Os Retalhadores de Áries escrita por Haru


Capítulo 16
— O fim de uma era




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— O fim de uma era

Lutando um contra o outro, Arashi e Isamu percorreram várias vezes o gigantossauro que estava na arena. O confronto dos dois parecia longe de um fim, porque até o momento, ninguém foi capaz de aplicar um golpe efetivo. De repente, completando a volta na garganta do dinossauro, o primeiro ministro olhou para o guerreiro que combatia, viu nele novamente o bebê que um dia salvou e então cometeu um deslize que o adversário não perdoou. Isamu ajustou a espada e avançou com nítida sede assassina, quis perfurá-lo no peito. Arashi despertou a tempo e cobriu a região visada por Isamu com a parte de uma armadura que o salvou de ser apunhalado no coração, mas deslocou a espada inimiga para seu braço esquerdo e abriu um corte feio nele.

O Guerreiro de Órion revestiu o punho direito com uma luva de gelo e deu um cruzado de direita na cara do invasor, o afastando de si. Em seguida, abriu as asas e levantou voo para longe do monstro no qual pisava e para perto de Yue. Seu braço canhoto sangrava — e não sangrava pouco, porém, sua concentração no embate era tamanha, ele correu tanto, tão velozmente e num espaço de tempo tão curto, que nem se apercebeu. Mas não precisava ver que ganhara um corte profundo para saber o óbvio: sua postura estava oferecendo ainda mais riscos à sua vida do que o oponente. Tudo porque seu trapaceiro coração não o deixava ver Isamu como um oponente.

— Arashi, você tem que dar um jeito nisso! — Yue o exortou, apontando assustada a ferida. Mal sabia ela que ele nem tinha visto. — Não pode continuar lutando assim, toda essa quantidade de sangue saindo não é normal!

O ministro analisou o machucado. Estava oculto sob tanto sangue que não podia mais nem vê-lo, Yue tinha razão, precisava cuidar dele imediatamente. Só não sabia como faria isso, Isamu e aquela criatura enorme ainda estavam ali, ameaçando o Reino de Órion. Não podia deixar Yue sozinha. Embora não quisesse, dali em diante tinha que atacá-lo com tudo de si. Seu próximo movimento devia ser o último.

— Não se preocupe comigo, eu já sei o que fazer. — Respondeu, vendo seu perdido irmão mais novo retornar para o topo da cabeça da fera. — Nós só temos-

Isamu ordenou um ataque devastador vindo de cima para baixo e, quando seus alvos se moveram para sair da reta, não tiveram que completar a evasão, Naomi entrou na frente e deteve a cabeçada do gigante. Com as mãos mergulhadas numa fosforescente energia púrpura, a francesa derreteu uma parcela do queixo do dinossauro e os forçou a recuar. Arashi voou até ela e lhe deu asas como as suas e as da Yue.

A morena olhou as costas e riu.

— Legal! — Comemorou. Olhando para os aliados, questionou-os: — E aí, cheguei muito tarde?

— Chegou bem a tempo. — Arashi, com uma estratégia em mente, respondeu a ela. Apontou para o dinossauro. — Ajude a Yue a derrotar aquela coisa, não deixem que ela intervenha na minha batalha com o meu irmão.

— Seu irmão? — A recém chegada ficou de queixo caído.

— Longa história. — Yue respondeu por ele. — Vamos nessa.

Contando com o amparo das duas pôde investir muito mais confiante contra Isamu, desferiu um corte no rosto do invasor. O garoto bloqueou pondo uma lâmina na frente, Arashi deu um salto mortal sobre ele, fincou os pés no crânio do gigantossauro e tentou esmurrar o rival no meio da cara, contudo, viu-o se esquivar. Depois, tentou socar Isamu no rosto mais mil outras vezes, com ambas as mãos, mas ele se esquivou em todas. Encerrou a sequência de golpes com um poderoso chute alto. O chute foi tão forte que, apesar de se defender com os braços, o jovem retalhador sem pátria foi atirado para fora da cabeça do bicho no qual anteriormente mantinha-se de pé.

