De arrepiar! escrita por annaoneannatwo, OchabowlProject
Corredores escuros, mas não tanto a ponto de Ochako não perceber manchas de infiltração nas paredes e até musgo, o barulho de água pingando parece vir de todo lugar e lugar nenhum ao mesmo tempo, seus passos ecoam de maneira vazia conforme ela sobe as escadas.
No prólogo do jogo original, a protagonista foi empurrada por um vulto misterioso nesses mesmos degraus, então Ochako os sobe com cautela extra, checando o tempo todo se há alguém vindo atrás dela, é provável que a garota seria capaz de notar sinais de um possível perseguidor, passos, respiração acelerada, coisas assim, mas não há nada, então deve estar tudo bem.
Ochako chega ao fim das escadas e dá de cara com uma figura vestindo uma capa branca.
— Aaaaah! — ela dá um grito de susto e sente seus pés vacilarem, fazendo com que seu corpo caia pra trás.
— Ahhh, cuidado! — dedos levemente trêmulos se interligam aos seus e a puxam para cima com tanta força que o impulso a joga alguns passos à frente.
Ochako sente o coração bater na garganta, tamanho o susto de quase ter caído na escada novamente. Ela se apoia na parede e tenta se acalmar, respirando fundo e apertando o peito enquanto sente as batidas cardíacas se estabilizarem. Acaba sendo em vão, pois assim que se recupera, ela se lembra da silhueta de branco, Ochako se vira e a encontra ali parada com braços levemente erguidos, o capuz dele possui um desenho de um rosto com olhos negros opacos, um sorriso costurado e… pontinhos espalhados como se fossem… sardas?
— O que…?
— Ei, você está bem? Não se machucou? E-eu… eu achei que não conseguiria te segurar, mas eu… — essa voz… a figura ergue a cabeça e revela sua verdadeira face: olhos verdes esmeraldinos, sardas salpicadas pelas bochechas e nariz e cabelos ondulados despontando por debaixo do capuz — ...consegui te tocar...
— Deku-kun! V-você… você me assustou! Mas… — ela joga um rápido olhar na direção das escadas — ...me salvou também… Obrigada! — e sorri, aliviada.
O garoto continua olhando-a intensamente, seus olhos brilham muito na penumbra do corredor mal-iluminado. Ele a encara, e depois volta sua atenção às próprias mãos.
— Eu consegui te tocar, você… quem é você? — O quê?
— D-Deku-kun, o que você…?
— “Deku”? — ele arregala os olhos e vem com tudo pra cima dela, puxando suas mãos e segurando-as com força — É esse o meu nome? Como você sabe meu nome? A gente se conheceu? Você… você me conhecia?
— E-eu… — ela sente um misto de tensão e vergonha na forma como o rosto sardento dele se aproxima e em como suas mãos estão unidas, ele as segura com tanto desespero que Ochako não consegue soltá-lo, nem mesmo se quisesse — Não, seu nome não é “Deku”, seu nome é Izuku, Deku é um apelido que eu te dei. — bom, tecnicamente foi o Bakugou, mas ela não vê como explicar isso vai deixá-lo mais calmo.
— Izuku… então, se você me deu um apelido, quer dizer que a gente se conhecia? Você sabe como eu morri?
— VOCÊ O QUÊ? — ela se solta dele, apavorada — D-Deku, como assim?
— Você sabe que eu estou morto, não sabe? — ele pergunta como se fosse óbvio — Bom, talvez não tivesse como você saber, já que… eu fiquei vagando por aí, querendo que alguém me notasse, mas ninguém me ouve, ninguém me vê, e eu não consigo encostar em ninguém… — porque são todos NPCs — ...ninguém além de você. Quem é você?
Ainda estupefata, ela o observa cautelosamente. Sua capa branca tem alguns retalhos, e a barra parece rasgada, mas tirando isso, ele usa calça e sapatos que são parte do uniforme desse colégio, o capuz é amarrado com um adorável laço e… tem um chapeuzinho de bruxa no topo do capuz, é isso? Essa roupa é… um tanto bonitinha.
