém em casa que possa ajudá-lo."

Klaus assentiu. Ele estava se sentindo um pouco mal-humorado. Talvez seja porque eles reduziram a dosagem de qualquer analgésico que estavam dando a ele, então seu ombro estava horrivelmente dolorido e a pele ao redor da ferida parecia estar em chamas.

"Você precisará de alguém para ajudá-lo a limpar o ferimento e trocar as bandagens. Nada muito difícil."

"Eu tenho alguém que pode me ajudar."

Sim, a menos que Laurent decida rasgar a merda dos pontos e o deixe sangrar no chão.

"Bem, então você sairá daqui assim que eu tiver certeza de que nenhuma infecção está acontecendo", disse o homem com um sorriso. Ele colocou a prancheta debaixo do braço. "Você é um homem de muita sorte. Você sofreu um grande dano e uma severa perda de sangue. A maioria dos homens não sobrevive."

Oh, sim, Klaus com certeza se sentia com sorte.

Ele engoliu seco e juntou um pouco de coragem.

"Doutor?"

"Sim?"

"Não consigo mover meu braço."

Ele tentou. Ele tentou mover o braço quase a noite toda. Ele não conseguia nem dobrar um maldito dedo.

"Ah." Louis acenou com a cabeça, sua expressão sombria. "Isso era de se esperar."

"O que?"

"Vai melhorar, Sr.Burzynki. Não houve nenhum dano ao osso quando a bala perfurou seu ombro sem acertar nada importante. E nenhum dano permanente ao músculo também."

Klaus esperou um segundo.

"Mas?" Ele pressionou.

Louis respirou profundamente.

"Mas você pode sentir dor. Os analgésicos que demos a você são bastante fortes, mas assim que sair daqui, você passará para uma dosagem mais baixa de medicamentos mais fracos. Portanto, a dor será inevitável."

Klaus acenou com a cabeça. "Você não está me contando tudo."

Louis respirou profundamente pelo nariz. Ele não tinha medo de entregar qualquer notícia, mas ele simplesmente parecia que não querer. Klaus não sabia muito sobre médicos, mas ele achava que eles não gostavam de contar merdas aos pacientes sobre seus braços já horríveis.

"Sr.Burzynski, você pode sentir essa dor pelo resto de sua vida."

Porra.

Klaus acenou com a cabeça rigidamente, seu estômago parecendo vazio. Ele se perguntou se era porque basicamente não comia alimentos sólidos há dias ou porque precisava vomitar.

"Ah", ele conseguiu murmurar. "Entendo."

"Você levou um tiro, senhor. Ferimentos de bala são complicados assim."

"Sim, eu sei." Não significava que ele estava bem com isso. "Mas eu vou ser capaz de mover meu braço, certo?"

O homem acenou com a cabeça. "Sim. Embora, você possa não ser capaz de movê-lo tão bem como antes."

Bem, este não é um dia de boas notícias?

"Você poderá usar sua mão, é claro. Seu braço também, você vai dobrá-lo como quiser. Ou pelo menos, é o que esperamos. Mas seus movimentos podem ser mais lentos, sua força pode não ser a mesma. "

Klaus assentiu e então se recostou nos travesseiros. Não há muito que ele possa fazer sobre isso, hein?

"Bem,” Klaus suspirou. “Eu não preciso do meu braço esquerdo para fazer o meu trabalho."

O médico sorriu com isso, claramente divertido. Klaus não duvidava que este homem viu e tratou homens que eram exatamente como Klaus. Inferno, ele trabalhava trabalha para Aiko e Hanzo. Ele deve ter visto alguma merda durante sua vida.

"Obrigado, doutor." Klaus acenou com a cabeça. "Por não me deixar morrer."

O homem sorriu. "Foi um prazer, Sr.Burzynski."

~•~

 O que mais irritava Klaus é que Ryland estava realmente sentado em seu quarto de hospital como se ele fosse o dono e parecendo uma refeição cinco estrelas do melhor hotel do mundo.

Inacreditável.

August, por outro lado, estava sentado na cadeira de metal com as pernas bem juntas e os olhos baixos.

"Eles vão deixar você sair em dois dias", Ryland disse enquanto ajeitava a jaqueta no corpo.

"Estou ciente."

"Você não está feliz?"

Klaus zombou. Ele tinha se impedido de coçar o ombro por horas, a pele coçando no local onde foi baleado, mas também doía muito. Ontem ele precisou de ajuda para sair da cama para mijar. Ele não estava nem um pouco feliz.

"Vamos apenas dizer que tive dias melhores."

Ryland revirou os olhos. "Você consegue escapar da morte e ainda encontra tempo para reclamar."

"Com licença, levei um tiro. Posso reclamar."

"Tanto faz." O homem inclinou a cabeça para o lado. "Eu estava na sua casa antes de vir aqui."

"Sim? Marius urinou em todas as superfícies disponíveis?"

"Esse gato é a porra de um anjo, não sei por que você continua fingindo que não gosta dele."

August, o merdinha, teve coragem de bufar.

"Sabe," Ryland começou a dizer. "Laurent não é tão ruim assim."

Talvez Klaus estivesse sonhando. Ou alucinando. Droga, esses analgésicos deviam ser fortes.

"O que você acabou de dizer?"

"Eu disse, ele não é tão ruim."

Os olhos de Klaus se arregalaram. "Espere, você está falando sério?"

Ryland revirou os olhos. "Sim eu estou."

"Você o odiava até,o quê? Duas horas atrás?"

"Bem, eu mudei de ideia."

"Por que?"

"O que você quer dizer com por quê? Eu acabei de mudar."

Klaus balançou a cabeça. "Você não apenas faz as coisas. Não você."

Ryland estalou a língua e cruzou os braços sobre o peito, olhando para ele com um olhar não impressionado.

"Ele é um bom garoto", disse ele. "Ele é gentil e forte. Ele realmente é."

Klaus respirou profundamente. Sim, Laurent é assim.

"Eu sei que ele é", disse ele no final.

"Você sabe-" Ryland sorriu. "Ele ficou muito preocupado quando eu disse a ele o que aconteceu com você."

Oh.

Klaus permaneceu em silêncio por alguns segundos, olhando para sua mão. Sua mão que ele ainda não conseguia mover.

"Sério?"

"Oh, confie em mim." Ryland estalou os lábios. "Ele ficou bem preocupado."

"Sim", acrescentou August. "Isso, e lívido também."

É claro que ele estava louco, mimado como era. Klaus não conseguia nem levar um tiro em paz sem que as pessoas sentissem que precisavam chutar a bunda dele ainda mais.

"De qualquer maneira," Ryland continuou, cruzando uma perna sobre a outra. "Estamos fazendo algumas investigações sobre o ataque. Odeio dizer isso, mas estamos afundados na merda até o pescoço."

"Conte-me algo novo", murmurou Klaus.

"Não encontramos nada. Não temos corpos, não temos placas de carro. Quer dizer, podemos adivinhar quem as enviou para você, mas-"

"Mas é claro, não temos a mínima ideia de onde o Lange está." Klaus fez uma pausa. "A menos que o que Marie nos disse fosse verdade. Eu duvido muito, entretanto, a cadela armou para nós."

August levantou o olhar para isso.

"Eu não acho que ela fez", disse ele. "Ela nos disse que havia homens que a seguiam. Talvez tenha sido isso que aconteceu."

"Nah, eles tiveram muito pouco tempo para orquestrar um ataque como aquele." Klaus balançou a cabeça. "Ela deve ter contado a eles com antecedência."

Ryland suspirou. "Klaus, não conseguimos mais encontrá-la."

Klaus olhou para o homem. "O que você quer dizer?"

"Quero dizer, ela não está em lugar nenhum. E acredite em mim, nós temos procurado muito. Eu tinha homens em todo lugar procurando por aquela maldita mulher. Ela desapareceu, não temos ideia de onde ela está. Seu apartamento está intocado, todas as roupas dela estão lá. Se ela está se escondendo, então está fazendo um ótimo trabalho. " Ryland se levantou da cadeira então, e fechou os botões de sua jaqueta. "Eu vou agora, Johnny está esperando por mim. Estaremos de volta para te levar para casa, hein?"

"Sim claro." Klaus acenou com a cabeça.

Ryland lançou um olhar para August e sorriu para ele antes que ele se virasse e saísse do quarto do hospital.

O silêncio se seguiu e, Klaus não ia mentir, era muito estranho. Ele se concentrou por um momento na pilha de flores à sua frente; a maioria deles estava murchando, pétalas caindo dos caules. Mas elas ainda cheiravam bem e, por algum motivo, Klaus não queria se livrar delas ainda.