Enquanto o criminoso caía e se aprontava para deter a queda, Arashi voava na direção dele e lhe ameaçava disparando shurikens. O alvejado se defendia atrás de um escudo de gelo. A barreira, todavia, não suportou um só soco do guerreiro glacial: ele, além de atravessá-la, acertou Isamu no peito. Vulnerável ao golpe seguinte de seu irmão mais velho, só lhe restou olhá-lo ir ao seu encontro. O primeiro ministro do Reino de Órion voou na direção dele, recuou num gesto paradoxal, esticou os braços e o cegou com uma densa nuvem de neve para só então nocauteá-lo, com um potente direto de direita.

O derrotado atingiu a terra como um meteoro, o impacto formou à sua volta uma cratera muito maior do que seu próprio corpo. Arashi pacificamente aterrissou a seu lado e checou se não exagerou na dose. Ele está vivo, sentou e suspirou aliviado quando o viu respirar. Nunca se perdoaria se o matasse. Olhou para o céu quando sentiu alguns tremores. Não é hora de descansar, Arashi. O Reino de Órion precisava dele. Kin precisava. O gigantossauro de Isamu não tardou a se desmanchar numa grande chuva de água gélida. Era incapaz de medir os estragos que aquela criatura causaria se Yue e Naomi não estivessem ali para separá-la do invocador. Fitou Isamu inconsciente. O que fizeram com você, irmão? Foi abatido pela pena. A culpa é minha.

Suas ajudantes pousaram e pegaram sua mão para colocá-lo de pé. Como sempre fazia, engoliria o sofrimento e faria o que fosse necessário pelo bem do reino.

— Yue, vá, por favor, ajudar os retalhadores de elite. Naomi, você vai até a Kin. — Gentilmente pediu. — Eu me encarrego do Isamu.

— Eu tava com a loira até agora pouco, não se preocupe, ela e Haru já resolveram tudo por lá! — Revelou a francesa, retirando um grande peso emocional do coração do retalhador. Jurava tê-lo escutado ciciar de alegria. — Ela pediu para irmos até os retalhadores de elite assim que acabássemos aqui.

— Perfeito, podem ir. — As liberou, um tanto contente pelas coisas não estarem tão mal quanto pensava, escondendo um sorriso. — Encontro vocês lá.

— Não esquece de cuidar dessa ferida aí no braço! — Yue o lembrou.

Ele concordou, elas se retiraram. Arashi pensou em chamar a polícia e aguardá-los ali com Isamu, entretanto, não podia esperar tanto. O tomou nos braços e, carregando-o, foi voando para o hospital mais próximo. O caminho todo desculpava-se mentalmente com Kin e com seu reino por demorar tanto naquela batalha e se preparava para assumir a culpa que teve nas baixas. Fora que ainda restava obrigar seu irmão a confessar o que ele fez com os pais de Shiori e, em caso de sequestro, dizer pra onde os levou.

Kikuchi e Kenichi não desviavam os olhos um do outro. O retalhador de elite mantinha-se sério, o vilão, subestimando-o logo de cara, sorria. Um silêncio de suspense fez estada entre eles. Se entenderam corretamente, o ruivo pretendia enfrentar sozinho o bandido. Ninguém viu aquilo com bons olhos. Gray, o retalhador menos cansado dos que estavam na arena antes da chegada dele, não precisou nem dizer nada para que soubessem que ele era contra tal decisão. Caído aos pés de Kikuchi, Sora achava que não existia ninguém capaz disso.

A distância que separava o valente guerreiro de Órion do cruel malfeitor não passava dos trinta metros, porém, o orioniano largou o montante e a percorreu em menos tempo do que o exigido para fechar os olhos. Quando alcançou Kikuchi, Kenichi o socou com tanta força no queixo que o fez voar dali a horripilantes mil e quinhentos quilômetros por hora, ele parecia um foguete. A brutalidade com a qual a vítima se deslocou de seu ponto de partida foi tamanha que destruiu todo o chão que os pés dela deixaram e encheu o campo de poeira. Quando ela abaixou, todos procuraram pelos dois.

