Harry, Hermione, Ronald, Severus, Albus, Remus e Samhain estavam presentes naquela audiência.

Sirius foi submetido a veritasserum, inocentado e ainda recebeu uma indenização significativa do Ministério da Magia. Todo material, do mundo bruxo e do mundo trouxa, que denegrisse sua imagem seria tirado de circulação.

O animago se sentou ao lado do melhor amigo e do afilhado para assistir a sessão de Pettigrew. Afinal, seu testemunho havia sido dado.

As perguntas ficaram cada vez mais incisivas, Moody não era conhecido por ser um poço de calma, gentileza e bom senso.

—Ele prejudicou ao Lord das Trevas imensamente com sua traição!-Ele tentou justificar o assassinato de Régulos. Seus miúdos olhos castanhos se fixaram, debochados, em Samhain.-Era isso que você queria ouvir, criaturazinha asquerosa? Que seu precioso papai tentou bancar o herói, e por isso foi reduzido a nada, além de uma massa retorcida de sangue, osso e gemidos de dor? Antes que sua tia lhe lançasse a Maldição da Morte?

Sirius quase desceu lá para surrar Rabicho ao falar daquele jeito com a menina. Mas Remus o cutucou  para que olhasse a sobrinha.

Samhain tinha um sorriso pequeno, mas contagiante no rosto. O que impressionou a tribuna ministerial.

— Sim. Isso era tudo o que eu queria ouvir. Tudo o que eu preciso para ter o documento de perdão do meu pai. Tudo para que eu pudesse usar meu sobrenome outra vez. Meu pai traiu Voldemort, e meu tio não tirou a vida nem do desprezível homem que traiu seus melhores amigos e condenou a felicidade de seu afilhado. Os dois últimos representantes da minha Família são heróis. E o sobrenome dos Black finalmente voltará para a luz, de onde nunca deveria ter saído. Então obrigada, Peter. Você disse exatamente o que eu queria ouvir.

E aquilo encerrou o julgamento. Rabicho foi penalizado com o Beijo do Dementador. Sirius seguiu para o departamento de Execuções de Sentenças Mágicas, e começou a assinar os documentos que a simpática senhorinha lhe trazia. Foi restituído de seu título e posses da família.

—Senhor Black...  A título de curiosidade...-Ela lhe deu a petição para que entregasse na sessão de Proteção às Crianças Mágicas.-O senhor assumirá a tutoria de sua sobrinha?

—Minha so... Samhain não tem tutor? Mas... Ela é menor de idade e...-A senhora lhe deu um arquear de sobrancelha muito Sonserino.-Walburga... É claro. Ela jamais deixaria a tutoria da neta nas mãos de qualquer um...

—O senhor quer o documento?

— Eu acho que... Deveria falar com ela primeiro.

A senhora revirou os olhos, enquanto pegava um documento elegante sob seu balcão, colocando-o longe de Sirius, próximo ao livro de registro de retirada de documentos daquele setor.

—Lady Black. Por favor, queira assinar o termo de perdão de seu pai.

Apesar das finas trilhas de lágrimas no rosto, Samhain entrou na sala sorrindo. Assinou o livro de registro e abraçou o pedaço de papel. Sirius não conseguia dimensionar o quanto aquele mero pedaço de papel era importante. Se fosse realista, ainda estava digerindo tudo o que ouvira sobre seu irmão. Além do mais... Com quantos anos Régulos havia tido aquela menina. Ele era seu irmão mais novo, e Samhain era mais velha que Harry.

Ela encolheu o papel e então puxou o relicário para fora da camisa negra. Abriu o objeto, que provavelmente era de prata, e colocou a miniatura do certificado no que deveria ser o local de uma das fotos.

— Aqui, papai... Finalmente estamos livres.

Sirius olhou novamente para a senhorinha, que abanava um papel para ele.

—Margot, me dê o documento da tutoria de Samhain.