Então a garota se lembra do que o Bakugou disse sobre poder encontrar lobisomens e vampiros aqui, não é que os personagens estejam apenas fantasiados, eles acreditam ser o que estão fantasiados. Então o Deku vestido de fantasma realmente acredita que é um, claro que ele não morreu de verdade.
Que susto! Ochako já odeia esse DLC por fazê-la achar que realmente era isso, nem que fosse só por um segundo.
Mas bem, nada do que ela disser a ele o convencerá de que não está morto. Suspirando, ela se prepara para entrar na onda dessa bizarrice toda.
— Sou Uraraka Ochako, a gente estuda- estudava juntos, eu estava um ano à sua frente.
— “Uraraka”... — ele diz de maneira tão reverencial que até a faz corar, é estranho ouvir seu nome em uma voz tão idêntica à do Deku nesse tom — E… por que você me chamava de Deku?
— Ah, é que… é que pra mim sempre soou como “Você consegue!” e eu… achava que combinava com você. Ainda acho. — engraçado como contar essa história repetidamente deveria ser algo natural pra ela a esse ponto, mas ultimamente parece deixá-la cada vez mais sem-graça.
— Oh… — os olhos dele realmente parecem duas esmeraldas no quanto brilham — ...isso é… então nós… eu e você éramos… próximos?
— Hã… é, nós éramos amigos. — ela pensa com cuidado — Ainda podemos ser, se… se você quiser.
— Eu… parece loucura, mas eu soube assim que te vi, e então você foi a única pessoa que eu consegui tocar, e agora… consigo tocar tudo… — ele apoia a mão na parede, aparentemente feliz por ela não atravessar o concreto — você é alguém especial… — sim, pois ela é a protagonista — ...acho que você era alguém bem especial pra mim em vida. — ele dá um sorriso suave que faz seu coração acelerar.
— Ah… s-sim, nós… nós éramos amigos! Eu… eu votei em você pra presidente do Conselho Estudantil! — Ochako se apressa em explicar para não criar qualquer ideia na cabecinha dele. Esse Deku não é o seu melhor amigo do mundo original, e se ele já está apaixonado por causa da configuração do evento de Halloween, é melhor ela tomar cuidado.
— Eu… — ele cora — Fico feliz em saber que podia contar com você em vida. — e então fica sério — Se é assim, será que… será que você pode me ajudar?
— Oh, claro! Fico feliz em te ajudar em qualquer coisa, Deku-kun!
— Eu gostaria de saber como eu morri. — ok… qualquer coisa, menos isso…
— Você… você não se lembra?
— Não. — ele balança a cabeça — Não lembro de quase nada da minha vida, eu… eu sinto que não consigo ir embora por conta disso, entende?
— Ah… como se você tivesse algo pendente aqui, por isso sua alma não consegue descansar? Eu já li sobre coisas assim, acho.
— Isso! — o Deku confirma — Uau, você realmente me entende mesmo, eu… eu acho que… se estou aqui, é porque tenho muitas tristezas, mas… se eu tinha você em minha vida, então talvez não fosse tão ruim… — a voz dele assume um tom grave, e Ochako vê nos olhos dele uma intensidade diferente, nesse momento ele lembra bem pouco do garoto nervoso que se enrola em suas palavras frequentemente.
E isso a faz pensar: será que ela deveria falar pra ele sobre o que sabe? Que o Deku era tesoureiro do Conselho Estudantil, gostava de peixes, que estava no primeiro ano e que sofria bullying? Será que ela deveria contar que ele… ele se confessou e ela o rejeitou? Talvez, se ela ajudá-lo a lembrar de quem era, pode fazer com que ele se lembre de como morreu.
Ou então… ela pode não revisitar memórias dolorosas que o garoto tinha. Ochako dá uma olhada ao redor e para em si mesma, notando sua simpática fantasia de bruxa
— B-bom, eu… muitas pessoas têm medo de bruxas, e você sempre foi amigo de uma, então… acho que isso mostra que você sempre foi bastante corajoso, né? — ela segura a aba do chapéu de maneira animada e sorri.
— Ah, você… você é uma bruxa?
