Insomnia escrita por blue devil


Capítulo 2
Insomnia - part 2




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Shinsou apagou.

Literalmente foi como se o seu cérebro fosse uma máquina tirada da tomada. Ele dormiu sem perceber, até o ponto que acordou, completamente desorientado. Isso nunca aconteceu antes, então Shinsou não sabia o que fazer.

Primeiro, decidiu abrir os olhos enquanto as pálpebras ainda pesavam uma tonelada, e só conseguiu de verdade após uma sequência razoavelmente frustrante de tentativas.

E a primeira coisa que viu no escuro parcial do cômodo foi o rosto de Kaminari.

Foi como se a visão desbloqueasse os outros sentidos, e Shinsou estava ouvindo e sentindo demais, sentando-se na cama com o coração acelerado e dor no corpo todo. A dor não era nova, já era acostumado em acordar dolorido. Daquela vez, foi por ter dormido encolhido de forma desconfortável em uma cama que não era sua. Pelo menos se moveu durante a noite para não deixar as pernas para fora da beirada da cama, pois a dor poderia ser pior.

Não se moveu o suficiente, pois claramente passou a noite encolhido nele mesmo, quase como se estivesse com medo de forma inconsciente de ocupar o espaço de Kaminari.

Kaminari que ainda dormia como um anjo sobre a cama, sem parecer o garoto agitado que Shinsou conhecia, abraçando o mesmo travesseiro que apoiava a cabeça, com cabelos loiros bagunçados e lábios pequenos abertos, respirando de forma tranquila e lenta.

Eles dormiram de frente um para o outro a noite toda.

O que Shinsou presumia ter sido a noite toda. Ele podia ouvir pássaros do lado de fora do quarto, pela janela tampada por cortinas grossas. Mas graças a essas cortinas era difícil dizer se ainda era madrugada, ou já era manhã ou dia. Tentando não ficar preso encarando Kaminari, Shinsou procurou seu celular dentro dos bolsos, percebendo que também estava desconfortável e dolorido por conta das roupas: Dormir de moletom e jeans era a pior ideia existente.

O tipo de ideia de adolescente.

Shinsou achou o aparelho, apenas para descobrir que não tinha bateria. Oh, ótimo. Shinsou nunca poderia esquecer que era azarado, em situação nenhuma.

Quase como se para confirmar ainda mais o azar, Shinsou percebeu Kaminari se movendo. Ele esfregou o rosto contra o travesseiro como um gato, demorando um instante inteiro de pura luta - um processo extremamente adorável de se assistir – para, finalmente, abrir os olhos e piscar algumas vezes, acordando aos poucos.

Claramente dormiu de forma tão pesada quanto Shinsou.

— Hm? - Kaminari resmungou sonolento ao erguer o rosto, finalmente reconhecendo Shinsou sentado ao lado. Na sua cama. Nem teve tempo de se sentir desconfortável, por que a reação automática de Kaminari foi gritar e pular para se sentar em susto.

Porém, Kaminari acabou se atrapalhando e suas mãos não encontraram o colchão para apoiá-lo, e logo em seguida estava caindo da cama. Shinsou se encolheu com o barulho alto da queda, abrindo a boca para verbalizar a preocupação com o bem estar de Kaminari, até que ele perdeu a fala - de novo - com a corrente elétrica que sentiu.

Foi tudo rápido demais.

O cabelo de Kaminari se ergueu quase por inteiro, assim como o de Shinsou. Shinsou sentiu o corpo inteiro se arrepiar, ainda que a corrente elétrica tivesse sido pequena e curta graças a distância entre ele e Kaminari, agora caído no chão do quarto.

Teve que agradecer por Kaminari ter caído da cama, mesmo não querendo.

Além do arrepio, o corpo super aqueceu e Shinsou se sentiu incomodado o suficiente para querer tirar o moletom, o peito sendo uma das áreas que pinicava de tanto calor. Mas gostava de pensar que tinha um bom auto controle, e por isso apenas aguentou as sensações calado, sabendo também que não usava uma camiseta por baixo do moletom.

Ele não precisava tornar aquele momento mais difícil do que já era.

— Você dormiu aqui! - Kaminari gritou, como se ainda não acreditasse. Hitoshi não conseguiu evitar e arqueou uma sobrancelha na direção dele. - Aaaaah! Você dormiu na minha cama?!

