De arrepiar! escrita por annaoneannatwo, OchabowlProject


Capítulo 3
O lobisomem


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de lembrar a todes que não, não sou furry



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É 31 de outubro de novo.

Ochako nota assim que abre os olhos e checa o calendário na cômoda próxima de sua cama. Ela não está surpresa, afinal sua assistente no jogo já havia dito que ela pode jogar esse especial de Halloween quantas vezes quiser, o que deixa implícito que a garota deveria jogar pelo menos cinco vezes, uma pra cada pretendente que ela tem no jogo. Um já foi.

Nossa, o Deku, ele… Ochako se senta na cama e abraça as pernas, lembrando-se do beijo que recebeu na testa antes de o garoto em sua versão fantasma sumir, tendo encontrado sua paz no coração ao ajudá-la a parar de chorar, segundo ele próprio. É uma sensação meio agridoce, aquilo foi bem triste, mas… ela meio que gostou das interações que teve com ele, pôde desabafar um pouco e vê-lo em uma versão mais serena e tranquila.

Bom, como o próprio Bakugou disse, quanto antes ela começar, mais rápido terminará. A garota suspira e se levanta da cama, resignidamente pegando sua fantasia de bruxinha no armário, já que não há outra opção.

O céu nublado e os barulhos de trovão não a assustam tanto, mas mesmo assim ela corre para não ser pega por uma possível chuva. Chegando no portão da escola, ela encontra o Bakugou olhando-a como aconteceu na vez anterior.

—  Bom… lá vou eu. —  ela diz, meio sem graça —  Me deseja sorte. —  e se dirige ao pátio.

—  Peraí, Cara de Lua, você- —  ela se vira pra olhá-lo —  Como- Você já jogou uma rota, e aí?

—  Ah… foi normal.  —  Ochako sorri fracamente —  Foi com o Deku-kun, ele era um fantasma, precisava de um pouco de paz no coração pra poder liberar sua alma ou… é, foi mais ou menos isso.

—  Hum. E conseguiu a foto?

—  Foto? Que fot- —  só então ela se dá conta de uma das instruções de sua assistente: se ela fizer as escolhas certas, ganha uma foto ao fim do evento.

Bom… ela não ajudou o Deku a descobrir como morreu, essa foi uma das primeiras coisas que ele disse quando surgiu na frente dela, então provavelmente era o grande objetivo desse evento, mas… o garoto parecia feliz e de fato conseguiu encontrar sua paz mesmo sem saber como morreu, então… Ochako fez as escolhas certas? Sim? Não? Ela não tem certeza.

—  Se você conseguiu, vai ter a foto em algum lugar do seu quarto, procura lá. —  o Bakugou explica —  Não agora, você tá ligada que-

—  Sim, sim. Eu já tô indo jogar. —  ela assente, dando um sorrisinho —  Eu acho que preciso andar por lugares diferentes pra conseguir um personagem diferente, né? Se eu for pro mesmo lugar pra onde fui antes, vou jogar a rota do Deku de novo, é isso?

—  Hum… é. Deve ser. —  ele concorda, olhando-a como se estivesse analisando-a.

—  Certo… vou lá, então. Me deseja sorte! 

—  Cara de Lua, você- 

—  Hum?

—  Tsk, nada não. Vai lá. —  ele enfia a mão no bolso e desvia o olhar do dela. 

Ochako está um pouco curiosa, mas também muito impaciente para começar logo, então apenas dá de ombros e se vira, adentrando o prédio sinistro da escola mais uma vez.

No topo das escadas, ela encontrou o Deku. Então se ao invés de subi-las e andar à direita, em direção ao corredor que dá para o ginásio e a quadra, talvez encontre alguém diferente. Seus passos ecoam pelos corredores úmidos novamente e, mesmo que saiba que nada de muito aterrorizante pode acontecer, ainda se mantém em guarda para não tomar um susto a ponto de quase cair das escadarias como foi na rota anterior.

A porta que dá para a área externa é pesada e range de uma maneira agoniante quando ela a puxa, assim que a abre, a luz mal invade os corredores, de tão escuro que está o céu. Ochako pisa cautelosamente para fora do prédio e avança, observando seus arredores com cuidado.

