Witch Bitch escrita por Line


Capítulo 2
02- A linha tênue entre paranóia e precaução


Notas iniciais do capítulo

Oioi!

Não tenho muito o que falar, só que o ritmo desse capítulo é mais rápido e tem muita treta logo no início, espero que gostem.

A personagem que fez uma aparição rapidinha no capítulo, Candice é representada pela Jenny Boyd.

Perdoem qualquer erro de digitação, eu revisei super rapidinho e posso ter deixado algo passar.

Até o próximo, boa leitura ❤



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Astra Astrobours:

Há uma linha tênue entre paranóia e precaução, há muito tempo eu já não sei diferenciá-la, tento ser precavida, mas a verdade é que na maioria das vezes acabo sendo paranóica.

Quando o sol nasce, eu acordo com o barulho de algo se quebrando no andar de baixo; Como consequência do susto, a lâmpada em meu abajur estoura enquanto me sento de supetão.

Meu coração dispara quando vejo a luz do sol entrando pela clarabóia. Esqueci das proteções. Fiquei vulnerável. Eles me encontraram.

É difícil respirar, mas me forço a me levantar, eu repasso em minha cabeça o feitiço que passei semanas procurando após a morte da minha família. É familiar, reconfortante. Nunca me vi como uma praticante de magia negra, mas quando se está fugindo dos monstros que destruíram sua família e que dedicam a eternidade à exterminar toda a sua linhagem, magia negra é essencial e inevitável.

Enfrentar vampiros é perigoso, mesmo para uma bruxa experiente, e eu nunca completei meu treinamento –Graças à tragédia que me atingiu– então recorri ao que podia: O feitiço de morte do grimório proibido dos Astrobours. Antes da morte dos meus pais eu nunca havia tido acesso ao livro de magia negra do meu pai, mas depois que ele morreu, eu encontrei lá tudo que precisaria pra sobreviver, sei que é o que eles iriam querer que eu fizesse, eles iam querer que eu sobrevivesse não importasse o quê.

Eu saio do sótão com passos leves, o sono se foi completamente e eu me forço à permanecer calma. As palavras arcaicas do feitiço de morte estão deslizando por minha mente, sussurantes, tentadoras, eu as repeti pra mim mesma tantas vezes que nunca seria capaz de esquecer.

Ouço outra coisa caindo na cozinha, o barulho de vidro se partindo, e então começo a sussurrar:

— Tenebris anima vestra. — Eu digo, seguindo pra cozinha, com cautela, abro a boca para a próxima parte do feitiço, mas sou interrompida pela voz infantil que surge junto com o corpo que se agarra a uma das minhas pernas:

— Papai está tentando destruir a cozinha. — Vivi diz, as sobrancelhas franzidas, enquanto ergue a cabeça para encarar meu rosto, eu suspiro aliviada ao continuar meu caminho –Com Vivi ainda pendura em uma das minhas pernas como uma pulguinha– e encontrar James apanhando os cacos do que parece ser uma travessa de vidro, enquanto uma frigideira faz fumaça no fogão atrás dele.

Foi tudo paranóia. Eu estou bem. Eles não me encontraram.

— Bom dia. — James diz ao me ver, eu arqueio uma sobrancelha enquanto olho ao redor de maneira crítica, ele cora um pouco e diz: — Estou fazendo nosso primeiro café da manhã aqui.

— Por favor, faz ele parar. — Vivi acha que sussurra, mas tanto James quanto eu podemos a ouvir claramente.

— Vivi e eu vamos comer aqueles cereais de marshmellow que compramos ontem. — Eu digo. — Não precisa se preocupar conosco.

Parecendo decepcionado e aliviado ao mesmo tempo, James assente, ao mesmo tempo que a frigideira atrás dele cospe uma chama alta, Vivi grita e James apanha um pano de prato pra tentar apagar, prevendo um incêndio na casa recém comprada, eu sussuro quase inaudível: — Adiuuatur

Com a mão levemente estendida na direção do fogo, eu o vejo se apagar repentinamente.

— Ufa. — James diz, sem notar o que fiz e acreditando que o mérito é dele. — Essa foi por pouco.

Assinto em concordância.