Teria se zangado pela pergunta óbvia, logo após ter sido eletrocutado, mas perdeu a voz (quem já perdeu a conta?) ao ver como o rosto de Kaminari se avermelhava, do pouco que a gargantilha dele permitia ver do pescoço até as orelhas que se destacavam de tão vermelhas, agora à vista por conta das madeixas loiras que se encontravam erguidas.

Ver Denki envergonhado daquele jeito fez com que Shinsou automaticamente percebesse a própria vergonha mortificante, que pesava uma tonelada sobre as costas.

Ótimo, os dois eram um desastre.

— Hey, Pikachu!

Kaminari levou outro susto ao ouvir a voz agressiva de Bakugou se aproximando do quarto. Sem pensar duas vezes, ele pulou para ficar em pé e correu até a porta, a trancando literalmente um segundo antes da maçaneta girar bruscamente, denunciando que alguém tentava entrar do outro lado.

Após tentar entrar, Bakugou bateu na porta como se fosse derrubá-la. Shinsou se assustou com os barulhos.

— Que porra você 'tá fazendo aí dentro, hem caralho? A luz do dormitório acabou de piscar!

Wow.

Kaminari era um perigo sério.

E se ele sobrecarregasse a energia enquanto alguém digitava um trabalho escolar? Shinsou sentia que, mais do que um perigo para os outros, Denki era um perigo para ele mesmo.

— Nada! - Denki gritou de volta, sem saber mentir. - Desculpa! Não vai acontecer mais, eu prometo.

— HAH? Você sempre diz isso, seu poste elétrico babaca do caralho! - e para enfatizar os insultos, Katsuki bateu na porta novamente com uma brutalidade típica. Shinsou apenas estava surpreso com a durabilidade da porta, resistindo ao abuso sem dar indícios de que quebraria tão cedo. - É melhor mesmo não ser nada demais, Pikachu, senão eu te pego na porrada!

Após mais alguns resmungos, Hitoshi e Denki finalmente escutaram os passos de Bakugou se afastando. Kaminari soltou uma respiração, caindo sentado no chão com as costas apoiadas na porta. Shinsou não conseguiu se mover desde o começo da confusão toda, sentado na cama de Denki de forma desconfortável.

Mas Shinsou não sabia exatamente o que fazer ali. Sentia que se aproximar de Denki não era uma boa ideia, não com eletricidade ainda vibrando suavemente sobre a pele e não quando o garoto caiu da cama a pouco tempo atrás apenas para conseguir espaço entre eles.

— Esse é o jeito dele de se preocupar comigo. Acredite.

— Não duvido. - Hitoshi soou sincero ao finalmente dizer alguma coisa.

Kaminari o olhou no mesmo instante.

— Em uma escala de 0 a 10, o quão ferrado eu vou estar quando sair do seu quarto? - Hitoshi continuou falando, tomado por ansiedade e curiosidade que se entrelaçavam.

— Hã... 16?

— Você é inspirador, Kaminari. Um real coach. - Hitoshi soou sarcástico e seco, tentando cobrir o nervosismo com a ideia de ser interrogado por Bakugou após dormir na mesma cama que Kaminari e assustá-lo a ponto de fazer a luz do dormitório piscar após acordarem.

Na verdade, ser interrogado por qualquer um da 2-A seria apenas execução naquele momento.

Shinsoi só queria voltar para o seu quarto e se esconder do resto do mundo, pois interagiu demais com muita gente e precisava descansar. Urgente. Só assim voltaria a ser racional e faria sentido da situação toda.

— Me desculpa. - Kaminari chamou a atenção de Shinsou quando percebeu que ele estava arrependido de verdade. - Foi mal, de verdade, por te colocar nessa situação. Eu não achei que... Eu não pensei... Bem... Com certeza dividir a cama não estava nos meus planos, eu juro.

Quanto mais envergonhado ele ficava, mais Shinsou morria por dentro com a própria vergonha. Observou, sem saber o que poderia ou o que deveria fazer, Kaminari apoiar o rosto sobre os braços, escondendo a boca no processo, e desviar os olhos para encarar toda e qualquer coisa que não fosse Hitoshi, claramente controlando a eletricidade densa que estralava ao seu redor para que não alcançasse Shinsou ou sobrecarregasse a energia do dormitório mais uma vez.