Ninguém os viu, poucos entenderam o que aconteceu — Gray fazia parte dos dois grupos. Sabia que seu companheiro de equipe havia feito alguma coisa, mas ainda estava cético sobre deixá-lo lutar sozinho. Enquanto Mahina e os menos feridos ajudavam os de piores condições, o loiro decidiu:

— É loucura enfrentar aquele cara sozinho, eu vou ajudá-lo.

— Não. — Mahina interviu, dando o ombro para Emi se apoiar. — Sou parceira do Kenichi há anos e nunca vi ele tão confiante sobre um inimigo, ele me pediu pra não deixar ninguém se envolver.

— Tudo bem, mas fiquem todos prontos para agir, vou prestar atenção neles. — Insistiu Emi.

— É estupidez, de qualquer jeito. — Discordou Sora, apoiado em Inari. — Kikuchi não é um inimigo, ele é o inimigo. Nem Santsuki quis entrar no caminho dele.

Apesar de atender o pedido de Kenichi e de pedir a todos para fazerem o mesmo, Mahina estava preocupada. Muito. Mas tinha fé nele. Kenichi podia ser um brigão, mas jamais foi arrogante, sempre soube dos limites da própria força, por isso, se ele estava dizendo que podia, sozinho, com aquele adversário, não tinha motivos para duvidar. Na verdade, o ruivo foi mais longe do que todo mundo pensava. Ele jurou para ela que venceria. É bom você cumprir, contemplava austera a direção para a qual os viu seguir e pensava.

Kikuchi enxugou com o polegar a gota de sangue que desceu de sua boca e, intrigado, fitou o dedo. Só quando aterrissou olhou em volta. Estava numa região montanhosa e arenosa. Se deu conta de que o soco de Kenichi o arremessou para fora do Reino de Órion. Estava impressionado. Há muito tempo um retalhador solitário não o fazia sentir tanta dor. E com um soco só, anotou, maravilhado.

Aquilo podia ser promissor, que bom que não fez o que o palhaço do Kazu falou. Quem aquele miserável pensa que é para me dar ordens?, murmurava consigo mesmo, insultado. Só não disse nada na hora porque não conhecia muito bem o caminho de volta para o Reino de Órion, precisava de Kazu, mas, assim que acabasse ali, daria um fim nele. Se é que os pirralhos de Órion já não fizeram isso. Sorriu quando seu presente inimigo chegou.

Sem dizer uma palavra, cerrou os punhos. Mirou o retalhador de elite, preparou-se e pensou que se ele lhe mostrou a força que tinha, nada mais justo do que mostrar a sua também. Então agiu. Com o máximo de si, deu um cruzado de direita na cara do ruivo, conseguindo apenas que ele tombasse um passo para a esquerda. Sentiu-se desafiado. Menosprezado. Kenichi o atirou para fora do reino com um soco comum mas, com seu soco mais forte, não foi capaz de jogar Kenichi nem no chão. Bateu de novo. O soldado de Órion nem tentou esquivar, recebeu o golpe mas, no máximo, tombou para a direita. Kikuchi bateu nele de novo, de novo, de novo, de novo e, encarando-o, se enfureceu. Parecia que ele nem estava sentindo dor.

Uma expressão que misturava desprezo e zombaria se apossou da face do Orioniano. Olhando Kikuchi nos olhos, Kenichi acertou a postura e disse:

— É o melhor que você pode fazer? Eu vou te mostrar como nós fazemos aqui no Reino de Órion.

Deu um murro tão poderoso e rápido no estômago do vilão que o golpeado nem viu nada, só sentiu. E sentiu a pior dor que já experimentara na vida. Dessa vez, todavia, não foi uma porrada que o arremessou para milhas e mais milhas de distância do ponto no qual ambos se enfrentavam, pelo contrário: foi Kikuchi quem escolheu sair do lugar, recuar com as mãos na barriga, pressionando em choque a região atingida. Impossível, atemorizado, o monstro imaginava se não estava sonhando. A dor que o golpe de Kenichi provocou foi tão grande e aguda que quase o fez cair de joelhos ali mesmo. Seu orgulho o manteve de pé, ainda que com a feição contorcida de sofrimento.