Um trovão tão alto quase faz o chão tremer quando um relâmpago ilumina tudo, fazendo-a enrijecer os ombros e soltar um gritinho de susto, susto esse que só não é maior com a figura que aparece bem em sua frente quando ela se vira para abrir a porta novamente e voltar pra dentro. Ou tentar.

Olhos vermelhos brilhantes e dentes muito pontudos. Os cabelos dele, também rubros, despontam como estacas afiadas, confundindo-se um pouco com um par de orelhas pretas, uma delas tem um rasgo, a outra tem um brinco de argola. Sua camisa preta está cheia de buracos, assim como suas calças verde musgo, o único elemento que não parece ter sinais de desgaste é a reluzente corrente que despende de seu pescoço, presa a uma coleira. 

Ele sorri, expondo todos seus dentes, parece até que ele está salivando no quanto brilham. Não fosse pelos barulhos mais baixos, porém ainda ameaçadores dos trovões, ela sente que conseguiria ouvi-lo rugir. É o Kirishima, e a lembra vagamente do ruivo original em sua forma Unbreakable, sempre intimidadora e impressionante em aparência.

O Kirishima dá um passo na direção dela, Ochako se prepara pra recuar, não gostando de como o sorriso dele parece um tanto… maníaco. Mas correr provavelmente poderia ser pior, então ela dá um passo à frente e mantém um braço à frente do peito, pronta para segurá-lo caso ele se aproxime de maneira ameaçadora.

E é exatamente isso o que o garoto não faz. Ele vem na direção dela, olhando-a curiosamente, o ruivo se abaixa um pouco e cheira seus joelhos, subindo e subindo até que-

—  E-ei, quê isso, Kirishima-kun! —  ela recua, segurando sua saia pra baixo. Sua repreensão realmente faz com que ele se afaste e a olhe de maneira muito triste, parece um… um… 

Cachorro?

—  “Kirishima”? —  as orelhas dele se mexem curiosamente —  É meu nome! Meu nome é Kirishima! —  e então ele abre um sorriso gigante, inclinando-se em sua direção  —  Ei, você me conhece? A gente se conhece? 

—  Se a gente…? —  ah… ah sim. Nesse evento, eles não se lembram dos acontecimentos da rota, é por isso que parece não conhecê-la nem se lembrar de que eles estão tecnicamente brigados —  Hã… mais ou menos, sim.

—  “Mais ou menos”? Hum, mas você sabe meu nome e… —  ele se abaixa e dá uma fungada bem próximo de sua orelha, fazendo com que Ochako ruborize violentamente —  ...seu cheiro é familiar.

—  M-meu cheiro?

—  Uhum! Muito bom! Eu adoro seu cheiro! —  ele diz isso ainda com um enorme sorriso, como se fosse algo super normal de se dizer —  Ei, você é uma bruxa, não é? Tá usando um chapéu de bruxa, —  o garoto lhe olha de cima a baixo, seu olhar se fixando por um tempo no… decote dela? —  e uma roupa de bruxa. Então você é uma bruxa!

—  Eu… é, acho que sim.

—  Legal! Então, bruxa, eu… não, espera, qual seu nome?

—  É Uraraka Ochako. —  ela responde meio na defensiva.

—  Ahhh que nome bonito! Bonito como você! —  ela nota algo balançando atrás dele, e ao dar uma olhada, percebe que é um… É UM RABO! Felpudo e preto, agitando-se freneticamente para os lados quando ele pega nas mãos dela —  Meu nome é Kirishima Eijirou, eu sou um lobisomem e quero que você tire minha maldição!

O-o quê?

—  Como é?

—  Eu quero deixar de ser lobisomem! Você pode me ajudar?

—  Oh… —  ah não! Agora ele a pegou, Ochako pode até estar vestida de bruxa, e por mais que os personagens tenham encarnado suas fantasias, ela não acha que isso se aplique à ela. Se a garota tivesse algum tipo de “poder mágico”, já estaria ciente, não? —  ...eu… eu não tenho certeza, Kirishima-kun.

—  Você não tem certeza? —  as orelhas dele se abaixam em tristeza, e é tão fofinho que ela nem sabe se fica triste por ele ou o acha adorável.