Deveria ser difícil ter um quirk daquele. Ser um adolescente hormonal já é difícil o suficiente, mas com o risco de queimar uma fonte de energia caso perdesse o controle? Yikes.

— Pode ter certeza que não estavam nos meus também. - Hitoshi o respondeu ao se aproximar da beirada da cama, encostando os pés no chão para levantar. - Vamos considerar isso um acidente e culpar o chá. Caso resolvido e arquivado.

Kaminari ergueu os olhos dourados para encará-lo.

— Então... Pelo menos... O chá funcionou? - piscou curioso, fazendo Hitoshi notar seus cílios longos. Hitoshi levou uma mão até o pescoço, começando a se massagear ao perceber como estava ainda mais tenso que o normal.

Eu espero que tenha sido o chá, senão eu só dormi por sua causa e isso vai ser difícil de falar sobre.

Olhou para Kaminari mais uma vez.

Já 'tá bem difícil de falar sobre de qualquer forma.

— Definitivamente. Eu não teria dormido na sua cama se não tivesse apagado. Acho que eu também estava cansado, então uma coisa levou a outra. Provavelmente quem deveria pedir desculpa sou eu por apagar desse jeito.

Agora ele se desculpava, sendo que a pouco tempo atrás Hitoshi queria apenas considerar um acidente mutuo e esquecer o assunto.

Mas não conseguia evitar, não quando via Kaminari inseguro encolhido em si mesmo no chão do quarto contra a própria porta, com grandes olhos curiosos e os lábios torcidos em ansiedade. Não queria que Kaminari se culpasse, não quando foi quem aceitou a ajuda para dormir.

Se tivesse negado os dois não estariam ali naquele momento constrangedor.

— Não precisa pedir desculpa. - Kaminari soou baixo, talvez um pouco surpreso consigo mesmo. - Quer dizer, eu só dormi também... Eu nem lembro direito, mas eu deveria ter te tirado da minha cama ou coisa parecida... Eu... Claramente não me incomodei, só me assustei.

Shinsou não sabia descrever a sensação agradável que se espalhou pelo peito ao ouvir que Kaminari não se incomodou. Por que, por mais que ainda estivesse em negação, sabia que também não se incomodou nada em dormir na mesma cama que ele. Essa foi a parte mais fácil na verdade.

Na verdade, foi uma daquelas poucas noites bem dormidas que Hitoshi poderia contar nos dedos quantas vezes aconteceram. Agora que o desespero baixava graças a conversa civilizada que tinha com Denki, Hitoshi começava a perceber o lado positivo da situação toda, e era completamente físico.

Conseguiu descansar de verdade de uma forma que nem esperava, e que precisava.

— Desculpa por exagerar.

— Não exagerou. Essa situação é estranha 'pra caralho.

Kaminari finalmente sorriu para ele. Shinsou se viu sorrindo de volta, mesmo que fosse apenas a curva ligeira dos lábios para cima. Kaminari tinha um sorrisinho adorável graças ao carmesim persistente nas bochechas, mas Shinsou morreria antes de admitir qualquer uma dessas coisas.

— Então...

— Então eu preciso ir embora. - Shinsou terminou por ele.

— Não estou te expulsando. Eu tenho certeza que você já deve ter cansado de mim a essa altura. E se você demorar muito... Vai ficar difícil para escapar da 2-A. Confia em mim.

Shinsou suspirou de novo.

— Eu nunca achei que ia ter uma walk of shame durante o segundo ano do colegial.

Houve outro instante de silêncio.

Então, Kaminari soltou um "pffftt" e começou a rir. Shinsou não soube dizer se ficou orgulhoso ou mais envergonhado, ou então exatamente os dois. Era uma completa bagunça agora, que surpresa.

— Isso foi uma piada? ‘Pra quebrar o gelo? - Kaminari questionou entre risadinhas.

— Eu prefiro rir do que chorar. - soou completamente monótono, sem dar indício que faria qualquer um dos dois. Kaminari riu mais.

De alguma forma, Shinsou encontrava grande satisfação naquela situação esquisita. E continuava em negação pura, mas o motivo eram as risadas de Denki. O motivo era Denki.

Uma hora a negação acabaria e teria que lidar com isso.

— Você sabe o que é walk of shame. - Kaminari soava exatamente como uma criança que pegou outra falando palavrão entre as risadinhas.