Contra-atacou. Errou um jab de direita, um direto de esquerda, um cruzado de direita, um cruzado de esquerda, um gancho com o punho destro, levou um cruzado de direita e um de esquerda na cara, retrocedeu seis ligeiros passos e armou uma de suas fendas dimensionais na frente do rosto quando viu que Kenichi ia lhe acertar um jab. O que aconteceu a seguir foi inédito: o soco do retalhador de elite destruiu sua fenda dimensional e atingiu seu nariz em cheio, o fez cair por terra. Cego com o próprio sangue, descontrolado de raiva, sem se reerguer questionou seu jovem inimigo:

— Quem é você?!

— Sou o sinal de que você cometeu um grande erro invadindo o Reino de Órion. Você e todos que tentarem isso no futuro. Sou um acerto de contas. E isso daqui não é uma luta, é um recado pros desgraçados que seguirem o seu caminho e ameaçarem o meu lar. Será que a sua morte vai servir pelo menos pra isso, Kikuchi? — Perguntou, andou dois passos na direção dele e continuou: — Porque até agora você não me fez nem suar.

Kikuchi não acreditou no que escutou. Estava sendo humilhado por um pirralho. Tinha mais de cem anos de vida, matou milhares de guerreiros poderosos e famosos para morrer pelas mãos de um garoto? Não podia ser verdade. Suas mãos estremeciam-se de fúria, acumulou nos dedos tanta terra do solo que eles assumiram a cor dela, seus olhos transmitiam ódio. Enquanto sua mente corria atrás de uma técnica para reverter aquele cenário, seu peito explodia de desejo de vingança. De repente, pensou em algo. A solução veio.

Pôs-se de pé.

— Aqui vai uma importante lição, garoto. — Sobrecarregou as mãos com poder. — Nunca faça pouco de um retalhador quem tem o triplo da sua idade e da sua experiência em combates.

Uma imensa, circular e brilhante fenda dimensional foi conjurada pelo vilão. Pego de surpresa, Kenichi não teve tempo nem para pensar, foi instantaneamente absorvido. Ela se fechou logo depois de engoli-lo. Kikuchi caiu sentado de exaustão. Foi forçado a usar sua técnica mais poderosa, foi humilhado, espancado. Duas vezes. Antes por Kin e Arashi, agora, por Kenichi. Tudo porque cometeu, em ambas as ocasiões, o erro de diminuí-los. Mas consertaria as coisas. Nunca quis tanto obliterar um reino como queria fazer com o deles.

Determinado a começar matando os companheiros de Kenichi, entrou em uma fenda dimensional e, para o assombro geral, ressurgiu flutuando alguns metros acima deles. Todos foram tomados de desesperança quando o viram. Crendo que aquilo significava que seu melhor amigo fora morto, Mahina sofreu como se um punhal tivesse atravessado seu coração. Controlar as lágrimas requeria uma força inimaginável, uma que ela mostrou não ter. O assassino os olhava de cima para baixo, como se fosse superior.

Normalmente Kikuchi diria alguma frase irônica antes de atacar para matar, mas temia ser surpreendido de novo e resolveu ir direto ao ponto: ao seu comando, centenas de buracos de minhoca brilhantes e alaranjados pontilharam o céu nublado e meteoros gigantescos saíram de dentro deles. O destino deles era o Reino de Órion. Os retalhadores de elite ficaram estáticos, sem saber o que fazer.

