Alicia e as 12 bênçãos escrita por Creeper


Capítulo 4
Princesas caem de árvores


Notas iniciais do capítulo

Oie! Cá estamos no terceiro capítulo, agradeço a quem chegou até aqui ♥! Tenham uma boa leitura!



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O caminho de charrete até o porto durou longos e apreensivos minutos, fazendo-me roer as unhas de aflição. O balançar do transporte fez com que meu estômago voltasse a embrulhar e muitas vezes eu pensei que fosse vomitar na estrada.

Tentei concentrar-me nos moradores que acenavam para mim pela cerca de suas casas e nos comerciantes atrás de suas barracas oferecendo produtos frescos. Senti um forte aperto no peito ao deixar tudo aquilo para trás. Respirei fundo, inspirando o cheiro dos pãezinhos recém assados e a fumaça da ferraria, guardando-os na memória.

— Vai ficar tudo bem, Alicia. – Richard acalmou-me. – Quando você voltar, tudo estará no mesmo lugar, como sempre foi. – ele desviou os olhos da estrada por um segundo para me fitar.

Eu sempre acreditava nas palavras de Richard, entretanto, não consegui captar verdade nelas naquele dia. Querendo ou não, uma hora todas as coisas mudariam, incluindo-me ou não. Por outro lado, optei por ignorar esse sentimento e balançar a cabeça em aprovação.

Assim que chegamos ao porto, saltei da charrete, completamente dolorida e enjoada pelos solavancos que Josephine nos fez enfrentar. Agarrei as malas que Richard me entregou e observei as ondas vívidas do mar chocando-se contra os navios ancorados.

Em meu campo de visão, a silhueta de um garoto familiar vinha em nossa direção, bufando e franzindo as sobrancelhas.

— Vocês estão atrasados! – Henry bradou. – O navio já vai partir e... – ele se interrompeu reparar em mim. – Uau.  

— O que foi? – analisei meu próprio corpo, procurando algo de errado.

— Nada. É que você está... – ele massageou sua nuca, sem jeito. – Bonita.

Minhas bochechas aqueceram-se e um sorriso escapou de meus lábios.

— Obrigada. – respondi envergonhada.

A conversa não pode se estender, pois escutamos um apito estrondoso vindo do ancoradouro.

— Eu acho que você precisa correr. – Henry sugeriu.

— Boa ideia. – ri nervosamente. – Obrigada por tudo, garotos. – olhei de um para o outro.

Henry e Richard sorriram e acenaram enquanto eu me distanciava.

— Adeus! – exclamei e corri o mais rápido que pude.

— É bom você demorar para voltar, Alicia Foster! – Henry gritou.

Meus pés moviam-se freneticamente, o vento bati em meu rosto e levava meus cabelos para trás, libertando-me de toda insegurança e medo. Um calor aconchegante surgiu em meu peito, permitindo-me soltar um grunhido de alegria ao pisar no convés do navio.

Apoiei-me na borda, inalando a fragrância salgada do mar e gesticulando para os dois irmãos ao longe. Movi minha cabeça para o céu, apreciando a imensidão azul repleta de nuvens fofinhas e as gaivotas que a contornavam livremente.

— Minha história começa agora. – dei uma última olhada para o porto que aos poucos ia diminuindo de tamanho.

~*~

Como aquela era minha primeira viagem de navio, devo dizer que não fiquei nem um pouco entediada durante os três dias de viagem. Pelo contrário, fiz vários registros no meu caderno de anotações e desenhei as paisagens que pude vislumbrar. Acho que minha euforia foi capaz até de espantar os enjoos.

Apesar de tudo, tive uma pontada de solidão. A saudade tornou-se esmagadora, mas não deixaria me abalar, fiz questão de conversar com a maioria dos passageiros, a fim de distrair-me.

— Boa sorte com a família! – afastei-me de um homem que dizia estar ansioso para rever a esposa e seu bebê recém-nascido.

Joguei os braços sobre a borda do navio e soltei um suspiro. Observei a movimentação do oceano até que o canto dos meus olhos captou algo. Endireitei as costas e tive de esfregar as pálpebras ou não acreditaria no que estava vendo. Surgindo em meio ao oceano, um pedaço de terra sustentava um castelo em meio a sua vasta vegetação.