Pediu baixinho, finalmente ganhando um olhar tímido da sobrinha. Até o momento ela não parecia ter se dado conta de sua presença. Pegou o papel e foi até a menina. Não tinha muito jeito pra isso, então apenas parou perto dela.

—Obrigado... Por ter me defendido dos Aurores... Por ter sido tão esperta ao capturar Peter...

—Tudo bem, tio... Não foi mérito meu.-Ela suspirou, dando um sorriso meio triste ao mais velho.-Bem, eu já perdi as primeiras aulas de hoje. Preciso voltar. Meu padrinho não vai permitir que eu falte a aula dele. Com licença.

Bem, agora ele teria de esperar o ano letivo acabar e o Ministério da Magia lhe dar a guarda de Harry, e a de Samhain.

•~~•

Ronald tinha a língua muito solta. Algo que George nunca foi tão agradecido. Especialmente por seu irmão falar, indignado, sobre como Sahain Black fez um Comensal da Morte tremer nas próprias pernas como uma vara verde.

Ele seguiu para a última aula da tarde. Poções.

Ela estaria na aula. Ele tinha certeza. E a levaria dali para colocar as cartas na mesa. Agora ele entendia o medo dela. E o dimensionava. Sempre achou boba a crendice dela de que ele se assustaria com seu sobrenome. Talvez a maioria das pessoas o fizesse. Mas George conhecia Samhain bem demais para temer um simples chamamento.

A encontrou sentadinha em seu balcão, no fundo da sala, do lado Sonserino. Exatamente ao lado da bancada dele e Fred. Seu irmão já estava por ali, encarando a Sonserina com a sobrancelha arqueadas. Mas ela não parecia muito interessada em seu irmão, visto o sorriso que ela lhe deu quando entrou na sala.

Mais próximo, viu os olhos e o nariz levemente avermelhados. A expressão de alívio chegava a fazer seu coração doer.

—George...-A voz estava levemente embargada e ele só queria abraçar a moça, para confortá-la.-Preciso te contar uma coisa... Agora é uma boa hora.

Ele sorriu e segurou a mão dela discretamente durante a aula do morcegão. Três tempos seguidos, quatro poções e seis trabalhos pra fazer.

Os dois foram até a margem mais distante do Lago Negro, tendo passado na cozinha antes. Samhain deu um sorriso triste ao ruivo, que se sentou em uma pedra.

—O que foi, Sam? Mudou de ideia?

—Não. É só que... Você... Pode ouvir tudo? Tudinho mesmo... Antes de ficar zangado?

Ele sabia o que ela queria tanto contar, não se zangaria. Mas queria saber como ela ia contar tudo. E o que ela precisava contar. Então apenas ergueu seu mindinho, enlaçando  o dela.

— Eu prometo ouvir tudinho que você tem pra me dizer antes de tirar conclusões.

Ela respirou fundo e segurou as mãos dele, como se estivesse buscando coragem.

—Bem...- Ela mudou o olhar para o chão.-Meu nome é Samhain Brianna Black... Eu sou filha única de Régulos Arturo Black, ex-comensal da morte, morto por trair o Lord das Trevas. Sobrinha de Sirius Black...

—Que foi devidamente inocentado diante da Tribuna Ministerial hoje. Esse era seu medo? Ser filha e sobrinha de homens que ficaram conhecidos por assassinatos cruéis?-A puxou para seu peito, acomodando a mais velha em seu colo, sentindo-a agarrar sua camisa.-Seu sobrenome e a fama que ele carrega dizem muito pouco sobre você.

Ela sorriu, se escondendo ainda mais no peito do ruivo.

—Você é impagável, George Weasley.

—Só impagável?

—Insubstituível também se enquadra.

O ruivo riu, deixando um beijo longo no rosto da moça.

—Prazer em finalmente conhecê-la por completo, Lady Black.

—O prazer é meu, senhor Weasley.