Hitoshi arqueou uma sobrancelha.

— Você também sabe.

— Isso é surpreendente?

Shinsou desviou os olhos.

Não, não era.

— Ok. Eu vou embora agora. - Shinsou murmurou após outra pausa de silêncio, respirando fundo ao reunir coragem. Andou até a porta de Kaminari, que se ergueu e se afastou do caminho para que Hitoshi pudesse passar. Não pode deixar de desejar, ao encostar na maçaneta, que por algum milagre conseguisse evitar a 2-A.

Milagres funcionavam de formas misteriosas, em alguns casos.

— Ouch. - Kaminari resmungou baixinho ao bater contra as costas de Shinsou, acompanhando-o para fora do quarto.

Em vez de questionar o que fez Shinsou parar abruptamente, Kaminari inclinou o rosto para o lado e apoiou as mãos leves sobre um dos braços do garoto mais alto, olhando em volta dele. Então, no corredor dos quartos, Tokoyami Fumikage olhava para eles de volta.

— Tokoyami! - Kaminari exclamou, cortando o momento de choque silencioso de Hitoshi e Fumikage. - A barra 'tá limpa?

— O que você quer dizer com isso?

— Você não ouviu o Bakugou agora pouco me ameaçando?! - Kaminari exclamou de volta. - Minha vida e a do Shinsou 'tão em perigo, cara.

O jeito que Tokoyami arqueou a sobrancelha foi igual ao jeito que Shinsou arqueou a dele em reação ao drama de Denki.

— Então ele foi o primeiro a checar se você estava bem. – Tokoyami piscou ao compreender. - Todo mundo ficou preocupado por você ter sobrecarregado a luz do dormitório e não ter respondido nenhuma das mensagens no grupo. – Kaminari fez uma careta de assombro, provavelmente imaginando quantas conversas ignoradas deveria ter no celular naquele momento. Shinsou não queria ser o garoto. Com o jeito que a 2-A era unida, ele teria que se justificar para todo mundo se quisesse ter paz. Shinsou não conseguia nem imaginar o quão difícil seria para ele se a 2-B funcionasse da mesma forma. - 'Tá tudo bem? Vocês sumiram ontem e nunca mais voltaram.

— Sim, ‘tá tudo bem sim, Tokoyami. – Kaminari soou com a voz trêmula, tornando difícil acreditar no que dizia. – Desculpa, de novo, pela luz. Ninguém precisa se preocupar comigo, sério. - Kaminari deu uma risada nervosa ao tentar ser casual. - Foi um acidente bobo, eu juro. Agora eu só quero levar o Shinsou de volta ‘pro dormitório dele. - e tocou no ombro de Shinsou de leve. - De preferência sem encontrar o Bakugou no caminho. Ou... Todo mundo da sala, por que eu não acho que estou em condições de responder todas as perguntas agora.

— Não posso dizer que não entendo. - Tokoyami suspirou, e Shinsou percebeu que a natureza dele era de entender antes de julgar. Tokoyami parecia ser genuinamente legal para Shinsou, um dos poucos da 2-A que não o cansaria por causar muitos problemas. - Se é esse o caso... - Hitoshi observou Fumikage pausando a fala por um instante para trocar um olhar significativo com Dark Shadow. - Podemos ajudar se quiserem.

— Jura?! Valeu, Tokoyami, você é incrível! Você também, Dark Shadow! - Kaminari o apreciou verdadeiramente alegre, e Tokoyami automaticamente se envergonhou em resposta. Shinsou se identificava com a reação, se identificava demaaais.

Denki tinha esse efeito nas pessoas.

— É, obrigado aos dois. - Shinsou se forçou a expressar mais a gratidão, mesmo que nunca chegasse ao nível de naturalidade de Kaminari. Tokoyami balançou a cabeça negativamente, ainda envergonhado, enquanto Dark Shadow, por outro lado, demonstrava que adorava ser apreciada e não se importava em demandar por mais, mais sincera do que Tokoyami.

Shinsou nunca achou que passaria o começo do final de semana tentando fugir do dormitório da 2-A, acobertado tanto por Kaminari quanto Tokoyami (e Dark Shadow) como um vilão disfarçado, mas foi exatamente isso que aconteceu.