Ainda estávamos longe, mas eu já podia experienciar sua temperatura e as fragrâncias trazidas pela brisa. Além de ser conhecida como a ilha mais desenvolvida do mundo, também havia uma lenda de que aquele era o lugar que despertava suas melhores emoções.

A existência de Ilha dos Saberes me fazia acreditar que eu realmente vivia em um mundo mágico. E lá estava eu, prestes a morar ali.

Nos aproximamos lentamente, contudo, bastou chegarmos ao ancoradouro para que eu pulasse na terra firme. As pessoas transitavam de um lado para ou outro em meio aos diversos navios ancorados, deixando-me zonza.

Consegui ultrapassar a multidão, dando adeus ao meu transporte por tempo indeterminado. Caminhei mantendo as malas rentes às laterais do corpo, tomando cuidado para não trombar em ninguém ao mesmo tempo em que procurava por informações.

Por sorte, avistei um homem uniformizado ao lado de um enorme mapa, aliviada fui ao seu encontro.

— Bom dia, donzela! – ele me cumprimentou. Tinha um leve sotaque. – É sua primeira vez em Ilha dos Saberes? – perguntou em um tom amigável.

— Sim, vim para o teste de admissão da Linha de Exploração. – contei.

— O teste acontecerá às duas da tarde. – o homem mostrou o relógio embutido no mapa, o qual marcava ser meio dia e meio.

— Sabe me dizer como chegar lá? – analisei o papel cheio de rotas, setas e marcações, confundindo-me ainda mais.

— Basta seguir reto até o arco de entrada da cidade, andar seis metros, depois virar à esquerda por mais dois metros, entrar na direita, caminhar reto pelos próximos cinco metros, passar pela praça e logo encontrará o Royal Honor Institute. – ele explicou como se fosse a coisa mais simples do mundo. – Nós também vendemos mapas. – indicou alguns pergaminhos dentro de um balde.

Anotei o que entendi de sua explicação em meu caderno, comprei um mapa, agradeci o homem e segui meu caminho.

Um caminho de pedras desenhava-se entre vistosas árvores e arbustos de flores bem cuidadas que espalhavam um delicioso aroma adocicado. Passei por debaixo do grandioso arco colorido que carregava o nome da ilha em letras bastão, enchendo-me de coragem.

Pisquei os olhos duramente, conferindo se não estava sonhando. Na minha frente, flores, bandeiras e serpentinas decoravam as ruas, preenchendo-a de cor juntamente as barraquinhas convidativas e perfeitamente alinhadas. Me perguntei se cheguei em tempos de comemoração, todavia, todos pareciam acostumados com o cenário.

Casas de dois andares estendiam-se paralelamente, cujo as superfícies brancas reluziam a luz do sol. As janelas abriam-se uma a uma, revelando moradores de feições suaves.

Rodopiei, imaginando presenciar um conto de fadas. Precisei de muito autocontrole para não me instalar em cada barraquinha e gastar todo meu dinheiro em iguarias e presentes.

Continuei no caminho que o guia me aconselhou, chegando à praça após vinte minutos de caminhada. Avaliei os arredores, buscando por algum sinal do instituto. Sem sucesso.

Decidi subir em uma pequena colina verdejante no meio da praça, onde uma árvore crescia saudavelmente. Daquele lugar era possível enxergar todos os bancos que rodeavam o chafariz de pedra azulada, acompanhados de inúmeros arbustos florais.

— Talvez seja ali. – apontei para algo que assemelhava-se a extremidade de uma torre.

Foi quando escutei um farfalhar acima de minha cabeça. Olhei para cima, averiguando a fonte do som.

— Olá? – questionei desconfiada.

A única coisa que pude ver foi um vulto azul caindo sobre mim e me empurrando colina abaixo. Praguejei de dor ao atingir o chão de cascalho e tentei me estabilizar, o que era difícil considerando que as cores e formas transformaram-se em um borrão.

Gradativamente, notei que uma garota me observava, deixando clara sua expressão de susto.

Levantei meu tronco, percebendo que estava deitada. Retomando meu raciocínio, ouvi a garota disparar palavras em uma velocidade absurda. Palavras em sêcnarf.

— Desculpe, não entendo o que está tentando dizer. – falei pausadamente e balancei as mãos.

Ela engoliu todas as palavras que tinha na ponta da língua abruptamente. Fiquei constrangida por tê-la interrompido.

