Problema complicado, solução simples escrita por Bianca Lupin Black


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Obrigada à AnneSalvatore e Esmeralda pelos comentários no capítulo anterior!



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Ele respirou fundo e a música ganhou vida. Quem diria que o guitarrista de uma banda de rock também criava melodias doces?

“Eu adorei!”, Julie jogou os braços ao redor do pescoço dele. “Obrigada!”

“Disponha.”

Estudaram as novas criações de Luke por algumas horas. Julie tentou acrescentar piano a uma delas e... funcionou. Ainda era carregada de emoções, porém seria mais fácil pensar na letra.

“Obrigado”, ele segurou a mão dela sobre as teclas “de verdade. Por tudo o que está fazendo por nós.”

“Nós somos amigos. Amigos fazem grandes coisas uns pelos outros.”

“Jogar ovos na casa da Carrie Wilson é uma coisa grande que eu poderia fazer. Se você quiser, é claro.”

“Por que você faria isso?”

“Porque ela não gosta de você. Dá para ver no jeito como ela te olha.”

“Tá, você tem um bom ponto, mas eu não quero que jogue ovos na casa dela.”

“Por quê? Eu teria o bom senso de não demonstrar que você está envolvida.”

“Ela arranjaria uma forma de me culpar.”

Compartilharam um momento silencioso, de mãos dadas, olhando partituras incompletas. Às vezes, bocas abriam, mas as palavras não saíam.

“Já são cinco da manhã?”, Julie encarou a tela do celular de Luke.

“Mitch sempre dizia que o tempo voa quando estamos nos divertindo.”

“Eu tenho aula em duas horas. O que vou fazer?”

“Pode fingir que vai à escola e voltar para dormir aqui. Seu pai nunca vai saber.”

“A escola manda muitos e-mails. Acho que vou me entupir de energéticos e tentar não cochilar na aula de Cálculo”, Julie suspirou. “Sem arrependimentos.”

“Idem.”

“Eu tenho que voltar. Está tarde.”

“Tecnicamente, está cedo”, ela não conseguiu não rir. “Eu te acompanho.”

“A gente se fala”, ela murmurou, já na porta da casa, chaves na mão.

Luke a puxou para perto, abraçou-a pela cintura e beijou sua testa.

“Eu posso entrar?”

Julie levantou o olhar. O rosto de Luke não deixava claros seus pensamentos, ou se ele concordava com o que quer que estivesse em sua mente. O que esse cara queria, afinal?

“Claro que sim.”

Retomaram seus lugares lado a lado no sofá. Julie fechou os olhos. E então, um apito fez com que ela os abrisse. O relógio na estante marcava seis horas da manhã.

“Flynn?”, ela sacudiu a amiga. “Temos que ir.”

“Nós precisamos mesmo de um diploma?” a garota esfregou o rosto e chutou cobertores – atingindo as costas de Carlos no processo.

Luke despertou em seguida. Acordar Alex e Reggie era uma tarefa mais complicada. Geralmente, era ele quem precisava ser acordado. Todos tomaram café da manhã, e as garotas saíram para se vestirem.

“Caleb vai nos estrangular se nos atrasarmos”, Alex comentou para Luke.

“Reunião da banda às cinco?”

“Fechado”, Reggie terminou de mastigar a torrada.

Julie e Flynn voltaram para a cozinha, chamando Reggie para segui-las.

“Tchau, gente”, disse Julie, acenando.

No caminho para o colégio, Julie obrigou o grupo a fazer uma parada no mercado, e saiu de lá com uma sacola cheia de energéticos e refrigerantes.

“Eu vou precisar de forças”, ela bocejou.

“Se você diz...”, Reggie e Flynn trocaram olhares.

Uma lata foi esvaziada pouco antes do grupo se separar. Julie arremessou-a no lixo perto da porta, cantarolando. Carrie não zombaria dela por cantar para si mesma.

O professor cumprimentou a turma com um sorriso como o de um desenho animado. Julie se sentia mais motivada com esse tipo de professor, ainda mais quando o conteúdo que ensinavam repelia  parte dos estudantes.

Era simplesmente fascinante entrar num mundo onde tudo podia ser explicado através de contas e puro raciocínio lógico. Um mundo refrescante como limonada.

“Olá a todos”, ele disse. “Aproveitaram o verão?”, Julie e alguns outros responderam que sim. “Muito legal, pessoal. Agora é hora de trabalhar.”

Seguindo o exemplo de Harrison, Tobias Beckett dedicou os primeiros minutos à explicação do novo ano de estudos. Como parte da nota, eles teriam que entregar alguns exercícios feitos em grupos escolhidos pelo professor – a notícia arrancou gemidos deprimidos – que passou distribuindo os calhamaços a serem devolvidos em duas semanas.

“Leslie Brandon, Isabela Madison e Charlie Reyes”, Beckett anunciou o primeiro grupo.

Em vão, Julie procurou alguém que fosse tolerável para depositar suas esperanças. Aos poucos, todos ganhavam parceiros, exceto...

“Nick Jones, Carrie Wilson e Julie Molina.”

Talvez ela devesse ter aceitado a ideia de Luke.

