Insomnia escrita por blue devil


Capítulo 1
insomnia - part 1


Notas iniciais do capítulo

Ahh, olha eu brotando com a minha mais nova obsessão nesses tempos difíceis de quarentena: shipps de BNHA. É como se eu tivesse revivendo meus dias de shipper de Naruto, o retrocesso é real. Anygay, shinkami é maravilhoso e eu espero que você curtam essa oneshot que acabou ficando muito grande para parametros brasileiros e eu tive que separar em mais de um capitulo.
Ah, se quiserem me pedir uma fanfic (estou com comissões abertas), me apreciarem com um KOFI ou simplesmente falarem comigo, vocês podem me visitar no meu twitter:
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— Hey!

Shinsou se surpreendeu ao virar o rosto e ver Kaminari Denki a sua frente no refeitório durante o intervalo, com aquele sorriso de criança travessa que ele sempre tinha, igualmente adorável e perigoso.

— Ah... Kaminari.

— E esse tom? - Kaminari riu, sem desanimar tão rápido. Shinsou precisava admirá-lo pela determinação em falar consigo. - Assim eu vou achar que não quer me ver.

Shinsou o encarou por um instante, notando o leve tremor na voz de Kaminari. Não sabia se havia se tornado bom em ler as pessoas - por conta do seu quirk— ou Kaminari não era exatamente discreto. Talvez uma junção de ambos. É, isso fazia mais sentido.

Isso queria dizer que Kaminari não queria que fosse verdade, certo?

— Eu só estou cansado. - por algum motivo Shinsou decidiu tranquilizá-lo, levando uma mão até o pescoço em um hábito de nervosismo. Percebeu com os quanto a área do pescoço encontrava-se tensa, para variar. Suspirou em seguida, sonhando com o final de semana em que poderia passar o tempo todo na cama sem culpa, mesmo que soubesse que não dormiria.

— Oh, semana difícil? - Kaminari questionou em tom solidário. Shinsou assentiu. - Sei como é, cara. Eu fico tão preocupado nessa época de exames que nem durmo muito bem, também.

Shinsou o encarou por outro instante.

— Você tem insônia? - acabou soando mais surpreso do que queria.

Mas se a resposta fosse positiva, Kaminari seria a primeira pessoa (tirando Aizawa-sensei, claro) que Shinsou conhecia que também tinha insônia como ele. E, por algum motivo, a ideia de que os dois compartilhassem o mesmo problema deixou Shinsou... Animado?

Essa palavra era errada. Mas Hitoshi não conseguia achar nenhuma melhor.

— Chamar pelo nome me deixa depressivo, sabe. - Kaminari o respondeu daquele jeito brincalhão, mas que Shinsou percebeu ser um pouco desconcertado. Ou até mesmo envergonhado. - Torna a coisa real. Mas é, sinceramente, eu tenho insônia sim.

— Você tem há muito tempo?

Por quê Shinsou estava o questionando tanto em uma conversa? Aquilo não era normal e até mesmo Kaminari pensou o mesmo, do jeito que o olhou surpreso por conta da pergunta. Shinsou controlou o impulso de se bater. Ele realmente não sabia lidar com pessoas, hem?

Sua sorte era de que, e Shinsou sabia disso desde o primeiro momento que se conheceram e Kaminari o encheu de elogios, Denki era gentil e não comentaria sobre a estranheza de Shinsou.

— Eu acho que sim. - pareceu pensar sobre. - Só é irritante em épocas estressantes, quando você precisa descansar.

— Nem me fale. - Shinsou revirou os olhos, incomodado com a insônia. Kaminari sorriu na direção dele.

— Você também tem? - Denki soou ainda mais gentil ao perguntar. Shinsou o encarou. Não era óbvio que ele tinha? Era só olhar para as marcas escuras debaixo dos olhos.

Então, entendeu que Kaminari estava sendo socialmente sensível em não assumir simplesmente a partir da sua aparência. Talvez ele soubesse lidar melhor com pessoas do que Shinsou.

Não era muito difícil. Kaminari claramente se esforçava para isso.

— Huh, sim. - Hitoshi não acreditava que ele se atrapalhou para responder aquela pergunta. - Treinar e estudar sem conseguir dormir... É um pouco complicado.

Ele também não fazia ideia por que estava se abrindo, mesmo que minimamente.