Sêlgni! Isso é sêlgni! – ela ergueu as sobrancelhas, perplexa.

— Você fala minha língua? – foi minha vez de ficar surpresa.

— Sim! Eu estava tentando me desculpar por ter caído em cima de você! – a garota juntou as mãos como se implorasse, adquirindo um forte sotaque.

— T-Tudo bem, mas o que você estava fazendo lá em cima? – voltei-me para a árvore, confusa.

— Eu estava procurando o local do teste de admissão. – ela ruborizou e passou os dedos por seus longos cabelos azuis.

— Eu também! – respondi empolgada. – Meu nome é Alicia Foster e o seu?

— Meu nome é Celine. Celine Dufour. – sorriu docemente.

Nos erguemos e tiramos a poeira de nossas roupas. Reparei que Celine trajava um lindo vestido que reunia diversos tons de azul, parecia ter saído direto de um guarda-roupa de princesa.

Pretendia elogiá-la, todavia, um senhor de idade em vestes formais nos abordou repentinamente, bradando em sêcnarf.

— Como me encontrou?! – Celine rangeu os dentes.

— Você o conhece? – sussurrei discretamente, pronta para pegá-la e fugir se fosse preciso.

— Sim, Jarbas é o meu mordomo. – ela revirou os olhos suavemente.

— Perdoe-me, senhorita. Não sabia que deveríamos nos comunicar em inglês. – Jarbas curvou-se. – Agora que a encontrei, peço que me acompanhe, princesa Celine.

Demorei alguns poucos segundos para registrar o que aquele senhor havia dito, esboçando minha reação com um grito impressionado:

— Princesa?!

Olhei da garota para o mordomo, esperando por um esclarecimento. Não podia acreditar que estava diante de uma princesa. Eu deveria me curvar?

— Já pedi para não me chamar assim na frente dos outros. – Celine sussurrou para Jarbas.

— Sinto muito, senhorita. – ele voltou a curvar-se.

— E já pedi para não se desculpar por tudo. Você não tem que me colocar em um pedestal. – ela comentou desconfortável.

— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? – me intrometi. Em minha defesa, eu fui derrubada de uma (pequena, convenhamos) colina, merecia um entendimento das coisas.

— Senhorita Celine é noiva de um dos príncipes do Reino de Gardênia, cujo possuí uma parceria com Ilha dos Saberes. – Jarbas informou.

— Um príncipe que está em décimo quarto lugar na sucessão do trono. – Celine acrescentou e acariciou a cabeça careca do mordomo de 1,50cm.

— Não seja tão dura com seu noivo, princesa. – ele suspirou.

— Além disso, sequer me casei e não tenho sangue real, por que insiste em me chamar de princesa? – ela corou.

— Porque no Reino de Gardênia, mesmo as noivas dos príncipes devem ser chamadas de princesa. – Jarbas situou.

— Bem, não estamos em Gardênia. – Celine deu um sorriso travesso.

— Contudo, a senhorita ainda usa o anel que a liga ao príncipe e ao reino. – Jarbas apertou as sobrancelhas grisalhas.

Somente então notei o anel dourado por cima de sua luva branca, exibindo um pequeno e brilhante diamante em seu centro.

— Certo, quatorze a treze para você. Na próxima empatamos. – a garota entrelaçou seu braço ao meu. Tive um certo estranhamento.

— Na verdade, é quinze a doze, senhorita. – ele assentiu.

— Espertinho. – Celine soltou ar pelo nariz. – De todo modo, eu e Alicia precisamos ir. – pigarreou.

— Devo pedir para que Adam as escolte? – Jarbas questionou.

— Mantenha Adam longe de mim. – a princesa pediu prontamente.

— Como desejar, senhorita. – Jarbas acenou de maneira cordial. – A carruagem estará a sua disposição quando quiser.

— Obrigada, Jarbas, você é o melhor! – Celine mandou um beijo no ar e incentivou-me a seguir nosso caminho.

A garota expirou aliviada e soltou meu braço quando nos afastamos do senhor.

— Me desculpe por isso. – ela falou baixinho.

— Você não fez nada de ruim. – sorri acolhedora. – Quem é Adam? – estava curiosa quanto aquilo.

— O segurança fortão que o príncipe contratou para que eu pudesse vir à ilha. – Celine fez uma careta.

