Travessuras, por favor escrita por Sweet Madness


Capítulo 2
Capítulo 2 - Silêncios




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Algumas pessoas gostam de silêncio.

Não que isso signifique calmaria.

Pessoas que são o puro caos gostam de silêncio. O silêncio de sua barulhenta própria companhia.

Sirius não gostava de silêncio. Mas viveu doze anos preso ao silêncio morto de Azkaban. Ele aprendeu a apreciar seus próprios pensamentos, aprendeu a ser paciente, aprendeu a planejar...

Mas não gostava de silêncio.

Samhain gostava. Do silêncio de seu piano e sua voz. De ver sua avó fechar os olhos e se balançar dentro de seu quadro enfeitiçado, apreciando a neta fazer uma das coisas que a ensinara com maestria. Instruir sua neta para ser uma legítima herdeira dos Sagrados 28 havia sido a terapia de Walburga.

Aliás, Walburga descobriu que não gostava do silêncio da casa. Sem o barulho rebelde de Sirius, sem o barulho delicado de Régulos, sem o barulho rústico de Orion. Ela odiava aquele silêncio.

Agora só tinha o silêncio de sua neta pela casa. Depois de se entregar a morte, Walburga viu a solidão e o silêncio devorarem sua neta. Até o retorno das aulas do segundo ano.

Foi quando aconteceu um novo barulho insistente na Mansão Black. Uma coruja atrapalhada que bicava a janela todos os dias.

Remus gostava de silêncio. Mas, sem dúvida, também gostava de ser professor. E gostava muito de alguns alunos em específico. Harry, por razões óbvias, Hermione, por toda sua inteligência e astúcia, Fred e George Weasley, por lembrarem tanto seus melhores amigos, Percy Weasley, que o lembrava de si mesmo naquela idade, e, por fim, Samhain.

Gostava da sonserina por razão alguma. Tudo bem, por sua empatia e aquele sorriso quentinho que ela lhe dedicava sempre que voltava de uma lua cheia difícil.

Naquele dia em especial, Remus mal conseguia se manter de pé. Também se sentia observado, como se Sirius estivesse ali, a espreita. Aquilo o deixava imensamente desconfortável.

Ministrou a aula e liberou os alunos assim que possível. Acabou levando um susto com a mão longa que tocou seu braço.

—Professor, vamos a enfermaria? O senhor não está nada bem. Não deveria ter lecionado hoje.

A voz extremamente rouca, carregada, de Samhain se projetou na sala.sem questionar muito, Lupin aceitou o auxílio até a enfermaria, ganhando um olhar surpreso de Poppy.

A Sonserina o sentou na maca, cumprimentou a medi-bruxa e se foi, para que ambos pudessem conversar em paz sobre os novos ferimentos do lobisomem.

•~~•

Sirius se acomodou para assistir a partida de quadribol. Lufa-lufa contra Grifinória.

Estava observando os rapazes dentro do vestiário. Havia uma moça, usando roupas negras de corte simples e tecidos extremamente elegantes. Ela tinha um sorriso gostoso e deu abraço quentinho em um dos gêmeos Weasley.

— Por favor... Sem gracinhas na vassoura. Está chovendo muito lá fora e nem sabemos se os dementadores podem acabar sendo atraídos pela vibração dos alunos ao assistir um jogo disputado.

— Você não confia nas minhas habilidades, Sam?

Ela suspirou e fechou a expressão, seria.

— Eu não estou brincando com você, George Weasley. Não quero que se machuque! Não duvido que é um exímio batedor, nem que voa muito bem. Eu só não quero ver você machucado.

O rapaz parou de sorrir e deu um novo abraço na moça. Eles pareciam um casal, mas Sirius não tinha presenciado os dois se esfregando em nenhum momento pelo tempo que estava infiltrado em Hogwarts. E oportunidades a eles não haviam faltado.

— Eu sei, Sam... Eu vou tomar cuidado. Eu prometo.

—Ótimo.-Harry se aproximou para chamar George e ganhou um sorriso doce da moça, que lhe deu um abraço de conforto.-Você também se cuida, ok? Se os dementadores vierem pra cá eu quero vocês dois indo direto pro chão.