— Ah, o Sero tem uma receita de chá calmante super efetivo. Você poderia aparecer no nosso dormitório qualquer hora se quiser testar. Eu tenho dificuldade com remédios, sabe? Meu organismo meio que luta com as substâncias e eu acabo só tendo efeitos colaterais, então eu desisti de tentar tomar remédio 'pra dormir. Sem falar que não é nada saudável também né. Mas eu juro 'pra você, um dos chás do Sero me apagou totalmente uma vez.

Hitoshi piscou algumas vezes ouvindo a hemorragia verbal de Kaminari, se questionando o que foi que causou aquilo. Não estava verdadeiramente incomodado, mas lutou um pouco para acompanhá-lo. O ponto principal era um convite, certo? Kaminari queria vê-lo. Bom, já estava o vendo agora, mas no sentido... Fora do horário de aula.

Vocês já estão fora do horário de aula, Shinsou.

Shinsou não conseguia nem organizar a situação dentro da cabeça.

Quem diabos era Sero mesmo? E por quê Kaminari o fazia parecer um traficante?

Shinsou abriu a boca para responder sem pensar, uma ideia terrível que era típica de um adolescente da sua idade, mas Kaminari o interrompeu sem perceber:

— Então, eu só estou dizendo, eu sou difícil de apagar, mas aconteceu, então talvez você tenha mais sorte do que eu se quiser experimentar, mas eu não quero te incomodar ou tomar seu tempo ou criar esperanças ou, também, eu nem falei com o Sero ainda, então...

— Kaminari. - Hitoshi precisava interromper pela sanidade dos dois. - Você 'tá falando de alguma coisa ilícita?

— QUE? - Denki gritou escandalizado, chamando a atenção para os dois na fila do almoço no refeitório. Ele se encolheu ao perceber o que fez, enquanto Hitoshi só respirava fundo e fechava os olhos. Céus, primeira vez que quis mesmo calar a boca de Denki. Como, ainda debatia mentalmente. - Não, claro que não! - Denki exclamou baixinho, inclinando-se para perto de Shinsou para garantir que ele ouviria. - Você pode só ignorar tudo que eu disse.

Hitoshi não conseguia. Deveria, mas não conseguia.

— Tudo bem. - se viu respondendo, surpreendendo-se também. Kaminari o encarou confuso. - Sobre passar no seu dormitório... Eu acho. Não era esse o ponto?

— Era! - Kaminari exclamou de volta. - Sério, cara?

— Não me questiona muito ou eu mudo de ideia.

— Ah, não 'tá aqui mais quem questionou. - Kaminari riu de nervoso. - Hey, eu espero que isso não soe super estranho, mas você pode me passar o seu número? Só 'pra eu saber quando... Quer dizer 'pra gente marcar...

Enquanto Kaminari não tentava deixar aquilo estranho, as coisas só ficavam mais estranhas. Hitoshi decidiu poupar os dois, não sem o encarar por alguns instantes se questionando por que ele era assim, e passou o número para ele e pediu o número dele de volta. Assim, a pressão de mandar a fatídica mensagem primeiro era dividida igualmente entre eles.

Depois disso, a fila finalmente andou o suficiente para que tivessem que cortar aquela conversa desajeitada. Tempo suficiente para Shinsou finalmente analisar o que havia acabado de fazer.

Como assim passar no dormitório do 2-A para tomar chá para dormir? Ele tinha perdido a mente?

Kaminari tinha comido a racionalidade dele???

 

xxx

 

— HEY! Eu 'tô usando a cozinha!

— 'Tá, 'tá, Bakugou. - Sero o dispensou, deixando-o mais irritado. - Eu vou ficar do outro lado. Você mal vai me ver.

— Que porra você quer fazer agora fita adesiva?

— Chá. - Sero respondeu casualmente, pegando o que precisava. - Se for reclamar com alguém, reclama com o Kaminari que pediu.

Kaminari nem entrou na cozinha ao ver Bakugou. Queria continuar vivo e inteiro até ver Shinsou naquela noite, muito obrigado. Em vez de acompanhar Sero, foi até o sofá na sala de convivência do dormitório, apoiando-se nas costas do sofá para observar Midoriya e Kirishima enquanto os dois jogavam juntos. Tokoyami também se encontrava na sala, lendo um livro grande e antigo com folhas amareladas e capa dura aveludada, sentado em uma das poltronas. 

Kaminari fez uma nota mental de questioná-lo sobre a história depois. Geralmente, quando os dois começavam a discutir romances que gostavam, poderiam passar horas sem notar e nunca terminarem o assunto de verdade. E Kaminari não queria se distrair desse jeito quando ainda precisava receber Shinsou naquela noite.

— Hey, o que vocês 'tão jogando?

