Os Retalhadores de Áries escrita por Haru


Capítulo 9
— O Tesouro Nacional de Bellatrix




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— O Tesouro Nacional de Bellatrix

Muito embora fosse a líder do mais poderoso e respeitado reino do mundo, Kin não fazia a menor ideia de que Lire Seikou, sua maior rival, era a primeira ministra do Reino de Bellatrix. Aos oito anos, a enfrentou numa competição mundial representando seu reino, a venceu e Órion ganhou o símbolo de Áries na bandeira, Lire passou a odiá-la. Dois anos depois, se encontraram de novo, Kin a derrotou novamente e a Bellatrixana prometeu que um dia a mataria. Por isso, a loira não confiava em ninguém ali, se mantinha em alerta por onde ia. Só não desistiu da missão e voltou para casa porque a própria Keiko garantiu que eles lhe dariam o selo.

Por sorte, não precisou falar diretamente com Lire quando chegou. Por azar, teve que falar com Michio Seikou, irmão mais novo dela, um cara que também não era exatamente seu fã. Ele os levou até o "Tesouro Nacional", lugar onde ficava guardado o selo. A caminhada inteira até lá foi feita em silêncio. Mahina e Kenichi estavam brigados, Kin e o guia não iam com a cara um do outro, Sora andava no modo "piloto automático" e Haru só se preocupava com parar uma possível briga entre ele e Yue. Michio vestia um uniforme parecido com o de Mahina e Kenichi, indicando que ele liderava a Equipe de Elite do Reino de Bellatrix.

Um salão enorme com piso e teto de madeira antecedia as escadas que precisariam escalar para chegarem até o cofre onde estava o selo. Michio ia sempre a frente, com as mãos nos bolsos, os olhos fechados e a cabeça abaixada. Como a irmã, tinha cabelos castanhos claros, mas os dele eram curtos, penteados para trás. Usava óculos, era alto, magro e tinha pele quase tão clara quanto a camisa branca que trajava. Já se dirigia até as escadas no canto esquerdo da sala quando levou um murro na cara e foi nocauteado por uma criatura esquisita que se multiplicou até encher o salão.

Os visitantes de Órion ficaram em guarda, Mahina socorreu Michio. Yue, a sensitiva da equipe, tentava descobrir o que estava acontecendo.

— Tomem cuidado, gente! Essas coisas são Yokkais, eu esbarrei com eles algumas vezes. São fortes, se regeneram, se multiplicam, são que nem pragas. — Disse-lhes Kin. — Mas, dois de nós podem dar conta deles.

— Eu fico! — Sora se voluntariou.

Haru foi na dele:

— Eu também!

— Ok. O resto de nós vai continuar andando, esperamos vocês dois lá no terceiro andar. Tenham cuidado! — Kin os advertiu novamente, os dois, com a atenção nos monstros, assentiram. — Kenichi, carrega o Michio.

Aquilo só podia ter o dedo da infeliz da Lire. Que seja, pensou Kin, confiantemente subindo as escadas. A derrotaria de novo, mas, daquela vez, no jogo dela. No minuto que pôs o pé no piso de azulejo do segundo andar, Kin teria levado um pisão na cara se Kenichi não tivesse entrado na frente do golpe e, mesmo com Michio no ombro esquerdo, contido o pé do agressor. Após deter o ataque, o retalhador de elite olhou seu oponente nos olhos. Não imaginava que sua velocidade de locomoção causou espanto em todos.

Passada a surpresa, o inimigo livrou o pé da mão de Kenichi e se afastou para deixar os Orionianos se espalharem pelo salão. Sorriu, tirou o paletó cinza claro e jogou-o de lado.

— Não preciso nem comentar a honra que será lutar contra um dos retalhadores de elite de Órion. — Brincou, afrouxando o colarinho da camisa social preta.

— Mahina, Kenichi, vocês dois cuidam desse aí. Yue e eu vamos continuar. — Disse-lhes Kin.

Provando que concordava e que seu interesse passou a ser a dupla de elite, o homem pacificamente abriu passagem para Yue e a primeira ministra. As duas entraram calmamente no elevador e ascenderam até o andar onde guardava-se o selo. Kenichi atravessou a sala, passou pelo oponente como se ele não fosse ninguém, deixou Michio em cima do sofá e se preparou para a batalha. Mahina também já estava em guarda. Aquela era uma das poucas ocasiões da vida dela em que ela estava de mal humor.

