Maré de Caos - A Ordem de Ouro escrita por Manon Blackbeak


Capítulo 5
A Ilha das Fadas - Capítulo 5




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Darthurin certamente não se importara em acompanhá-lo no bote de madeira, havia passado na frente de todos e se enfiado na primeira opção que surgira a sua frente. Denzel, com seu hábito de sempre deixar os demais passarem a sua frente em uma fila, ficara para trás, e entrara no último bote disponível.

Ainda havia um lugar vazio, quando Mordan chegou e sentou-se a sua frente.

Então eles desceram, por último, e começaram a remar. Havia mais dois marujos acompanhando-os, um deles com uma cicatriz grosseira atravessando o rosto, e o outro, um garoto jovem. Nenhum deles parecia disposto a conversar, o que de certo modo era bom.

Embora tornasse a viagem até a ilha, ainda mais agoniante. Estava ansioso, não sabia o que poderia esperar durante o caminho. E os olhos dourados de Mordan, brilhando no escuro como os olhos da morte deveriam brilhar, e o encarando, era ainda mais sufocante. O marujo mais jovem, começou a resmungar, em um idioma que Denzel não conseguiu reconhecer.

― Ele está rezando, para seus deuses, pedindo que as sereias não ataquem. ― Explicou o cozinheiro, como se pudesse ler seus pensamentos.

O homem com a cicatriz no rosto chiou, com o que pareceu ser algum xingamento, pois o outro ficou em silencio imediatamente.

― Você não fala outros idiomas, garoto? ― Mordan enrugou a testa, não em um sinal de desprezo, mas de curiosidade.

― Falo odaliano antigo, e o idioma comum de Sidgar.

― Deveria aprender outros. Mas, para sua sorte, o idioma falado na Ilha das Fadas, é o mesmo falado em Sidgar.

Embora devesse ficar aliviado com aquela afirmação, não foi suficiente. Os botes ao redor, seis ao total, estavam cada vez mais próximos da praia. As luzes das lanternas sinalizavam a sua aproximação, mesmo que também fossem um detalhe arriscado, que poderia chamar a atenção das sereias. Com sorte, chegariam os seis botes inteiros na praia.

As ondas balançavam, irritantemente tranquilas. Enquanto a muralha cintilante e o Carcaça Negra ficavam para trás. Edward Noire explicara que o navio daria a volta, para ancorar em um pequeno porto que havia na ilha. E como estavam com pressa para chegar logo na reunião da Ordem de Ouro, o caminho pelos botes era o mais rápido.

― Você já viu, as sereias atacarem? ― Denzel questionou, os olhos de Mordan pareceram brilhar no escuro, como um felino.

Mas ele assentiu.

― Sim, e sobrevivi todas as vezes.

― Como? ― Bom, ao menos, a companhia do cozinheiro talvez não fosse algo tão ruim.

― Digamos que sou imune aos seus encantos.

Denzel iria questionar, precisava distrair sua mente da ideia de que poderia ter a cabeça arrancada a qualquer instante. Mesmo que estivesse conversando justamente sobre aquela possibilidade. Mas então um dos marujos falou, no idioma desconhecido.

Um frio percorreu sua barriga, quando o grito de um dos homens ecoou, e um dos botes em frente foi atacado. Foi tão rápido, no escuro, as sereias se aproximaram. Denzel não conseguiu sequer ver suas formas, quando a luz da lanterna do bote se apagou, enquanto os quatro homens que remavam, afundavam, puxados para as profundezas.

Os dois marujos começaram a berrar ordens, e mesmo que Denzel não conseguisse compreender o idioma, foi fácil entender que mandavam remar. Os movimentos desesperados sincronizaram rapidamente, seus braços começaram a queimar conforme remava em direção a praia. Os cinco botes em frente, seguiam tão rápido quanto podiam.

― Continue remando, garoto, com todas as forças do seu corpo humano. ― Embora o aviso, algo nos olhos brilhantes de Mordan parecia tranquilo. O cozinheiro deveria ter certeza que sairia inteiro, e talvez, bem lá no fundo, estava se divertindo. O sorrisinho zombeteiro que expressou, foi a prova real. ― Tente não prestar tanta atenção quando elas começarem a cantar, pelo menos, assim demora um pouco mais para cair em seus encantos.

Denzel engoliu em seco, realmente, até o momento, não haviam ouvido sequer um único trecho das canções das sereias. Seus braços queimavam cada vez mais, tentou prestar atenção no movimento dos músculos, no som das ondas se chocando, dos remos afundando. Precisavam chegar até a praia.

Quando ouviram outro grito, desta vez, dois botes a frente, rapidamente mais quatro homens afundaram. Denzel conseguiu perceber a cauda de uma das sereias despontando para fora da água, brilhando em contraste com a luz da lua e das lanternas. Talvez devesse ter ficado no Forte da Caveira, talvez sair de Sidgar fosse um grande erro. Poderia ter ajudado Sora, sua guerreira de fúria, sua amante e sua amiga por tantos anos, mas não. Ele escolhera aquele caminho, ele escolhera partir. Sempre almejara aquela vida, aquela liberdade, aquela mínima chance de conhecer o mundo em sua verdadeira face.

Então remou, remou e remou. Seus braços doíam, mas precisava aguentar.

Precisava chegar à praia, precisava pisar em terra.