— Uhum! E eu posso não saber como você morreu, mas… mas conheço um feitiço que pode te deixar mais em paz, quem sabe seja a paz que você precisa pra poder descansar?
— Um feitiço?
— Isso! Vem comigo! — ela olha pra mão dele e hesita um pouco, mas por fim enlaça seus dedos nos dele e o conduz pelos corredores adentro.
Não dá pra ver ninguém pelo caminho, e Ochako avança por entre a penumbra do prédio aparentando muito mais coragem do que realmente sente. Ela não é medrosa, mas também não gosta da ideia de se assustar como aconteceu há alguns minutos, então apenas caminha batendo os pés para mostrar a qualquer possível pessoa ou criatura escondida que está presente e determinada.
— Hã, isso é… uma cozinha? — o garoto indaga quando eles entram na sala na qual ela queria chegar.
— É a sala de economia doméstica! Eu pensei que… — Ochako sai mexendo pelos armários e geladeira, e fica surpresa ao realmente achar o que precisa, não foi um plano bem pensado, ela só improvisou sem saber se poderia dar certo — ...a gente poderia fazer um bolo, o que acha?
— U-um bolo? — ele franze o cenho, muito confuso — Mas eu… eu não sei fazer bolo, eu…
— Mas você fez um bolo pra mim uma vez. — ela sorri.
— Sério?
— Uhum! E tava muito bom, hein?
— Oh… — os olhos dele até faíscam de tão brilhantes, e é difícil não sentir seu coração falhar uma batida — Isso é parte do seu feitiço?
— Sim! — ela concorda rapidamente, por um momento quase se esquecendo dessa história do feitiço que prometeu a ele — Vou colocar um ingrediente especial aqui que vai te trazer paz.
— Oh, ok! — ele concorda — Então, hã… o que eu preciso fazer?
***
Conforme eles vão preparando e misturando os ingredientes, Ochako o observa, notando como ele está concentrado em todas as tarefas que ela passa. Muito curioso como esse personagem traz a doçura tanto do Deku original quanto do que ela conheceu quando jogou a rota dele. É um garoto gentil, prestativo, dedicado e… carrega uma certa tristeza, ela entendeu o porquê de ele ser assim na rota, e tem uma ideia bem óbvia do porquê a versão fantasma compartilha dessa característica — ele está morto, afinal — mas não sabe o que dizer que poderia confortá-lo.
Então… ela se lembra do Deku original, ele dificilmente se mostra triste diante dela. Seu melhor amigo está constantemente pensativo, preocupado, por vezes tenso e imerso demais em seus pensamentos sempre acelerados, mas triste realmente é raridade, e se por acaso ele deixa esse lado transparecer, rapidamente o afasta, talvez para que ela não se preocupe, talvez porque sente que não deveria se sentir triste, é difícil dizer.
Depois de muita garantia que ninguém irá se importar. — e ninguém realmente vai — ela consegue convencer o garoto a se sentar sobre uma das bancadas, e agora eles balançam as pernas despreocupadamente enquanto esperam o bolo assar no forno. Ochako está louca para quebrar o silêncio, mas… não tem ideia do que dizer a ele.
— Uraraka-senpai, eu… eu queria saber se… se eu era uma boa pessoa. Sabe, você me considerava uma boa pessoa? — por sorte, ele toma a iniciativa.
— Você era ótimo. — ela garante — Você… você era meio tímido e inseguro, mas sorria muito e sempre tentava me acalmar quando eu estava nervosa. E hã… você me lembra muito alguém que eu gostava muito, ainda gosto, na verdade.
— Oh… sério?
— Sim, meu melhor amigo, ele… vocês se parecem, são gentis, inteligentes, prestativos, e mesmo quando eu me sinto meio mal comigo mesma por pensamentos que eu tenho, sempre me senti confortável perto dele.
— E… por que você se sentiria mal consigo mesma?
— É que… eu colocava nele algumas expectativas, eu… tinha ciúme por coisas bobas, agia de um jeito meio bobo perto dele, eu não… gostava muito de quem eu era perto dele, mesmo que o admirasse muito e gostasse de tê-lo por perto. Agora eu não posso vê-lo e, sei lá, tô com tanta saudade. — a voz dela falha, e Ochako sente as lágrimas encherem seus olhos.