Talvez seja porque ele sentisse falta desse cheiro.

"Sabe," Klaus disse. "Eu não fumo há uma semana."

August ergueu os olhos do chão e bufou. "Como vai isso?"

"Me deixando louco. Às vezes eu sinto que nasci para ser um fumante."

August sorriu. "Bem, em alguns dias você será capaz de envenenar seus pulmões novamente. Mas não tentaria beber álcool, não com todas as drogas que eles estão te dando."

Klaus fez uma careta. "Levar um tiro é uma confusão maldita."

"Oh sério?"

"Shhh, meu ombro dói e seu sarcasmo dói ainda mais."

Klaus olhou para August. Ele não parecia fraco. Ele também não estava pálido, sua pele era de uma cor brilhante e seus lábios de um rosa suave.

"August."

"Sim?"

"Me diga o que aconteceu com Spencer naquele dia."

August endureceu visivelmente, mas sua expressão permaneceu neutra. Ele prendeu a respiração por alguns momentos antes de baixar o olhar para as mãos, os dedos mexendo nas mangas de seu moletom. Klaus sabia que, neste ponto, August não podia mais evitar o assunto. Não quando Klaus viu isso com seus próprios olhos. Mas ele ainda esperou. August sempre precisou de algum tempo para começar a se abrir sobre coisas que o chateavam ou que têm influenciado sua vida.

Talvez com um pequeno empurrão.

"Escute, garoto, eu sei o que está acontecendo entre vocês dois, ok?" Klaus esfregou a mão boa no rosto. "Eu não sei como você faz isso, mas eu não sou cego. Você tem feito o quê? Trocando energia? Porque essa é uma ideia idiota do caralho."

"É mais complicado do que isso", murmurou August.

"Tudo bem. Então me explique."

August soltou um suspiro profundo e então olhou para Klaus.

"Eu sempre digo que o Spencer é perigoso. E ele é, você mesmo viu. Ele é poderoso. Todos os demônios são, mas Spencer - bem, você pode sentir isso, não é? No momento em que ele entra em uma sala, o ar ao redor dele vibra, porra. "

O fato de August estar falando sobre isso com uma voz sonhadora provavelmente deveria preocupar Klaus, mas ele estava muito cheio de remédios para realmente se importar neste momento.

“Spencer não consegue controlar seus poderes,” August explicou calmamente. "Yuureis são fortes e inteligentes, mas Spencer nunca foi bom em manter sua energia sob controle. Ela continua ... continua saindo de seu corpo. Ela paira ao redor dele. Quase como um escudo."

Klaus lembrava muito bem, a sensação de estar perto de Spencer. O garoto usava sua energia como alguém usaria um casaco caro. Klaus sempre sentiu que, se ele tocasse Spencer, sua pele provavelmente derreteria até os ossos.

"Como ele não é bom em controlá-los, sempre que os usa, sua energia apenas-" August gesticulou. "Explode de uma só vez, sabe? E se espalha ao seu redor. Não importa se ele usar apenas uma pequena porcentagem de seus poderes, sua energia simplesmente jorrará dele. Como uma bomba. Ele a perde. "

Klaus permaneceu quieto, lentamente deixando a informação penetrar.

"Então, sempre que isso acontece,custa muito", disse August. Ele mexeu o lábio inferior e se contorceu um pouco na cadeira. "Ele perde tanta força e - ele pode realmente morrer. Inferno, a primeira vez que eu vi isso acontecendo eu-"

August parou de falar, de repente muito pálido. Klaus pôde reconhecer o terror quando o via e, agora, August estava com medo. Do que poderia ter acontecido com Spencer e do que ainda poderia acontecer com ele.

"De qualquer forma," August sussurrou, balançando a cabeça. "Quando coisas assim acontecem, eu meio que deixo ele beber de mim? Se faz sentido? Spencer pode absorver a energia de outras pessoas, a maioria dos yuureis pode. Pelo menos, os yuureis de sua espécie."

Klaus franziu a testa. "Da sua espécie?"

"Ah, isso é complicado pra caralho." August fez uma careta. "Basta perguntar a ele, eu nunca seria capaz de explicar."

"Ok. Ok, então você apenas alimenta ele com sua força? É isso que você faz?"

"Nem sempre!" August disse apressadamente. "Bem quando ele precisa. Não acontece com frequência, eu juro. Mas Spencer é uma bagunça e às vezes seu poder sai de seu controle e - e se eu estiver lá, então irei ajudá-lo. Se -se eu puder ajudá-lo, então- "August olhou para Klaus com os olhos arregalados. Klaus podia ver algum tipo de desespero neles. 

"Você não quer que ele morra," Klaus suspirou. Ele se sentou mais ereto na cama, ignorando o flash surdo de dor em seu ombro.

August acenou com a cabeça, lentamente.

"Eu nunca vou entender completamente o que está acontecendo com vocês dois se você não me contar, Gus,” disse Klaus. "Sua lealdade é dele, eu preciso entender o porquê."

"Não." August balançou a cabeça. "Meu amor é dele."

Klaus, sendo o homem egoísta que é, se sentiu aliviado.

"Amor." Klaus repetiu. "Vocês todos continuam usando essa palavra tão livremente."

"Eu não-"

"O amor não deveria machucar você. Não deveria esgotar você. E agora eu quero dizer isso no sentido literal, então-"

"Spencer é como o caos," August murmurou de repente. Suas mãos estavam cerradas em punhos sobre os joelhos e ele não conseguia olhar para Klaus. "Ele é feito de caos e tempestades, há furacões em seu peito. Ele não pode mentir, mas distorce a verdade como bem entende porque é algo que ele pode Faz. Se-se Spencer descobrir que ele pode fazer algo, então ele continuará fazendo, não importa o quão estúpido ou perigoso seja. A primeira vez que o encontrei, a primeira vez que o toquei, ele continuou me dizendo para ir embora. Ele me beijava e me dizia para sair e fugir porque eu ainda tinha tempo e, em vez disso, fiquei. Ele me deu uma escolha, ele me disse que eu poderia ir embora. Eu escolhi ficar. "August fez uma pausa e havia a sombra de um sorriso em seu rosto. "Ele disse 'Você acabou de arruinar sua vida'. Ele estava sorrindo. Ele parecia tão miserável. "August olhou para Klaus." Laurent sorri da mesma maneira, não é?"

Klaus não respondeu. Seu coração caiu por um momento e algo tenso e desagradável se enrolou em torno de suas costelas, apertando-as com tanta força que ele mal conseguia respirar.

"Como você pode deixar alguém que parece tão quebrado quando sorri?" August respirou fundo. "Ele não arruinou minha vida. Ele é altruísta. Ele deu tudo o que podia me dar e eu apenas peguei e tomei. Porque nós dois queríamos arruinar um ao outro."

Klaus engoliu pesadamente. "Queriam?"

August concordou. "Eu não quero mais isso. Eu só quero que ele seja feliz."

"O que tem ele?"

"Oh," August riu. "Deus, eu não tenho ideia. Mas eu não me importo. Eu costumava fazer, mas não mais."

"Isso é uma merda," Klaus gemeu.

August assentiu. "É, não é? Mas eu não consigo me importar mais. Enquanto ele me aceitar, eu ficarei."

"Você é um idiota."

"Eu sou."

"Contanto que você esteja ciente, August."

"Ele odeia isso." August pressionou os lábios por um momento. "Eu ajudando ele. Dando a ele minha energia, ele odeia. Ele está enojado com isso."

Klaus se lembrava da maneira como Spencer gritou para August parar, de volta ao Nightshade. Ele se lembrava de quão rápido Spencer puxou suas mãos das garras de August, apenas para fazê-lo parar.

“Mas eu não posso deixar de fazer isso. Não posso vê-lo explodir, Klaus,” sussurrou August. "Eu não posso vê-lo murchar."

Puta que pariu.

Klaus suspirou.

"Tudo bem", disse ele com um aceno de cabeça. "Ok, então. Não o deixe murchar."

Klaus viu o momento em que o alívio tomou conta do rosto de August e a culpa que estava pesando em seus ombros desapareceu de seu corpo. Isso é bom. August ficava melhor quando estava despreocupado.

"Agora vá." Klaus acenou em direção à porta. "Tenho certeza que você tem algum trabalho a fazer e estou cansado. Esses remédios me fodem, estou com sono o tempo todo."

"Não é à toa, Klaus, mas você está sempre com sono."

"Seu merdinha, estou prestes a enfiar um daqueles vasos de flores no seu cu."

~•~

 Na noite anterior à alta, Klaus deitou em sua cama sem conseguir dormir.