— Sim, senhorita!

Um último abraço nos dois e ela saiu para a chuva, protegida por um feitiço para não se molhar. Subiu na arquibancada da Grifinoria mesmo e se sentou junto de Ginevra e Hermione. Elas não eram exatamente amigas, mas ficavam confortáveis nas presenças umas das outras.

E Sirius ficou ali, apreciando o jogo. Até os dementadores sairem do controle dos Aurores e atacarem Harry.

•~~•

George se viu deitando o mais perto que podia da sessão dos Sonserinos, e sorriu quando viu Samhain arrastando seu colchonete, também próxima ao limite entre Grifinória e Sonserina. Isso não passou em branco por Minerva, que sorria para os dois bruxinhos.

Deitaram um de frente pro outro, e deixaram as mãos dadas ali naquele "limite".

— Você está tão gelada...-Ela sorriu enquanto o ruivo puxava sua mão para perto do rosto.-A propósito... Amei seu pijama.

Agora ele conseguiu uma risadinha. Mas era verdade. Ela estava uma gracinha naquele conjunto de moletom verde-menta. Os cabelos trançados, as sardas bem escuras, contrastando com a pele branca.

—Sei... Você consegue ser exibido até na hora de dormir?

Ela tirou a mão do rosto do ruivo e passou a reabotoar a camisa de flanela. George segurou a vontade de rir, apreciando a expressão concentrada da Sonserina. Depois os dois ficaram em silêncio absoluto, se encarando e esperando o sono voltar. Até o ruivo suspirar.

—Sam... Você pode ficar uns dias sem ir sozinha às margens do Lago Negro?

A morena franziu a sobrancelha.

— Por que? George... Acha que Sirius Black está mesmo esperando para atacar?

— Eu tenho certeza. Sei que você não é da mesma casa que o Harry... Mas se ele souber sobre nós? E se quiser usar você contra mim?

Ela deu um sorriso tranquilizador ao namorado, voltando a acariciar seu rosto.

—Tenho uma opinião impopular sobre Sirius Black. E eu sou grandinha. Sei me cuidar.

—Se você diz... Mas... Posso ficar com você, então?

— Você vai me deixar ler em paz?

—Provavelmente não.

Ela sorriu e virou de costas para ele, se aconchegado nas cobertas.

— Você é impagável, George Weasley.

•~~•

Se fosse pra Severus Snape ser sincero, ele amava a companhia de sua afilhada. Fora melhor amigo de Regulus Black em Hogwarts, e o único Comensal da Morte a ter a oportunidade de conhecer a pequena e doce Samhain.

Na verdade, Régulos fora desesperado até ele, com uma bebê fraca, doente e maltratada. E foi a maior prova que Severus enfrentou como pocionista. Ele teve de restaurar a saúde da criança do zero absoluto.

E hoje tinha sua companheira de laboratório. Até mesmo de ouvir a menina contar sobre as outras aulas ele gostava.

Severus, assim como Sirius, não gostava de silêncio. Ele o fazia lembrar seu pai abusivo. Mas havia aprendido a viver com ele.

Agora ele tinha o silêncio de sua afilhada. Um silêncio agitado, repleto de canções, cheiros, risadinhas, implicância... Um silêncio que ele gostava. E faria de tudo para proteger.

Naquele domingo os dois terminavam a poção de Wolfsbane. É claro que Samhain reconheceria a natureza mágica de Lupin. Mas Severus não julgou necessário alertar ao lobisomem. Ele conhecia bem a menina que ajudou a criar.

—Você está quieta.

—Sinto que algo ruim vai acontecer... Desde que Bicuço atacou o Draco... Eu não acho que ele merece uma condenação... Ele é só uma criatura e estava se defendendo de uma aproximação hostil.

—As vezes me pergunto como você veio parar na Sonserina.

—Ameaçando o chapéu seletor, é claro.

E deu de ombros. Nem precisava olhar para o padrinho. Conhecia bem a expressão indignada que estaria expressa nas feições duras do pocionista.