— Você é uma princesa, tecnicamente, por que dispensou a escolta? – indaguei.

— Porque eu vim à Ilha dos Saberes por um único motivo. – a princesa desviou o olhar com um ar de melancolia. – Construir minha independência. – encolheu seus ombros.

Ela me fitou, esperando por uma reação, entretanto, minha mente ficou em branco.

— É ridículo, eu sei. – a garota afundou o rosto nas mãos, decepcionada.

— Não, não é! – respondi rapidamente. – É... Genuíno. – coloquei minha mão sobre seu ombro.

Celine abaixou seus dedos e me encarou com seus enormes olhos celestes que cintilavam como o de um animalzinho fofo.

— Você é mais legal do que qualquer uma das minhas seis irmãs. – Celine fungou.

— Seis irmãs? – arqueei as sobrancelhas.

— Três mais velhas e três mais novas. As mais velhas são todas noivas de príncipes. – ela riu colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. – Digamos que eu venho de uma família “caçadora de nobres”.

— Eu não esperava por isso. – prendi minha risada.

Nossa conversa se estendeu até nos depararmos com um vasto prédio na cor bordô rodeado por um alto muro de pedras brancas. Seus portões de ferro escuro estavam abertos, recebendo garotas de diversas áreas do mundo.

Celine e eu erguemos nossas cabeças ao mesmo tempo, soltando assovios ao lermos o nome “Royal Honor Institute” grafado no arco acima do portão.

— Encontramos! – gritamos em coro e demos pulinhos de alegria.

— Ufa... – Celine suspirou aliviada e encostou-se no muro.

— Vamos descansar um pouco. – alinhei-me ao lado dela.

Aproveitamos para analisar o cenário, reparando nas várias carruagens que chegavam e partiam uma atrás da outra.

— Uau. – sussurrei impressionada.

— Oh, veja aquela ali! – Celine apontou para uma carruagem preta com detalhes e rodas em dourado. – As carruagens devem ser alugadas para evitar a burocracia de transportá-las em navios, todavia, para locar uma desse nível, só pode ser a filha de algum nobre muito rico e influente. – segurou seu queixo entre o indicador e o polegar, avaliando o veículo.

A carruagem parou em nossa frente, ostentando dois grandes e fortes cavalos de pelo brilhante e crinas bem cuidadas.

— Olhe para esses cavalos, foi uma ótima e cara escolha. Eles devem ter alguns iguais a esses em casa, por isso seguem um padrão de critério. – Celine semicerrou os olhos.

— Você vem mesmo de uma família “caçadora de nobres”. – comentei perplexa.

O condutor estava prestes a tocar a maçaneta do veículo, quando ela repentinamente foi aberta de modo brusco, assustando a todos nós.  Digna do título de donzela, uma garota de longos cabelos pretos saltou para a calçada. Ela parecia vestir um daqueles uniformes de escolas particulares, transformando-a em uma verdadeira boneca.

Tanto eu quanto Celine ficamos boquiabertas perante suas feições angelicais.

— Credo, que viagem longa! – a garota bufou. – Acho que vou vomitar. – cobriu a boca com uma das mãos e pousou a outra sobre sua barriga.

— Senhorita Cassandra, mantenha a postura. – o condutor pediu, levemente irritado. Tudo bem, eu também ficaria após quase ser esmagada por uma porta.

— Postura o caramba! – Cassandra espreguiçou-se. – Eu finalmente estou longe da vista dos meus pais. – sorriu cheia de si.

— Por favor, seja mais educada ao dialogar, está falando feito uma medíocre. – o homem franziu as sobrancelhas. – E tenha noção de que seus pais ficarão sabendo sobre tudo o que você fizer.

— Isso se você vir o que eu fizer. – ao dizer isso, Cassandra correu para dentro dos portões, camuflando-se na multidão.

Eu e Celine nos entreolhamos boquiabertas, nos perguntando se aquilo que presenciamos foi real.

— Senhorita Cassandra, volte! – o condutor gritou em vão. – Aqui não é o seu destino, senhorita! Você disse que apenas olharíamos e... – tentou correr atrás da garota, contudo, foi barrado por uma mulher.

— Somente garotas podem entrar, senhor. Peço que se afaste. – a mulher disse carregada de seriedade.

— Mas ora essa! Senhorita Cassandra irá me pagar, aquela praga de garota mimada! – o homem gritou furioso. Ele respirou fundo e seus olhos cruzaram-se com os nossos. – Ei, vocês duas!