Tiveram que tirar as flores mortas da sala por causa do cheiro, era muito azedo e, francamente, desagradável. Klaus percebeu que se acostumou a cheirar flores e agora que elas se foram, ele se sentia inquieto. A sala cheirava a anti-séptico e detergente, horrível. Ele queria cheirar flores novamente.

Qualquer coisa que -

O que?

Qualquer coisa que faria o quê?

Klaus suspirou e olhou para sua mão esquerda. Na escuridão, ele mal conseguia distinguir a silhueta de seus dedos. Ele engoliu e tentou dobrá-los, fechar a mão em punho, mas sua mão permaneceu pateticamente parada. Imóvel. Sem vida. Quase parecia um membro que não pertencia a ele.

Deus, ele queria cheirar flores novamente.

E aquele shampoo de coco que cheirava muito doce.

E sentir mãos macias se enrolando em seu braço.

Nada.

Qualquer coisa que o lembrasse de Laurent.

Nada.


~•~


"Solte meu braço."

"E se você cair?"

"Por que eu cairia?"

"Você desmaia ou algo assim."

"Ryland, estou literalmente parado no elevador."

"E?"

"Eu não fui baleado em um maldito joelho, eles atiraram em mim no ombro. Eu posso andar."

Ryland suspirou e finalmente soltou o cotovelo de Klaus.

Honestamente, ele estava bem. Claro, seu ombro estava doendo como o fogo do inferno e ele estava se sentindo mais fraco do que nunca em toda a sua vida, mas ele estava bem. Melhor do que algumas pessoas por aí, com certeza.

O elevador finalmente parou e as portas se abriram.

Era loucura, realmente, que Klaus se sentisse aliviado quando seus olhos pousaram nos brinquedos dos gatos espalhados por toda parte. Suspirando, ele começo a caminhar pelo corredor. Ele tira os sapatos enquanto o fazia, mantendo o casaco que Ryland colocou sobre seus ombros, o mais velho o segue resmungando algo sobre ele ser ingrato.

Klaus parou de andar assim que avistou Laurent no sofá.

Por um momento, parecia que nada mudou desde a última vez que ele esteve na cobertura. Laurent estava sentado de pernas cruzadas no sofá, vestindo um dos moletons velhos de Klaus, Marius em seu colo, acariciando o tecido da peça de roupa e ronronando enquanto fazia isso. Laurent ergueu os olhos do gato e seus olhos encontraram os de Klaus. O vampiro o observou por alguns momentos com um olhar incrivelmente impressionado, o cabelo vermelho uma bagunça desgrenhada em sua cabeça.

"Você está de volta", disse ele no final com uma voz monótona.

Ah. Ele estava bravo.

"Sim," Klaus soltou o ar e então começou a se encaminhar para o sofá. "Desculpe se estou atrasado."

A mandíbula de Laurent apertou por um segundo antes de sua atenção mudar para Ryland.

"Oi, Ry," ele disse com um pequeno sorriso.

"Ei, Laurie."

Klaus congelou na frente do sofá, encarando os dois com olhos arregalados.

Bem, isso é - Deus, inesperado é um eufemismo.

Klaus deixou seu corpo cair no sofá, o que acabou sendo um erro quando uma onda de dor surda, mas ainda eficaz, saiu de seu ombro e atravessou seu peito. Ele estremeceu e respirou profundamente pelo nariz, esperando que Ryland não percebesse nada.

"O que tem nesse saco?" Laurent perguntou e ele apontou para o saco de papel que Ryland estava segurando.

"Ah, sim", ele respondeu, colocando o saco no sofá ao lado de Laurent. "Você vai encontrar algumas coisas que Klaus vai precisar. Ataduras limpas, desinfetante para as feridas. E uma porrada de remédios. Você vai ter que ajudá-lo um pouco, limpar as feridas, trocar ataduras e tudo mais."

Laurent piscou. "Oh."

Klaus engoliu em seco e olhou para seu colo. Marius se moveu das pernas de Laurent, atualmente fazendo seu caminho até Klaus com passos desajeitados sobre as almofadas.

"Se você não se sentir confortável fazendo isso, então posso enviar outra pessoa para ajudar Klaus," Ryland ofereceu em um murmúrio. "August, ou-"

"Eu vou fazer isso." Laurent acenou com a cabeça. "Está tudo bem. E os remédios?"

"Ah, tem um papel na sacola com a dosagem e tudo que você precisa. Vai ser fácil se Klaus cooperar."

Klaus rolou os olhos. Marius conseguiu subir em seu colo agora e ele parecia bastante inflexível em esfregar o rosto na barriga de Klaus, choramingando alto.

"Tem comida na geladeira?" Ryland perguntou então.

"Sim."

Klaus acariciou as costas de Marius e então pegou seu maço de cigarros do bolso do casaco. Ele colocou um entre os lábios e o acendeu, exalando uma nuvem de fumaça com um suspiro. Havia um cinzeiro na mesinha de centro, cheio de pontas de cigarro. Cheirava mal, Klaus se perguntou se Laurent o limpou durante a semana.

"Bem, eu vou então," Ryland disse enquanto se endireitava. "Tudo o que vocês precisam, é só me ligar."

Laurent acenou com a cabeça, trazendo os joelhos perto do peito. "Certo. Até, Ry."

Antes de partir, Ryland lançou um olhar para Klaus e, pela vida dele, Klaus não tinha ideia do que diabos o homem estava tentando dizer a ele. Talvez para não estragar tudo.

O silêncio que se seguiu quando Ryland estava no elevador tornou-se rapidamente insuportável. Klaus continuou fumando seu cigarro, ouvindo as portas do elevador se fechando. Quando ele se inclinou para frente para bater o cigarro no cinzeiro, ele não perdeu a maneira como Laurent sutilmente se contorceu no sofá, fugindo para longe dele.

Klaus manteve um suspiro para si mesmo e se inclinou para trás em sua cadeira. Marius estava olhando para ele com os olhos arregalados, as orelhas se mexendo.

"Estou vendo coisas ou ele cresceu?"

Laurent não respondeu.

O gato cresceu, no entanto. Ele estava parecendo cada vez mais com um gato adulto, não apenas uma pequena bola de pelo preto. Klaus deu uma tragada e começou a acariciar o gato novamente.

"Você está com raiva?"

Laurent respirou fundo.

"Não", ele respondeu.

Besteira.

"Está sim." Por um segundo, Klaus tentou levantar a mão esquerda para acariciar o pelo do gato, apenas para ser lembrado de que ele ainda não conseguia mover o braço.

"Eu não estou com raiva."

"Eu posso sentir."

"Eu disse que não estou bravo."

Sim, ele com certeza disse isso. Pena que o instinto de perigo de Klaus estava gritando em sua cabeça, como se ele estivesse trancado numa jaula com um leão estressado.

De repente, Laurent se virou no sofá.

"Na verdade, você sabe o quê?" Ele murmurou, olhando para Klaus. "Eu estou. Estou puto pra caralho."

Lá se vai.

Klaus suspirou e olhou para Laurent. "Eu sei que você está."

"Estou fodidamente lívido."

"Eu sei."

"Você não pode usar Spencer. Você não pode." Laurent engoliu pesadamente. "Você o colocou em perigo. Eu não dou a mínima para a vida que você vive, você não pode usar o meu amigo para o seu trabalho. Ele já está muito envolvido nisso por causa de August, você precisa ficar longe dele. "

Klaus estalou a língua. "Acredite em mim, já me disseram isso. Também gostaria de lembrar a você que eu tomei um tiro para salvar seu amigo, mas ok, tudo certo."

"Nunca mais," Laurent sibilou, os braços em volta de suas pernas. "Você nunca mais use Spencer novamente."

"Laurent," Klaus começou a dizer. "Eu não tive escolha."

"Foda-se, isso é besteira. Você poderia ter me contado a verdade. Não, você deveria ter me contado a verdade sobre por que estava indo para o Nightshade e com quem."

Klaus arqueou uma sobrancelha. "Oh, então o que você está dizendo é que, se eu tivesse te contado a verdade, você teria me deixado ir e fazer minhas coisas sem lutar?"

Laurent ficou rígido em um momento, os lábios pressionados firmemente juntos.

Porra, Klaus podia estar cansado e dolorido em todos os lugares, isso não significava que ele iria se sentar e deixar Laurent dizer o que quer que passe por sua cabeça. Chame-o de mesquinho, mas ele quase morreu pelo maldito yuurei, ele realmente não sentia vontade de ser insultado.

Então os olhos de Klaus se movem para as mãos de Laurent. Em seguida, para seu pulso.

Um pedaço de pele mais claro.

Merda.

