Maré de Caos - A Ordem de Ouro escrita por Manon Blackbeak


Capítulo 4
A Ilha das Fadas - Capítulo 4




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Mordan organizava as garrafas no armário de bebidas, os olhos dourados estavam semicerrados, encarando o rapaz sentado em frente ao balcão. A expressão em seu rosto, era indecifrável, conjeturado, enfadado, difícil de definir. Aquele homem a sua frente, deveria ser jovem, beirando os vinte anos, traços que ele reconhecia, comuns de pessoas do oeste de Sidgar.

Portanto, pegou uma taça, uma das poucas que restavam intactas no armário. Vasculhou entre as garrafas, ele particularmente não gostava de rum, embora aquela fosse a bebida em maior quantidade ali. Mas havia vinho, bem no fundo, escondido para que outros marujos estúpidos não desconfiassem. O salão do refeitório estava praticamente vazio, não fosse por três homens jogando cartas no fundo, distante o suficiente.

E Denzel. Aquele homenzinho intrigante que acompanhara o capitão do Carcaça Negra. Ele já estava sentado ali quando Mordan chegara para organizar o balcão, sentado como se estivesse se sentindo em casa. Com um mapa estendido a sua frente, e embora fosse educado e tivesse cumprimentado o cozinheiro quando percebeu sua presença, Mordan não havia respondido. Estava ponderando, mas optou por quebrar o silêncio quando serviu o vinho, se escorou do outro lado do balcão, e finalmente falou:

― O que faz passando tanto tempo analisando esses mapas? ― Finalmente questionou, embora não estivesse particularmente interessado no que Denzel estava fazendo, mas sim, no porquê que estava fazendo.

― Darthurin falou que as últimas notícias que teve do Colossal, foi que ele estava navegando em direção ao Fim. Estou analisando a rota. ― Respondeu, erguendo os olhos do papel amarelado com as pontas levemente enroladas. ― Partimos do Forte da Caveira, descemos pela costa de Sidgar, mas ainda não ultrapassamos a Muralha Cintilante. A Ilha das Fadas será a primeira parada, mas ainda estamos no Golfo Azul. Depois, a parada mais provável será em algum ponto da costa do Continente das Fadas, mas em direção ao norte. Pois para chegar ao Fim ― Denzel desceu o dedo até a marcação do mapa, onde havia oito pontos formando um círculo, e no centro, o desenho de um redemoinho. ― Que fica no extremo sul...

― Você não deveria estar preocupado que estamos chegando na Ilha das Fadas? ― Mordan interrompeu. Bom, então o aspirante a Darthurin, ou qualquer porcaria que aquele jovem fosse, estava apenas estudando a rota. ― Essa noite as sereias que moram na ilha, provavelmente vão atacar.

― Estou preocupado. ― Admitiu, enrolando o mapa novamente, e amarrando-o com uma fita vermelha, antes de guardá-lo no bolso interno de seu casaco. Mordan o avaliou novamente. Os brincos na orelha, brilhavam prateado, poderiam ser de fato com algum valor. Possuía a tatuagem da ordem na mão esquerda, interessante. E as roupas, Denzel vestia roupas de qualidade, não era um simples recruta. Havia algo a mais, e incrivelmente, Mordan estava curioso. ― É a primeira vez que saio de fato do continente, já vi as luzes da Muralha Cintilante que circunda Sidgar, mas jamais atravessei.

― A onda de energia que você vai sentir, provavelmente o deixará enjoado. ― Retrucou, bebericando um gole do vinho, e evitando fazer uma careta. Péssima qualidade. Edward Noire deveria investir em suprimentos melhores, considerando a fortuna que tinha acumulada.

― Na verdade, tem algo que me deixou curioso. Você é um mestiço. ― Constatou Denzel, observando as orelhas levemente pontudas de Mordan. Ele semicerrou os olhos dourados, desconfiado, mas bebeu o vinho novamente. ― Como conseguiu ultrapassar? A muralha é o acúmulo de magia de toda Sidgar, e serve para evitar que filhos das fadas ultrapassem ela.

Esperto. Muito bem pensado. Ao menos Denzel não era um saco de batatas sem cérebro como os outros homens naquele navio.

