Problema complicado, solução simples escrita por Bianca Lupin Black


Capítulo 18
Capítulo 18




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As horas dançavam ao redor da Sunset Curve. O feriado prolongado os protegia de responsabilidades frívolas, como escola ou trabalho. Amontados na garagem, usando edredons como casaco, eles tentavam decidir o que tocariam.

"Now or never seria perfeita!", Reggie propôs. "Imaginem só a cara do Bobby quando ganharmos."

Luke encarava o caderno como se as palavras fossem pular dali a qualquer momento.

"Eu amo vocês. Sabem disso, não sabem?"

"Nós também amamos você", Alex deu um sorrisinho meio constrangido. "O que tem a ver?"

"Não podemos apresentar essa música."

"Por que não? É excelente, tem a cara da Sunset Curve", Julie enumerou. "E o mais importante: está pronta."

"Concordo com tudo isso. Só não acho que a música tenha a força necessária para derrotar Bobby. Mas prometo que será nosso próximo clipe."

"E o que você sugere?"

"Bem, tenho algumas ideias. Por que não as submeter ao julgamento de vocês?"

Em vez de mostrar a folha de rascunho digna de uma criança do primário, Luke mandou mensagens para eles.

"Eu queria ficar bravo ou chateado por você ter recusado minha música, mas isto aqui vai nos deixar famosos", ele esfregava dedos na bochecha, fingindo limpar lágrimas inexistentes. "Tão lindo, forte e brilhante... parabéns, Luke."

"Valeu, cara."

"Um polimento cairia bem", Julie tirou uma caneta da mochila e uma folha do caderno. "A gente consegue."

Sentar e assistir os gênios dando tudo de si não estava funcionando para Alex. Se fosse possível, Julie acrescentaria glitter à música. E não estamos falando sobre as letras. Luke queria que o som explodisse como fogos de artifício muito mais legais – e organizados! Na opinião de Reggie, eles deveriam cantar todos juntos.

"Somos uma banda, não um coral", Alex disse enfim. "Que tal subir um pouco nessa parte aqui?"

Isso os convenceu a tentar em vez de discutir. E assim eles ajustaram a música do jeito certo: fazendo barulho.

Após diversas tentativas até tarde da noite, Julie se despediu deles com beijos na bochecha e a promessa de voltarem ao trabalho logo cedo.

"Trarei café da manhã para minha irmãzinha."

"Valeu!"

"Um dia, eu vou entender esses dois", Alex suspirou para Luke. "E então, sentirei falta da inocência."

♫♫♫

Julie soube, no momento em que acordou, que Ray e Carlos estavam na importante caça aos melhores descontos para presentes de Natal. Ela preferia ficar em casa com sua mãe e o piano.

Desde a limpeza pré-mudança, muito mais luz solar era recebida pela garagem. Talvez criar suculentas na janela não fosse má ideia.

Trocou o pijama por seu conjunto de moletom mais antigo. O desespero de Luke já era audível. Ela imitou uma garotinha bailarina, atravessando a casa na ponta dos pés e com os braços formando o tradicional aro sobre a cabeça.

De fato, ele não tinha uma cara muito boa, mas não parecia bravo. Como prometido, Reggie tinha uma cesta de café da manhã pendurada no cotovelo.

Em vez de matar tempo no balcão da cozinha ou no sofá da sala, foram direto para a garagem, onde estariam protegidos de filas, videogames, fanfics e outras distrações.

Flynn juntou-se a eles após uma mensagem de Alex e, durante a continuação da guerra de egos – dessa vez com solos de guitarra –, ela oficializou a participação deles na batalha musical do The Crystal.

"Mais uma vez. Do começo."

Alex bateu as baquetas. O ar entrou e saiu dos pulmões de Julie. Os dedos de Reggie e Luke ardiam um pouco, mas o prazer de tocar com a nova integrante superava a capacidade de qualquer analgésico. Ela nem acreditava. Estava numa banda!

Apesar de ter ensinado a filha a tocar piano e não violão, Rose sempre a imaginou numa banda. Ao menos, membro honorária de uma.

Os pés de Luke não o ajudaram muito a sair do carro. Por pouco, ele não caiu em cima da guitarra no meio do passeio público.

Limpo, o lugar parecia o Orpheum, mas a semelhança acabava aí.

As apresentações começariam em treze minutos e o primeiro oponente da Sunset Curve seria a Dirty Candy.

"Não sabia que elas ainda estavam na ativa", Julie deu de ombros, mas seus olhos denunciavam a preocupação.

"Quem são elas?", Reggie questionou.

"Quem se importa?", Alex pulava no mesmo lugar. "Vamos nos concentrar no Bobby."

Alocaram-se em uma das fileiras centrais, compostas por poltronas improvisadas com estilo.