Laurent piscou, engolindo seco e então balançou a cabeça.

"Eu preciso de uma bebida", ele murmurou antes de se levantar do sofá.

Klaus gostaria de lembrar a Laurent que era um pouco demais, então talvez ele devesse se acalmar; mas ele ficou quieto, bem ciente de que Laurent poderia muito bem chutá-lo no rosto se ele quisesse.

O vampiro caminhou até o armário de bebidas e o abriu, examinando as garrafas por alguns segundos antes de pegar um conhaque velho e terrivelmente caro. Ele colocou a garrafa na mesa ao seu lado e depois pegou um copo também, fechou o armário e se virou, apenas para jogar o copo no chão. Ele se estilhaçou ruidosamente, Laurent encarando seus pés em silêncio.

"Puta merda", ele murmurou, então se agachou atrás da mesa.

Klaus jogou a cabeça para trás e respirou fundo. Este dia não começou bem.

"Porra!"

Klaus olhou para o armário, Laurent ainda estava agachado atrás da mesa, então ele não podia realmente vê-lo, mas não era preciso muito para adivinhar o que aconteceu.

"Você se cortou?”

Sem resposta.

"Merda, Laurent," Klaus gemeu. Ele jogou o cigarro no cinzeiro e então gentilmente pegou Marius e o colocou de volta no sofá antes de se levantar e caminhar até Laurent. "Você pode ser mais desajeitado? Comprei os malditos copos na China, eles são caros-"

O coração de Klaus caiu em seu peito por um segundo quando seus olhos pousaram no corpo trêmulo de Laurent, enrolado sobre si mesmo e segurando sua mão esquerda. Klaus rapidamente chutou os cacos de vidro para fora do caminho e então se ajoelhou na frente do vampiro.

"Ei. Vamos, me dê sua mão."

Laurent pareceu apenas ficar menor com isso e Klaus engoliu uma onda de preocupação. Ele praguejou baixinho e agarrou o pulso de Laurent, puxando com mais força quando Laurent tentou puxar seu braço. O corte não era profundo e nem tinha muito sangue na pele, com a regeneração dele ia sumir em menos de uma hora. Mas Laurent simplesmente não parava de tremer e olhar para o chão, a outra mão fechada em punho sobre o joelho.

"Laurent," Klaus chamou cuidadosamente. "Não é profundo. Quero dizer, você está bem."

"Eu estou tão-" Laurent sibilou, sua cabeça ainda baixa. "Estou tão bravo com você."

Klaus suspirou. Ele deveria ter previsto isso, realmente.

"Eu sei que você está."

"Estou bravo. Estou bravo porque você - você usou Spencer. Porque ele correu perigo. Estou furioso porque você o fez falar sobre aquela noite."

Porra, eles disseram a ele.

Klaus agarrou a mão de Laurent com mais força, seu polegar pressionando os nós dos dedos.

"Eu sinto muito."

Laurent finalmente ergueu os olhos, olhos arregalados e marejados com o que deviam ser lágrimas de frustração ou de raiva.

"Se eu quisesse que você soubesse sobre aquela noite, eu teria te contado!" Laurent gritou. "Eu não queria que você soubesse!"

"Eu sei."

"Eu não queria que ninguém soubesse! Ninguém!" Laurent estremeceu, os lábios tremendo. "E agora todos eles sabem! Eles sabem sobre aquela noite!"

"Merda, Laurent, eu não sabia!" Klaus gritou de volta. "Eu não tinha ideia de que seria algo assim, eu só - sinto muito! Estou falando sério, sinto muito e-"

"Achei que você fosse morrer!"

A voz de Laurent ecoou na sala por causa do quão alto ele gritou e Klaus parou completamente. O peito de Laurent estava pesado, sua respiração saindo curta e irregular e então suas feições se contorceram miseravelmente. Um soluço destruiu seu corpo e ainda assim Klaus pôde vê-lo enquanto ele tentava obstinadamente impedir as lágrimas de derramar.

"Estou tão puto! E-eu te disse! Não se mate, eu te disse!"

"Laurent."

"Você levou um tiro!" Laurent estremeceu. "Eu não...não durmo há dias porque você...você não estava aqui! Porque você levou um tiro! Eu te disse para...Deus, você quase morreu! Você-"

"Venha aqui," Klaus murmurou. Ele puxou o braço de Laurent e Laurent facilmente se deixou ser puxado para frente. "Eu sinto muito."

Laurent pressionou sua testa contra o ombro direito de Klaus e sua mão foi para a camisa dele, puxando-a.

"O que eu farei se - se você morrer?!" Laurent gritou novamente, mas sua voz falhou imediatamente. "Você não pode morrer! Você - você deveria me manter seguro, você não pode morrer! Eu não vou permitir que você morra!"

Klaus moveu sua mão para a nuca de Laurent, o polegar desenhando círculos sobre ela enquanto pressionava seus lábios no topo da cabeça de Laurent.

"Eu não vou morrer."

"Você não pode! Você não pode, porra!" Laurent puxou o tecido da camiseta novamente. "Eu não quero que você morra!"

"Sinto muito, Laurie. Eu realmente sinto."

"Por favor!"

"Eu sei, me desculpe.

"Não, você tem que me prometer!" Laurent de repente ergueu os olhos, seu nariz roçando no de Klaus. "Prometa-me! Prometa-me que não vai morrer!"

Klaus sabia melhor do que fazer promessas como essas.

Esta pode ter sido a primeira vez que Klaus ficou tão perto da morte, mas não é a primeira vez que sua vida corria risco. E ele sabia que isso iria acontecer novamente. Sua vida funcionava assim. Sobrevivência do mais apto e toda essa merda, pode soar clichê, mas seu império foi construído sobre isso. Ele não podia fazer promessas como essas.

Mas - talvez só desta vez.

Mesmo que seja mentira, só desta vez.

"Eu prometo", disse ele. "Eu prometo, Laurent."

Os olhos de Laurent se encheram de alívio e ele soltou um suspiro trêmulo. "Você prometeu."

"Eu prometi."

Laurent fungou. Ele não chorou, ele se recusou, mas parecia tão cansado. Klaus permaneceu imóvel e deixou Laurent enterrar seu rosto na curva de seu pescoço, mantendo-o perto dele.

"Por favor," Laurent murmurou em sua pele. "E-eu odeio ficar sozinho. Não me deixe sozinho."

"Eu não vou", diz ele. "Eu não vou embora."

Ele deveria saber melhor do que fazer promessas como essas.

Mas Laurent ainda estava tremendo, ele ainda não soltou sua camisa como se estivesse com medo de que Klaus fugisse, então estava tudo bem se ele fizesse essa promessa.

Klaus disse a si mesmo que, talvez, ele nem esteja mentindo dessa vez.

Laurent é quem quebrou a bolha silenciosa que se formou na sala após alguns minutos. Ele se afastou de Klaus, olhando para ele por alguns momentos e então suspirou.

"Estou sendo um enfermeiro de merda", disse ele. "Não deveria ter você ajoelhado no chão."

Ele se levantou, Klaus também. Laurent não disse nada, ele simplesmente agarrou a mão de Klaus e o puxou para fora do corredor, o guiando até as escadas.

Parecia ridículo pra caralho, mas subir aquelas escadas conseguiu drenar Klaus de qualquer energia que ele tinha. Laurent foi paciente, subindo cada degrau lentamente, segurando a mão de Klaus e mantendo os olhos nele, certificando-se de que ele não cairia ou que suas pernas não desistissem repentinamente dele. Assim que eles chegaram ao segundo andar, Klaus estava sem fôlego e seus olhos ardiam.

“Os remédios", disse ele. "Eles-eles são fortes pra caralho."

"Você levou um tiro, não precisa se desculpar."

Klaus respirou fundo, suor escorrendo em sua testa. Ele lambeu os lábios e acenou com a cabeça, então Laurent começou a andar novamente.

O quarto de Klaus parecia exatamente como ele o deixou. A cama estava uma bagunça de lençóis desgrenhados, mas ele não se importava. Ele permitiu que Laurent tirasse o casaco de seus ombros, então ele imediatamente arrastou seu corpo para o colchão.

"Você devia trocar de roupa", disse Laurent.

"Não, estou muito cansado." Klaus se levantou da cama e se deitou de costas. Ele suspirou pesadamente quando sua cabeça tocou os travesseiros. "Eu só quero dormir."

Laurent ficou no meio do quarto por alguns segundos antes de deixar cair o casaco no chão e subir na cama. Klaus tirou o braço bom de seu peito para que Laurent pudesse rastejar e descansar a cabeça lá como sempre fez. O ruivo hesitou, porém, olhando para Klaus com uma expressão comprimida.