— Vou subir pra me arrumar. — Eu digo, porque ainda estou usando pijama e sequer lavei o rosto. — Já volto.

Eu faço o caminho até o banheiro do andar de cima, onde escovo os dentes, lavo o rosto e puxo o cabelo em um rabo de cavalo. Decido que vou correr antes de ir à aula hoje, tenho algum tempo, e conhecer o terreno vai me ajudar a delimitar parâmetros de segurança e a quantidade de magia necessária para proteger a casa, por isso eu pulo o banho frio que costumo tomar sempre e o adio para quando voltar encharcada de suor.

De volta ao quarto-sótão, eu troco meu pijama por uma leggin preta grossa, uma top cinza e um moletom vinho por cima, calço minhas meias e tênis de corrida e apanho meus fones e celular antes de descer.

James e Vivi estão ambos comendo cereal de marshmellow quando eu volto para cozinha em busca de uma garrafinha de água.

— Esse é um fantasma. — Vivi diz ao pai, mostrando um único grão de cereal em sua colher, de fato o formato é de um fantasminha estilo pac-man.

— Flor. — James mostra a ela sua própria colher.

— Isso é um sol. — Ela diz convicta, ao passo que James apenas dá de ombros e enfia a colher na boca.

— Vou correr. — Eu aviso, me fazendo conhecida no recinto, James gira em seu banco para me olhar.

— Tem gelo em toda parte. — Ele diz preocupado, eu dou de ombros, passando pela ilha onde estão sentados e seguindo em direção à geladeira onde apanho minha garrafa de água. — Pode se acidentar.

— Não vou longe. — Eu digo, como se isso resolvesse tudo, James decide não discutir. — Volto logo para irmos pra escola.

James apenas assente, eu saio pela porta dos fundos onde nosso quintal dá para uma trilha na floresta, conecto os fones e dou play em uma playlist animada, começando a correr pela mata.

Corro imperturbada e presa em meus pensamentos por cerca de duas músicas, até que minha corrida é impedida por um riacho que cruza a trilha que estou usando, tenho a opção de trocar de trilha –E correr o risco de me perder– ou de dar meia volta –Mesmo não tendo corrido por nem 10 minutos.–

Não satisfeita com minhas opções, eu olho em volta duas vezes, mesmo sabendo que estou sozinha, e decido usar minha magia inquieta:

— Glacé Solidatur — Murmuro, movimentando minhas mãos de leve em movimentos fluídos. — Glacé solidatur.

Continuo repetindo até que parte do riacho congele, uma pequena passarela de gelo sólido que serve de ponte para o outro lado.

— Descarregando energia e magia. — Eu murmuro satisfeita. — Nada mal para um início de dia.

Atravesso o gelo com cuidado, voltando para a corrida, mas mal meus pés pisam do outro lado do rio quando sinto algo estranho no ar. Tem magia próximo daqui.

Eu me abaixo, tocando a terra abaixo de mim com a ponta dos dedos, por debaixo de minhas pálpebras posso ver conjuntos de patas enormes batendo no chão e correndo furiosamente em minha direção.

— Puta merda. — Eu xingo, fazendo o caminho de volta pelo gelo, sei do que se trata e sei que estou prestes a morrer se não for rápida.

Um dos diários de um antepassado Astrobours conta a histórias dos transmorfos Quileutes, homens lobos gigantes, há muito tempo eles viveram com meus ancestrais nas terras de La Phsh, até que uma bruxa, Mary-Anne Astrobours, traiu o líder da tribo ao conspirar com uma espécies de vilão deles, e por isso ela foi queimada em uma fogueira. Não conheço os detalhes, mas segundo o diário, magia se tornou proibida nas terras Quileutes desde então, os transmorfos são capazes de identificar sempre que um feitiço é feito nas proximidades –Eles sentem um cheiro floral, de ervas, e é não-natural–, porém esse mesmo diário diz que tão extinta quanto a magia se tornou entre os Quileutes, os transmorfos se esvairam também. Quem quer que tenha sido o idiota que escreveu essa informação lá, vai se ver comigo quando nos encontramos no plano astral, só não quero que seja agora, essa bronca pode esperar por alguns séculos até que a velhice me alcance.