— Ah, e aí Denki! - Kirishima o cumprimentou animado. Midoriya sorriu gentil para ele. - Eu estou chutando a bunda do Midoriya no King of Heroes agora.

— Quando você se tornou mentiroso, Kirishima? - Izuku soou divertido, com olhinhos brilhantes e um sorriso travesso.

— É completamente verdade! - Kirishima exclamou de volta. – Você pode ter ganhado duas rodadas, mas isso não quer dizer que eu não esteja chutando a sua bunda pelo menos nessa.

Ao ouvir isso, Kaminari se inclinou para baixo e apertou os dedos longos contra a tela de Kirishima, fazendo-o perder quase que automaticamente. Houve um momento de puro silêncio e choque, até que eles finalmente digeriram o que Kaminari havia acabado de fazer.

— KAMINARI! - Kirishima gritou indignado enquanto Midoriya tentava esconder a risada. Kirishima ficou de joelhos no sofá e Denki teve que fugir dele antes de ser agarrado.

— HEY, PIKACHU! - Bakugou apareceu na sala, servindo como a Muralha da China que Kaminari quase deu de cara ao correr de Kirishima. Que ótimo, ele estava com muita sorte naquela noite. - Que história é essa que você convidou o mindfreak 'pra cá?

— Quem, Kacchan? - Izuku soou interessado. Bakugou grunhiu na direção dele, mas era incrivelmente educado com Izuku agora. Realmente teve um desenvolvimento de personagem.

— Bro, única coisa que eu te peço, não chama o Shinsou assim quando ele chegar. - Kaminari soou um pouco exasperado. - Qual o problema? Ele merece se enturmar, ele acabou de chegar no curso!

— Ah, você chamou o Shinsou 'pra vir aqui? - Izuku soou animado. - Isso é ótimo, Kaminari! Não sabia que vocês eram próximos.

Bakugou começou a resmungar por de baixo da respiração, sem conseguir continuar sendo desagradável quando Izuku agia daquele jeito. Kaminari não controlou o sorriso malicioso, aproveitando-se da situação.

— Bom, ele é meu 'parça agora. - Kaminari estufou o peito ao mentir descaradamente. Não usava nem emojis com Shinsou, de tão nervoso que ficava com a ideia de o garoto não gostar dele. E Kaminari não se comunicava de outra forma a não ser com emojis, memes e gifs. - E por isso eu tenho que pedir que todo mundo seja legal com ele, ouviu, Kacchan?

Bakugou rosnou na direção de Denki, o assustando automaticamente e o fazendo se afastar em auto proteção. Kirishima teve que rir com a troca.

— Com ele vai ser fácil, com você vai ser difícil. - Kirishima passou o braço pelo pescoço de Kaminari, o lembrando que estava fugindo dele a não muito tempo atrás. - Então 'tá todo mundo convidado 'pra festa? - Kirishima questionou após bagunçar totalmente o cabelo de Kaminari com carinho, a maior punição que poderia receber vindo de Kirishima.

Kaminari choramingou derrotado, ele queria pelo menos fingir que tinha controle sobre o próprio cabelo antes de ver Shinsou.

— Não é uma festa!

— É uma festa do chá. - Hanta se meteu na conversa, colocando a cabeça para fora da cozinha. - Inclusive, o chá 'tá pronto. Melhor avisar pro Shinsou não se atrasar muito se quiser tomar quente.

— Você convidou o Shinsou 'pra tomar chá? - tanto Kirishima quanto Izuku o olharam confusos. Ao ouvir isso, até mesmo Tokoyami acabou prestando atenção na conversa, assim que havia desistido de ler desde que Bakugou chegou na sala. Mas também não saiu da sala por não querer ser rude.

De repente Kaminari se sentiu mais idiota que o normal.

Bakugou deu um daqueles sorrisos agressivos que pareciam ser os únicos que sabia dar.

— O que, por acaso você quer ajudar com as olheiras dele? - Katsuki soou calmo ao provocar, paralisando Kaminari por ter acertado de primeira. - Eu acertei, não foi? - e ele riu, super maldoso. Kaminari olhou feio para ele, o que significava que parecia mais um filhote chutado.

— Isso é tão gentil, Kaminari. - Izuku, por outro lado, soou sincero ao elogiá-lo. Alguém o abençoe, Izuku era incrível. - A gente não vai atrapalhar, então?

— Não, claro que não. Acho que ele vai gostar de ver você, Midoriya... - Kaminari não conseguiu disfarçar o nervosismo, lembrando-se como Shinsou parecia se dar bem com Izuku.