"É meu ombro esquerdo, não este."

"Não vai doer?"

"Não, não vai." Klaus suspirou. "Vamos, Laurie, apenas deite."

Laurent revirou os olhos, mas ele obedeceu. Com muito cuidado, Laurent se deitou ao lado de Klaus e descansou sua cabeça no peito dele. Ele suspirou um pouco e se permitiu relaxar quando Klaus começou a acariciar seus cabelos.

"Não deveríamos dormir. Você precisa tomar seus remédios."

Klaus gemeu. "Estou cheio dessa merda, preciso descansar. E você também."

"Estou bem."

Maldição, ele ainda é teimoso.

"Você não está," Klaus murmurou, seus olhos já fechados. "O que há com a cama, mh? Por que está tão bagunçada?"

Laurent fez um pequeno som em resposta. Klaus abriu os olhos e tentou capturar os olhos de Laurent, mas ele começou a esfregar o nariz levemente em seu peito e não parecia muito interessado em lhe dar uma resposta.

"Laurent?"

"Mmh?"

"A cama. Por que está tão bagunçada?"

"Não consegui dormir", respondeu Laurent. "Na minha cama. Não consegui dormir sozinho, então tentei dormir aqui. Porque cheira a você."

Klaus não pôde evitar um sorriso. "Funcionou?"

"Não. É por isso que está bagunçado." Laurent inalou profundamente e, finalmente, ele olhou para cima.

Bonito. Sempre tão bonito.

Porra, Klaus sentia falta dele.

"Você sabe," Laurent começou a dizer. "Acho que essa cidade se tornou mais sombria."

Klaus franziu a testa. "Mais sombria?"

"Sim. Sempre esteve escuro, mas - era vermelho antes, agora está quase preto." Laurent umedeceu os lábios. "Ela agora é voraz agora. Come todos vivos. Eu posso sentir isso."

Klaus assentiu. "Ela sempre foi insaciável."

Laurent não disse nada depois disso. Ele se moveu para que possa pressionar o nariz contra a lateral do pescoço de Klaus e então fechou os olhos, respirando profundamente.

Os olhos de Klaus encontraram o pulso de Laurent novamente. Lentamente, Klaus moveu seu braço bom para a cintura de Laurent e então ele segurou seu pulso com cuidado. Laurent se enrijeceu imediatamente, mas Klaus não conseguiu sentir nada.

"Laurent." Klaus pressionou o polegar sobre a cicatriz. "Por que você não disse a Cassie?"

Laurent soltou um suspiro. Ele não respondeu por tanto tempo que Klaus pensou que não receberia uma resposta, pelo menos não esta noite. Ele continuou acariciando o polegar sobre a cicatriz leve no pulso de Laurent, pensando que era muito fina e delicada, que qualquer um poderia quebrá-la novamente.

Até ele.

"Não sei por que não contei a ela," Laurent murmurou de repente. "Talvez porque eu estava com medo."

O estômago de Klaus se revirou com algo amargo. "Dele?"

"Não", respondeu Laurent. "Eu estava com medo de contar a alguém sobre isso. Eu ainda estou. Estou com medo de contar a alguém sobre o que aconteceu."

Klaus pressionou seu polegar no pulso de Laurent com mais força.

"Por que?"

"Porque", murmurou Laurent. "Isso faria com que parecesse real."

Uma maré.

Klaus virou a cabeça para Laurent, que ainda estava escondido na curva de seu pescoço. Ele enterrou o nariz no cabelo dele e respirou fundo.

"Meu anjo, já é real."

Laurent estremeceu, sua mão agarrando a camisa de Klaus e ele pressionou seu rosto com mais força contra a pele. Então ele falou com uma voz muito baixa:

"Eu sei que é. Simplesmente não parece real. Não quero que pareça."

Uma maré.

Seria como uma maré.

⸎⸺⸺⸺⳹۩۩⳼⸺⸺⸺⸎

Klaus costumava ter um bom relacionamento com Valium.

Ele tomava dois, às vezes três, das pílulas azuis com um bom copo de Chardonnay e então se deitava, esperando. Não era o sentimento duradouro em si que Klaus ansiava, mas o momento em que a droga realmente fazia efeito.

Klaus estava no apartamento de Hanzo e Aiko, deitado em suas camas, completamente nu. Ele suspirou quando sentiu uma névoa familiar envolvendo sua mente, um sorriso curvando seus lábios. Sua respiração estava desacelerando tão facilmente que ele se sentia tonto da melhor maneira. Sem peso. Como se algo estivesse saindo de seu corpo.

Ele se sentia bem.

A cama afundou sob o peso de alguém, então uma mão começou a se mover em seu peito, o toque quase como uma pena, fazendo cócegas.

"Olhe para você," Hanzo sussurrou em seu ouvido. "Você parece tão feliz, lindo."

Klaus assentiu. Ele queria dizer a Hanzo que ele não apenas parecia feliz, ele se sentia feliz. Na porra das nuvens nove. Tocando o céu com um dedo. Mas sua boca estava um pouco lenta e ele temeu que as palavras não saíssem do jeito que ele queria. Além disso, essas palavras seriam apenas mentiras.

Ele não se sentia feliz.

Hanzo pressionou seus lábios no pescoço de Klaus, sua língua pressionada contra ele enquanto ele lambia a pele. Klaus suspirou e expôs mais o pescoço.

Foi fácil assim.

A cama afundou mais uma vez, então um peso se acomodou em seu colo. Klaus conseguiu abrir os olhos, piscou várias vezes e conseguiu focar sua visão em Aiko, que estava olhando para ele com aqueles olhos dela, tão incrivelmente azuis que quase pareciam feitos de gelo.

"O querido quer se divertir?" Ela perguntou, já desfazendo o cinto que mantinha seu robe de seda preso em sua cintura.

Klaus conseguiu levantar a mão para apoiá-la em sua coxa, massageando sua carne.

"Ele sempre quer se divertir," murmurou Hanzo. Sua mão se moveu entre as pernas de Klaus e enrolou em torno de seu pênis, acariciando-o lentamente.

"Mmh." Klaus se arqueou um pouco na cama.

"O que você quer, lindo?" Hanzo perguntou. "Quer que eu monte em você?"

Isso soou bem. A mente de Klaus estava muito confusa para realmente dizer isso em voz alta, mas ele concordou mesmo assim. Aiko se abaixou para beijá-lo, lenta e profundamente como sempre fazia, então ela desceu de seu colo. Hanzo moveu-se para cima dele, as pernas abertas de cada lado do quadril de Klaus.

Klaus os deixou fazer o que quisessem, ele se permitiu gemer baixinho quando Hanzo começou a acariciar seu pênis mais rápido, cobrindo-o com lubrificante, sons úmidos enchendo a sala e alimentando o calor de Klaus. Ele olhou para Hanzo e ele sempre era tão bonito quando estava prestes a ser fodido, corado e com fome. Sempre tão bonitos, os dois. Aiko estava lambendo os mamilos de Klaus, mordendo a protuberância endurecida com força, fazendo Klaus engasgar com um gemido enquanto Hanzo continuava massageando a cabeça de seu pênis.

"Você vai me foder bem, Klaus?" Hanzo perguntou. "Quero que você me foda com tanta força que sinto isso por dias, lindo. Quero levar uma surra."

Klaus lambeu os lábios secos e então conseguiu desferir um forte tapa na lateral da coxa de Hanzo.

"Então faça isso, porra," Klaus murmurou, suas unhas arranhando a mancha avermelhada na perna do homem. "Foda-se no meu pau, vagabundo."

Os olhos de Hanzo vibraram, um gemido crescendo em sua garganta enquanto ele se abaixava no pau de Klaus, apertando em torno dele, apertado e quente.

Klaus lembrava o quanto ele gostava disso quando se sentia tão leve.

Até um pouco entorpecido. Sem ossos e sem oxigênio suficiente chegando ao cérebro. Parecia algo próximo ao êxtase.

Ah.

Sem peso, sem ossos, com falta de ar.

Isso também parecia uma maré.

⸎⸺⸺⸺⳹۩۩⳼⸺⸺⸺⸎

Klaus acordou e, ele jurava por Deus, se sentia como se tivesse engolido areia.

"Porra", ele gemeu, fechando os olhos com força novamente.