Tomada por uma onda de adrenalina, eu uso magia do vento para tornar meus passos mais rápido conforme meus pés começam uma corrida desenfreada, posso ouvi-los agora, estão tão próximos e são muito rápidos se comparado à minha velocidade quase humana, vejo o primeiro deles –Um lobo cor de chocolate– quando olho por cima do ombro, não demora pra que outros dois surjam logo atrás e eu posso ver minha morte diante dos meus olhos, mas me recuso a parar de lutar.

Quando eles saltam sobre o riacho, eu ergo uma onda de água que atinge e atrasa dois deles, mas logo eles se recuperam e um quarto e quinto lobo gigante se juntam à corrida.

Eu paro de correr por apenas alguns segundos, me virando na direção deles, por tempo o suficiente apenas para fazer meus ataques:

— Ventus. — Eu floreio a mão e uma massa visível e palpável de ar joga o lobo chocolate com força em uma das árvores, ele choraminga e desmaia. — Crescere Abor — O segundo feitiço atinge o lobo mais próximo, de pelo negro como ônix, fazendo com que raízes longas e espinhosas se enrolem nas pernas traseiras e frontais, impossibilitando a locomoção.

Continuo a corrida, agora com três lobos no meu encalço, por isso uso a ajuda da magia do vento para saltar sob um morro de terra, quase perco o equilíbrio, mas me recupero, e a visão de cima dos lobos torna meu trabalho de atacá-los ainda mais fácil, decido então deixar a corrida de lado e partir para o ataque.

— Icaeus. — O feitiço que induz telecinese me faz erguer uma pesada pedra e eu acerto o rosto de um lobo cor de areia molhada, menor e mais esguio que os outros, o animal enorne caí rolando morro abaixo, e algo nele me faz imaginar que se trata de uma mulher-lobo, mas não sei exatamente o que causa essa impressão, talvez o fato do animal ter sido o único que conseguiu chegar perto o suficiente para quase arrancar fora meu rosto com os dentes, mulheres são sempre mais eficientes. — Incendia.

Uma barreira de fogo se forma entre os outros dois lobos restantes e eu, impedindo-os de avançar, eu me viro pronta pra dar o fora dali, mas então vejo uma forma enorme saltando sobre meu corpo, um ataque por trás completamente inesperado, mal tenho tenho de abrir a boca para proferir um feitiço antes que o corpo peludo e pesado caia sobre o meu, nós rolamos morro abaixo e eu sinto dor em cada pedaço do meu corpo, pedras e galhos arranham minha pele, mas me obrigo a apagar o fogo que está em volta dos outros lobos quando percebo que estamos rolando em direção à ele.

Quando a queda finalmente termina, o ar foi embora dos meus pulmões e eu tenho os olhos fechados enquanto o lobo gigante está em cima de mim, não tenho coragem de olhá-lo, não quero olhar e ver minha morte em seus olhos, mas me obrigo a morrer com dignidade quando ouço o rosnado feroz, então reuno toda minha coragem e abro os olhos lentamente para encarar minha morte.

Algo estranho acontece logo que meus olhos cruzam com os do animal, posso ver minha figura desalinhada e ofegante refletida nos olhos escuros e inteligentes, ao mesmo tempo que sinto um laço mágico se atando entre nós, não sei o que é, mas é antigo e poderoso, e o que quer que seja, o lobo também sente e para de rosnar. Ele fica paralisado, não há sequer uma respiração.

Os outros dois lobos e o lobo negro que se soltou das raízes e nos alcançou, se reúnem ao nosso redor, nenhum deles faz mais menção de atacar. O que quer que seja que aconteceu, salvou minha vida, mas não estou disposta a arriscar.

— Ascendo. — Eu digo, fazendo o lobo flutuar acima de mim, eu uso as mãos para jogá-lo para longe, mas com menos força do que faria normalmente, qualquer que seja a magia que o impediu de me matar, tambem me afeta brandamente, eu odeio isso.

Eu me ergo lentamente, sei que estou arranhada e terei hematomas, e sinto dor, mas me forço à reunir um monte de magia quando murmuro: — Ad Somnum.

Os quatro lobos que não nocautiei antes, caem desmaiados ao meu redor, com eles dentro do alcance como estavam foi fácil indusí-los ao sono, embora necessite de um pouco mais de magia do que costumo usar normalmente.