"Lugar legal", Reggie girou a cabeça para olhar ao redor.

"Muito melhor do que quando está cheio de adolescentes bêbados", Julie enfiou as mãos nos bolsos.

Reggie se perdeu em um Trending topic sobre o dia de Ação de Graças e piadinhas sem graça enquanto as já poucas luzes baixaram, criando um clima de suspense para a entrada dos jurados.

"Boa noite, artistas!", disse uma mulher de óculos escuros e cabelo longo ondulado. "Sejam bem-vindos à primeira batalha musical do The Crystal."

As regras foram explicadas: duas bandas se apresentariam ao mesmo tempo, uma estrofe de cada vez. Quem recebesse mais aplausos ao fim da rodada passaria para a próxima fase. Os quatro finalistas seriam julgados pelos proprietários do The Crystal: Medda Larkin, Henry Diaz e Andy Heights. Nada mais simples.

As primeiras bandas convocadas ao palco tinham a mesma formação, com baterista, baixistas e guitarrista. O baixista da direita suava sangue – metafórico, é importante ressaltar – para entregar sua parte na melodia punk, mas o vocalista à direita berrava para declamar seus versos dançantes.

Luke segurou a mão da vocalista e pianista ao seu lado, sincronizando sua respiração com a dela. Os pés de Alex não poderiam ficar parados em um momento como este. Durante a apuração de aplausos, verificou-se a vitória esmagadora do grupo esquerdo, causando revolta em Reggie.

Após sete combates esmiuçadamente comentados por Luke e Julie, eles foram chamados para encarar a misteriosa Dirty Candy.

Reggie desmaiou de leve nos braços de Alex ao ver que eram garotas de perucas coloridas e que a de Carrie era rosa.

A batida viciante mostrava a que as meninas vieram. O ar condicionado ficava mais violento e o cérebro de Luke latejava conforme os dedos de Julie criavam acordes para acompanhar – e jamais se sobrepor a – sua voz.

Nem mesmo a coreografia nível Katy Perry podia parar as baquetas de Alex. A careta de Reggie passava um recado bem claro sobre lealdade ou a falta dela.

O exercício de respiração funcionava como nunca. Os olhares das meninas que zombavam de Julie nos corredores da escola não intimidavam tanto quanto as piscadelas ocasionais de Carrie e Kayla, e estamos falando das mesmas pessoas! Ainda bem que Luke e Reggie estavam lá para ajudar com os vocais.

A nota final passou por seus lábios. Agora dependiam da opinião popular e vorazmente crítica dos aspirantes a músicos profissionais. Eles só podiam cruzar os dedos.

Julie fechou os olhos e se banhou na abundante chuva de aplausos. Após quatro segundos de pausa, a chuva voltou a cair, desta vez no telhado da Dirty Candy, sem diminuir a força.

"Uma rodada muito interessante, com certeza", Andy tomou o centro do palco. "Aproveitem o intervalo para descansar a voz, pessoal. Voltaremos em cinco minutos."

Julie olhou para Alex, Alex olhou para Reggie. Reggie olhou para Luke. Luke olhou para Julie. E ela sorriu.

"O que acabou de acontecer?"

"Chama-se empate", a peruca de Carrie era seu estandarte.

"Meu pai sempre diz que as pessoas não sabem votar. Eu concordo", Kayla revirou os olhos.

As cortinas foram fechadas, privando os espectadores confusos de um ótimo embate verbal. Alex agradeceu por estarem a salvo de Bobby e seu sorriso cínico. Ele com certeza gargalhava da situação atípica em que a Sunset Curve se metera.

Willie lhe diria para respirar fundo e descontar na bateria, como sempre. Nunca falhava. A percussão de Crooked teeth devia muito a essa técnica milenar.

As garotas de peruca optaram pelo tratamento de silêncio combinado ao ostracismo forçado. Era melhor do que a zombaria? Reggie não saberia responder isso nem por um milhão de dólares.

"Parabéns, todos vocês", Medda disse. "Por estragarem nosso planejamento."

"Tecnicamente, a culpa foi deles", Luke apontou para a cortina, ganhando de Julie um sutil pescotapa e uma ordem para calar a boca.

"Que seja", Henry se pronunciou. "Decidimos levá-los para a final", nenhum deles pôde evitar o sorriso.

"Fiquem nos camarins", Andy instruiu. "Fiquem à vontade para abrir o frigobar!"

Medda os enxotou da coxia com a prancheta. Sozinhos em uma sala com sofás chiques, os integrantes da Sunset Curve permitiram-se relaxar por um instante, até Reggie lembrá-los de que precisavam escolher outra música.

"O Capitão Óbvio salva o dia mais uma vez", Alex suspirou. "Mas ele tem razão."

Tudo que havia no cérebro de Luke eram imagens de Bobby rindo deles depois de serem massacrados, seguidas por flashes das audiências e de um futuro incerto.