Sempre que o via com alguém da 2-A, esse alguém era Izuku ou Todoroki. Até mesmo no teste que fez para entrar no curso, Shinsou parecia se importar com o que Izuku achava o tempo todo e queria impressioná-lo. Se Kaminari não o fizesse aproveitar, Izuku pelo menos iria.

— Ah? - Izuku piscou algumas vezes confuso. Ele olhou para Kirishima, mas Kirishima não se encontrava melhor.

— Posso tomar o chá também? - Tokoyami chamou a atenção ao questionar baixo. Quando todos olharam para ele, ele se surpreendeu. - Quer dizer, se não for problema... É que eu ouvi o Sero falando sobre algumas vezes e nunc experimentei...

— Claro, cara! - Hanta o tranquilizou na hora. - Eu fiz chá o suficiente para um batalhão, todo mundo 'tá convidado 'pra tomar. É uma receita especial da minha avó, e ela sempre fez muito ‘pra dividir com a família toda. Só aviso que vocês vão desmaiar em, tipo, duas horas.

— Ah, que mentira fita adesiva. - Bakugou resmungou. - Não tem como esse chá ser bom assim.

— Prova então, Bakugou. Se você não dormir depois de tomar, ‘aí eu deixo você falar mal gratuitamente o quanto quiser.

— 'TÁ BOM ENTÃO! - Katsuki literalmente explodiu ao responder Sero, que não podia ligar menos. Oh, isso queria dizer que ele ia participar? Aquilo não estava ficando grande demais? E se Shinsou ficasse desconfortável ou então Shinsou...

Shinsou o mandou uma mensagem.

— Ah, eu preciso busca-lo! - Kaminari exclamou ao pensar alto, correndo na direção da entrada do dormitório. - Hey!

Kaminari exclamou de novo, agora um pouco alto demais e se encolhendo automaticamente ao se ouvir e se arrepender, olhando para Shinsou com a mesma expressão cansada de sempre, as mãos nos bolsos fundos do moletom canguru cinza, e o cabelo que parecia sempre passando por uma fase rebelde.

— Hey, Kaminari. - Shinsou o cumprimentou de volta, olhando-o por um instante inteiro. Kaminari sentiu o coração perder uma batida, a mente correndo uma maratona enquanto se questionava se foi mesmo uma boa ideia continuar com a roupa que usou para sair com Sero e comprar o que ele precisava para fazer o chá ainda naquele dia. Não estava arrumado demais com a sua jaqueta negra jeans com forro de pelo sintético ao redor da gola, uma camiseta negra simples de banda e calças jeans escuras (mas não eram negras, ele jurava) um pouco rasgadas e uma gargantilha negra em volta do pescoço? - Eu... Cheguei muito cedo?

Kaminari piscou algumas vezes.

— Não, literalmente chegou na hora certa, o Hanta acabou de fazer o chá. Mais tarde que isso e o chá ia esfriar.

Os dois entraram no dormitório juntos, encontrando Kirishima, Sero, Bakugou, Izuku e Tokoyami sentados na sala em volta da mesinha de centro que agora possuía xícaras e o bule de chá que Kaminari reconheceu ser de Hanta.

— Oi Shinsou. - Izuku sorriu para ele, e Shinsou sorriu de volta, mesmo que desconcertado. Kaminari encarou a troca, sem conseguir evitar. - Como você 'tá?

— Eh. - ele deu de ombros.

— Isso é "bem"? - Kirishima achou que falava baixo com Sero. Sero só o encarou.

Shinsou sorriu um pouco mais, mas era completamente irônico.

— Claramente não 'tá nada bem se você aceita convite 'pra tomar chá com alguém só ‘pra conseguir apagar. - Bakugou resmungou, ainda bastante educado. Shinsou arqueou a sobrancelha ao sentar ao lado de Kaminari. Kaminari acabou sentindo-se ligeiramente contente por Hitoshi optar sentar ao lado dele por conta própria. - Essa é a coisa mais estúpida que eu já ouvi.

— E mesmo assim, você também ‘tá aqui ‘pra tomar o mesmo chá. - Shinsou retrucou facilmente, surpreendendo todos presentes.

Porém, a surpresa de Katsuki durou pouco.

— Você quer brigar, babaca?!

— Eu já te respeitava antes, agora mais ainda. - Sero os cortou rindo, fazendo Shinsou olhar confuso para ele. - Ignora o Bakugou. Ele é o nosso gremlin doméstico. Protege o dormitório e tudo.

— QUEM VOCÊ 'TÁ CHAMANDO DE GREMLIN?