Pelo menos acabou conversando melhor com Tokoyami durante o processo, e sentia-se quase próximo o suficiente para chama-lo de “amigo” quando finalmente chegaram do lado de fora do dormitório, sem ter encontrado quase ninguém no caminho.  

Realmente, pensando de forma objetiva, poderia ter sido muito pior.

Isso não queria dizer que não passaria os próximos dias em total surto.

 

xxx

 

Eles acabaram se estranhando a ponto de se afastarem.

Kaminari não ficou surpreso, afinal das contas era óbvio que isso ia acontecer depois de terem simplesmente dormido juntos no seu dormitório. Os dois precisavam de espaço para se recuperarem dessa vergonha gigantesca, já que nem eram tão amigos assim para terem essa intimidade de dormir juntos.

Quer dizer, Kaminari achava que eles não eram tão amigos assim.

Só depois de se afastarem que Denki percebeu que eles trocavam mensagens praticamente todos os dias. Abriu a conversa dos dois no celular várias vezes, mas em todas as vezes desistia de falar qualquer coisa por conta da vergonha, e Shinsou também não falou mais com ele.

Acabou por ler as mensagens que trocaram, e era tão... Simples e natural.

Hitoshi era genuinamente engraçado com o humor irônico dele, e relendo algumas mensagens Kaminari acabou rindo de nervoso, sem nunca esperar que apreciaria tanto o senso de humor de Hitoshi. Ele o lembrava da Ali Wong, mas sem as piadas escatológicas. Shinsou não a conhecia, o que fez Kaminari prometer que os dois veriam o especial de comédia na Netflix.

Não era a primeira promessa que fazia. Relendo as conversas, Kaminari percebeu que eles marcavam... Encontros (no sentido mais platônico da palavra, ok) de diversas formas, sem nem perceberem. Só fazia parte da conversa, fazia sentido no momento. E era uma conversa que rendia o suficiente para continuarem de forma natural em outro momento, sem que precisassem se despedir ou se explicar a mais.

Kaminari não soube bem definir o que sentia ao perceber tudo isso. Como aconteceu tão rápido? Isso não era comum...  Bom, não era comum caso eles não tivessem química.

Denki sempre morria de vergonha tentando entender o assunto de uma forma ou de outra.

Então achou melhor parar de pensar sobre. Mas não era assim tão fácil.

Algumas semanas depois, o Bakusquad e o Dekusquad (sim) faziam a reunião semanal no refeitório que acontecia desde que Kirishima e Midoriya casaram no final do primeiro ano. Eram os dias mais caóticos, com certeza, por que reunia praticamente a classe inteira na mesma mesa, tirando sempre Mineta que nunca participava, por questões óbvias.

Ok, Kirishima e Midoriya não casaram, mas eles com certeza agiam como recém casados o tempo todo.

— A gente não é meloso desse jeito, Kaminari! - Kirishima exclamou em auto defesa para Kaminari e Mina. Bakugou grunhiu enquanto Sero ria.

— Como assim você nem percebe, cara? - Kaminari riu mais apoiado em Mina. - Que vergonha.

— Eu esperava mais de você, Eiji! - Mina ajudou Kaminari entre risadinhas, sabendo que desarmava Kirishima melhor do que ninguém.

— Hey, gente, com licença que eu só preciso de um espaço a mais na mesa. - Midoriya soou animado ao reaparecer segurando sua bandeja do almoço em uma mão e uma cadeira a mais na outra.

— Finalmente, hem Deku! - Bakugou reclamou alto.

— Oh, oi Shinsou! - Uraraka, por outro lado, soou educada ao ver o garoto ao lado de Izuku. Kaminari arregalou os olhos, e antes mesmo de sentar na cadeira que Izuku pegou para ele, Shinsou acabou encontrando o olhar de Kaminari. Foi constrangedor e os dois desviaram ao mesmo tempo.

— Você veio sentar com a gente hoje? E a 2-B? – Tsuyu questionou curiosa, sentada ao lado de Ochako, com os dedos entrelaçados com os dela sobre a mesa. Tsuyu sempre aparecia nas reuniões semanais dos squads, em boa parte para distrair a namorada e não a deixar surtar e matar o Bakusquad por serem irritantes demais.

— O que tem? - Shinsou arqueou a sobrancelha, sem soar muito amistoso. Mas o tom seco era o habitual. - Eles não são protetores e unidos como vocês. - o insulto por de baixo da frase era óbvio. - E ninguém me obriga a sentar com ninguém. - olhou feio para Izuku.