Ah não… chorar perto desse garoto não é uma boa ideia. Ela realmente não quer uma reprise daquele momento no aquário. Isso realmente seria-
O fantasma se aproxima e usa a manga de sua capa para limpar-lhe as lágrimas, Ochako se surpreende, mas não fica tão tensa, o gesto dele é tão gentil e demonstra tanta preocupação que ela não consegue fazer nada além de permitir que ele afaste suas lágrimas.
— Seu amigo também deve ter saudades de você. Você é uma boa amiga por se preocupar tanto, sabia?
— Você acha mesmo?
— Tenho certeza. — ele sorri, ainda mantendo certa proximidade de seu rosto, e só então Ochako percebe o quão íntimo isso é.
— Aargh, o bolo! — ela se lembra e salta de cima da bancada, pegando as luvas de cozinha e abrindo o forno.
— O cheiro pelo menos tá bom… — ele comenta, meio sem graça, e pega uma faca para furar a casca tostada do bolo. Fosse outra circunstância, Ochako se preocuparia em vê-lo portando o objeto, mas seu coração diz que nada de ruim vai acontecer.
O garoto corta um pedacinho bem pequeno e, depois de lembrá-la que está quente, coloca na mão dela enquanto coloca o seu na boca. Eles mastigam por alguns segundos, analisando o gosto.
— Hã… Deku-kun?
— Sim, senpai?
— Tá horrível.
— É verdade.
Os dois riem de um jeito meio abobado, fazendo cara feia enquanto terminam de mastigar o doce com gosto de absolutamente nada. Ela deveria imaginar que, em um evento cujas ações não acrescentam muito para a história, a comida não teria sabor.
— Me desculpa! Eu devia estar te ajudando a encontrar sua paz, mas fiquei aqui chorando no seu ombro e fazendo um bolo muito ruim! Sinto muito que eu não esteja te ajudando em nada, Deku-kun! — ela leva as mãos à cara, lamentando profusamente.
O Deku a segura pelos pulsos e faz com que ela pare de esconder o rosto, Ochako fica surpresa e apenas acompanha com o olhar suas mãos ligadas a dele.
— Você me ajudou bastante, senpai.
— Mas… mas a gente não descobriu como você morreu.
— Eu… eu acho que não importa. Não importa como eu morri, o que importa é que eu tive você na minha vida.
— M-mas…
— Você disse que vai ver eu não consigo ir embora por ter algo pendente aqui, eu… eu acho que o que eu tinha de pendente era garantir que você não chorasse mais. Então… eu tô em paz. Obrigado. — ele se inclina e antes que ela possa dizer qualquer coisa, planta um beijo em sua testa.
A garota fecha os olhos e sente um conforto inexplicável nesse beijo, esse Deku é muito diferente tanto do original quanto do jogo, é uma terceira persona, um pouco mais madura e serena, que oferece mais do que busca aconchego.
E quando ela abre os olhos, o fantasma não está mais lá.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Oi oi! Esse é oficialmente o primeiro capítulo dessa historinha especial de Halloween que faz parte do "universo" de uma outra fanfic minha chamada Tudo o que está em jogo.
Resolvi começar com o Deku por ele também ter sido o primeiro na fanfic principal, a roupa de fantasma dele é inspirada em umas artes promocionais canon de 2017 assim como a da Ocha bruxinha, aqui dá pra ver: https://www.crunchyroll.com/pt-br/anime-news/2017/09/14-1/anime-shop-adds-pumpkin-spice-to-my-hero-academia-with-halloween-themed-goods
Essa fic é uma co-produção (???) com o Ochabowl Project, que está com inscrições abertas para escritores, betas, e capistas. Se tiver interesse, me mande uma mensagem que eu passo as instruções de como se juntar ao projeto!
E é isso, espero que tenha curtido! O próximo capítulo deve sair ainda essa semana. Quem será o próximo pretendente e o que será que ele representará?