— Aaaaah, cara, qual é. - Kirishima ria junto com Izuku ao lado. - Se tem um chá que vira evento, esse chá é o do Sero. Você tem que admitir que é bom!

— Eu não tenho como admitir porra nenhuma se eu nunca provei e essa fita adesiva babaca ambulante não quer nem me dizer a receita. Eu nem sei do que essa porra é feita.

— Qual parte de receita especial de família você não entendeu? Me paga um jantar antes, e aí a gente pode conversar sobre você entrar na família.

A resposta atravessada de Sero, tão acostumado a dispensar Katsuki casualmente, arrancou mais risadas do grupo. Shinsou sorriu, mas não entendeu muito bem como aquela amizade funcionava, apenas que era cem por cento caótico.

Combinava com Kaminari.

— Existe algum perigo de alguém roubar a sua receita aqui? - Shinsou perguntou em tom baixo. - Quer dizer, vocês sequer cozinham?

Kaminari virou na direção dele animado.

— O Kacchan mesmo! O cara é igual o Gordon Ramsay, ele cozinha bem, mas torna isso uma coisa super assustadora. É incrível que tudo se torna letal com ele.

— Quem? - Shinsou ergueu a sobrancelha lentamente, encarando muito o rosto de Kaminari. Kaminari arregalou os olhos ao perceber o que havia saído naturalmente da sua boca.

Incrivelmente, todo mundo entendeu que ele se referia à "Kacchan" do que Gordon Ramsay. Aquela era a parte mais complexa da frase inteira.

— Pikachu! - agora Bakugou estava visivelmente envergonhado ao jogar uma almofada na cara de Kaminari. Shinsou alongou os olhos por um instante, sem esperar o barulho alto do impacto do objeto contra o rosto de Denki, que ficou vermelho e marcado. E ele nem usou o quirk, foi só força pura. - Não basta você me chamar por esse nome escroto, ainda fica espalhando ‘pros figurantes. E depois vocês reclamam quando eu tento matar vocês!

— Você não vai virar herói se matar a gente, bro. - Kirishima olhou preocupado para Kaminari. - Tudo bem, Denks?

Denki choramingou em resposta, acariciando o próprio rosto ao fazer drama. Shinsou o encarou ainda mais, percebendo que era o mais próximo dele agora, e se questionava se deveria fazer alguma coisa para ajudar.

Se poderia fazer alguma coisa.

— Ah, a culpa é minha... Eu que criei o apelido. - Izuku interviu enquanto ria de nervoso. - Eu não sei chamar de outra forma. Infelizmente... Foi tipo uma das minhas primeiras palavras. - Izuku desviou os olhos, queimando até as orelhas. Bakugou grunhiu, claramente sem querer elaborar ou se envolver na história.

— Heeeh? - Kirishima exclamou. - É sério, Midoriya? Você e o Bakugou nunca me disseram isso!

— Por que ninguém precisa saber sobre isso! - Katsuki foi quem os cortou. - A gente vai beber esse caralho de chá ou não? Você mesmo disse que não queria que esfriasse, fita adesiva!

— Eh, você tem um ponto. - Sero deu de ombros, salvando a conversa antes que se jogasse de vez do precipício. - Huh, Tokoyami, você trouxe a sua própria xícara? - Sero piscou algumas vezes ao encarar a xícara de porcelana branca entre os dedos de Tokoyami, antes de servi-lo com o bule de chá.

A atenção se voltou para Tokoyami.

— Ah... Sim? - ele piscou.

— É tão bonita! - Izuku exclamou sincero. - Por acaso você tem um jogo completo, Tokoyami?

Tokoyami olhou para os lados. Ele não tinha como esconder que estava envergonhado ali.

— Sim, eu tenho...

— Que daora, cara! - Kirishima soou cem por cento positivo. - Faz sentido você ter um jogo inteiro. 

— Não é? Eu lembrei do quarto gótico dele e aí foi a primeira coisa que pensei. - Izuku riu para Kirishima.

Sero sorriu para Tokoyami, que desviou os olhos.

— Que o Aoyama nunca me ouça, mas você é o verdadeiro cavaleiro do século 19 da 2-A. 'Tá no pacote de ser gótico. - Sero comentou mais divertido do que deveria após servi-lo.

— Para com isso. - resmungou contra a respiração, sem força nenhuma.

— Vocês com certeza têm umas figuras únicas na sala de vocês. - Shinsou comentou, decidindo que apenas aproveitaria o caos que assistia, agradecendo Sero após servir sua dose de chá.