Eu giro em meu próprio eixo, além dos quatro sob o feitiço de sono, há a suposta mulher-lobo que eu nocatiei com uma pedra, e mais ao longe ainda há o lobo de pelo chocolate que foi o primeiro a cair, eu me obrigo a recuperar meu fôlego e então começo a me afastar na direção que acho que me levará de volta até minha casa, ando em passos lentos e doloridos, mas não tenho pressa porquê os lobos dormirão até que eu reverta o feitiço.

Quando alcanço a casa outra vez, eu libero a magia que os mantém adormecidos e então tento entrar em casa sem chamar a atenção de James, não quero que ele veja o estado deplorável em que me encontro, mas falho porquê assim que atravesso a porta dou de cara com ele.

— O que aconteceu com você? — Ele questiona preocupado.

— Estava certo sobre o gelo, me estabaquei no chão e sai rolando na terra. — Eu minto. — São só uns arranhões, não se preocupe, vou subir e tomar um banho, não vou me atrasar pra aula.

James parece querer retrucar, mas eu não dou chance e subo as escadas correndo.

***

— Não devíamos estar indo na direção contrária? — Eu questiono, quando já estou sentada no banco de trás no Jeep de James, usando minha jaqueta mostarda quentinha e um bandeid da hello kitty na bochecha –Cortesia de Vivi e seu kit de médica. — Nessa direção estamos indo pra La Push.

— E é pra lá que temos que ir. — James responde simples. — A escola de Forks não te quis, a da reserva também não, mas eles precisavam muito de um professor de história bom e eu consegui um acordo pra você em troca dos meus prestigiados serviços.

— Ah… — Eu solto, sem saber o que dizer, eu sabia que chegaria um momento em que meu currículo escolar me impediria de me matricular nas escolas, mas com as notas perfeitas no meu boletim, eu sempre achei que demoraria mais. — Isso explica porque moramos tão perto da reserva, achei que você tinha um projeto Hippie ou algo assim, sabe, crise de meia idade e essas coisas de gente velha.

James faz uma careta ao me olhar pelo retrovisor, mas resolve não responder a provocação, em vez disse, ele volta ao assunto inicial:

— É um bom momento pra agradecer por seu padrinho ter feito o artigo de doutorado sobre a cultura e origem de povos nativo-americanos, Quileutes inclusos. — James se exibe, ele é um nerd de primeira classe, tem tantas especializações que eu fico confusa, a mais interessante envolve mitos e ocultismo, é divertido ouvi-lo falar de lendas mágicas como se fossem apenas lendas quando eu sei que o mundo é cheio de magia e complexidade sobrenatural.

— Tá, que bom que você é um nerd, então. — Eu resmungo entediada, para provocar.

— Você fala latim. — Ele retruca, sem resistir à provocação. — Ninguém devia falar latim, ler e escrever, talvez, mas não falar, é uma língua morta. Você é nerd.

James não sabe que todo meu conhecimentos de línguas mortas ou estrangeiras é graças aos estudos de feitiços e manuscritos mágicos que cresci aprendendo.

— Só diz isso porque nunca conseguiu aprender. — Eu me limito a retrucar e dou de ombros. — Muitas pessoas falam latim.

— Sua mãe e seu pai falavam, talvez seja um dom de família. — Ele aponta, sem perceber o erro que comete.

Eu fico tensa à mensão deles, James percebe no segundo seguinte.

— Eu não quis… — Ele tenta dizer algo, mas o clima leve já se foi.

— Tanto faz. — Eu dou de ombros.

A conversa morre depois disso, e é só quando James estaciona em sua nova vaga de professor e desce do carro, que eu percebo realmente onde estou e o que significa.

La Push. Reserva Quileute. Transmorfos. Bruxas na fogueira. Eu na fogueira.

— Não vou entrar aí. — Eu anuncio de repente, James me olha estranho. — Não mesmo, sem chances, estou voltando pra casa. Na verdade, estou saindo da cidade.

— Não está coisa alguma. — Ele nem tenta entender o motivo do meu surto, só agarra a manga da minha jaqueta e começa a me puxar, mesmo quando eu firmo os saltos do meu ankle boots no chão. — Pare com isso, Astra, você tem que estudar e essa é a única escola que te aceitou.