Em mais algumas horas eles terminaram a poção. Severus tinha saído para a ronda e encontrado com Potter e Lupin no processo. Samhain engarrafou a poção e serviu a dose da noite em um cálice. Se despediu do padrinho e decidiu dar uma volta até a cozinha. Aquela perturbação mágica estava incomodando a menina de forma aguda. Isso até ver, por uma das janelas, seu padrinho saindo pela Porta Principal, direto para o Salgueiro Lutador.

•~~•

Finalmente o silêncio de Sirius teve fim. O segredo sobre a morte de James e Lilian estava ali, derramado ao chão, para que todos vissem. Ele só precisava pegar o rato do menino.

Snape surgiu, sua figura austera e sombria na porta. Peter ginchou mais ainda sob o olhar ferreo do Comensal da Morte. O pocionista, ainda com o cálice de Lupin em mãos, viu a senhorita Granger desmascarar a verdadeira condição mágica de Remus com um prazer mórbido. Mas foi o balanço de magia dentro da Casa dos Gritos que fecho pocionista abrir um sorriso malicioso.

—Supondo...-Interrompeu a discussão acalorada de Potter e Black sobre a veracidade do que contava.-Que tudo seja verdade. Que aquele ser insignificante nas mãos do senhor Weasley seja Peter Pettigrew...-Os olhos negros se fixaram no rato, que voltou a guinchar.-Por curiosidade... Você ainda se lembra de fama de Walburga Black, Peter?-O rato se contorceu, mas Rony o imobilizou com as mãos fortes.-E da genialidade que Régulos tinha? Antes de ser trucidado por Bellatrix, é claro. Com a sua ajuda, se não me falha a memória.

—Régulos está...?

Severus viu os cabelos negros da afilhada surgirem no batente da porta. Os olhos desiguais fechados, mas ela não chorava. Estava esperando. Ela queria... Precisava ouvir da boca de alguém que seu pai havia sido assassinado como um herói apagado da história.

Um rompante de magia fez o animago se transfigurar em homem. Seus traços faciais ainda mais parecidos com o de um roedor pelo tempo aprisionado à forma animaga.

—Régulos era um traidor! Ele roubou algo que enfureceu ao Lord das Trevas.

Uma risadinha satisfeita deixou os lábios do pocionista, para a surpresa de todos.

—Essa foi a pior resposta que você poderia dar.

Uma presença mágica acuou aos demais presentes. Pesou no ambiente. Samhain respirou fundo, antes de aparecer na porta. Seus olhos desiguais expressavam seu ódio de forma categórica.

—Então foi você...-Rabicho caiu de bunda, se encolhendo tanto que quase parecia que iria voltar a forma animaga. Mas ele não conseguia.-Você... Entregou meu pai áquela louca... Você foi o responsável pelo assassinato do meu avô... Você é o culpado pela morte da minha avó...

Harry roubou a varinha de Hermione. E naquele momento entendeu que, nem de longe, Severus era o maior fator de risco naquela sala.

— Você... Você é real...

Houveram aparatações do lado de fora. Aurores. Mas Sirius estava achando aquela cena tão interessante que nem se preocupou com a própria liberdade.

—Olhe bem pra nós dois, Pettigrew.-Ela apontou a si mesma e a Harry.-Você vai ter muito tempo em Azkaban para pensar no que você fez. Você destruiu a nossa infância. Você traiu seus melhores amigos por ser um covarde. Você traiu a única pessoa que defendeu você entre os Comensais da Morte. E você vai pagar por tudo isso. Pelo resto da sua vida miserável. Incarcerus.

A ação dos Aurores fora rápida. E Sirius não foi preso de imediato pela forma como sua, recém-descoberta, sobrinha havia feito a nota á Moody, antes de seguir para o Salgueiro.

Remus bebeu sua poção, Rony foi levado a enfermaria, Bicuço foi mandado para uma reserva, e logo mais haveria um novo julgamento. A inocentação de Sirius Black. E a condenação majoritária de Rabicho.


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