No elevador, Kin acabava de contar suas suspeitas para Yue, que a ouvia enquanto ajeitava os cabelos e a tiara. Havia um espelho enorme bem na frente das duas.

— Você acha mesmo que ela iria tão longe? Com o cargo que tem agora... — A menininha fazia o papel de advogada do diabo.

— Eu tenho certeza que iria. — Respondeu Kin. — Lire nunca bateu bem das ideias, ela é psicótica. Não sei como a senhorita Keiko deu esse cargo a ela.

— E o que você vai fazer? — Yue a indagou.

— Hoje, vou tentar reunir provas e testemunhos para incriminá-la. Ela e o irmão panaca dela. Se eu não conseguir, vou ficar de olho neles até achar alguma coisa.

As portas do elevador se abriram. O salão do terceiro andar era mais luxuoso, seu piso foi forrado com um imenso tapete branco de camurça, suas paredes e seu teto eram amarelos. À direita do elevador ficava o cofre com as réplicas do selo. Kin rapidamente sentiu que algo estava errado, Yue olhou para ela e as duas concordaram que não era seguro pisar displicentemente no chão daquele andar. Para testar, Yue retirou a tiara dos cabelos e a jogou no tapete. Uma explosão aconteceu e consumiu a tiara. Yue usou seu sensor e, graças a ele, constatou algo que ninguém mais conseguiria.

— Esse tapete tá cheio de minas terrestres. — Contou para a loira.

Ouviram aplausos. Um homem estranho veio da direção onde ficava o cofre, retirou o capuz da frente do rosto e as olhou.

— Bravo, crianças. Mas, devo dizer que não esperava matar a primeira ministra do Reino de Órion tão facilmente. Eu sabia que precisaria de mais.

Apontou as mãos para elas e fez brilhar duas esferas de energia verde clara. Kin antecipou sua intenção de dispará-las contra o elevador, abriu as asas, criou sua espada de luz dourada e o atacou mais rápido do que os olhos de Yue podiam ver, desferiu um corte contra a cabeça dele, o forçou a esquecer as esferas e deitar o corpo para trás a fim de desviar e sobreviver. Ela podia voar, não precisava pôr os pés no chão para enfrentá-lo. Isso acaba de ficar interessante, o homem disse a si mesmo em pensamentos.

Haru tornou invisíveis Sora e a si mesmo, por isso não estavam tendo trabalho nenhum para destruir os Yokkais. O único problema era que eles se multiplicavam a partir dos restos dos que morriam. Não que estivessem reclamando. Se divertiam distribuindo socos, chutes, cotoveladas e joelhadas por onde corriam. Os bichos eram horrorosos, grandes, marrons, tinham garras e dentes afiados mas, graças a Haru, estavam ainda mais confusos do que costumavam ser. Na última sequência, o ruivinho passou voando pelo Raikyuu, o segurou pela mão, desfez as asas e, rindo, um atirou o outro contra várias das horrendas criaturas — golpe tão violento que matou muitas delas.

— Tá, vamos parar de brincar. — Disse Haru, se levantando. — As garotas e o Kenichi podem estar precisando da gente.

Sora parou ao lado dele.

— Mas como vamos vencê-los? Eles ficam cada vez mais numerosos e feios. — Retrucou.

— Eles devem ter algum ponto fraco, algum lugar que podemos atacar pra matá-los. Eu vou tentar ver. — Haru usou seus poderes e olhou no interior de cada uma das criaturas. Finalmente achou o que procurava. Quando ia comunicar sua descoberta ao Sora, se descuidou e levou uma porrada tão forte na cabeça que caiu de joelhos. — Filhos da mãe!

— Fica comigo, ruivo. — Sora o socorreu. — Encontrou alguma coisa?

— Acho que encontrei, todos eles têm uma esferinha brilhante perto do coração. — O informou, pegou na mão dele e ficou de pé. Sentiu sangue escorrer suas têmporas e ficou com mais raiva. — Vamos acabar com essas coisas!