— Como se a 2-B também não tivesse. E uns casos terríveis ainda por cima. - Kaminari encostou o cotovelo de leve no peito de Shinsou, o deixando confuso. - Vocês precisam aguentar o Monoma todos os dias.

— Urgh, Monoma. - Izuku e Katsuki disseram ao mesmo tempo, igualmente enojados. Isso fez o grupo rir. Shinsou acabou soltando uma risadinha verdadeira, achando a dinâmica fascinante mesmo sem entender como funcionava.

— Ele não é pior do que aquela bola roxa mal desenvolvida. - Shinsou retrucou para Kaminari, mostrando o sorriso irônico. Denki se perdeu um pouco ao notar que a ironia deixava Shinsou ainda mais atraente. Nem sabia como isso funcionava, mas era super efetivo com ele.

— Touché. - Kaminari soou mais baixinho que o normal, com um sorrisinho tímido. Shinsou continuou olhando para ele, e Kaminari não soube bem o que fazer.

— Urgh, Mineta. - Izuku foi o único que resmungou dessa vez.

— Quem sabe um dia ele melhora. - Kirishima deu uma risadinha nervosa. - Mas eu duvido que o Monoma melhore. O cara é muito irritante de propósito.

Shinsou deu de ombros.

— Acho que é melhor uma pessoa que força para ser irritante do que uma que é naturalmente sem perceber.

— Ohh, eu concordo com isso. - Sero exclamou erguendo a mão no ar para apontar para Shinsou. - Shinsou, você tem muito a vibe de um velho sábio.

— Velho...? - Shinsou soou surpreso em tom baixo enquanto os outros garotos riam. - Obrigado, eu acho...? Não, isso não foi um elogio. - torceu o nariz, como se falasse consigo mesmo.

— É o seu charme, cara! - a voz de Kaminari soou alta enquanto gargalhava, e Shinsou percebeu que ele tentava se controlar... Como se ele fosse uma daquelas pessoas que faziam sons um tanto diferentes quando riam. Agora Shinsou queria muito, muito mesmo, ouvir qual som era aquele.

Ele nem se importava mais em interpretar o comentário enquanto via Kaminari rindo daquele jeito, o rosto vermelho e os olhos felizes, completamente iluminado.

— Você está mesmo me chamando de charmoso, Kaminari? - Shinsou sorria sem perceber. Kaminari se engasgou do seu lado.

— Broooo, esse chá é bom demais. - aparentemente ninguém ouviu a pequena troca entre Denki e Hitoshi, assim que Kirishima exclamou alto após dar um gole grande na sua caneca. Isso fez Hitoshi lembrar que estava ali pelo chá, e começou a tomar logo em seguida.

Hitoshi teve uma surpresa.

— É bom de verdade. - olhou para a caneca por um instante, como se a estranhasse. O chá possuía o nível certo de agridoce, com um cheiro forte e gostoso, mesmo que irreconhecível. Era o tipo de gosto que permanecia na boca e o fazia beber mais, mesmo após esquentar Shinsou por dentro.

— É ok, eu acho. - Bakugou resmungou baixinho e incomodado. Sero deu um sorriso enorme na direção dele.

— Valeu. – riu sem conseguir evitar demonstrar o quanto apreciava ser apreciado.

— Eu disse que era bom! - Kaminari apontou contente para Shinsou.

— Sim, mas você também disse que isso aqui era como um mata leão. A gente ainda tem que comprovar essa parte.

— Esperem duas horas no máximo. - Sero mostrou dois dedos para o grupo. - Vocês têm a minha palavra: Vocês vão apagar.

— Falando assim o chá parece até um pouco perigoso. - Tokoyami murmurou.

— Não tem nada ilícito ‘aí, antes que perguntem. - Sero explicou rapidamente. - Minha avó não era tão liberal assim. Mas se alguém tiver interesse--

— Aaah, Shinsou, você quer ver o meu quarto? - Kaminari exclamou alto demais. Hitoshi piscou algumas, várias, vezes.

— Hã, mas e o chá?

— Com chá. - e o puxou para ir consigo.

— Isso foi rápido. - Sero deu uma risadinha antes de tomar mais um gole do chá.

— O que foi rápido? - Izuku soou confuso.

— Nada, nada. - Sero balançou a mão no ar.

— Urgh. - Bakugou grunhiu incomodado, entendendo exatamente do que Sero se referia mesmo que a contragosto.

— Por que eu 'tô sendo arrastado 'pro seu quarto?

— Por que você não anda por conta própria!