Seu corpo inteiro parecia muito pesado, como se alguém tivesse amarrado pedras em suas pernas e braços, e sua garganta estava muito seca e realmente ardia. Ele também se sentia bastante nojento, suas roupas grudando em sua pele coberta de suor e ele sabia que não cheirava bem. Ele tentou se mexer na cama, mas assim que se moveu, seu ombro esquerdo doeu em protesto. Desta vez, porém, a dor não era a sensação habitual de entorpecimento a que ele se acostumou; era afiada e terrível, se movendo por seu corpo, queimando sob a pele. Klaus estremeceu e manteve um gemido de dor para si mesmo mordendo o lábio inferior.

Merda.

"Sua vez."

Klaus engoliu o gemido que estava se formando em sua garganta e abriu os olhos. Laurent estava parado na frente de seu armário aberto e estava olhando para ele com uma expressão comprimida.

"Que horas são?" Klaus perguntou. Doía falar e sua voz soava como se ele estivesse dormindo há dias.

"São quase oito da noite. Você dormiu muito." Laurent se voltou para o armário e começou a mexer nas roupas. "Mas você começou a suar muito em um ponto, então estou pegando algumas roupas secas."

Klaus lentamente se levantou, colocando seu peso no braço bom. Ele grunhiu enquanto fez isso, parecendo que não havia um grama de energia sobrando em seu corpo e tudo dói.

“Você não está com febre, incrivelmente,” Laurent então disse. Ele pegou um suéter e depois uma calça de pijama que Klaus esqueceu que já teve. "Eu acho que seu corpo está apenas suando os remédios."

Klaus assentiu. Ele se deitou na cabeceira da cama e suspirou pesadamente, uma gota de suor escorrendo por sua têmpora.

"O efeito definitivamente se foi", ele murmurou.

"Sim, eu desci e verifiquei o saco que Ryland me deixou. Você deveria tomar seus remédios agora, mas você está com o estômago vazio." Laurent foi até a cama e jogou as roupas limpas no colchão. Então ele se abaixou e pegou do chão o saco de papel que Ryland deixou, colocando-o na cama também. "Vou te alimentar com algo daqui a pouco. Mas você precisa beber alguma coisa, deixei um copo d'água aí para você."

Klaus olhou na direção para onde Laurent acenou com a cabeça e encontrou um copo na mesinha de cabeceira. Ele se virou um pouco, ignorando outra onda de dor aguda (realmente precisava tomar seus malditos analgésicos logo ou ia perder a cabeça) e agarrou a água.

"Obrigado, mãe", ele murmurou antes de levar o copo aos lábios. Ele deu um pequeno gole no início, mas assim que a água atingiu sua língua, ele percebeu o quanto estava sedento e começou a engolir o líquido gelado com avidez.

"Não sou sua mãe," Laurent disse enquanto se ajoelhava na cama. "Eu sou um enfermeiro."

Klaus bebeu todo o copo d'água e lambeu os lábios molhados. "Então onde estão as meias brancas?"

Laurent lançou a ele um olhar não impressionado. "Se você tiver energia suficiente para fazer piadas, isso será fácil, mon coeur."

Klaus colocou o copo de volta na mesa de cabeceira. "E?"

"Eu tenho que limpar essa sua ferida."

Klaus congelou.

Merda.

Laurent pareceu notar isso, enquanto parava de remexer no conteúdo da sacola de papel para encarar Klaus com uma carranca.

"O que?"

"Você não - quer dizer, Ryland está certo, outra pessoa pode fazer isso", disse Klaus. Seu coração estava batendo muito rápido no peito, seu estômago se contraindo dolorosamente. "Eu posso ligar para August ou- ou Lisbeth."

Laurent arqueou uma sobrancelha. Ele suspirou e pegou um pacote cheio de curativos limpos e um frasco do que devia ser uma solução de cloreto de sódio. Laurent jogou ambas as coisas mais perto de Klaus, então ele pegou outra caixa de plástico da sacola, parecendo algum tipo de kit, então uma sacola de plástico menor que continha luvas esterilizadas.

"Eu farei isso", disse Laurent. Ele se aproximou de Klaus e moveu todos os objetos de que precisava em uma linha organizada no colchão. "Não é a primeira vez que limpo feridas."

"Isso não é-"

"Naquela época eu nem tinha coisas chiques como luvas e ninguém morreu, então-"

"Laurent."

O vampiro parou no ato de rasgar a bolsa de luvas e olhou para Klaus.

"O que?"

"Eu-" Klaus engoliu. Ele olhou para seu colo, tentando encontrar as palavras certas. Ele estava muito cansado e dolorido para isso, no entanto. "Eu não gosto disso."

"Você realmente não quer que eu te veja nu, quer?" Laurent inclinou a cabeça para o lado. "Não o seu peito."

Klaus olhou para ele por alguns momentos antes de acenar com a cabeça. Laurent respirou fundo e não pareceu irritado... Talvez preocupado.

No final, Laurent colocou as luvas e se sentou no colo de Klaus. Ele fez isso com cuidado, não colocando todo o seu peso para baixo, mas ele encarou Klaus nos olhos com algo intenso em seu olhar. Klaus estremeceu.

"Você disse que não são cicatrizes", disse Laurent. Suavemente. Silenciosamente. "Ou pelo menos não por causa das cicatrizes."

Klaus apertou a mandíbula. Ele realmente odiava se sentir assim.

Ele preferia se sentir leve por um tempo.

Não afundando.

"Você tem vergonha?" Laurent perguntou. Ele levantou a mão e a pressionou levemente contra a bochecha de Klaus, fazendo círculos com o polegar logo abaixo de seu lábio inferior. "De tudo o que você não quer que eu veja?"

Klaus não gostava disso.

Ele não gostava de como Laurent estava sendo gentil, não gostava da intensidade de seu olhar, ou do jeito que Laurent parecia comovente quando estava preocupado.

"Eu não sei," Klaus finalmente respondeu. "Eu só não quero que você veja."

"Você disse que eu teria visto em algum momento." Laurent sorriu um pouco. "Eu posso muito bem ver agora. Você não está se sentindo bem, mon coeur, deixe-me terminar logo para que eu possa lhe dar um pouco de comida e seus analgésicos, hein? Você não quer que a dor vá embora?"

Ele realmente queria.

Os remédios o faziam se sentir melhor, seu ombro não gritava de dor a nenhum movimento que ele fazia quando tinha esses medicamentos em seu sistema.

Puta merda, isso é horrível pra caralho.

Patético.

"Tudo bem," Klaus suspirou. "Tudo bem."

Laurent foi rápido em colocar as luvas brancas, o látex fazendo barulho quando Laurent as arrumava para que não ficassem tortas sobre seus dedos.

Ele hesitou por um momento quando teve que desabotoar os botões da camisa de Klaus. Ele mandou um olhar para Klaus, como se fosse avisá-lo, e então começou a desfazê-los um por um, lentamente. Assim que ele terminou e empurrou a camisa, Klaus decidiu olhar para Laurent. Ele queria ver se haveria uma reação.

Talvez não haja.

Talvez seja só ele.

Não.

Não, há uma reação.

Os olhos de Laurent se arregalaram enquanto se concentraram no peitoral esquerdo de Klaus. Seus lábios se apertaram e se curvaram. A cor se esvaiu de seu rosto.

Ele parecia enojado.

Laurent nunca olhou para ele como se ele fosse algo nojento. Nem mesmo quando se encontraram pela primeira vez. Klaus se contorceu sob Laurent e desviou o olhar, sentindo que ia vomitar de repente. Então Laurent agarrou seu queixo e empurrou seu rosto em sua direção.

"Sinto muito", disse ele. Ele não parecia mais chateado. Suas feições eram suaves e seus olhos quentes. "Está tudo bem, mon coeur."

Oh.

É isso?

Laurent forçou um sorriso tenso. "Vamos acabar logo com isso, hein?"

"Sim," Klaus sussurrou. "Por favor."

Laurent o ajudou a tirar a camisa do corpo de Klaus e seus dedos se moveram com cuidado quando ele se livrava das bandagens sujas. Klaus achou engraçado que quando Laurent olhava para a ferida, ele não parecia tão enojado quanto antes.

Klaus olhou para seu ombro e fez uma careta ao vê-lo. O cirurgião fez um bom trabalho, isso é certo. A ferida foi costurada com cuidado e, mesmo que a pele estivesse incrivelmente avermelhada e parecesse que estava latejando, iria sarar bem. Klaus não conseguia ver o ferimento na parte de trás do ombro, mas ele imaginava que deveria estar igual, talvez um pouco pior considerando que foi de onde saiu a bala.

"Parece bom.", disse Laurent enquanto coletava do kit de plástico algumas almofadas limpas. Ele umedeceu-os com a solução de cloro e começou a limpar o ferimento. E isso dói pra caralho.

"Puta que pariu!" Klaus sibilou.