― Você mesmo disse, sou mestiço. Tirando o fato de que a onda de força me faz ter uma vontade enorme de vomitar, consigo passar. Mas eu diria, que a tão aclamada muralha que circunda o seu continente, está ficando cada vez mais fraca com o passar dos anos... ― Mordan obrigou-se a interromper. Geralmente evitava o contato com os outros homens do navio exatamente por aquele motivo. Falava demais, e era difícil omitir o que sabia. Não fosse por Asteri, a jovem esposa do maldito capitão.

Denzel preparou-se para questionar, mas Mordan bebeu o restante do vinho servido em sua taça e limpou a boca pintada de marrom escuro, quando a porta do refeitório ser abriu. Darthurin não entrou, mas foi direto quando chamou pelo jovem.

― Vamos para o convés. ― Foi tudo o que disse.

Mordan deu de ombros, e se dirigiu para a cozinha, já havia preparado o jantar, mas ao menos não participaria naquela noite. Não quando também desembarcaria na Ilha das Fadas para comprar mais suprimentos.

Mas Denzel o encarou antes de partir, como se aquela conversa ainda não tivesse acabado. 

*** 

― Veja, as luzes da Muralha Cintilante. É ainda mais incrível quando ultrapassamos ela. ― Darthurin apontou para as luzes que brilhavam como uma aurora boreal do Norte. Incrivelmente, naquela noite, o violeta se destacava, cintilando na escuridão da noite, e gerando uma luz pulsante em direção ao navio. Estavam há poucos metros de distância da muralha, e Denzel jamais estivera tão próximo assim.

Em seu antigo cargo, ele viajara por toda Sidgar, tanto na terra, quanto no mar, mas não ultrapassara os limites da muralha.

Era como se pudesse ouvir a energia que irradiava, a magia de toda uma terra selada para conter, proteger, de ameaças do mar além.

― Nunca pensei que gostaria tanto dessa cor. ― Admitiu, sem conseguir desgrudar os olhos da Muralha Cintilante. O mar estava tranquilo naquela noite, e as ondas que se chocavam no casco do navio, fazendo barulho, refletiam o violeta.

― Nunca pensei que teria que atravessar essa porcaria de novo. ― Darthurin fez uma careta e pegou um cantil prateado e bebeu. Os olhos azuis do capitão refletiam os tons da muralha. ― Venha, vamos verificar se os botes já estão prontos para embarcarmos.

Denzel maneou a cabeça assentindo, ainda estava hipnotizado com a muralha. E torcia para que a travessia até a Ilha das Fadas não fosse um banho de sangue. Ele engoliu em seco, enquanto o navio se movia em direção a Muralha Cintilante, e ele travessava o convés para o outro lado. Os marujos corriam para organizar os botes, ajustar as velas para encorarem após a travessia. Era arriscado, mas como o próprio capitão do navio dissera, precisavam seguir, já estavam atrasados para chegar até a ilha.

Antes de alcançar os botes, Denzel conseguiu perceber o navio se chocar em algo, como uma força invisível, quando atravessou a magia da muralha. Ele obrigou-se a virar para encarar a travessia. Foi estranhamente rápido, como se apenas uma onda marinha muito forte tivesse se chocado no Carcaça Negra. Em um instante, tudo estava iluminado, tudo era tons de violeta e roxo a sua frente. O que obrigou a estender o braço, para encostar na luz que se aproximava.

Dentro da Muralha Cintilante, ele conseguiu perceber as partículas brilhantes faiscarem, como poeira refletida na luz do sol, atravessado uma janela. E no instante em que seu braço, seu corpo, e tudo ao seu redor estava coberto por aquela magia pura, no momento seguinte, tudo voltara ao normal.

A luz da lua cheia brilhava no céu novamente, não mais ofuscada pela Muralha Cintilante.

E há algumas centenas de metros de distância, as luzes da Ilha das Fadas brilhavam no meio da noite. As montanhas de pedra despontavam no centro, três picos, atrás de o que parecia ser uma pequena cidade.

Era como se tivesse atravessado o portal para outro mundo.


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Notas finais do capítulo

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