— Hm? Quem te obrigou? - Izuku se fez de inocente, piscando os grandes e adoráveis olhos verdes na direção de Shinsou. Todoroki riu baixinho com a cena enquanto Shinsou revirava os olhos.

— Bom, é sempre bom te ver, Shinsou! Preciso admitir que fiquei um pouco chateada quando certas pessoas te convidaram para tomar chá e nem se lembraram de me chamar também. – Mina era cem por cento brincalhona e despreocupada. Era difícil levar qualquer coisa que dizia a sério, mesmo quando olhava supostamente “feio” para Kaminari.  

— Hey! Você nem ‘tava no dormitório no dia, ok? – Kaminari resmungou baixinho. – Você não vai esquecer disso não?

Nope! – Ashido exclamou ao cruzar os braços e estufar o peito e as bochechas, apenas para brincar mais com Kaminari. Tanto Sero quanto Kirishima que assistiam de perto riam da desgraça alheia. – Você ainda não me recompensou. Eu me sinto muito excluída nesse grupo, ok, ser a única garota é muito difícil.

— Você literalmente participa de tudo, por que é você que nos arrasta para qualquer coisa, ‘ô ET Bilu. – Katsuki exclamou para ela. – E não me vem com essa putaria de “ser a única garota” por que você é amiga de todas as figurantes da sala.  

Shh, Bakugou, você nunca me deixa ter nada! – Mina exclamou descontente, fazendo o Bakusquad rir mais. – O Denki sempre faz drama, eu queria ter o meu momento.

— Eu chuto a bunda dele igualmente quando ele começa. – Bakugou bufou.

— Eu estou bem aqui, por favor parem de falar de mim como se eu não estivesse... – Kaminari disse sem reais forças para brigar pelo respeito que sabia que não teria com os amigos.

— Mina, o Kaminari já te deu praticamente o chá todo. Não é o suficiente ‘pra fazer as pazes com você? - Sero questionou sorrindo, aproveitando a cena como um telespectador de sitcom.

— Sero, meu querido, meu melhor namorado existente, - Mina quase recitava de forma teatral com as mãos no peito. Sero apenas riu mais. - eu amo o seu chá, mas eu literalmente posso tomar ele em qualquer dia da semana, das férias e dos feriados. Agora eu não posso dizer o mesmo do Shinsou, né? Ele é pokemon raro e eu espero que os meus ‘parças me avisem quando um desses finalmente aparece.

— Então, você ‘tá dizendo que queria ser convidada para tomar o Shinsou? - Todoroki questionou, e por um instante de silêncio inteiro ninguém sabia dizer se ele estava brincando ou falando sério.

— Todoroki-kun... - Uraraka comentou baixinho.

— Vocês querem me traumatizar com essa conversa. - Shinso soou apenas cansado. Deku e Kirishima foram os primeiros a rir, contagiando o resto da mesa. Shinsou olhou para Mina e Sero, e depois para Tsuyu e Ochako. – Por acaso todos vocês namoram entre si? 

Kaminari engasgou com a própria bebida ao rir.

— É isso que parece? – Kirishima questionou de volta rindo.

— Talvez a gente seja muito próximo? – Uraraka pareceu pensar sobre pela primeira vez, olhando para Tsuyu.

— Bom, nós quase morremos um punhado de vezes juntos no primeiro ano. – Tsuyu deu de ombros. – Não tem como não ser “muito próximos”.

— Isso faz muito sentido já que vocês quatro, - Todoroki apontou para Kirishima, Midoriya, Tsuyu e Uraraka. – começaram a namorar um pouco depois da missão de resgate da Eri.

— Puta merda, por que nós estamos falando dos namoros babacas de vocês? – Katsuki exclamou raivoso. Kaminari percebeu também que o assunto o envergonhava. – Não tinha nenhum outro assunto melhor ‘pra começar? – e fuzilou Shinsou com os olhos.

— Não se preocupa, Bakugou, eu também me sinto mais solteiro e sozinho nessa mesa. – Shinsou retrucou de forma calma.

Todoroki riu alto na mesma hora enquanto Bakugou começava a explodir ao seu lado.

— OI, É A SEGUNDA VEZ QUE VOCÊ PEDE ‘PRA MORRER.