"Ah, não se mova." Laurent estalou a língua. "Sério, eles me disseram que quando você levou um tiro, você nem percebeu, mas você fez toda essa cena para a porra de uma almofada de algodão?"

"Eu estava com muita adrenalina, seu merdinha."

"Apenas cale a boca, eu tenho que limpar o do outro lado também."

Klaus recorreu a gemer um pouco mais alto sempre que Laurent passava o algodão na ferida, ignorando os olhos revirados que Laurent lhe enviava. Mas o ruivo fez o possível para ser rápido. Ele limpou o primeiro ferimento e então ajudou Klaus a se inclinar para frente para que ele pudesse fazer o tratamento no ferimento atrás de seu ombro.

Klaus apenas pressionou sua testa contra o peito de Laurent e inalou profundamente, deixando o cheiro dele encher seus pulmões e deixar sua mente um pouco tonta. Se ele se concentrasse nisso, mal sentiria a dor.

"Lá vamos nós", disse Laurent. Ele cuidadosamente empurrou Klaus para trás e então tirou as luvas sujas. Ele os colocou na mesinha de cabeceira ao lado das almofadas de algodão que usou e se moveu para pegar um par de luvas limpas e novas bandagens.

"Você está sendo meticuloso e tudo," Klaus murmurou.

"Não quero que você pegue uma infecção. Ryland me mataria."

"Nah, ele gosta de você agora."

Laurent sorriu, então ele colocou um grande pedaço de algodão sobre o ferimento frontal. Ele o prendeu lá com um esparadrapo e fez o mesmo com o outro ferimento.

"Por que ele gosta de você?"

"Eu não tenho ideia, você deveria perguntar a ele.

Klaus se acostumou com as agudas pontadas de dor, ou ele estava muito cansado para realmente sentir mais. Laurent fez um curativo em seu ombro de forma rápida e precisa, colocando-o em camadas apenas duas vezes e certificando-se de que não estava muito apertado.

"Feito", disse ele. Ele começou a colocar os utensílios de volta no kit. "Veja, isso não foi muito difícil."

"Fale por você mesmo."

"Dramático."

"Eu literalmente levei um tiro."

"Agindo como um bebê."

"Eu vou atirar em você também, então veremos quem é o bebê."

Laurent bufou e então se virou para Klaus. Seus olhos caíram para o peito novamente, Klaus sentindo vontade de se contorcer, mas forçando seu corpo a ficar parado. Lentamente, Laurent levantou a mão. Ele hesitou por alguns segundos, então ele começou a traçar as linhas da tatuagem.

Klaus estremeceu.

Laurent permaneceu quieto pelo que pareceram minutos inteiros, olhando para a tatuagem, tocando-a com a ponta dos dedos. Ele se estendeu por todo o seu peitoral esquerdo, terminando logo abaixo das clavículas de Klaus.

"Por que um beija-flor?" Laurent perguntou, sua voz pouco mais alta do que uma respiração.

Ela diria a ele o nome de cada pássaro, não importa quantas vezes Klaus perguntasse. Ela diria a ele cada nome.

"Foi-" Klaus fez uma pausa. Dói falar. "Era o pássaro favorito da minha mãe."

Os olhos de Laurent piscaram para seu rosto por um momento, mas então ele olhou de volta para a tatuagem.

"É assim mesmo?" Laurent engoliu seco. "Eu odeio beija-flores."

"Você definitivamente parece que odeia."

"Não odeio essa tatuagem, só odeio beija-flores." Laurent passou o polegar sobre o pássaro. "Dizem que eles morrem se pararem de se mover."

De alguma forma, isso trouxe um sorriso a Klaus.

"Eu sei."

"Um monte de besteira", murmurou Laurent.

"Eu acho. Sim."

Laurent franziu as sobrancelhas. "Ah", ele respirou. "Parece que está sangrando."

Klaus olhou para o peito com isso.

O beija-flor estava com as asas bem abertas, no meio de um vôo. A plumagem era vermelha. Um vermelho profundo e escuro. Não existiam outras cores, apenas tons de vermelho e o contorno preto do pássaro. As cores estavam borradas nas linhas confinantes, pingando do corpo do pássaro.

"Sim, parece."

"Que triste." Laurent respirou fundo. Ele roçou os nós dos dedos sobre a pele tatuada. "Onde está sua mãe, mon coeur?"

O peito de Klaus doía, apertado com força por algo maldoso.

"Eu me pergunto isso todos os dias", ele respondeu. "Eu não tenho ideia de onde ela está."

Laurent olhou para ele. A intensidade de seu olhar se foi, havia apenas calor. Talvez empatia.

"Eu me pergunto se ela está viva", disse Klaus. "Eu espero que ela esteja."

"Você a ama."

"Sim." Klaus fez uma pausa. "Ela-ela era gentil."

Laurent sorriu um pouco.

"Você é gentil também."

Klaus zombou. "Não, eu não sou nada parecido com ela."

"Você é gentil," Laurent repetiu, desta vez com mais firmeza. "Você é gentil."

Klaus pigarreou. "E seus pais?"

Laurent pisca. "Mh. Mortos em algum vilarejo da França, não sei onde. Eles me deserdaram quando decidi mudar para Paris."

Sim.

Sim, foi empatia.

Laurent então olhou para o braço esquerdo de Klaus. Ele abaixou a mão até que as pontas dos dedos roçaram a palma da mão de Klaus. Ele o agarrou, então, dedos se enrolando em torno dele.

Klaus queria se conter. Ele tentou, mas nada aconteceu.

"Não consigo mover meu braço", disse Klaus.

"Oh."

"Não sei se vou conseguir movê-lo de novo. Pelo menos, não sei se ele vai se mover como antes."

O lábio inferior de Laurent estremeceu por um segundo, seus traços se transformando em uma expressão abatida enquanto ele encarava o braço de Klaus.

Apenas por um momento.

Então ele olhou para Klaus e sorriu.

"Vamos, vou te ajudar a colocar roupas limpas." Laurent desceu do colo de Klaus. "Então, podemos descer e você vai comer. Que tal sorvete, mh? Comprei sorvete, você pode comer isso e então eu lhe darei seus remédios. Podemos apenas assistir TV ou tirar uma soneca, o que quer dê vontade de fazer."

Klaus nem gostava muito de sorvete.

"Sim", ele disse no final, sorrindo um pouco. "Sim, o que quisermos fazer."


~•~

Klaus acordou com gritos.

Na escuridão, com sua mente ainda grogue de sono e os remédios que tomou há algumas horas, Klaus não entendeu o que estava acontecendo a princípio.

Ele sabia que estava no quarto de Laurent, que arrastou seu corpo cansado para lá na noite passada. Ele sabia que ainda era noite, pois o quarto mal era iluminado por uma lua pálida, sua luz filtrando fracamente através das cortinas da janela.

Havia alguém gritando ao longe.

Klaus se levantou, gemendo enquanto uma dor surda latejava em seu ombro. Ele se sentou na cama, piscando para afastar o sono e a gritaria ficando cada vez mais alta, muito mais alta -

Klaus virou para a direita e, de repente, ele estava acordado.

O corpo de Laurent continuava se contorcendo na cama, seus braços dobrados para trás, músculos tensos, mãos abertas como se ele estivesse tentando pegar algo, gritando em seu sono tão alto que o barulho era estalado e terrível e - e parecia que havia algo raspando contra vidro.

"Laurent!" Klaus colocou a mão no ombro dele, sacudindo-o. "Laurent, acorde, é um pesadelo, apenas acorde!"

Isso era errado, tão errado.

Não era assim que os pesadelos de Laurent funcionavam, ele não gritava assim, ele não se contorcia assim, seu corpo não dobrava como se fosse quebrar.

"Laurie, vamos!" Klaus o sacudiu com mais força. Ele também tentou levantar a mão esquerda, mas ela permaneceu imóvel perto do quadril. "Ele não está aqui!"

Os olhos de Laurent finalmente se abriram e ele engasgou, sugando o ar duramente. Seus braços esticaram atrás dele, caindo no colchão. Klaus apertou o braço de Laurent e Laurent gritou novamente.

"Não me toque!"

Klaus conseguiu soltá-lo, mas Laurent apenas puxou sua mão. Ele rolou de bruços, seus joelhos mal o mantendo de pé e então ele rastejou para longe, ofegando pesadamente e tremendo. Klaus permaneceu congelado, seu coração batendo descontroladamente em seu peito. Laurent rastejou até a beira da cama até cair no chão com um baque forte.

"Merda!" Klaus também saiu do colchão. Ele andou ao redor da cama com as pernas trêmulas e parou na frente do corpo trêmulo de Laurent. "Merda."