— Nós? – assustada, apontei para mim e para Celine.

— Vocês mesmo. Quanto ou o que querem para capturarem a garota que acabaram de ver? – ele indagou impaciente.

— Bem... – balbuciei acanhada. – Não acho que deva nos pagar para capturá-la...

— Um cavalo! – Celine deu um passo à frente.

— O que?! – soltei um gritinho esganiçado.

— Um cavalo, entendido. – o homem concordou. – Lhes darei um da senhorita Cassandra, ela tem vários em casa.

Celine me lançou uma piscadela discreta, como se dissesse que havia acertado.

— Vamos capturar essa garota! – a princesa segurou em minha mão e me puxou para o terreno do instituto.

Ao invés de seguir pelo caminho de cascalhos, optamos por pegar um atalho pelas partes cobertas de grama, diminuindo assim nosso trajeto. Nos agachamos atrás de uma árvore para elaborar um plano.

— Nós vamos mesmo pegar ela? – perguntei incerta.

— Você não quer ganhar um cavalo? – Celine fez uma expressão confusa.

— Não temos onde guardar um cavalo. – exclamei.

— O que pensam que estão fazendo? – uma voz autoritária pairou sobre nós.

Focamos na fonte do som, encontrando uma mulher alta, de expressão dura e que trajava um colete cinzento com o emblema do instituto.

— Presumo que vieram para o teste. – ela arqueou uma sobrancelha.

— Sim. – engoli em seco, intimidada.

— Devem fazer seus registros e obter um dormitório temporário. – a mulher cruzou os braços. – As inscrições terminam em meia hora.

— Iremos fazer isso imediatamente! – Celine ergueu-se abruptamente e adquiriu uma postura de soldado.

— É cada cabeça de vento que me aparece. – a mulher nos deu as costas.

— Dormitório temporário? – repeti.

— É, não se sabe a quantas provas as candidatas conseguirão passar, então lhe cedem quartos para passar as noites do teste. – Celine explicou. – Caso você seja admitida, terá um dormitório permanente.

Fiquei aliviada ao saber disso, pois havia me esquecido completamente de planejar onde ficaria durante as noites do teste.

~*~

Havia cinco filas possíveis para fazer o registro, entretanto, todas estavam lotadas, tive de esperar quinze minutos até chegar minha vez.

Sentei-me na cadeira disponível em frente a uma mesa onde outra mulher de colete cinzento segurava uma caderneta. Ao seu lado, uma moça rabiscava rapidamente em um bloco de desenho enquanto olhava para mim.

A do colete iniciou uma série de perguntas básicas sem sequer tirar os olhos de sua caderneta. A cada questionamento, eu disparava uma rápida e nervosa resposta, derretendo em apreensão.

— Por fim, qual sua idade?

— Dezoito anos. – minha voz vacilou ao responder.

Parei por um instante, percebendo que minha idade mudara. Havia ficado tão extasiada com minha chegada na ilha que me esqueci de meu aniversário. Deixei com que um sorriso sincero se formasse discretamente.

— O teste será realizado às duas horas na sala cinco do segundo andar. – instruiu.

Assenti, registrando a informação.

— Prenda isso em sua roupa. – a mulher me entregou uma plaquinha redonda que marcava o número “211”. – Você será colega de quarto dos números duzentos e dez e duzentos e doze. – deu-me uma chave prateada com uma etiqueta amarrada.

— Obrigada. – deixei a cadeira em que estava.

Verifiquei a chave que recebi, lendo brevemente o conteúdo da etiqueta: 4º andar/Quarto 25. Distraída, meu ombro chocou-se ao de outra garota.

— Olhe por onde anda. – ela resmungou.

Meus olhos arregalaram-se ao notar que a pessoa depois de mim na fila era Cassandra, a garota que valia um cavalo.


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Notas finais do capítulo

Sêcnarf = Francês
Sêlgni = Inglês

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Edit (23/09): Durante a revisão, eu apaguei sem querer o número e o andar do quarto da Alicia, desculpe, pessoal! Agora eu consertei!
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Confesso desde já que a Celine é meu xodó XD.
Comentários são sempre bem-vindos ♥, nos vemos na quarta-feira (se tudo der certo)!
Beijos.
—Creeper.