Arrematou um refrigerante durante o alvoroço da mudança de lugares. Ela e Nick tiveram que atravessar a pequena multidão até o fundo da sala, onde a coisa mais importante para Carrie eram suas unhas.

“O que você está fazendo aqui?”, se a voz de Carrie tivesse um som que não o timbre de uma menina de oito anos, seria um vômito.

“Em primeiro lugar: eu estudo aqui. Em segundo: nós somos parceiros agora. Você não ouviu nada?”, Julie ergueu a lista de Carrie apenas para derrubá-la na frente dela.

“Hum... não?”, a garota guardou a lixa no estojo. “Vamos dividir assim: você faz uma metade, e você faz a outra.”

“Está brincando, não está?”

“Não. 60 é divisível por dois.”

“Por três também”, Nick se pronunciou. “Eu sugiro que Julie fique com os vinte primeiros, Carrie com os vinte seguintes e eu com os demais.”

“Eu concordo!”, Julie abriu um sorriso vitorioso. “Podemos trocar as respostas por email ou mensagem, para não termos que ficar depois da aula.”

“Ótima ideia!”, Nick anotou o seu email e passou a folha para Carrie.

“Genial”, Carrie resmungou, rabiscando o próprio

Julie passou o resto da aula bebericando refrigerante e fazendo anotações. A maioria dos exercícios retomava conteúdos ensinados no ano anterior. Perfeitos para preencher noites insones.

Mais uma lata foi para o lixo quando o sinal tocou. A aula de História ficava no outro lado do campus. Julie agradeceu pela oportunidade de gastar energia. Enquanto as carteiras eram ocupadas, ela tirou do caderno a folha com a letra e melodia. Ainda precisava de um nome para apresentá-la na quinta-feira.

Aproximou-se das palavras, tentando encontrar qualquer indício. Rose dizia que, às vezes, ela deixava dicas na letra caso precisasse de ajuda com nomes.

“Hora de acordar, srta. Molina”, disse a professora, dando batidinhas no tampo da mesa.

Julie jurou ter ouvido a risadinha de Carrie, mas não pôde se virar. Ela tinha achado.

Durante o almoço, Flynn reclamou da torturantemente longa aula de Biologia e de como seu parceiro era desastrado.

“Se você soubesse com quem tenho que trabalhar em Cálculo...”, Flynn se calou por um momento. “Nick e Carrie.”

Tá. Brincando. Beckett simplesmente te jogou no meio do drama juvenil mais fútil que a escola já viu? Você deveria processá-lo.”

“Se a Carrie não me matar antes, é uma boa ideia”, Julie mastigou a batata.

“Oi, Flynn.”

Um garoto de cabelos castanhos penteados como os de um Sheldon mirim segurava duas latinhas de Coca-Cola de cereja com gotinhas na borda. Flynn quase salivou ao vê-las.

“Eu quero pedir desculpas pela aula de Química. Prometo ser mais cuidadoso no futuro.”

“Está perdoado.”

“São para você”, ele estendeu as latas.

“Obrigada. São as minhas favoritas.”

“Até quinta-feira!”

“Até”, ela sacudiu os dedos enquanto ele ia para longe. “Acho que quase perder esta belezinha cara valeu a pena.”

“Dá para ver”, Julie verificou o horário no celular. “Hora de conhecer o azarado que vai dividir a bancada comigo.”

“Transmita meus votos de boa sorte, sim?”

Julie riu, apertando o passo nas escadas. Ainda estava decidindo se considerava prudente ou não trancar alunos em contato com substâncias perigosas no subsolo.

“Oi, Julie”, disse o professor.

“Olá, senhor Banner."

“Você se importaria de dividir a bancada com o aluno novo?”

“Não, de forma alguma.”

“Excelente. O nome dele é Reginald Daves.”

Ela fez um sinal de positivo ao ocupar a bancada indicada. Quando entrou, Reggie correu direto para o lugar vago ao lado dela.

“Oi, Daves”, ela riu, abrindo o caderno.

“Quem te contou meu sobrenome?”

Julie fez mais rabiscos do que anotações sobre a aula. O primeiro tempo chegava ao fim, Reggie esticou o pescoço e espiou.

“Gostei do lettering”, elogiou. “Um dia, isso será uma capa incrível.”

“Combina com a música.”

“Aquela que Flynn cantou na garagem?”

“É! Vocês podem passar lá hoje? Eu gostaria de mostrar.”

“Adoraríamos, mas tem a reunião...”

“Não é às cinco?”

“Isso quer dizer sete e meia no horário oficial do Reggie. Luke acha que eu não sei lidar com horários.”

“Você esqueceu de lavar roupa por causa de Minecraft.”

“Quem te...”

“Eu ouvi a discussão. Da garagem.”

“Em minha defesa, Alex não lavou a louça na semana passada por causa de uma fanfic.”

A última aula – de Francês, com Flynn e um professor excêntrico chamado Paul Taylor – escorregou diante de seus olhos.

“Tem certeza que não pode ficar um pouquinho?”, perguntou Julie, na faixa amarela que dividia a rua deles.

“É o meu dia de fazer faxina”, os olhos de Reggie vacilaram para a própria casa. “Diz para o Ray que eu mandei um ‘oi’.”

“Vou dizer.”


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