Mas então, o canto das sereias ecoou, e as últimas coisas que conseguiu avistar, fora os olhos brilhantes de Mordan a sua frente, queimando como velas no escuro.

***  

Nerine mergulhou, chegara por último, as outras sereias já estavam trabalhando quando se aproximou dos botes. Quando ajustou sua visão no escuro, já na forma meio humana e meio peixe, avistou o navio pirata ancorado no fundo. Provavelmente iria para o porto, ao amanhecer, quando não era tão perigoso.

As vezes era difícil compreender as estratégias dos humanos, investiam em situações tão arriscadas... Para a sua diversão. Sereias eram muito mais organizadas. Conforme se aproximava dos botes mais distantes, no final da fila, ouviu o canto de uma de suas companheiras. Mesmo que estivesse acostumada, era estranho todas as vezes que ouvia. As notas melódicas, geralmente não usavam apalavras, apenas exploravam o som. A melodia suave, como uma canção de ninar, ou um grito de guerra. Era lindo, mas ao mesmo tempo, lhe causava uma sensação estranha.

Nunca mais havia cantado, e talvez, não o fizesse tão cedo.

Dois botes já haviam afundado quando Nerine se aproximou do último, silenciosa como a morte, e tão mortal quanto um kraken. Alguns homens eram espertos, e tapavam os ouvidos quando faziam aquela travessia à noite, mas incrivelmente, aqueles piratas não. Talvez estivessem indo para Ilha das Fadas como uma espécie de sacrifício. Ela ainda não sabia.

Então mergulhou, embaixo da água, conseguiu avistar as demais sereias que se aproximavam, havia pelo menos duas para cada um dos botes, mas ela queria mais. Se fosse para matar homens, ela sempre desejaria mais. Tratou de aumentar o ritmo do seu nado, empurrou uma das sereias que estava sua frente, atrasando-a de chegar até o último bote.

Ainda estava ocupado pelos quatro homens, que começavam a diminuir a velocidade das remadas, conforme eram hipnotizados pelo canto das sereias. Nerine sorriu, e deixou que sua cauda aparecesse em cima da água, como se fosse um tubarão. Era muito mais divertido quanto eles estavam lúcidos e começavam a gritar.

Virou-se, conforme subia e colocava apenas o rosto para fora da água, para analisar suas presas. Três dos homens estavam com os olhos completamente brancos, tomados pela melodia sereiana, mas o outro... Um semi-fae, ela identificou, continuava remando desesperadamente em direção a praia.

Bom. Então ele poderia estar tapando os ouvidos.

Atacou. Primeiro, puxando um dos homens para baixo, de forma rápida e cruel, ele era jovem, e sorria quando Nerine o afundou. A sereia rapidamente projetou suas garras, na ponta dos dedos em sua forma humana e enfiou-as na garganta do pirata. O sangue manchou a água, e ela correu para pegar o próximo.

Puxou a cabeça do segundo homem com um sorriso bobo no rosto, os olhos leitosos e hipnotizados. Tinha uma cicatriz grotesca, que cortava metade do seu rosto na diagonal. Divertindo-se com aquela marcação, Nerine não hesitou quando utilizou as garras para partir sua cabeça ao meio, seguindo o desenho da cicatriz. Quando o corpo desabou para dentro do bote, ela vislumbrou os dois piratas restantes.

O semi-fae, com a pele escura como a noite e os olhos dourados brilhantes, ainda remava com convicção, sua expressão era série e focada demais na praia em frente. Não parecia se importar nem um pouco com os dois colegas mortos. Bom. Facilitaria o seu trabalho quando fosse pegar o último.

Nerine afundou novamente na água, era possível vislumbrar as sombras das silhuetas dos homens afundando, dos barcos virando, as caudas de suas irmãs sereias nadando em meio as manchas de sangue. Era uma bela visão, ela gostava.

Quando emergiu novamente, do outro lado, seus olhos cintilavam com diversão quando avistou o último pirata. Era diferente dos outros, bonito demais para ser um pirata. Jovem demais. Definitivamente, era ainda mais divertido quando eles eram bonitos. Aquela seria sua morte da noite, faria lentamente, admiraria um pouco daquelas feições.

Portanto puxou seu braço, notando uma estranha tatuagem sobre sua mão esquerda, um círculo com uma esfera no centro, marcado com tinta preta. Interessante, uma pena que ele não viveria para contar o que aquela marca significava. Seus olhos leitosos viraram na direção de Nerine, seu rosto esboçava um sorrisinho bobo. Tinha traços que, surpreendentemente, lembravam a forma humana de sua irmã falecida há tantos anos.

Algo na sereia se revirou, e ela quase hesitou, quando puxou com força o pirata para baixo, iria afundar e morrer, antes que ela pensasse mais uma vez e acabasse perdendo aquela presa. Mas algo a impediu.

Nerine puxou novamente o braço do jovem enfeitiçado, mas não conseguiu.

Quando olhou para trás, vislumbrou os olhos do semi-fae, brilhando na escuridão, enquanto puxava o outro braço do pirata e impedia Nerine de afundá-lo no mar.

A sereia rosnou, mostrando os dentes pontudos e afiados. Suas garras fincaram na pele do jovem mortal, fazendo sair sangue, quando o puxou novamente.

― Saia daqui.  Sereia filha da puta. ― Falou o semi-fae, quando Nerine saltou.


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