Shinsou semicerrou os olhos. Ele afastou o braço, tomando cuidado para não derrubar o chá dentro da caneca que carregava. Kaminari o olhou choroso, como se fosse mais novo do que era. Shinsou arqueou as sobrancelhas para ele.

— O que você quer? - Kaminari resmungou.

— Pede com educação. - Hitoshi respondeu simplesmente.

— Vem no meu quarto, por favor?

Havia algo extremamente prazeroso sobre fazer Kaminari o obedecer tão rapidamente sem ter que usar o seu quirk no processo.

— Não vai me perguntar se eu quero antes? - Hitoshi não controlou o sorriso. Kaminari entrou em choque.

— Você é cruel, cara!

Talvez ele fosse um pouco, do jeito que gostava de verdade das reações de Kaminari. Ele era uma companhia genuína, e Hitoshi percebia que não se cansava tanto na presença dele quanto achou que iria.

— É você quem 'tá me sequestrando. - Hitoshi riu um pouquinho. Kaminari se encontrava fascinado. - Ou você acabou de desistir?

— Não desisti. - Kaminari resmungou. Shinsou continuou sorrindo, tomando mais um gole do chá enquanto Kaminari o levava até o próprio quarto, abrindo a porta e ligando a luz. - Ta-daa. - Kaminari soou sarcástico.

Hitoshi observou o ambiente. Por algum motivo, o quarto de Kaminari parecia ser menor que o seu, provavelmente pelo tanto de coisa que guardava ali. Os móveis se apertavam um ao lado do outro, sendo esses uma pequena prateleira, uma cômoda e uma escrivaninha com um computador. As superfícies dos três móveis estavam cheias de objetos diferentes como fotos, três relógios (três?) e pelo menos uma centena de livros diferentes. Shinsou teve que admitir a pura surpresa ao perceber que Kaminari gostava de ler com o tanto de livros que guardava. Ele também tinha um skate, uma coleção de sapatos e uma bola de basquete (?).

Shinsou acreditava mais no skate do que no basquete.

Do outro lado, havia apenas a cama do garoto, que possuía um dos jogos de cama mais feios que Hitoshi já viu na vida. Ele entendeu o conceito do cobertor negro com faixas douradas, mas era simplesmente muito feio e de péssimo gosto. Foi difícil controlar o desgosto no rosto ao vê-lo, especialmente quando Kaminari se jogou para sentar sobre o colchão.

Sem muita escolha, Shinsou sentou-se na cama também.

Mas ele estava na borda, um tanto longe de Kaminari ainda.

— Você é definitivamente um acumulador.

Denki riu ao ouvir isso.

— É, sou. - nem tentou negar. Na verdade, parecia contente por Hitoshi notar. Hitoshi lutou contra um sorriso ao ouvi-lo.

Talvez fosse o maldito chá quentinho derretendo todas as suas barreiras e o deixando bobo daquele jeito.

— Computador decente. - Shinsou apontou, erguendo o rosto sobre o ombro, pois estava de costas para Denki, sentado na beirada do final da cama. - Por acaso você realmente é um nerd de tecnologia?

Denki deu uma risadinha como uma criança pega fazendo algo errado.

— Eu nunca disse que não era previsível.

Isso fez Hitoshi rir.

— Mas tem muita coisa que eu não esperava do mesmo jeito. Tipo essa coleção de livros.

Houve um instante de silêncio entre eles. Não desconfortável, mas interessante. Hitoshi percebeu como o coração batia calmo e despreocupado naquele momento. Talvez fosse alegria, e talvez Hitoshi vivenciasse alegria quando seu coração batia despreocupado e tranquilo.

Ele ainda estava descobrindo.

— Você acha que... Ler muito é meio que um hobby difícil? - Denki cortou o silêncio com a voz pequena. Hitoshi o olhou um pouco surpreso.

— Não? - ele soou realmente confuso. - Por que alguém acharia isso?

Kaminari fez careta.

— Por que ninguém espera que eu consiga sentar quieto para ler, ainda mais ler mais do que a média. Já ouvi que eu sou muito estupido para alguém que supostamente gosta de ler.

Hitoshi genuinamente não esperava ouvir aquilo.

— Não é isso. - Hitoshi falou mais rápido do que poderia pensar sobre o assunto de verdade. - Definitivamente não é isso. Você não é muito estúpido para isso. Pelo contrário. Mas... Desculpa, realmente fiquei surpreso por que achei que você tinha dificuldade 'pra ficar parado no mesmo lugar e se concentrar. - Shinsou deu uma pausa, estranhando profundamente como falava tanto. Aquilo não era normal para ele, nem um pouco. Mas sabia que não devia parar até que Kaminari entendesse exatamente o que queria dizer. - Afinal, não é por conta disso que você tem insônia também? - Shinsou olhou para Kaminari por cima do ombro. – Por conta do acumulo de energia.