Ele parecia tão pequeno enrolado sobre si mesmo no chão, tremendo e ofegante, ofegando sempre que conseguia colocar um pouco de ar nos pulmões, com os braços em volta de si mesmo.

Klaus se ajoelhou no chão e tentou se aproximar, mas Laurent ficou ainda menor.

"Na-não me toque, não me toque!"

"Ok. Ok, eu não estou tocando em você."

"Por favor!"

"Não vou tocar em você."

Klaus se moveu para trás para que ele pudesse colocar alguma distância entre eles. Laurent estava dando as costas para ele, Klaus não podia ver seu rosto, mas ele jurava que Laurent não estava chorando. Ele estava apenas tremendo. E tentando respirar. E embalando seu pulso em seu peito.

Ele parecia tão pequeno.

"Não me toque", choramingou Laurent.

"Não vou tocar em você", ele murmurou. "Eu não estou tocando em você."

"Não me toque, não me toque. Não é minha culpa." Ele gemeu, agudo e trêmulo. "Me desculpe, não é minha culpa."

Marie disse que quando ele falava, ele os fazia acreditar no que ele diz.

"Saia, por favor." Laurent estremeceu. "Por favor. Tire-o de cima de mim."

Merda.

Klaus não se moveu de onde estava ajoelhado no chão. Ele não podia se mover. Ele apenas ficou sentado lá, tentando mover o braço esquerdo e falhando, tentando respirar. Ele apenas ficou sentado lá.

"Tire ele de cima de mim."

Ele não podia fazer nada.

O sol iria nascer em breve.

O céu negro já se transformou em um cinza pálido, as nuvens estavam começando a cobri-lo. Mais neve estava a caminho.

As pernas de Klaus doíam, mas ele não se moveu. Ele não se moveu por horas.

Laurent continuou está deitado no chão, enrolado em si mesmo, tremendo e choramingando. Por horas, ele murmurou coisas tão baixinho que Klaus não conseguia entender nada. Mas ele podia imaginar.

Klaus não sabia se Laurent estava dormindo, se ele desmaiou ou se ainda estava acordado. Ele não sabia como verificar, ele tinha medo de que se ele se mexesse...

Ele estava apavorado.

Ele se perguntava se Laurent se sentia assim.

Impotente.

Laurent estremeceu mais violentamente, parando por um momento, apenas para começar a tremer novamente e então ele começou a levantar o braço. Klaus permaneceu congelado e observou Laurent enquanto o jovem lentamente movia seu braço sobre sua cintura. Ele parou ali, com o braço levantado no ar, respirando com dificuldade, como se apenas aquele pequeno movimento o drenasse de todas as suas forças.

Novamente, ele começou a mover o braço.

Ele se esticou para trás, em direção a Klaus, mão aberta.

Klaus não sabia o que fazer.

Laurent fez um pequeno som, esticando os dedos e, finalmente, o corpo de Klaus começou a trabalhar novamente. Cuidadosamente, Klaus agarrou a mão de Laurent, entrelaçando seus dedos. A mão de Laurent se fechou com força em torno da dele, apertando-a dolorosamente. Então Laurent puxou, tentando puxá-lo para mais perto e as pernas doloridas de Klaus o empurraram para frente.

Klaus envolveu seu braço esquerdo em volta da cintura de Laurent e pressionou o nariz no cabelo dele.

Após um momento de silêncio, com Klaus pressionando-o contra seu peito, Laurent pareceu quebrar. Ele não tremeu quando começou a chorar, não gemia nem soluçava. Ele apenas ficou lá, chorando baixinho, agarrando-se à mão de Klaus.

"Sinto muito," Klaus murmurou contra seu cabelo. "Sinto muito, Laurent."

Laurent encarou a sua frente, olhos desfocados nos pés da cama, apertando a mão de Klaus com mais força.

"Me desculpe, me desculpe."

De repente, Laurent respirou profundamente. Ele levou a mão ao próprio rosto e começou a enxugar as lágrimas do rosto.

"Eu-" Laurent fungou. "Eu qu-quero me-me-"

"Você quer se levantar?"

Ele concordou.

Klaus se afastou ligeiramente para permitir que Laurent mudasse de posição, sem soltar sua mão.

Laurent tentou colocar seu peso nos cotovelos, mas seus braços tremiam e desistiram dele imediatamente. Laurent pressionou sua testa no chão, fazendo um som de frustração. Ele tentou novamente, desta vez mais rápido também para se ajoelhar. Ele ficou nessa posição por alguns segundos, respirando rápido. Laurent agarrou a borda do colchão e então se levantou. Ele se pressionou contra a cama então, a mandíbula cerrada dolorosamente, antes de tentar se levantar no colchão.

Seus braços escorregaram da borda e Laurent choramingou. Klaus tentou soltar sua mão, mas Laurent a segurou com mais força.

"Eu só vou te ajudar."

"Não."

"Laurent."

"Mmh." Laurent balançou a cabeça. "Na-não."

Sempre tão teimoso.

Todo aquele orgulho naquele corpo.

Klaus estava com o coração partido.

Laurent tentou novamente, conseguindo se levantar até que seu peito estivesse na cama. Ele engoliu o que devia ser um soluço, então suas pernas o empurraram fracamente. Ele se agarrou aos lençóis com a mão livre, usando os cotovelos e joelhos para subir na cama e conseguiu se arrastar até o meio do colchão antes de se jogar nele. Ele é aquele que soltou a mão de Klaus enquanto se deitava exausto, com o peito arfando.

Klaus fechou os olhos, respirando fundo, tentando se recompor e então subiu na cama também. Ele agarrou um dos travesseiros e o empurrou sob a cabeça de Laurent, ele conseguindo levantá-la um pouco para ajudá-lo a fazer isso. Klaus se deitou de lado na frente de Laurent então. Ele levantou a mão direita e começou a acariciar o cabelo, o braço esquerdo colocado inutilmente entre eles.

Eles não falam.

Laurent olhou para ele com os olhos cansados, sua respiração lentamente se apagando. Sua pele estava mais pálida que o normal e Klaus sentia vontade de vomitar. Laurent suspirou e então ele enrolou seus dedos ao redor da mão esquerda de Klaus antes de se inclinar para frente. Ele começou a acariciar a garganta de Klaus, muito fracamente. Quase inutilmente.

Para que Laurent está fazendo isso?

O peito de Klaus doía pra caralho.

"Tô-" Laurent engoliu alto. "estou deixando você triste de novo."

Isso doía pra caralho.

"Sim," Klaus respondeu. Ele odiava como sua voz soava. Como se ele fosse o único a sentir dor. "Eu sinto muito."

"Não é seu-"

"Eu sinto muito, porra, Laurent." Klaus enterrou o nariz no cabelo de Laurent. "Sinto muito."

Laurent continuou acariciando-o em silêncio. Em algum momento ele percebeu que era inútil, não havia como ele colocar seu cheiro em Klaus, então ele se afastou. Ele encarou Klaus por um tempo, piscando lentamente.

"Agora-" Laurent começou a dizer em um murmúrio. "Agora parece muito real, querida."

Seria como uma maré.

As marés são assustadoras.

Sem palavras, Klaus se inclinou para frente até que seus lábios pressionaram os de Laurent. Ele sentiu Laurent respirando, sua mão apertando a de Klaus. Klaus fechou os olhos e se permitiu sentir essa dor. Por enquanto.

Ele sabia que, quando acordarem, iriam fingir que isso nunca aconteceu.

Tanto o pesadelo quanto esse beijo serão coisas que os dois enterrarão.

Então, por enquanto, ele se permitiu sentir; os lábios de Laurent se movendo lentamente contra os dele, pressionando cuidadosamente como se ambos fossem quebrar se empurrassem com muita força. Klaus achava que mesmo que ele não pudesse se dar ao luxo de ficar triste por outra pessoa, ele deveria se sentir triste por Laurent. Ninguém mais o faria.

Laurent é quem quebrou o beijo. Ele mal se moveu, seus lábios ainda roçando nos de Klaus, mas seu aperto na mão do homem afrouxou um pouco. Klaus abriu os olhos e encontrou Laurent olhando para ele com algo intenso. Algo que queima. Algo forte.

"Você também me deixa triste", sussurrou Laurent.

Eles vão esquecer isso pela manhã.

Fingir que nunca aconteceu. Enfiar tudo sob uma camada de mentiras e truques até que esta noite se transformasse em uma ilusão. Até que começassem a acreditar que realmente nunca aconteceu e que inventaram tudo.

Mas até então, é real.

É real.

"Meu anjo." Os lábios de Klaus tremeram por um momento. "Eu vou matá-lo por você."


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