Problema complicado, solução simples escrita por Bianca Lupin Black


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Obrigada à Esmeralda, AnneSalvatore e ThaisRomanoff pelos comentários no capítulo anterior e pelo apoio!



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“Só se vocês tocarem.”

Flynn insistiu que tocassem My name is Luke. Há uma hora, ela amava a música. Agora, adorava. Era como se eles fossem parte da mesma canção desde sempre.

“Lindíssimo. Jules, se você precisava de mais uma prova de que nasceu para isso, aí está”

“Obrigada. Podemos falar sobre o compositor triste agora?”

“Eu disse que não conseguia compor nada, lembra?”, Julie assentiu. “Eu passei 48 horas compondo depois da festa.”

“Incrível!”, ela avançou para um abraço.

“Calma lá”, Alex se meteu entre eles. “Mostra para ela.”

A primeira faixa era uma música lenta, a segunda era pesada, a terceira arrancou lágrimas generalizadas, a quarta poderia ser a marcha fúnebre no violão. 

“Ótima pessoa, porém um caso perdido”, Julie tocou o ombro de Luke, cujo rosto franziu.

Julie mostrou algumas de suas composições. A garota sabia tocar as pessoas com sua música – e fazê-las dançar também. Os meninos se arriscaram a acompanhá-la em alguns refrões.

“Só precisamos reacender sua chama.”

Relight that spark, time to come out of the dark”, Flynn cantou. “O quê? Achei que era uma boa deixa.”

“Deixa para outro dia”, Julie implorou. “Vamos nos concentrar em ajudar o Luke.”

Julie começou a arrumar suas partituras. Depois, colocou os instrumentos em seus devidos lugares. Então, guardou as coisas da escola. Por último, abriu o armário e pegou todos os cobertores.

“Não fiquem parados aí”, ela aninhou seu edredom favorito nos braços de Alex.

O grupo a seguiu até a casa, com expressões ligeiramente confusas estampando seus rostos. Os cobertores foram postos ao redor do sofá. A caixa com DVDs saiu de sua posição privilegiada na prateleira e o conteúdo passou pelos adolescentes.

“Eu voto em Star Wars”, Reggie sugeriu, ganhando o apoio de Julie, Alex e Flynn. “Luke?”

“Se colocarem Solo, eu não poderei ser amigo de vocês no futuro. E a Sunset Curve terá perdido um grande vocalista, guitarrista e compositor.”

“Uma pena que os biscoitos acabaram, se não, eu te daria um”, Alex acariciou a bochecha do amigo. “Vamos de Uma Nova Esperança?”

“Vamos!”, Carlos deslizou sobre os tacos de madeira, trazendo pacotes de salgadinho.

“Vou pegar o refrigerante”, Flynn pulou do assento, que logo foi ocupado por Luke.

Julie colocou o disco no leitor e voltou para o sofá, fingindo não notar quando um braço passou por seu ombro. Todos se serviram e então, Reggie apertou o play.

Os x-wings e sabres de luz eram as coisas mais importantes do mundo durante a maratona em que se enveredaram e que já durava quatro horas quando Ray avisou que chegara. Flynn foi a única a murmurar uma resposta.

“Qual a sua intenção com tudo isto?”, Luke questionou, pousando a cabeça no ombro dela.

“Só assiste”, resmungou. “Eu explico outra hora.”

“É um troco pela história do Bobby?”

“Talvez”, ela fingiu dar de ombros.

Os salgadinhos foram engolidos e os refrigerantes, sorvidos. O sono atingiu Alex, não demorou para que começasse a roncar no colo de Reggie. Quase ninguém estava de olhos abertos quando os créditos de A Vingança dos Sith subiram. Julie levantou para beber água às dez e dezesseis da noite.

Há anos não tinha festas do pijama com mais do que uma convidada. A última foi aos nove anos, com todas as meninas que conhecia. Ou seja, Flynn, uma ou duas vizinhas, três primas, duas colegas da escola e Carrie.

Julie foi amiga de um verdadeiro raio de sol. Às vezes, temperamental, mas sempre pronta a deixar brigas de lado se isso significasse mais um pouco de Just Dance.

Ainda que os Wilson tivessem uma casa grande e cheia de coisas legais, Carrie adorava dormir fora e passar longas tardes perambulando pela cidade.

Até o dia em que Julie tocou a campainha e Trevor disse que Carrie não podia sair. Julie pediu para entrar e Trevor respondeu:

“É melhor esperar até segunda para conversarem. Ela está resfriada”, a garotinha voltou para casa e esperou.

Esperou poder conversar na aula de Educação Física, mas Paige Maison foi a única que recebeu atenção de Carrie. Antes da aula de História, Julie tentou se aproximar, mas Paige bloqueou seu caminho. Durante o almoço, Julie puxou assunto, mas Paige puxou o braço de Carrie, levando-a para longe sem nem notar quando um garoto do quarto ano esbarrou nelas.