— Você está contando, Bakugou? – Todoroki provocou entre risadas que mal podia conter. Shinsou sorriu para Todoroki, achando um novo ponto em comum com ele: Cutucar a onça de vara curta. – A verdade é que você deve gostar muito do Shinsou.

— Eu não vou corresponder, Bakugou, mas eu me sinto lisonjeado. – o sorriso de Shinsou apenas piorava.

Kaminari não se divertia muito enquanto os observava, por mais que a situação contra Bakugou fosse hilária. Não evitava se sentir ligeiramente preocupado com Shinsou, já que percebia que Bakugou não gostava dele – e sentia como se fosse o real culpado por trás disso.

Afinal de contas, Bakugou foi quem quase os pegou juntos no quarto. Até agora, Kaminari também estava o evitando (apenas um pouquinho) e disfarçando que o evitava para não ter que se justificar. Mesmo que Bakugou fosse orgulhoso e não admitisse quase nada para os amigos, tinha certeza que ele estava puto por ser ignorado e projetava esses sentimentos no próprio Shinsou.

Mina interrompeu a maratona de pensamentos ansiosos na cabeça de Kaminari ao cutuca-lo na cintura com certa força.

— Ai! – ele exclamou baixinho, fazendo Mina rir inclinada perto dele. – A cintura é golpe baixo comigo. – resmungou emburrado.

— Kami, o Shinsou é 10 de 10. - Mina cobriu a boca para terceiros com a mão em concha, falando baixo para que apenas Kaminari a escutasse. – Eu apoio você trazer ‘ele ‘pro Bakusquad.

— Heh? Por que eu?

Mina inclinou o rosto para o lado e arqueou a sobrancelha, confusa e incrédula ao mesmo tempo para Kaminari.

— Ué, vocês não ‘tão ficando? O Sero me disse que estavam.

— Claro que não!

Mina deu um gritinho que chamou a atenção da mesa quando, na tentativa de se afastar o máximo o possível, ela acabou caindo contra o peito de um Sero muito confuso que a segurou por puro instinto.

Kaminari soltava faíscas de eletricidade, completamente vermelho. Mina fugiu por pouco antes de ser eletrocutada. Próximo do jeito que os dois estavam anteriormente, Mina provavelmente teria se machucado mesmo que a carga fosse baixa.

— Eu tenho que ir! - antes que chamasse mais atenção do que já tinha, Kaminari pegou a própria bandeja e saiu correndo do refeitório.

Shinsou o viu ir embora com uma expressão conflitada, sentindo que precisava fazer algo, mas sem saber o que.

— Olha o que você fez, babaca. - Katsuki soou baixo ao verbalizar os pensamentos de Shinsou, o pegando de surpresa. – É melhor você falar com ele logo, ou eu vou explodir a sua cara todos os dias até a formatura. - resmungou ao pegar a própria bandeja e se levantar também.

Shinsou piscou algumas vezes tentando entender aquela realidade paralela e bizarra em que foi, ao mesmo tempo, ameaçado e aconselhado por Bakugou Katsuki.

E ele estava certo, ainda por cima.

Shinsou acabou encontrando os olhos de Shouto sem querer, e o garoto sorriu como se a situação inteira fosse engraçada - e pior que isso, como se soubesse exatamente o que acontecia do começo ao fim.

— Espera, Bakugou, eu vou também. - Todoroki cortou a troca de olhares ao se erguer para acompanhar Katsuki.

— Hah? Não me segue, bastardo!

— Por acaso... Os dois 'tão indo atrás do Kaminari? - Sero questionou confuso, com Mina ainda apoiada no seu peito. – Espera, o que foi que aconteceu? – e voltou a olhar para Mina.

— E-eu não sei???? – Mina piscou igualmente assustada e preocupada. – Ele me assustou de verdade! Eu não o vejo perdendo o controle sobre a eletricidade desse jeito desde o primeiro ano. - Ashido fez bico, mas só parecia triste e não emburrada. – Eu deveria ir atrás dele também...?

— Calma, Mina, deixa os pais dele falarem com ele primeiro. - Sero a consolou acariciando seu ombro com carinho. – Eu tenho certeza que não foi nada demais e que vocês vão resolver isso, não se preocupa.

Shinsou não sabia dizer o mesmo sobre ele e Kaminari.

Mas agora havia sido intimado, então era melhor que soubesse.


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