Julie só conseguia pensar em Carrie. Em uma versão mais gentil da realidade, Julie poderia ser a candy verde, ou ter uma dupla de piano e violino com toques de Taylor Swift. Ah!, se ela deixasse de lado o mal-entendido infantil...

"Acho que é agora ou nunca", Reggie olhou para a porta, o estômago se mexendo de forma esquisita.

"Ótima sugestão!"

Ele deu uma risadinha nervosa. A música era boa, mas estava pronta para estrear ao vivo? Se não estivesse, teria que estar.

Kayla e a candy vermelha deram as mãos ao sair de seu camarim. As outras duas escoltavam Carrie melhor do que seguranças treinados para trabalhar para o presidente.

O rosto dela não era mais a muralha da perfeição. Os micropunhos do medo espancavam as faces coradas de blush.

"Ei, Carrie!", Julie mal acreditava que aquelas palavras saiam de sua boca. Nem que ela se virou para ouvir. "Boa sorte."

"O mesmo."

A voz soava forte, mas sem a imponência que fazia de Carrie a abelha-rainha da Los Feliz High School.

Antes de retornarem, ainda tinham que esperar as semifinais. Luke queria espiar a concorrência, saber a situação de Bobby, contudo, o outdoor de agonia de Reggie precisava de um pouco de iluminação.

"Ei, olha para mim."

Dava para ver as pequenas lágrimas engordando no canto dos olhos. Luke prendeu o rosto de Reggie em suas palmas e a boca de Daves formou um biquinho involuntário.

"Você. É. O. Melhor. Baixista. Do mundo", ele o sacudiu. "Tá me entendendo?"

O garoto fez que sim com a cabeça. Seus olhos rodopiavam.

"Ótimo. Nunca se esqueça disso, ouviu?"

"Eu me lembraria melhor se ganhasse um beijo..."

Luke suspirou e avançou. De inocente, Reggie só tinha a pose. Após o selinho, Reggie abriu um sorriso bobo que fazia Alex revirar os olhos, embora estivesse aliviado que ele se sentia melhor.

Carrie deu alguns passos na direção de Julie, chegou a tocar os ombros da ex-melhor amiga e recuou antes de separar os lábios.

Henry apareceu para levá-los de volta à coxia, mandando que só abrissem a boca para cantar.

"Sei que esperam por isso", Carrie, Julie e Luke enfiaram a cabeça pela cortina. Andy estava de costas para eles, ao lado da banda vencedora do último embate. "É com muito prazer que lhes apresento Dirty Candy, Sunset Curve e Hollywood Noisy Dogs!"

O comentário sobre o nome ridículo mal saíra da boca de Kayla quando Luke se dobrou sobre os joelhos, nauseado. A primeira pessoa que viram foi Bobby empunhando a guitarra vermelha brilhante. Em sua cara, havia o clássico sorriso que enganara Luke. Alex não queria que mais ninguém visse tal coisa tão horrenda, mas ele aprendeu que era errado arrancar os dentes de um desafeto.

Hollywood Noisy Dogs era formada por dois guitarristas, um baixista, um vocalista de apoio e uma baterista. Reggie poderia ser um bom garoto e avisá-los para caírem fora o mais rápido possível, mas por trás das fantasias punk certamente existia uma carteira bem abastecida.

candy amarela empurrou Luke com o olhar. Carrie encarava Bobby com todos os Divertidamentes em pleno funcionamento.

"Vamos acabar com esse otário."

Alex não acreditava que qualquer um nas poltronas entendesse uma palavra que estivesse sendo cantada por baixo da performance da Dirty Candy ainda melhor do que a anterior. A coreografia tinha o acompanhamento dos movimentos alucinados de Bobby e o rodopio da guitarra de Luke em volta dele mesmo – soltaram uns gritinhos bem animados na plateia.

Ao final, Luke pousou a palheta e respirou fundo. Julie sentia-se oca. Os braços erguidos durante a reverência ao público. O cheiro do perfume de Luke e um bom cafuné era tudo de que ela precisava.

Dirty candy e a Sunset Curve trocaram aplausos. Os cães barulhentos de Hollywood fitavam os jurados como pessoas prontas para correr para o banheiro. Acalmada a balbúrdia, Medda se posicionou no centro do palco e limpou a garganta.

"Foi uma decisão difícil. Estar diante de três bandas promissoras e escolher uma. Principalmente depois do empate", ela desviou o olhar para os competidores e jogou os cabelos para trás. "Mas nós deliberamos e fizemos anotações, discutimos sobre as anotações..."

"Vai direto ao ponto!", Andy mandou, as mãos em concha ao redor da boca.

"Ok, ok. Vamos cortar o suspense. A banda vencedora é..."

E então, os aplausos.

 


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