De repente, sobrevoando Órion com suas belas asas fulgurantes e douradas, Kin começou a explodir um por um com seus raios desintegradores. Ela ia de uma ponta a outra do reino como se fosse pouco o que fazia, como uma criança correndo até a esquina e voltando, e tudo o que parecia aos olhos mais hábeis era um feixe de luz. Aos comuns, entretanto, se fizera invisível de tão rápida. Depois de se certificar de que desfragmentou todos e que não sobrou um capaz de oferecer riscos à menor construção de seu reino, partiu para cima de Kikuchi, desferiu um corte direto contra o rosto dele com sua espada. O infeliz abaixou a cabeça e desviou.

Vários ataques semelhantes vieram dela contra ele depois do primeiro e nenhum o tocou, o alvo não se deixava atingir, furtava-se a todos. Cansado daquilo, Kikuchi acertou Kin com uma pancada no braço, com um chute tão poderoso que a mandou lesionada para junto dos retalhadores de elite. O próximo a tentar a sorte foi Arashi, o guerreiro glacial voou alto até o homem que bateu na primeira ministra e tentou acertá-lo, no entanto, ele bloqueou seu soco com as mãos, o puxou para si pelo braço e agarrou-o pelo pescoço, pretendia destruir a traqueia do primeiro ministro e matá-lo perante todos.

Aquela visão desesperou Kin.

— NÃO!! — Ela gritou. Disparou um de seus raios contra o vilão, conseguiu assustá-lo para forçá-lo a soltar seu companheiro. Assim que Arashi pousou, voou até ele para socorrê-lo, para saber como ele estava. Segurou firme na mão dele e, o ouvindo tossir, massageou as costas dele e perguntou: — Tá tudo bem? Arashi?!

O retalhador controlou a crise de tosses e a olhou.

— Eu que te pergunto... — Replicou, indicando o braço direito dela com um gesto mudo de cabeça. Estava quebrado. Só agora Kin reparou. — Deve ter sido naquele chute que ele te deu. — Especulou. Sua voz ainda estava rouca e um gosto insuportável de sangue subiu à sua boca.

— É, mas não tá doendo... — Argumentou, curiosa. Levou a mão boa até o braço fraturado.

— Não encoste, pode piorar! — Arashi a advertiu. — Eu te diria pra cuidar disso, mas... — Voltou os olhos para o inimigo que, posando de superior, permanecia nas alturas, olhando-os de cima. Kin olhou também.

— Por que ele tá parado olhando pra gente? — A loira levantou uma questão interessante.

— Ele também não está cem por cento, veja. — Tentou responder a pergunta da namorada. — Está ferido, ofegante... o chute que quebrou seu braço e aquela técnica que quase destruiu nosso reino devem ter exigido muito dele.

O casal ia se juntar ao restante da equipe, mas acabou que o restante da equipe se uniu em torno do casal. Gray tinha um plano e não aceitaria "não" como resposta.

— Eu vou ligar pra senhorita Keiko! — Avisou. — Isso deixou de ser problema só nosso, vamos segurá-lo aqui até que ela venha!

Como os primeiros ministros do Reino de Órion, Kin e Arashi detestavam a ideia de pedir a ajuda da Guardiã da Terra de Áries, sentiam como se estivessem se assumindo incompetentes. Era dever deles proteger aquele lugar, se preciso dar até a vida. Porém, não podiam discordar que recorrer à Keiko foi a única saída que restou, nem pôr o orgulho a frente do bem de sua terra. Deram anuência a Gray.

No segundo que o loiro tocou o comunicador da orelha destra, um lutador inesperado chegou.

— Droga, o que diabos deu em vocês?! Imagina a vergonha que seria a Guardiã da Terra de Áries ver o Reino de Órion assim! — Foi a bronca de retorno do Kenichi. O retalhador de elite estava pouco mais de trinta metros adiante do grupo, toda a ordem o olhou estupefato. Entretanto, qualquer um via que ele estava machucado e que parecia exausto, sua camisa fora completamente rasgada e sua calça quase virou um bermuda.

— S-sobreviveu à minha técnica mais poderosa! — Kikuchi chegou a gaguejar quando o avistou. — Não há dúvidas de que é um retalhador esplêndido, mas tem tanto poder que foge à sua compreensão... Poderia ir longe se não fosse morrer hoje com todos os seus amigos. 