—  Bom, é que eu… eu não conheço nenhum feitiço que possa quebrar sua maldição. Eu… como você… como aconteceu essa maldição?

—  Ah, vem de uma lenda: o garoto de olhos vermelhos que nasce em noite de lua sangrenta virará lobisomem.

—  Oh… entendi. —  agora Ochako realmente está com pena, que coisa mais aleatória a cor dos olhos dele e a lua determinarem algo que o acompanharia pra vida toda. Isso é… realmente triste —  Sinto muito, Kirishima-kun.

—  Ah, tá de boa, eu já tô acostumado! —  ele sorri —  Mas… eu queria poder ser alguém normal, entende? Queria me livrar dos meus instintos, poder ficar perto de alguém sem que me olhem com medo. —  e fixa seu olhar no dela, apertando suas mãos, só agora Ochako nota as unhas pontudas e escuras dele, se o lobisomem pressionar mais um pouco, conseguiria fincá-las em sua pele —  Eu só quero deixar de ser um monstro.

Oh…

Antes que Ochako possa pensar em algo para dizer, o vento sopra violentamente, trazendo gotas de chuva geladas e grossas mesmo na parte coberta em que eles se encontram. Ela nem percebeu quando começou a chover desse jeito, de tão imersa que estava na interação com esse rapaz.

—  Vish! —  ele a abraça, usando seus massivos ombros para protegê-la e a puxa —  Vem, vâmo sair daqui!

Os dois saem correndo na direção oposta da porta de por onde ela veio, com o lobisomem conduzindo-a e protegendo-a com destreza, segurando-a com tanta firmeza que passa a impressão de que tem medo que ela se machuque com a chuva.

Depois de correrem desajeitadamente, o garoto empurra uma outra porta que range muito e a traz pra dentro. Está escuro, e Ochako só pode presumir que eles estão em um tipo de ginásio, pois o lugar parece ser enorme e seus passos ecoam de maneira espaçada, além das janelas pequenas lá no alto, que só podem ser vistas graças à fraca luz lilás dos relâmpagos que brilham no céu lá fora.

Mesmo com o Kirishima protegendo-a, ela não conseguiu escapar de alguns pingos que molharam seus braços, fazendo-a se arrepiar e se abraçar. Mas pra ele deve ter sido um pouco pior, já que basicamente virou um escudo humano para garantir que ela não se molhasse.

—  Você se molhou muito, Kirishima-kun? Acho que não tenho nenhum lenço aqui, se não eu… ah! —  todas as gotas d’água que não a atingiram antes vão parar todas em sua roupa. Na meia luz, ela consegue ver o Kirishima se sacudindo energicamente, fazendo com ele realmente pareça um cachorro depois de tomar banho.

—  Eita, foi mal! Você… —  ele vem na direção dela, e de repente para. Não dá pra ver direito, mas Ochako consegue inferir a presença dele bem próxima de si, também dá pra ouvir a respiração do rapaz meio acelerada —  Você… cheira bem mesmo… e tá tão bonita agora…

—  A-ah! —  ela arregala os olhos, o calor em suas bochechas ajudando a esquentar seu rosto úmido e frio —  Haha, deve ser fácil falar isso quando a gente tá aqui no escuro e nem dá pra me ver direito… —  ela tenta fazer um gracejo para afastar a própria vergonha.

—  Eu sou meio lobo, Uraraka, tenho visão noturna. —  ele informa com um tom grave e baixo, não soa como um comentário muito casual, e sim mais como um aviso… —  Consigo te ver muito bem. —  ela consegue notar que ele dá um passo em sua direção —  Seu cabelo, seus olhos, sua pele… —  a voz dele vem se aproximando —  ...sua boca…

—  K-Kirishima-kun-

—  Pode me chamar de Eijirou. —  agora é praticamente um sussurro em sua orelha —  Você é uma graça, Uraraka-chan, mas é bem descuidada, né?

—  E-eu?