— Não me importo. — Eu digo. — Não vou mais estudar, vou trabalhar pra uma rede de Fast Food.

— Astra! — Ele ralha, puxando a manga com mais força, apesar de tudo ele se recusa a me arrastar pelo braço, James é um cara totalmente anti-violência, até um puxão mais forte é algo impensável para ele. — Eu tenho que trabalhar, colabore.

— Podemos viver da herança dos meus pais. — Eu digo, quando ele começa a me vencer no cabo de guerra que nos tornamos. — Você nem precisa trabalhar, nos mudamos pra Disney e vivemos como parasitas, Vivi ama a Disney.

— Ninguém se muda para a Disney. — Ele bufa. — Agora vamos.

— Se me forçar eu vou explodir alguma coisa, juro que vou. — Eu ameaço.

— E magoará Vivi se tivermos que nos mudar de novo. — Ele acerta o ponto fraco, James já havia percebido que eu não sou cruel com Vivi, não como sou com ele, ou com qualquer um que se coloque no meu caminho. Nunca com Vivi.

— Você me paga. — Eu bufo. — Vou me vingar e vai ser doloroso.

— Já está sendo, Astra, acredite. — Ele suspira em um tom cansado, e eu bufo, me deixando ser arrastada para a escola e para minha morte.

Qual a chance de um adolescente daqui ser um lobo gigante? É só paranóia, se eu me mantiver quietinha e sem encrencas, posso passar despercebida e esperar pelo meu aniversário de dezoito anos, então serei legalmente responsável por mim mesma e correrei para o mais longe possível de La Push e Forks.

Talvez eu monte meu próprio clã de bruxas, e aí dedique meus longos anos de vida à caçar os Knight como eles fizeram com os Le Fay.

Parece um bom plano, sobreviver à escola, passar despercebida pelos transmorfos, fazer dezoito e dar no pé, criar meu clã superpoderoso e então adeus clã Knight. Tudo fica mais fácil com um objetivo.

Com a confiança renovada, eu me despeço de James quando ele tem que ir até a sala dos professores e eu para meu armário, arrasto meus pés no chão, notando vários olhos sobre mim, a maioria dos alunos carrega traços indígenas semelhantes, não é difícil deduzir que são todos moradores da reserva, mas há alguns outros poucos adolescentes que se destoam dos demais, é uma desaas garotas, de pele pálida e cabelos tão loiros que são quase prateados, que vai contra todo o lance de encarar a novata como se ela fosse um alien, ao se se aproximar de mim com um sorriso.

— Olá! — Ela diz em um tom agudo e animado que faz com que eu me encolha. — Sou Candice.

— Bom pra você. — Eu resmungo, sem vontade de dizer algo mais, nunca criar laços é uma das minhas primeiras regras de sobrevivência e, desde que eu a estabeleci, eu venho aperfeiçoando meus métodos para espantar pessoas.

— Auch. — Ela funga, parecendo ofendida. — Eu só ia me oferecer pra te ajudar a se encontrar, tá na cara que é novata.

— Eu tenho dois olhos funcionais, sou capaz de ler e tenho um mapa da escola, que aliás, é minúscula. — Eu listo, ao contar nos dedos. — Obrigada, mas eu posso me virar sozinha.

Candice abre e fecha a boca várias vezes, ela não parece entender se deve ou não ficar com raiva de mim, porque apesar da minha negativa, mantive meu tom de voz ameno, mas eu a poupo de ter que decidir quando murmuro: — Eu vou indo, mas foi gentil da sua parte se oferecer.

Então eu me afasto dela após sorrir sem dentes.

De fato, como eu disse à Candice, eu posso me virar bem, não é difícil encontrar meu novo armário e logo eu tenho meus livros e horários em mãos, só preciso encontrar a sala de literatura e me manter alheia pelo resto do tempo.

Sigo as instruções do mapa, virando os corredores sem me importar com os olhares, mas logo meu corpo atinge o de alguém, que mais parece uma parede de músculos sólidos e que quase me faz cair.