Kenichi apontou o montante para Kikuchi e fez silêncio por vários segundos. Passados esses instantes, olhou para seus aliados e, sem abaixar a arma, reclamou: 

— Os retalhadores de elite e os primeiros ministros do Reino de Órion... Vocês estão patéticos! Querem matar o inimigo de pena?! Se planejam mesmo se render e passar essa responsabilidade pra outro, pelo menos esperem até eu morrer! Eu não quero assistir isso! Mas se quiserem vencer isso aqui, prestem atenção em mim e depois me acompanhem. Arashi!

— Estou ouvindo. — O primeiro ministro atendeu.

O ruivo fez uma breve pausa e continuou:

— Quando eu acabar, caso ele sobreviva, você saberá onde atacar! Não perca o foco e nem deixe que os outros percam!

Seus dizeres levavam um péssimo pressentimento ao coração de Mahina. A garota, com o peito frio de medo e tristeza, avançou um passo.

— O... O que você vai fazer...? — Perguntou. 

Ele voltou os olhos para o adversário e sorriu.

— Salvar meus amigos e eternizar o meu nome na história do nosso reino! — Disse, apenas. Pela primeira vez na vida os chamava de amigos na frente deles e isso não passou despercebido por ninguém. 

Daquele minuto em diante, Mahina não foi capaz de progredir um mísero passo. Foi como se uma barreira invisível e indestrutível separasse-o dos retalhadores de Órion, transformados em meros espectadores. Uma ofuscante aura verde contornou Kenichi. Ele ergueu levemente o montante e um tremor violento chocalhou o planeta, e nesse momento Kin soube que ele era o dono do poder aterrador que ela e Yue sentiram na madrugada que estavam no jardim do castelo da Família Real de Órion. Como?!, a loira se indagava. Quando?! Ele sempre foi forte assim?! Kin era comprovadamente a dona dos olhos mais ágeis entre os retalhadores que a rodeavam e mesmo assim foi totalmente incapaz de acompanhar os movimentos seguintes do ruivo. 

O que se sucedeu ao repentino e inesperado desaparecimento dele foi um clarão tão forte que cobriu a Terra de uma extremidade a outra, como se fosse dia em todos os lugares do mundo. Uma cortina de energia cor limão varreu Kikuchi e deixou o planeta, para trás ficou um espetáculo de luzes, tremores e ruídos monstruosos, dignos dos combates que Yume e Santsuki travavam. Os dois ministros e os retalhadores da força de elite tiveram a sensação de que nada aconteceu, tão rápido tudo se passou. O que viram ao abrir os olhos foi Kenichi cair inconsciente, de costas para o chão, mas a colega de equipe dele não permitiu seu impacto com o solo: o abraçou e sentou-se com ele.

O inimigo permanecia vivo, no mesmo lugar de antes. Severamente machucado, mas vivo. E enlouquecido de raiva. Arashi olhou para ele e na hora lembrou do que Kenichi disse. "Você saberá onde atacar". Chamou a atenção dos outros quando propeliu uma imensa lança de gelo contra o lado direito do peitoral do oponente, acertou em cheio o ponto mirado. Todos fizeram o mesmo. No decorrer daquilo, perceberam que a investida de Kenichi o fragilizou tanto que ele mal tinha forças para se manter no ar, que, portanto, podiam fazer dele o que queriam, então Kin disparou um raio de luz tão poderoso sobre o infeliz que o desintegrou completamente. 

 Sora riu por dentro. Acabava de testemunhar o fim de Kikuchi, estava cético, não sabia se ficava feliz ou se falava aos outros para não afrouxarem a guarda. Durante o tempo que ele perdia pensando nisso, os guerreiros de Órion se aglomeravam ao redor de Mahina. Nos braços dela jazia o herói, a única baixa dos orionianos na invasão daquele dia: Kenichi, o nobre retalhador mal humorado, conhecido por seus longos discursos em louvor da coragem. 


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