No piso empoeirado, Julie reconheceu a caneta lilás que comprou para Carrie em sua viagem ao Japão. Carrie pulara em seus braços e prometeu cuidar de sua caneta da sorte com carinho pelo resto da vida.

Enquanto o professor de Inglês destrinchava as classes gramaticais, Julie destrinchava o endereço de Paige Maison. Descobriu que ela morava no outro lado de Los Angeles, bem longe de Carrie.

“Carrie!”, Julie berrou no pátio. “Espera.”

Carrie girou em seus calcanhares.  Nenhum sinal de Paige, só um olhar feio em seu rosto.

“Estou com a sua caneta”, Julie estendeu enquanto corria.

“Obrigada”, Carrie abriu um sorriso. O primeiro que não brilhava.

“Posso andar com você até a sua casa?”.

A única resposta de Carrie foi um movimento desinteressado de ombros. Julie manteve o passo firme, preparando o estômago.

“Está tudo bem?”

“Por que não estaria?”

“Achei que você estivesse brava comigo.”

“Eu estou.”

“Por quê?”

Carrie encarou Julie, a boca cor-de-rosa perfeita toda franzida. Julie teve medo de perguntar o motivo da cara feia, ainda bem que nem precisou fazê-lo.

“Marc Shaw.”

“O que tem ele?”

“Paige me disse que você disse ao menino que eu gosto que eu gosto dele”, Carrie cruzou os braços.

“Eu nunca falei com Marc Shaw.”

“Você é uma péssima mentirosa. Você era a única que sabia.”

Julie murmurou explicações, mas Carrie não queria saber, só lhe deu as costas e continuou andando. Ela nunca olhou para trás.

“Pega um para mim também?”

O coração da garota bateu mais forte e seus dedos agarraram a porta da geladeira. A voz não passou de um sussurro abafado, mas o pulinho não pôde ser evitado.

“Te assustei?”, agora ela podia distinguir Luke saindo das sombras.

“Não, eu tropecei.”

“Você mente mal pra caramba, sabia?”, ele deu uma risadinha. “Não que eu estivesse observando você encarando a geladeira.”

Julie alcançou a garrafa e encheu dois copos.

“À sua saúde.”

Bateram os fundos, saciaram a sede e apagaram a luz.

“Eu não estou com sono.”

“Também não.”

“A gente podia ir pro meu porão. Ninguém nos ouviria lá”, Luke propôs. “Os instrumentos, quero dizer.”

“Que bom que você explicou. Soou meio estranho”, ele percebeu que os lábios dela exibiram um sorriso. “Eu vou pegar um casaco e nós vamos.”

Orgulhosa de não ter quebrado nada na corrida até a garagem, Julie apanhou a folha surrada e vestiu o moletom cinza da escola. Luke estava no mesmo lugar, observando os amigos adormecidos.

Julie destrancou a porta como um gato que se esgueira. O portão não ofereceu maiores desafios. Sentiu a palma quente do garoto contra a dela antes de atravessarem a rua.

“Nenhum carro vindo”, disse ele. “Podemos ir.”

Ela fechou os dedos ao redor da mão dele ao caminhar. Com a mão esquerda, Luke puxou as chaves e abriu as portas sem fazer barulho ou causar estrago.

“Achava que você era destro”, Julie olhou a mão embrulhada na dela.

“E eu sou”, a luz acendeu. “Seja bem-vinda à sede da Sunset Curve.”

A sala tinha um sofá vermelho, um hack marrom com televisão e pôsteres nas paredes brancas – alguns pendurados e emoldurados. Baús quadrados transbordavam roupas pelas tampas abertas.

“Nós odiamos passar roupa”, ele admitiu, as bochechas retraídas num jeito incomum. “Por aqui.”

Pegaram a escada para o andar inferior. O cômodo era maior do que a sala de estar e revestido de isolamento acústico. Os instrumentos estavam arrumados com esmero, incluindo um pequeno teclado no centro. Fora as duas cadeiras cobertas por caixas de equipamentos e CDs, o lugar estava limpo do chão até o teto.

“Alex tem renite”, Luke explicou, plugando a fonte do teclado na tomada. “Um baterista espirrando não colabora nos ensaios.”

Com as cadeiras desocupadas, Julie colocou a folha no apoio e Luke avaliou atentamente.

“Gostei do que fez aqui”, apontou o trecho.

“Obrigada, faz tempo que eu não compunha.”

“Fez um ótimo trabalho.”

“Ainda não sei o que fazer na melodia.”

“Me permite?”, ele estendeu a mão.

“Claro.”

Luke segurou a página e leu. Depois cantou, então cantou mais devagar. E aí, mais rápido. Pensou e desenhou símbolos no ar até decidir descansar a folha.

“Escuta isso.”


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