Kaminari o olhou surpreso.

Tão surpreso que passou alguns segundos sem dizer nada, e Hitoshi começou a pensar em todo tipo de coisa terrível: Que passou dos limites, que ofendeu Denki, que Denki o queria longe dali e não sabia como proceder por ser gentil demais.

De repente, o coração começou a acelerar e Hitoshi sentiu que a alegria escapava pelos dedos, substituída pela mais pura ansiedade.

— É... Exatamente por isso... Eu tenho dificuldade ‘pra me concentrar, mas é mais fácil com livros que eu me interesso... - Kaminari murmurou, cortando a espiral torturante de Hitoshi. - Como diabos você notou isso? Você tem um terceiro olho ou coisa parecida?

Aquela pergunta era tão absurda que Shinsou acabou rindo, percebendo o quanto ficou preocupado à toa.

— Por que você 'tá rindo? - Kaminari o estranhou. - Não que isso seja uma coisa ruim, sou a favor de você rir mais cara, de verdade, claro, apenas se você quiser, mas... - a voz dele morreu ao perceber que tagarelava. E isso fez Shinsou sentir falta de ar enquanto ria. - Hey, eu virei a piada?

— N-não. - Hitoshi se forçou a negar, mesmo com muitas dificuldades enquanto a barriga começava a doer. - Não, você não-- Aah. - ele não conseguia controlar. Era mais forte do que ele.

— Shinsou, você é estranho.

Shinsou acabou caindo deitado na cama de Kaminari, limpando uma lágrima do rosto por ter rido tanto. Fazia tempo que não se divertia dessa forma, e agradecia Kaminari mentalmente por ter o proporcionado isso. E também se agradecia, pela primeira vez em muito tempo, por ter aceitado.

— Me diga algo que eu não sei. - a voz de Hitoshi soou macia, quase irreconhecível para ele de tão satisfeita e contente. - Mas é claro que eu não tenho um terceiro olho, que pergunta é essa? - Hitoshi lutou para não rir mais, principalmente ao ver a careta de Kaminari. - Você não é difícil de se entender assim, sabia? Na verdade, eu diria que o seu problema é ser transparente demais.

— Isso é um problema? - Kaminari soou genuinamente curioso. Shinsou fez um "hmmm-ummm" em reposta positiva com a boca fechada.

— Eu acho. As pessoas vão se aproveitar de você por isso. Ou te ignorar. - suspirou.

— Eu não sabia disso.

— É por que você é muito gentil. - Shinsou soava cada vez mais baixo, sem notar Kaminari deitando-se no colchão ao lado dele. A luz do quarto começou a incomodá-lo, e por isso tampou os olhos com as costas da mão, aproveitando o escuro mesmo que fosse fabricado.

— Eu não sei se você 'tá me elogiando ou me insultando.

— Comigo, é os dois. - Shinsou sorriu ao retrucar facilmente.

Tudo era muito fácil e simples agora. A mente era fácil e leve de uma forma que nunca ficava. Apesar de ainda estar com as pernas para fora da cama, com os pés tocando o chão do quarto, ele se sentia extra confortável e seguro, como quase nunca acontecia. Protegendo os olhos da luz, poderia muito bem dormir ali. Aos poucos se esquecia de local e contexto, e cedia as vontades que se espalhavam pelo corpo.

— Eu... Achei que se as pessoas não me entendiam, ou as minhas intenções, a culpa era minha. - Kaminari falava tão baixo que Shinsou teve dificuldade para ouvi-lo, mesmo sentindo sua presença tão próxima no colchão da cama. Ele não ousou abrir os olhos e olhar para o garoto ao lado, não queria estragar o momento. Queria aproveitar e não pensar de mais, como nunca fazia.

— Você achou errado. - Shinsou soou sonolento. – Você não deveria assumir toda a culpa. – apesar de ter certeza que falava isso para Kaminari, sabia que era algo que seu inconsciente dizia para ele mesmo. – Você é transparente. As pessoas só costumam ver o que elas querem.

— Como você tem tanta certeza?

— Eu só tenho. - Shinsou resmungou, sem nem se esforçar mais para falar. - Só aceita.

O que eles aceitaram de verdade foi o sono que pegou ambos, sem muita diferença de tempo.


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