— Mas que droga. — Eu resmungo, dando um passo pra trás, apenas pra dar mais outros dois quando olho para a pessoa em quem esbarrei.

Os olhos são idênticos aos do lobo que se atirou em cima de mim mais cedo, e nao bastasse isso, eu posso sentir a ligação mágica entre nós, o que só confirma que o garoto à minha frente é o lobo, e ele está acompanhado, e a julgar pelo olhar no rosto da mulher mais velha que o acompanha, eu sei que estava certa quando supus que um dos lobos que nocautiei era uma mulher. A mulher a minha frente, que de repente começa a tremer e que emana magia quando dá início ao que eu sei que é uma transformação.

— Impedimenta. — Eu digo, entredentes, fechando meu punho quando agarro a magia dela entre meus dedos e a impeço de continuar fluindo. — Ficou louca?

A mulher literalmente rosna na minha direção, tentando forçar sua magia contra a minha, mas é inútil, a sua transformação é apenas uma gota de poder se comparado à quanta magia uma bruxa pode manipular, principalmente se a bruxa for eu, por isso eu só aperto mais meus dedos em punho e torno o aperto sufocante até que ela deixe escapar um resmungo de dor.

— Para com isso. — Eu praticamente rosno a ordem, quando sinto ela se rebelar com mais raiva, seus olhos estão furiosos sob os meus. — Não vai conseguir se soltar, e eu não vou ceder, então se continuar forçando a transformação, tudo que vai conseguir é lentamente partir todos seus ossos de dentro pra fora, tamanha a pressão que sua magia faz contra a minha. É como ficar se atirando contra uma parede de titânio, vai se quebrar toda, mas não vai atravessar.

Ela empurra com mais força, e pela cara de dor que faz, eu sei que já há algo se partindo, mas ela não parece disposta a recuar, bem, nem eu, porque se eu deixá-la explodir em lobo, acabarei morta e entre eu e ela, é uma escolha bem simples.

— É sua escolha. Eu avisei. — Eu forço minha magia até que ela se torne ainda mais pesada e densa, minhas unhas arranham minha palma tamanha a pressão que mantenho em meu punho fechado, sentindo a mulher louca a minha frente se destruindo aos poucos.

— Leah. — O garoto, o lobo que me atacou, diz à ela em tom de advertência, ele olha pra mim rapidamente antes de segurar os ombros dela e sacudi-la de leve. — Para com isso você sabe que não pode…

A agora conhecida como Leah, olha entre ele e eu, os olhos raivosos, mas então relaxa e recolhe sua magia, eu abro meus dedos com lentidão e deixo meu controle sobre ela se esvair.

— O corredor está lotado, sua estúpida. — Eu grito em um sussurro, mas a verdade é que eu quero atirá-la longe com minha magia pra fazê-la adquirir algum juízo. — O que pretendia? Explodir em lobo e rasgar a minha garganta? Eu teria que matar você, e todo mundo aqui, pra impedir que meu segredo vazasse, então pense duas vezes antes de repetir seu showzinho, porque eu não hesitaria.

— Quem é você? — O garoto questiona, ele parece mais amigável que a mulher, mas eu não me deixo enganar.

— Alguém que quer ser deixada em paz. — Eu digo. — Então fica fora do meu caminho.

Eu passo por eles, passos apressados, os ombros tensos, tento me manter calma até que alcanço o banheiro feminino, onde me enfio e deixo meu corpo cair sobre a porta.

Estou em pânico, apesar de ter vestido uma máscara de calmaria, eles estão em maior número e a menos que eu esteja planejando me tornar uma assassina em massa, sei que não posso lidar com todos, e agora eles sabem onde me encontrar, tudo que sei é que preciso sair daqui, mas não consigo encontrar uma maneira de convencer James de que precisamos nos mudar, não sem contar a verdade pra ele, e acima de qualquer uma das minhas regras está a que diz que eu nunca posso contar a verdade à ele.

Eu devia saber que quando há uma chance de algo dar errado, mesmo que uma chance minúscula, tudo dá errado, porquê é a minha vida e eu sou amaldiçoada desde o dia em que nasci.

Às vezes ser paranóico não é ruim, a precaução nem sempre é o suficiente, e a paranóia pode salvar vidas. Eu devia ter lembrado disso.


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