No segundo andar, Mahina atacava o engravatado com um potente chute voador. O sujeito se protegeu com os braços, sentiu-os doer, quase perdeu o ritmo da luta e por pouco não teve a cabeça cortada pelo montante de Kenichi, conseguiu mexer a cabeça para baixo e esquivar-se. Agachado, atacou Mahina com um soco, ela se defendeu mas foi arremessada longe. Em seguida, virou a esquerda, foi para cima de Kenichi, girou e o chutou tão forte que tirou o montante das mãos dele. Um sorriu para o outro. O engravatado encheu as mãos com espinhos afiados e investiu sobre o vulnerável retalhador de elite.

A situação de Kenichi parecia irreversível, incontornável, mas Mahina entrou na frente dele e recebeu o ataque em seu lugar. O sangue da amigável retalhadora respingou no rosto e na camiseta do alvo original do ataque, ela teve atravessados o peito e o abdômen no lado esquerdo e no direito.

No terceiro andar, Kin, Yue e o adversário dela sentiram uma série de tremores. Sabiam que era hora de acabar com aquilo. Yue chamou por Sora, ele usou a super-audição, ouviu o plano dela e repassou para Haru. O ruivo deixou Kin invisível e a loira nocauteou o oponente com um chute no meio da cara, depois ficou de pé em cima dele para não pisar numa das minas. Quando o sujeito abriu os olhos, Kin encostou a ponta da espada na garganta dele e o rendeu. 

 — Desative as minas! — Kin ordenou. O inimigo, reconhecendo a derrota, obedeceu. Para saber se ele realmente desativou, Kin arrancou o capuz dele com um puxão, dobrou e jogou no tapete. Nenhuma explosão. Yue sentiu-se segura e caminhou até os dois, Kin saiu de cima dele mas continuou a ameaçá-lo com a espada de luz. — Agora você vai me contar quem enviou vocês aqui e como é que sabiam que viríamos buscar a réplica do selo. Yue, você abre o cofre e pega a réplica. 

O criminoso contou tudo o que sabia. Foi como Kin imaginara. Estava satisfeita. Com o testemunho dele, reunira o suficiente para denunciar Lire ao conselho. De acordo com Sora, no primeiro andar tudo estava resolvido. Kin pegou o elevador e foi até o segundo andar com Yue para saber se os retalhadores de elite precisavam de ajuda, mas quando chegou lá, encontrou o adversário deles morto e Mahina severamente ferida, caída numa poça de sangue perto de um Kenichi perturbado, transtornado. Ele chamou uma ambulância e não se atreveu a tocá-la, a dizer sequer uma palavra. A encarava estático, de joelhos ao lado dela.

O coração de Kin foi tomado por um ódio que ela não sentia há muito tempo. Yue pôs uma mão no peito, outra na boca e sentiu as lágrimas emergirem. Trêmula, Kin sentou perto da retalhadora ferida e ligou imediatamente para Lire. Quando a primeira ministra atendeu, a loira avisou:

— Lire! Presta atenção, sua vadia filha da puta! Eu já sei que foi você quem enviou esses bandidos pra matarem a gente! Você não vai escapar dessa assim, me entendeu bem?! Você vai ter que se ver com o conselho!

— É uma acusação muito grave, primeira ministra Kin. Pro seu bem, é bom que tenha provas, se não tiver, quem vai ter que se ver com o conselho é você! — Foi a resposta de Lire.

Kin ia continuar batendo boca com ela, mas Kenichi fez um gesto mudo com a mão, pedia o comunicador emprestado. Kin o deu para ele. 

— Primeira ministra Lire Seikou? Aqui é Kenichi de Órion. — Começou se apresentando calmamente. Depois, foi direto ao ponto, sem cerimônias: — Se a Mahina morrer, eu juro que vou destruir o Reino de Bellatrix inteiro, sozinho.

Kin conhecia Kenichi desde que era criança e nunca o ouviu falar assim. Ela não sabia como ele cumpriria tal promessa, só tinha certeza absoluta de que ele não estava brincando, nem falando por falar ou meramente movido pela raiva. O que Kin e Arashi mais desejavam evitar, seu maior pesadelo enquanto líderes do Nação de Órion, se concretizava: um pesado clima de guerra entre reinos se instaurou. E pior: contra o Reino de Bellatrix, atualmente o mais poderoso de todos. A nação onde nasceu Keiko, amiga deles e a guardiã da Terra de Áries. 


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