—  Uhum. Ficar sozinha com um lobisomem no escuro, topar correr com ele pra um lugar isolado assim sem pensar, confiar em mim tão livremente, você não pode confiar em homens assim tão fácil. —  ele se abaixa, sua respiração pode ser sentida na boca dela

Ah não! De novo essa conversa? Ochako ainda está brava com o Kirishima do jogo exatamente por conta disso, dessa ideia de achar que ela não pode se cuidar sozinha, sem contar o tom de sutil ameaça por trás dessas palavras. Todos os garotos são coiotes, ele diz, como se isso justificasse tratá-la como uma garotinha boba que confia em qualquer cara e se dá mal por conta disso. Não é legal.

—  Me diz então porque eu não deveria confiar. —  ela dispara.

—  O-o quê? —  isso parece pegá-lo de surpresa, tanto que ele até se afasta um pouco.

—  Você disse pra eu não confiar em homens, você é homem, então… eu não deveria confiar em você, é isso? Por quê? O que você quer fazer?

—  Eu… n-não, peraí, eu não… eu não vou fazer nada! Eu… eu não QUERO fazer nada com você! Mas é que… eu tenho meus instintos e… e às vezes é difícil de controlar, às vezes é difícil eu ME controlar! —  ele soa muito constrangido e até um pouco desesperado —  Mas eu… eu não quero ser um monstro, Uraraka!

—  Você não é um monstro, eu sei disso. —  ela garante —  Um monstro não me protegeria da chuva daquele jeito, um monstro… não se preocuparia tanto em deixar de ser um. Mas… você realmente não é um monstro, Kirishima-kun.

—  Você… você acha? —  quase dá pra imaginar os olhos dele brilhando.

—  Sim, eu… você me lembra muito um amigo meu, sabe? Ele… é um garoto muito legal, muito mesmo! Ele é gentil, companheiro e… está sempre falando sobre como é importante ser másculo!

—  Másculo?

—  É, eu… não sei se entendo direito, só sei que tudo que ele acha bom é “másculo” e tudo que é ruim… não é másculo, acho que ele quer dizer que o importante é ser alguém com um coração bom e sempre buscar fazer a coisa certa, e… isso não tem nada a ver com ser homem, é só ser uma boa pessoa. E… tenho certeza que você é assim também, Kirishima-kun, você… é tão bom amigo quanto ele...

—  Uraraka, você… —  ele volta a se aproximar —  Ninguém nunca me disse isso, ninguém… nunca prestou atenção em mim como uma pessoa, você… você é alguém realmente especial…

—  A-ah, eu… só não gosto de ver pessoas boas se torturando por nada. Você não é um monstro, Kirishima-kun. —  ela sorri, imaginando que ele consegue ver graças à tal visão noturna.

—  Obrigado. —  a voz dele soa meio embargada, como se estivesse chorando.

Mas não dá pra ter certeza, ainda mais quando o garoto a abraça forte, enterrando seu rosto nos cabelos dela. Apesar da força com que ele a pressiona, ainda é gentil e doce, bem longe do tom ameaçador que tinha adotado alguns momentos antes.

—  Não foi nada. Eu… eu gostaria de poder te ajudar a se livrar da maldição, se eu soubesse como, eu… —  ele a solta do abraço, mas segue bem próximo, sua mão segurando o rosto dela de maneira afetuosa.

—  Você já me livrou. —  um relâmpago ilumina o ginásio e a permite vê-lo dando um sorriso doce.

Antes de sumir e deixá-la sozinha no ginásio abandonado.


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Notas finais do capítulo

Eu sei, eu sei... se você viu aquelas artes que eu mandei no capítulo passado que me inspiraram nas fantasias que os personagens teriam aqui, então talvez esteja estranhando porque o Kiri é um lobisomem, e não o Bakugou, bom... o Bakugou muito provavelmente não terá fantasia nessa fic, ele não faz parte do evento, né? Então quem dos pretendentes seria o melhor para ser o lobisomem? Pois é, o Kiri.
Lembrando que essa fic faz parte do Ochabowl Project, que está com inscrições abertas até dia 24/10, para mais informações de como de inscrever, só entrar em contato comigo que eu passo as instruções.
Próximo capítulo deve vir no sábado, quem será o próximo pretendente e do que ele estará vestido, hein?
Obrigada por ler! Espero que esteja curtindo!



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